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03-06-2002
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Timor-Leste - Primeira Nação do séc. XXI «Não estamos prontos para libertar Timor» Tony Jenkins, correspondente em Nova Iorque NUGROHO Wisnumurti lidera a delegação indonésia que negoceia há seis meses o plano de autonomia. Foi embaixador das Nações Unidas e é muito respeitado em Nova Iorque. Fala calmamente e sorri com facilidade. Apesar disso, não conseguiu disfarçar um certo desconforto ao explicar a posição negocial do seu país. EXPRESSO - Em que pé estão as negociações para a autonomia de Timor-Leste? EXPRESSO - Em que pé estão as negociações para a autonomia de Timor-Leste? NUGROHO WISNUMURTI - A posição da Indonésia é muito firme: não aceitamos que a nossa proposta de autonomia seja uma solução transitória para três, cinco ou dez anos, seguida da realização de um referendo ou de um acto dito de «determinação própria». Uma solução prolongada ou adiada provocaria o reacender do conflito. Queremos uma solução que assegure a paz após a assinatura. Também não podemos deixar de antecipar um cenário onde a solução da autonomia é rejeitada. Se eles se querem separar da Indonésia, que o façam! Mas isso não quer dizer que tem de haver um referendo: vamos directamente para a independência, com todas as responsabilidades e consequências que daí advêm para os habitantes de Timor-Leste. NUGROHO WISNUMURTI - A posição da Indonésia é muito firme: não aceitamos que a nossa proposta de autonomia seja uma solução transitória para três, cinco ou dez anos, seguida da realização de um referendo ou de um acto dito de «determinação própria». Uma solução prolongada ou adiada provocaria o reacender do conflito. Queremos uma solução que assegure a paz após a assinatura. Também não podemos deixar de antecipar um cenário onde a solução da autonomia é rejeitada. Se eles se querem separar da Indonésia, que o façam! Mas isso não quer dizer que tem de haver um referendo: vamos directamente para a independência, com todas as responsabilidades e consequências que daí advêm para os habitantes de Timor-Leste. Não decidimos, por enquanto, dar liberdade a Timor-Leste porque temos responsabilidades para com os timorenses que preferem ficar sob a tutela da Indonésia. Não estamos preparados para dar liberdade a Timor-Leste. Não é assim tão simples. O cenário da independência é só uma opção - primeiro queremos tentar, até à exaustão, todas as possibilidades de uma autonomia alargada. Não decidimos, por enquanto, dar liberdade a Timor-Leste porque temos responsabilidades para com os timorenses que preferem ficar sob a tutela da Indonésia. Não estamos preparados para dar liberdade a Timor-Leste. Não é assim tão simples. O cenário da independência é só uma opção - primeiro queremos tentar, até à exaustão, todas as possibilidades de uma autonomia alargada. EXP. - Mas como é que pretende consultar os habitantes de Timor-Leste sem um referendo? EXP. - Mas como é que pretende consultar os habitantes de Timor-Leste sem um referendo? N.W. - O secretário-geral das Nações Unidas vai intensificar as relações com os líderes de Timor-Leste, dentro e fora do território, para os informar dos progressos das negociações e conhecer os seus pontos de vista, de modo a dar conta deles à mesa de negociação. N.W. - O secretário-geral das Nações Unidas vai intensificar as relações com os líderes de Timor-Leste, dentro e fora do território, para os informar dos progressos das negociações e conhecer os seus pontos de vista, de modo a dar conta deles à mesa de negociação. EXP. - Está contra a realização do referendo porque receia que outras regiões integradas na Indonésia, como Aceh e Irian Jaya, possam querer seguir o exemplo de Timor-Leste? EXP. - Está contra a realização do referendo porque receia que outras regiões integradas na Indonésia, como Aceh e Irian Jaya, possam querer seguir o exemplo de Timor-Leste? N.W. - Essa é uma das razões. Mas um referendo é só um dos métodos de conhecer as opiniões da população. Em vez de um evento «fotográfico», preferimos avaliar a situação durante as negociações. Estamos, neste momento a falar com eles. As Nações Unidas também estão a tratar disso. N.W. - Essa é uma das