António Sousa Franco 1942-2004

18-06-2004
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António Sousa Franco 1942-2004

Por ANA SÁ LOPES E JOÃO PEDRO HENRIQUES

Quinta-feira, 10 de Junho de 2004

O coração parou na "triste feira"

Quatro dias depois de ter vencido as eleições legislativas de 1995 com maioria relativa, António Guterres, na urgência de sossegar elites e mercados, faz um anúncio súbito: quatro homens já tinham aceite entrar para o futuro governo e eram eles António Vitorino, Jaime Gama, Daniel Bessa, Sousa Franco.

António Luciano Sousa Franco, independente, ex-social-democrata de um tempo em que o PSD queria entrar para a Internacional Socialista - como dirá depois - respeitado professor de Finanças Públicas, era o homem de quem António Guterres, eleitoralmente vitorioso, mas ainda à procura de reconhecimento e credibilidade, precisava para a sensível pasta das Finanças. Vítor Constâncio tinha, mais uma vez, acabado por dizer que não a António Guterres.

"Força de bloqueio" de quem tanto Cavaco Silva se queixou, enquanto Sousa Franco ocupou o cargo de presidente do Tribunal de Contas, o indigitado ministro contava igualmente com um irrepreensível currículo anti-cavaquista, indispensável à época para tranquilizar, para além das elites e mercados, o povo exausto dos dez anos de maiorias absolutas.

A coabitação PS-Sousa Franco não é feliz. O ministro das Finanças obtém para o Governo Guterres a vitória de uma sossegada adesão de Portugal à moeda única, mas sucedem-se conflitos inter-ministeriais e do obstinado ministro independente com o poderoso aparelho socialista.

Já depois de abandonar o Governo, Sousa Franco escreve um histórico artigo no "Expresso" onde denuncia os erros da política económica de Pina Moura, que lhe sucedeu na pasta. Aí, declara: "Se estou definitivamente fora desta triste feira da política activa - tão medíocre que até dói - não devo calar-me. Já fui força de bloqueio, posso ser profeta da desgraça." Recolheu-se à Universidade e só regressa à "triste feira" para, inesperadamente, aceitar o convite que, por sugestão de João Soares, Ferro Rodrigues lhe fez para ser o cabeça-de-lista do PS às eleições para o Parlamento Europeu. Na "triste feira", ao lado das guerras intestinas de um aparelho partidário que abominava, morreu.

"Ausência Colectiva. 'Revolução'"

Nascido em Lisboa em 1942, filho único de um médico e de uma professora de História "superprotectora e autoritária", neto único e sobrinho único, Sousa Franco reconheceu - numa notável entrevista ao DNA, de 27 de Fevereiro último - ter tido uma infância "sisuda", com pouco convívio com rapazes da mesma idade. Estuda em casa e só na quarta classe o pai decide enviá-lo para a escola pública. A superprotecção dos pais vai ao ponto de, como conta na referida entrevista, nunca o terem deixado andar de bicicleta: "Só andava às escondidas e em bicicletas de amigos." Afirma que "a bicicleta foi sempre a frustração" - "Se calhar é por isso que nunca tirei a carta".

Lê, lê, lê. "Era um bocado impensável ler aquelas novelas pesadas de Alexandre Herculano quando se tem oito anos. Mas era realmente o que eu lia." Continuará com o "vício", a ler vários livros ao mesmo tempo, conforme a altura do dia.

Vai para Direito por influência paterna (as Ciências estavam excluídas, porque não tinha jeito para Desenho), embora reconheça na época não fazer grande ideia do que era o Direito. Na citada entrevista, afirma: "A vida ensinou-me que o Direito, ou tem um forte enquadramento social e axiológico ou é um conjunto de formalismos e papeladas que perturba a vida dos humanos."

No 25 de Abril de 1974, é professor na Faculdade de Direito e, às gargalhadas, conta à jornalista Paula Oliveira do DNA o que escreveu no livro de ponto nesse dia: "Ausência colectiva. 'Revolução'". Com a palavra "revolução" entre aspas.

