Último número de "A Luta" publicou-se há 25 anos

18-02-2004
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Último Número de "A Luta" Publicou-se Há 25 Anos

Por CLARA TEIXEIRA

Sexta-feira, 09 de Janeiro de 2004 Faz hoje 25 anos que se publicou em Portugal o último número do jornal vespertino "A Luta", fundado a 25 de Agosto de 1975 por uma equipa de jornalistas liderada pelo socialista Raúl Rêgo que, três meses antes, tinha sido afastada do "República" por alegadamente ter uma orientação próxima do PS. O encerramento do jornal, que até ao 25 de Novembro tinha alcançado tiragens elevadas, parece ter ficado a dever-se a divergências editoriais entre a redacção e alguns dos seus dez cooperantes - Mário Soares, Jaime Gama, Salgado Zenha, entre outros -, sobre os critérios que deveriam obedecer à feitura de um jornal que se queria político. "Eles achavam que financeiramente as coisas estavam bem, mas eu, como percebia um bocadinho do negócio, sabia que não estavam", acrescentou, em declarações ao PÚBLICO, Vítor Direito, ex-director-adjunto de "A Luta", título que acabou por abandonar para fundar o "Correio da Manhã". "A Luta" teve origem no chamado "caso República" que, de acordo com o relato de Mário Mesquita na obra "Portugal: 20 anos de Democracia" (coordenada por António Reis e editada pelo Círculo de Leitores), vem chamar a atenção para o problema da liberdade de expressão em Portugal e também para a situação dos jornais no chamado "verão quente de 1975". Pouco antes do 25 de Abril, o capital da empresa proprietária do "República" passou a ser controlado por personalidades ligadas à Acção Socialista, mas o PCP e outros movimentos de extrema-esquerda possuíam já alguma influência através dos militantes que trabalhavam na tipografia e também na redacção. Após o 11 de Março de 1975, os jornalistas conotados com o PCP saíram do jornal e foram os tipógrafos que, dois meses mais tarde, entraram em conflito com a direcção e a redacção do jornal. A 19 de Maio, a comissão de trabalhadores do "República" exigiu o afastamento da direcção (liderada por Raúl Rêgo, entretanto falecido) e da chefia de redacção. Os jornalistas opuseram-se e, ao final da manhã, foram sequestrados nas instalações do jornal por um piquete de tipógrafos e administrativos. O jornal encerrou e só regressou às bancas a 10 de Julho, já sob a direcção do coronel Pereira de Carvalho e com uma redacção quase totalmente renovada e muito influenciada pelos movimentos de extrema-esquerda. Raúl Rêgo e a sua equipa saíram entretanto do "República" e, a 25 de Agosto, apresentaram ao país o primeiro dos 1012 números que viriam a ser editados sob o título "A Luta". O novo jornal, tal como sucedeu com o "Jornal Novo" de Artur Portela, passou imediatamente a ser identificado com o combate ao "gonçalvismo". Nesse mesmo ano, surgiram ainda na imprensa portuguesa outros títulos de vários quadrantes ideológicos, como "O Jornal" e "O Tempo". Imprensa no pós-25 de Abril Mas o país estava ainda em rescaldo do 25 de Abril e os tempos não corriam de feição para a imprensa. Como disse Jean Paul Sartre quando em Abril de 1975 visitou Portugal, a imprensa portuguesa "não explica nada. Não explica, por exemplo, o que significa uma ocupação, o que é uma autogestão, o que foi o 11 de Março...". O intelectual francês acrescentou: "Ela nunca procura explicar, ao contrário da imprensa francesa, que também é uma má imprensa, mas que tenta dar uma interpretação, seja em função da teoria marxista, na imprensa de esquerda, seja segundo uma outra teoria na imprensa de direita. Em todo o caso, dá-se sempre uma interpretação dos factos. Perguntei por que é que se passa assim em Portugal e não obtive resposta." No ano anterior ao encerramento de "A Luta", um editorial de Mário Mesquita, então director do "Diário de Notícias", tinha sido censurado pelo secretariado nacional do PS, que o acusava de escrever "por conta própria, sem reflectir as opiniões do partido a que pertence e mesmo ao arrepio delas". A resposta do visado foi directa: "Toma-se como elogio tal opinião, pois certamente o secretariado nacional do PS não aprecia jornalistas que escrevem por conta de outrem." Já depois do fecho de "A Luta", a 8 de Março de 1979, Vera Lagoa, directora de "O Diabo", era condenada a pena suspensa por dois anos por ter sido acusada de ofender figuras públicas como Mário Soares e Pezarat Correia. Chamou-lhes "escumalha" e "cambada". Nesse mesmo ano, a 27 de Setembro, foi criada em Portugal a primeira licenciatura em Comunicação Social, na Universidade Nova de Lisboa. OUTROS TÍTULOS EM MEDIA Último número de "A Luta" publicou-se há 25 anos

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