razões. Mas um referendo é só um dos métodos de conhecer as opiniões da população. Em vez de um evento «fotográfico», preferimos avaliar a situação durante as negociações. Estamos, neste momento a falar com eles. As Nações Unidas também estão a tratar disso. EXP. - Considera que um desses métodos é a consulta dos partidos pró-independentistas, no caso de estes serem eleitos nas eleições indonésias de Junho? EXP. - Considera que um desses métodos é a consulta dos partidos pró-independentistas, no caso de estes serem eleitos nas eleições indonésias de Junho? N.W. - Não. Estamos só a trabalhar em canais informais de consulta. N.W. - Não. Estamos só a trabalhar em canais informais de consulta. EXP. - E quem determinará que os timorenses rejeitaram a vossa proposta de autonomia? O secretário-geral da ONU? EXP. - E quem determinará que os timorenses rejeitaram a vossa proposta de autonomia? O secretário-geral da ONU? N.W. - A ONU, Portugal e a Indonésia. Portugal deverá apresentar a posição dos que são contra a integração. N.W. - A ONU, Portugal e a Indonésia. Portugal deverá apresentar a posição dos que são contra a integração. EXP. - Se o seu plano de autonomia for rejeitado, como é que vão ser retiradas as forças indonésias de Timor? EXP. - Se o seu plano de autonomia for rejeitado, como é que vão ser retiradas as forças indonésias de Timor? N.W. - Tudo será feito constitucional e ordeiramente, mas ainda não definimos esse cenário com detalhe. Quando lá chegarmos, veremos. N.W. - Tudo será feito constitucional e ordeiramente, mas ainda não definimos esse cenário com detalhe. Quando lá chegarmos, veremos. EXP. - Qual a razão para esta decisão ser anunciada tão subitamente? Porque é que o representante especial da ONU soube da proposta através da BBC? EXP. - Qual a razão para esta decisão ser anunciada tão subitamente? Porque é que o representante especial da ONU soube da proposta através da BBC? N.W. - (risos) Não encontro resposta para esse facto. As coisas acontecem tão rapidamente. O segundo cenário já era contemplado há algum tempo mas nunca tinha sido discutido seriamente. O Presidente receava cenários mais negros, tendo acabado por pedir ao Gabinete que trata especificamente de assuntos relacionados com a política e segurança para lidar com este assunto. As duas entidades encontraram-se na quarta-feira e o Gabinete expôs as suas recomendações ao Presidente. N.W. - (risos) Não encontro resposta para esse facto. As coisas acontecem tão rapidamente. O segundo cenário já era contemplado há algum tempo mas nunca tinha sido discutido seriamente. O Presidente receava cenários mais negros, tendo acabado por pedir ao Gabinete que trata especificamente de assuntos relacionados com a política e segurança para lidar com este assunto. As duas entidades encontraram-se na quarta-feira e o Gabinete expôs as suas recomendações ao Presidente. EXP. - E já estão autorizados a discutir a presença de funcionários da ONU em Timor-Leste? EXP. - E já estão autorizados a discutir a presença de funcionários da ONU em Timor-Leste? N.W. - Não. N.W. - Não. EXP. - Vão deixar de fornecer armas às milícias civis anti-independentistas de Timor-Leste? EXP. - Vão deixar de fornecer armas às milícias civis anti-independentistas de Timor-Leste? N.W. - Essa ideia não tem fundamento. Na última reunião, entreguei à ONU e a Portugal uma lista das acções e das brutalidades cometidas por civis pró-independência e pela Falintil contra timorenses que são a favor da integração. Eles estão a intimidar, aterrorizar e matar pessoas. N.W. - Essa ideia não tem fundamento. Na última reunião, entreguei à ONU e a Portugal uma lista das acções e das brutalidades cometidas por civis pró-independência e pela Falintil contra timorenses que são a favor da integração. Eles estão a intimidar, aterrorizar e matar pessoas. EXP. - A ONU propôs uma nova reunião entre Jaime Gama e Ali Alatas. Qual é o seu comentário? EXP. - A ONU propôs uma nova reunião entre Jaime Gama e Ali Alatas. Qual é o seu comentário? N.W. - Ainda estamos a discutir o assunto. Mas esperamos que ela seja viável dentro de muito pouco tempo. N.W. - Ainda estamos a discutir o assunto. Mas esperamos que ela seja viável dentro de muito pouco tempo. 30 Janeiro 1999