Dias antes, Marcello Caetano - que tinha sido seu professor na Faculdade de Direito - tinha-o convidado, já depois do golpe falhado de 16 de Março das Caldas da Rainha, para um almoço no Forte de Oeiras, juntamente com "dois amigos", conhecidos na vida pública portuguesa, mas de quem se recusa a revelar os nomes. "Nessa conversa o que eu lhe disse foi: 'o senhor doutor perdeu porque não conseguiu resolver o problema de África que toda a gente esperava que resolvesse. E porque é que não o conseguiu? E ele respondeu que tinha mudado de opinião, depois das viagens que fez a África, ao ver como aquela população confiava em Portugal e nos portugueses e que a partir daí não tinha tido coragem para fazer o que tinha pensado fazer."

Antes, Marcelo Caetano já lhe tinha mandado "recados" para que colaborasse com o regime - "Várias vezes mandou pessoas namorarem-me" -, mas Sousa Franco recusa sempre. Católico praticante, milita na JUC (Juventude Universitária Católica). Mas quando vai à inspecção para a tropa, juntamente com o escritor António Lobo Antunes, de quem tinha sido colega de turma no liceu, ainda acredita nas virtudes da guerra colonial: "Mesmo para quem na Faculdade se tornou um crítico do regime, como era o meu caso, a verdade oficial era que havia uma guerra instigada por outros países que queriam tirar aqueles territórios a Portugal." A Junta Médica deu-o como isento do serviço militar.

É em Paris, para onde foi fazer uma pós-graduação na Sorbonne depois de terminar o curso de Direito, que começa a ver o mundo de outra maneira, embora reconheça que só "moderadamente" foi "contagiado pelo espírito dos 'sixties'" pré-Maio de 68 francês, como afirma na entrevista ao DNA.

PS era "excessivamente marxista"

Depois do 25 de Abril, hesita entre o CDS, o PSD e o PS. Ajuda à elaboração da Declaração de Princípios do CDS - onde recentemente afirmou ainda rever-se -, mas, apesar de amigo de Freitas do Amaral e de Adelino Amaro da Costa, constata que as restantes pessoas que se juntavam para fundar o partido eram "demasiado à direita". O programa do PS pareceu-lhe "excessivamente marxista". Ainda antes de se comprometer com qualquer partido político é nomeado presidente da Comissão de Revisão da Lei de Imprensa, onde Marcelo Rebelo de Sousa, seu amigo pessoal, fica a conhecer a sua "incansável capacidade de trabalho".

Adere ao PSD e no II Congresso é eleito para o secretariado nacional. Chega a presidente do partido no V Congresso, realizado a 28 e 29 de Janeiro de 1978, no Porto, mas é substituído rapidamente no VI Congresso (1 e 2 de Julho de 1978) por José Menéres Pimentel. Depois, será riscado da história oficial, como se comprovou na recente comemoração dos 30 anos do PSD, onde foi o único ex-presidente do PSD que não recebeu convite para o cerimonial.

Rompe com o PSD e funda a ASDI - Associação Social-Democrata Independente - de que é presidente entre 1979 e 1982. Em 1980, a ASDI concorre às legislativas na coligação da Frente Republicana e Socialista, liderada pelo PS de Mário Soares, que é derrotada pela AD de Sá Carneiro, Freitas do Amaral e Gonçalo Ribeiro Telles. Sousa Franco ocupa o lugar de deputado. Antes, no breve governo de Maria de Lourdes Pintasilgo, já tinha passado pela pasta das Finanças.

Um dos cargos públicos que mais projecção e confrontos públicos lhe deu foi o de presidente do Tribunal de Contas, que ocupou entre 1986 e 1995, acompanhando assim todo o cavaquismo. Cavaco Silva e Miguel Cadilhe escolheram-no (Sousa Franco ainda recentemente elogiou Cadilhe enquanto ministro das Finanças), mas Cavaco não demorou muito a arrepender-se. A dureza com que assumiu o papel de fiscalizador-mor das contas do Estado valeu-lhe o qualificativo de "força de bloqueio" - qualquer relatório do Tribunal de Contas passou a ser olhado por Cavaco Silva como arma de arremesso político e travão ao normal desenvolvimento do trabalho da administração pública. Passa, assim, a ser olhado como um "monstro" pelos círculos governamentais e um implícito aliado pela oposição.

