Ferro tenta um segundo fôlego

19-11-2003
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Ferro Tenta Um Segundo Fôlego

Por JOÃO PEDRO HENRIQUES

Sábado, 08 de Novembro de 2003 Uma convenção sobre Portugal e a Europa, no princípio do ano que vem, quando o PS já tiver resolvido o problema da lista para o Parlamento Europeu (o que Ferro quer fazer até ao Natal). Estas é uma das propostas que hoje o secretário-geral poderá apresentar para sacudir a crise que a sua liderança atravessa. A Comissão Nacional (CN) do PS (órgão máximo entre congressos) reúne no Hotel Sheraton, em Lisboa, e o secretário-geral deverá aí apresentar as conclusões sobre a reflexão que nos últimos dias fez sobre as suas condições de liderança. Especulou-se sobre a possibilidade de Ferro bater com a porta mas essa hipótese era ontem tida como altamente improvável por fontes próximas do líder. Em vez disso, o secretário-geral terá preparado um programa de acção (externa e interna) visando sacudir a crise que o partido vive. A tal convenção sobre Portugal e a Europa (que poderá ter este ou outro nome), seria uma das propostas a apresentar. Do discurso inicial de Ferro, esperam-se, de acordo com o que tem sido anunciado ao longo dos dias, várias garantias. Por exemplo: de continuar disponível para liderar o PS pelo menos até ao final do seu mandato (Novembro de 2004); de desligar o partido do "processo Casa Pia" (ou seja, garantir a continuidade na liderança independentemente das eventuais acusações de que Paulo Pedroso venha a ser alvo por parte do Ministério Público); de focar as suas atenções na oposição ao Governo; de recusar mudanças na equipa dirigente do partido (sendo que Ana Gomes e Maria de Belém são os nomes mais contestados).Também se espera que o secretário-geral do PS volte a assumir alguns erros na gestão política do processo Casa Pia, repetindo o "mea culpa" que fez na última reunião da Comissão Política Nacional (CPN) do PS. Dos pesos-pesados do partido a direcção já não espera grandes contestações. Do principal desses pesos-pesados, Jorge Coelho, o PÚBLICO obteve a garantia de ter preparada para hoje uma intervenção "de apoio" ao secretário-geral e de "incentivo" para que este "ponha de novo o PS no lugar onde pertence, que é a liderar a oposição ao Governo". Na última reunião da CPN, Coelho fez questão de avisar que não está disponível para assumir a liderança - invocando nomeadamente, razões de saúde. Mas o aviso só surgiu porque, entretanto, já muitos olhares dentro do PS se viravam para Coelho, olhando-o como o dirigente que melhores condições teria para substituir Ferro Rodrigues, sem que essa substituição causasse grandes sobressaltos internos (contra Coelho é certo que João Soares não avançará). A ausência de críticas fortes por parte dos tais pesos-pesados do PS resulta, também, dos avisos que Ferro Rodrigues foi fazendo ao longo dos últimos dias, através de interlocutores autorizados. Por exemplo: o de que recusa sentir-se "condicionado" na forma como conduz o PS. Isto foi lido dentro do corpo dirigente do partido como uma ameaça velada. Concluiu-se que qualquer ataque frontal a Ferro - vindo de alguém de peso - poderia precipitar a crise interna e levar o secretário-geral a bater com a porta, alegando este não ter condições para exercer o cargo de forma plena. Ou, como disse João Cravinho na edição de ontem do PÚBLICO, "o líder tem que sentir o partido empenhado à volta dele". Neste momento, com a excepção de João Soares, ninguém está disposto a interromper os seus calendários próprios para assumir o lugar de Ferro. Os vários sectores do PS preferem ver como o secretário-geral lida com a crise. Vão esperando que o tempo passe. Alguns ausentaram-se mesmo do país (o caso de Jaime Gama, que está nos EUA a participar numa iniciativa relacionada com a NATO e que já não participou na última reunião da Comissão Política Nacional por estar reunido com ex-ministros dos Negócios Estrangeiros europeus). Como ontem dizia ao PÚBLICO um dirigente socialista não afecto à linha de Ferro Rodrigues: "Quem está disponível não interessa; e quem interessa não está disponível." Federações reunidas Ontem, ao final da tarde, Ferro Rodrigues reuniu com os líderes das federações distritais do partido, reunião que decorria à hora do fecho desta edição. À entrada, alguns dirigentes comentaram à Lusa a situação interna, não escondendo nenhum deles que o PS vive uma situação difícil. "Situação traumática", foi a expressão utilizada por Francisco Assis, líder do PS/Porto. "O partido não anda e não faz oposição", acrescentou Joaquim Raposo, líder do PS de Lisboa, e um dos dirigentes que mais criticou a liderança de Ferro na última CPN do partido. Para Francisco Assis, o PS "tem de projectar uma nova imagem para o país". "Continuo a acreditar nas virtualidades da liderança de Ferro Rodrigues, mas o PS tem de concentrar-se absolutamente na criação de uma alternativa, em alguns pontos até oposta daquela que tem sido seguida", acrescentou, afirmando ainda que "se o país tivesse uma oposição mais forte de centro esquerda, o actual Governo não teria feito tantas asneiras". "Ferro Rodrigues tem condições para protagonizar essa alternativa", mas "terá de mostrar vontade e empenho", disse ainda o líder do PS/Porto, uma das mais fortes federações do partido. Já Joaquim Raposo recusou-se a dizer se defende ou não a demissão de Ferro Rodrigues, afirmando que "quem tem de considerar isso é o secretário-geral". Menos elaborado que Assis, Raposo sustentou ainda que "é preciso fazer alguma coisa" para alterar o estado das coisas. Hoje se verá, no Hotel Sheraton. OUTROS TÍTULOS EM DESTAQUE Ferro tenta um segundo fôlego