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Timor-Leste - Primeira Nação do séc. XXI «Não estamos prontos para libertar Timor» Tony Jenkins, correspondente em Nova Iorque NUGROHO Wisnumurti lidera a delegação indonésia que negoceia há seis meses o plano de autonomia. Foi embaixador das Nações Unidas e é muito respeitado em Nova Iorque. Fala calmamente e sorri com facilidade. Apesar disso, não conseguiu disfarçar um certo desconforto ao explicar a posição negocial do seu país. EXPRESSO - Em que pé estão as negociações para a autonomia de Timor-Leste? EXPRESSO - Em que pé estão as negociações para a autonomia de Timor-Leste? NUGROHO WISNUMURTI - A posição da Indonésia é muito firme: não aceitamos que a nossa proposta de autonomia seja uma solução transitória para três, cinco ou dez anos, seguida da realização de um referendo ou de um acto dito de «determinação própria». Uma solução prolongada ou adiada provocaria o reacender do conflito. Queremos uma solução que assegure a paz após a assinatura. Também não podemos deixar de antecipar um cenário onde a solução da autonomia é rejeitada. Se eles se querem separar da Indonésia, que o façam! Mas isso não quer dizer que tem de haver um referendo: vamos directamente para a independência, com todas as responsabilidades e consequências que daí advêm para os habitantes de Timor-Leste. NUGROHO WISNUMURTI - A posição da Indonésia é muito firme: não aceitamos que a nossa proposta de autonomia seja uma solução transitória para três, cinco ou dez anos, seguida da realização de um referendo ou de um acto dito de «determinação própria». Uma solução prolongada ou adiada provocaria o reacender do conflito. Queremos uma solução que assegure a paz após a assinatura. Também não podemos deixar de antecipar um cenário onde a solução da autonomia é rejeitada. Se eles se querem separar da Indonésia, que o façam! Mas isso não quer dizer que tem de haver um referendo: vamos directamente para a independência, com todas as responsabilidades e consequências que daí advêm para os habitantes de Timor-Leste. Não decidimos, por enquanto, dar liberdade a Timor-Leste porque temos responsabilidades para com os timorenses que preferem ficar sob a tutela da Indonésia. Não estamos preparados para dar liberdade a Timor-Leste. Não é assim tão simples. O cenário da independência é só uma opção - primeiro queremos tentar, até à exaustão, todas as possibilidades de uma autonomia alargada. Não decidimos, por enquanto, dar liberdade a Timor-Leste porque temos responsabilidades para com os timorenses que preferem ficar sob a tutela da Indonésia. Não estamos preparados para dar liberdade a Timor-Leste. Não é assim tão simples. O cenário da independência é só uma opção - primeiro queremos tentar, até à exaustão, todas as possibilidades de uma autonomia alargada. EXP. - Mas como é que pretende consultar os habitantes de Timor-Leste sem um referendo? EXP. - Mas como é que pretende consultar os habitantes de Timor-Leste sem um referendo? N.W. - O secretário-geral das Nações Unidas vai intensificar as relações com os líderes de Timor-Leste, dentro e fora do território, para os informar dos progressos das negociações e conhecer os seus pontos de vista, de modo a dar conta deles à mesa de negociação. N.W. - O secretário-geral das Nações Unidas vai intensificar as relações com os líderes de Timor-Leste, dentro e fora do território, para os informar dos progressos das negociações e conhecer os seus pontos de vista, de modo a dar conta deles à mesa de negociação. EXP. - Está contra a realização do referendo porque receia que outras regiões integradas na Indonésia, como Aceh e Irian Jaya, possam querer seguir o exemplo de Timor-Leste? EXP. - Está contra a realização do referendo porque receia que outras regiões integradas na Indonésia, como Aceh e Irian Jaya, possam querer seguir o exemplo de Timor-Leste? N.W. - Essa é uma das razões. Mas um referendo é só um dos métodos de conhecer as opiniões da população. Em vez de um evento «fotográfico», preferimos avaliar a situação durante as negociações. Estamos, neste momento a falar com eles. As Nações Unidas também estão a tratar disso. N.W. - Essa é uma das razões. Mas um referendo é só um dos métodos de conhecer as