Foi sempre um homem de gabinete. A última campanha eleitoral tinha sido há mais de vinte anos, ao lado de Mário Soares, na FRS, em 1980.

E, no entanto, Sousa Franco encarou a campanha para o Parlamento Europeu com uma enorme alegria. Quem o acompanhou mais de perto diz que passava o tempo a contar piadas, mostrando sempre boa disposição - além de uma bagagem cultural absolutamente impressionante. A comitiva apaixonou-se também pela sua relação com a mulher, Matilde Sousa Franco - com quem o ex-ministro casou aos 40 anos, nunca se escusando a afirmar ter mantido hábitos de "solteirão", como o ser desarrumado. Matilde, conservadora de museu, revelou, tal como o candidato, um grande talento para o contacto de rua. Os dois passavam o tempo a brincar e a conversar um com o outro, num enamoramento permanente. Ontem, Matilde Sousa Franco disse a pessoas do PS - já depois de saber da morte do seu marido - que as últimas semanas de ambos tinham sido "muito felizes".

Nos últimos dias, o cabeça de lista começou a dar sinais de um grande cansaço. Ontem, por exemplo, o programa foi-lhe reduzido ao mínimo: só previa a lota de Matosinhos, uma conversa ao fim da tarde com jornalistas no Café Majestic e o comício da noite. Deitava-se sempre muito tarde, ficando por vezes a tratar de relatórios da sua Faculdade de Direito de Lisboa. Era do conhecimento geral que o professor tinha um biorritmo essencialmente nocturno. Em tempos o próprio disse ao "Expresso": "Não me sinto acordado antes do meio dia." E explicou que pequenos-almoços de trabalho equivaliam para si ao "pior círculo do Inferno de Dante".

Numa recente entrevista ao "Jornal de Notícias", antevia esta campanha para o Parlamento Europeu como "uma campanha com recurso a muito esclarecimento directo e ao contacto com os media, os líderes da opinião, autarcas e associações económicas e sociais". Quando a jornalista Alexandra Marques lhe pergunta se "não vai fugir das feiras", responde: "Não vou fugir das feiras, nem das ruas de Lisboa, mas não quero tornar-me no Franco das Feiras."

António Sousa Franco 1942-2004

Por ANA SÁ LOPES E JOÃO PEDRO HENRIQUES

Quinta-feira, 10 de Junho de 2004

O coração parou na "triste feira"

Quatro dias depois de ter vencido as eleições legislativas de 1995 com maioria relativa, António Guterres, na urgência de sossegar elites e mercados, faz um anúncio súbito: quatro homens já tinham aceite entrar para o futuro governo e eram eles António Vitorino, Jaime Gama, Daniel Bessa, Sousa Franco.

António Luciano Sousa Franco, independente, ex-social-democrata de um tempo em que o PSD queria entrar para a Internacional Socialista - como dirá depois - respeitado professor de Finanças Públicas, era o homem de quem António Guterres, eleitoralmente vitorioso, mas ainda à procura de reconhecimento e credibilidade, precisava para a sensível pasta das Finanças. Vítor Constâncio tinha, mais uma vez, acabado por dizer que não a António Guterres.

"Força de bloqueio" de quem tanto Cavaco Silva se queixou, enquanto Sousa Franco ocupou o cargo de presidente do Tribunal de Contas, o indigitado ministro contava igualmente com um irrepreensível currículo anti-cavaquista, indispensável à época para tranquilizar, para além das elites e mercados, o povo exausto dos dez anos de maiorias absolutas.

A coabitação PS-Sousa Franco não é feliz. O ministro das Finanças obtém para o Governo Guterres a vitória de uma sossegada adesão de Portugal à moeda única, mas sucedem-se conflitos inter-ministeriais e do obstinado ministro independente com o poderoso aparelho socialista.

Já depois de abandonar o Governo, Sousa Franco escreve um histórico artigo no "Expresso" onde denuncia os erros da política económica de Pina Moura, que lhe sucedeu na pasta. Aí, declara: "Se estou definitivamente fora desta triste feira da política activa - tão medíocre que até dói - não devo calar-me. Já fui força de bloqueio, posso ser profeta da desgraça." Recolheu-se à Universidade e só regressa à "triste feira" para, inesperadamente, aceitar o convite que, por sugestão de João Soares, Ferro Rodrigues lhe fez para ser o cabeça-de-lista do PS às eleições para o Parlamento Europeu. Na "triste feira", ao lado das guerras intestinas de um aparelho partidário que abominava, morreu.