Um partido à beira de um ataque de nervos

António Costa preferia demissão

João Soares quer mudanças no Secretariado Nacional socialista

Ferro Tenta Um Segundo Fôlego

Por JOÃO PEDRO HENRIQUES

Sábado, 08 de Novembro de 2003 Uma convenção sobre Portugal e a Europa, no princípio do ano que vem, quando o PS já tiver resolvido o problema da lista para o Parlamento Europeu (o que Ferro quer fazer até ao Natal). Estas é uma das propostas que hoje o secretário-geral poderá apresentar para sacudir a crise que a sua liderança atravessa. A Comissão Nacional (CN) do PS (órgão máximo entre congressos) reúne no Hotel Sheraton, em Lisboa, e o secretário-geral deverá aí apresentar as conclusões sobre a reflexão que nos últimos dias fez sobre as suas condições de liderança. Especulou-se sobre a possibilidade de Ferro bater com a porta mas essa hipótese era ontem tida como altamente improvável por fontes próximas do líder. Em vez disso, o secretário-geral terá preparado um programa de acção (externa e interna) visando sacudir a crise que o partido vive. A tal convenção sobre Portugal e a Europa (que poderá ter este ou outro nome), seria uma das propostas a apresentar. Do discurso inicial de Ferro, esperam-se, de acordo com o que tem sido anunciado ao longo dos dias, várias garantias. Por exemplo: de continuar disponível para liderar o PS pelo menos até ao final do seu mandato (Novembro de 2004); de desligar o partido do "processo Casa Pia" (ou seja, garantir a continuidade na liderança independentemente das eventuais acusações de que Paulo Pedroso venha a ser alvo por parte do Ministério Público); de focar as suas atenções na oposição ao Governo; de recusar mudanças na equipa dirigente do partido (sendo que Ana Gomes e Maria de Belém são os nomes mais contestados).Também se espera que o secretário-geral do PS volte a assumir alguns erros na gestão política do processo Casa Pia, repetindo o "mea culpa" que fez na última reunião da Comissão Política Nacional (CPN) do PS. Dos pesos-pesados do partido a direcção já não espera grandes contestações. Do principal desses pesos-pesados, Jorge Coelho, o PÚBLICO obteve a garantia de ter preparada para hoje uma intervenção "de apoio" ao secretário-geral e de "incentivo" para que este "ponha de novo o PS no lugar onde pertence, que é a liderar a oposição ao Governo". Na última reunião da CPN, Coelho fez questão de avisar que não está disponível para assumir a liderança - invocando nomeadamente, razões de saúde. Mas o aviso só surgiu porque, entretanto, já muitos olhares dentro do PS se viravam para Coelho, olhando-o como o dirigente que melhores condições teria para substituir Ferro Rodrigues, sem que essa substituição causasse grandes sobressaltos internos (contra Coelho é certo que João Soares não avançará). A ausência de críticas fortes por parte dos tais pesos-pesados do PS resulta, também, dos avisos que