opiniões da população. Em vez de um evento «fotográfico», preferimos avaliar a situação durante as negociações. Estamos, neste momento a falar com eles. As Nações Unidas também estão a tratar disso. EXP. - Considera que um desses métodos é a consulta dos partidos pró-independentistas, no caso de estes serem eleitos nas eleições indonésias de Junho? EXP. - Considera que um desses métodos é a consulta dos partidos pró-independentistas, no caso de estes serem eleitos nas eleições indonésias de Junho? N.W. - Não. Estamos só a trabalhar em canais informais de consulta. N.W. - Não. Estamos só a trabalhar em canais informais de consulta. EXP. - E quem determinará que os timorenses rejeitaram a vossa proposta de autonomia? O secretário-geral da ONU? EXP. - E quem determinará que os timorenses rejeitaram a vossa proposta de autonomia? O secretário-geral da ONU? N.W. - A ONU, Portugal e a Indonésia. Portugal deverá apresentar a posição dos que são contra a integração. N.W. - A ONU, Portugal e a Indonésia. Portugal deverá apresentar a posição dos que são contra a integração. EXP. - Se o seu plano de autonomia for rejeitado, como é que vão ser retiradas as forças indonésias de Timor? EXP. - Se o seu plano de autonomia for rejeitado, como é que vão ser retiradas as forças indonésias de Timor? N.W. - Tudo será feito constitucional e ordeiramente, mas ainda não definimos esse cenário com detalhe. Quando lá chegarmos, veremos. N.W. - Tudo será feito constitucional e ordeiramente, mas ainda não definimos esse cenário com detalhe. Quando lá chegarmos, veremos. EXP. - Qual a razão para esta decisão ser anunciada tão subitamente? Porque é que o representante especial da ONU soube da proposta através da BBC? EXP. - Qual a razão para esta decisão ser anunciada tão subitamente? Porque é que o representante especial da ONU soube da proposta através da BBC? N.W. - (risos) Não encontro resposta para esse facto. As coisas acontecem tão rapidamente. O segundo cenário já era contemplado há algum tempo mas nunca tinha sido discutido seriamente. O Presidente receava cenários mais negros, tendo acabado por pedir ao Gabinete que trata especificamente de assuntos relacionados com a política e segurança para lidar com este assunto. As duas entidades encontraram-se na quarta-feira e o Gabinete expôs as suas recomendações ao Presidente. N.W. - (risos) Não encontro resposta para esse facto. As coisas acontecem tão rapidamente. O segundo cenário já era contemplado há algum tempo mas nunca tinha sido discutido seriamente. O Presidente receava cenários mais negros, tendo acabado por pedir ao Gabinete que trata especificamente de assuntos relacionados com a política e segurança para lidar com este assunto. As duas entidades encontraram-se na quarta-feira e o Gabinete expôs as suas recomendações ao Presidente. EXP. - E já estão autorizados a discutir a presença de funcionários da ONU em Timor-Leste? EXP. - E já estão autorizados a discutir a presença de funcionários da ONU em Timor-Leste? N.W. - Não. N.W. - Não. EXP. - Vão deixar de fornecer armas às milícias civis anti-independentistas de Timor-Leste? EXP. - Vão deixar de fornecer armas às milícias civis anti-independentistas de Timor-Leste? N.W. - Essa ideia não tem fundamento. Na última reunião, entreguei à ONU e a Portugal uma lista das acções e das brutalidades cometidas por civis pró-independência e pela Falintil contra timorenses que são a favor da integração. Eles estão a intimidar, aterrorizar e matar pessoas. N.W. - Essa ideia não tem fundamento. Na última reunião, entreguei à ONU e a Portugal uma lista das acções e das brutalidades cometidas por civis pró-independência e pela Falintil contra timorenses que são a favor da integração. Eles estão a intimidar, aterrorizar e matar pessoas. EXP. - A ONU propôs uma nova reunião entre Jaime Gama e Ali Alatas. Qual é o seu comentário? EXP. - A ONU propôs uma nova reunião entre Jaime Gama e Ali Alatas. Qual é o seu comentário? N.W. - Ainda estamos a discutir o assunto. Mas esperamos que ela seja viável dentro de muito pouco tempo. N.W. - Ainda estamos a discutir o assunto. Mas esperamos que ela seja viável dentro de muito pouco tempo. 30 Janeiro 1999

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