"Ausência Colectiva. 'Revolução'"

Nascido em Lisboa em 1942, filho único de um médico e de uma professora de História "superprotectora e autoritária", neto único e sobrinho único, Sousa Franco reconheceu - numa notável entrevista ao DNA, de 27 de Fevereiro último - ter tido uma infância "sisuda", com pouco convívio com rapazes da mesma idade. Estuda em casa e só na quarta classe o pai decide enviá-lo para a escola pública. A superprotecção dos pais vai ao ponto de, como conta na referida entrevista, nunca o terem deixado andar de bicicleta: "Só andava às escondidas e em bicicletas de amigos." Afirma que "a bicicleta foi sempre a frustração" - "Se calhar é por isso que nunca tirei a carta".

Lê, lê, lê. "Era um bocado impensável ler aquelas novelas pesadas de Alexandre Herculano quando se tem oito anos. Mas era realmente o que eu lia." Continuará com o "vício", a ler vários livros ao mesmo tempo, conforme a altura do dia.

Vai para Direito por influência paterna (as Ciências estavam excluídas, porque não tinha jeito para Desenho), embora reconheça na época não fazer grande ideia do que era o Direito. Na citada entrevista, afirma: "A vida ensinou-me que o Direito, ou tem um forte enquadramento social e axiológico ou é um conjunto de formalismos e papeladas que perturba a vida dos humanos."

No 25 de Abril de 1974, é professor na Faculdade de Direito e, às gargalhadas, conta à jornalista Paula Oliveira do DNA o que escreveu no livro de ponto nesse dia: "Ausência colectiva. 'Revolução'". Com a palavra "revolução" entre aspas.

Dias antes, Marcello Caetano - que tinha sido seu professor na Faculdade de Direito - tinha-o convidado, já depois do golpe falhado de 16 de Março das Caldas da Rainha, para um almoço no Forte de Oeiras, juntamente com "dois amigos", conhecidos na vida pública portuguesa, mas de quem se recusa a revelar os nomes. "Nessa conversa o que eu lhe disse foi: 'o senhor doutor perdeu porque não conseguiu resolver o problema de África que toda a gente esperava que resolvesse. E porque é que não o conseguiu? E ele respondeu que tinha mudado de opinião, depois das viagens que fez a África, ao ver como aquela população confiava em Portugal e nos portugueses e que a partir daí não tinha tido coragem para fazer o que tinha pensado fazer."

Antes, Marcelo Caetano já lhe tinha mandado "recados" para que colaborasse com o regime - "Várias vezes mandou pessoas namorarem-me" -, mas Sousa Franco recusa sempre. Católico praticante, milita na JUC (Juventude Universitária Católica). Mas quando vai à inspecção para a tropa, juntamente com o escritor António Lobo Antunes, de quem tinha sido colega de turma no liceu, ainda acredita nas virtudes da guerra colonial: "Mesmo para quem na Faculdade se tornou um crítico do regime, como era o meu caso, a verdade oficial era que havia uma guerra instigada por outros países que queriam tirar aqueles territórios a Portugal." A Junta Médica deu-o como isento do serviço militar.

É em Paris, para onde foi fazer uma pós-graduação na Sorbonne depois de terminar o curso de Direito, que começa a ver o mundo de outra maneira, embora reconheça que só "moderadamente" foi "contagiado pelo espírito dos 'sixties'" pré-Maio de 68 francês, como afirma na entrevista ao DNA.

PS era "excessivamente marxista"

Depois do 25 de Abril, hesita entre o CDS, o PSD e o PS. Ajuda à elaboração da Declaração de Princípios do CDS - onde recentemente afirmou ainda rever-se -, mas, apesar de amigo de Freitas do Amaral e de Adelino Amaro da Costa, constata que as restantes pessoas que se juntavam para fundar o partido eram "demasiado à direita". O programa do PS pareceu-lhe "excessivamente marxista". Ainda antes de se comprometer com qualquer partido político é nomeado presidente da Comissão de Revisão da Lei de Imprensa, onde Marcelo Rebelo de Sousa, seu amigo pessoal, fica a conhecer a sua "incansável capacidade de trabalho".