Ferro Rodrigues foi fazendo ao longo dos últimos dias, através de interlocutores autorizados. Por exemplo: o de que recusa sentir-se "condicionado" na forma como conduz o PS. Isto foi lido dentro do corpo dirigente do partido como uma ameaça velada. Concluiu-se que qualquer ataque frontal a Ferro - vindo de alguém de peso - poderia precipitar a crise interna e levar o secretário-geral a bater com a porta, alegando este não ter condições para exercer o cargo de forma plena. Ou, como disse João Cravinho na edição de ontem do PÚBLICO, "o líder tem que sentir o partido empenhado à volta dele". Neste momento, com a excepção de João Soares, ninguém está disposto a interromper os seus calendários próprios para assumir o lugar de Ferro. Os vários sectores do PS preferem ver como o secretário-geral lida com a crise. Vão esperando que o tempo passe. Alguns ausentaram-se mesmo do país (o caso de Jaime Gama, que está nos EUA a participar numa iniciativa relacionada com a NATO e que já não participou na última reunião da Comissão Política Nacional por estar reunido com ex-ministros dos Negócios Estrangeiros europeus). Como ontem dizia ao PÚBLICO um dirigente socialista não afecto à linha de Ferro Rodrigues: "Quem está disponível não interessa; e quem interessa não está disponível." Federações reunidas Ontem, ao final da tarde, Ferro Rodrigues reuniu com os líderes das federações distritais do partido, reunião que decorria à hora do fecho desta edição. À entrada, alguns dirigentes comentaram à Lusa a situação interna, não escondendo nenhum deles que o PS vive uma situação difícil. "Situação traumática", foi a expressão utilizada por Francisco Assis, líder do PS/Porto. "O partido não anda e não faz oposição", acrescentou Joaquim Raposo, líder do PS de Lisboa, e um dos dirigentes que mais criticou a liderança de Ferro na última CPN do partido. Para Francisco Assis, o PS "tem de projectar uma nova imagem para o país". "Continuo a acreditar nas virtualidades da liderança de Ferro Rodrigues, mas o PS tem de concentrar-se absolutamente na criação de uma alternativa, em alguns pontos até oposta daquela que tem sido seguida", acrescentou, afirmando ainda que "se o país tivesse uma oposição mais forte de centro esquerda, o actual Governo não teria feito tantas asneiras". "Ferro Rodrigues tem condições para protagonizar essa alternativa", mas "terá de mostrar vontade e empenho", disse ainda o líder do PS/Porto, uma das mais fortes federações do partido. Já Joaquim Raposo recusou-se a dizer se defende ou não a demissão de Ferro Rodrigues, afirmando que "quem tem de considerar isso é o secretário-geral". Menos elaborado que Assis, Raposo sustentou ainda que "é preciso fazer alguma coisa" para alterar o estado das coisas. Hoje se verá, no Hotel Sheraton. OUTROS TÍTULOS EM DESTAQUE Ferro tenta um segundo fôlego

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