Adere ao PSD e no II Congresso é eleito para o secretariado nacional. Chega a presidente do partido no V Congresso, realizado a 28 e 29 de Janeiro de 1978, no Porto, mas é substituído rapidamente no VI Congresso (1 e 2 de Julho de 1978) por José Menéres Pimentel. Depois, será riscado da história oficial, como se comprovou na recente comemoração dos 30 anos do PSD, onde foi o único ex-presidente do PSD que não recebeu convite para o cerimonial.

Rompe com o PSD e funda a ASDI - Associação Social-Democrata Independente - de que é presidente entre 1979 e 1982. Em 1980, a ASDI concorre às legislativas na coligação da Frente Republicana e Socialista, liderada pelo PS de Mário Soares, que é derrotada pela AD de Sá Carneiro, Freitas do Amaral e Gonçalo Ribeiro Telles. Sousa Franco ocupa o lugar de deputado. Antes, no breve governo de Maria de Lourdes Pintasilgo, já tinha passado pela pasta das Finanças.

Um dos cargos públicos que mais projecção e confrontos públicos lhe deu foi o de presidente do Tribunal de Contas, que ocupou entre 1986 e 1995, acompanhando assim todo o cavaquismo. Cavaco Silva e Miguel Cadilhe escolheram-no (Sousa Franco ainda recentemente elogiou Cadilhe enquanto ministro das Finanças), mas Cavaco não demorou muito a arrepender-se. A dureza com que assumiu o papel de fiscalizador-mor das contas do Estado valeu-lhe o qualificativo de "força de bloqueio" - qualquer relatório do Tribunal de Contas passou a ser olhado por Cavaco Silva como arma de arremesso político e travão ao normal desenvolvimento do trabalho da administração pública. Passa, assim, a ser olhado como um "monstro" pelos círculos governamentais e um implícito aliado pela oposição.

Foi sempre um homem de gabinete. A última campanha eleitoral tinha sido há mais de vinte anos, ao lado de Mário Soares, na FRS, em 1980.

E, no entanto, Sousa Franco encarou a campanha para o Parlamento Europeu com uma enorme alegria. Quem o acompanhou mais de perto diz que passava o tempo a contar piadas, mostrando sempre boa disposição - além de uma bagagem cultural absolutamente impressionante. A comitiva apaixonou-se também pela sua relação com a mulher, Matilde Sousa Franco - com quem o ex-ministro casou aos 40 anos, nunca se escusando a afirmar ter mantido hábitos de "solteirão", como o ser desarrumado. Matilde, conservadora de museu, revelou, tal como o candidato, um grande talento para o contacto de rua. Os dois passavam o tempo a brincar e a conversar um com o outro, num enamoramento permanente. Ontem, Matilde Sousa Franco disse a pessoas do PS - já depois de saber da morte do seu marido - que as últimas semanas de ambos tinham sido "muito felizes".

Nos últimos dias, o cabeça de lista começou a dar sinais de um grande cansaço. Ontem, por exemplo, o programa foi-lhe reduzido ao mínimo: só previa a lota de Matosinhos, uma conversa ao fim da tarde com jornalistas no Café Majestic e o comício da noite. Deitava-se sempre muito tarde, ficando por vezes a tratar de relatórios da sua Faculdade de Direito de Lisboa. Era do conhecimento geral que o professor tinha um biorritmo essencialmente nocturno. Em tempos o próprio disse ao "Expresso": "Não me sinto acordado antes do meio dia." E explicou que pequenos-almoços de trabalho equivaliam para si ao "pior círculo do Inferno de Dante".

Numa recente entrevista ao "Jornal de Notícias", antevia esta campanha para o Parlamento Europeu como "uma campanha com recurso a muito esclarecimento directo e ao contacto com os media, os líderes da opinião, autarcas e associações económicas e sociais". Quando a jornalista Alexandra Marques lhe pergunta se "não vai fugir das feiras", responde: "Não vou fugir das feiras, nem das ruas de Lisboa, mas não quero tornar-me no Franco das Feiras."

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