Teresa Costa Macedo implica presidentes, ministros e deputados

19-12-2002
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Teresa Costa Macedo Implica Presidentes, Ministros e Deputados

Por NUNO SÁ LOURENÇO

Terça-feira, 17 de Dezembro de 2002

Casa Pia no Parlamento

Ramalho Eanes, Jaime Gama e João Soares Louro contestam a ex-secretária de Estado

Logo no arranque da sessão das audições agendadas com ex-secretários de Estado, a presidente da comissão de Assuntos Constitucionais, Assunção Esteves, lembrou aos presentes que o que ali se tratava de fazer era "apurar as responsabilidades políticas" dos governantes envolvidos na gestão do processo. Teresa Costa Macedo, secretária de Estado da Família entre 1980 e 1983, ouviu e aproveitou para responder à letra. Durante a sua audição acusou um Presidente da República, outro da RTP, quatro ministros e pelo menos um deputado de conivência em relação ao silêncio sobre os casos de abuso sexual na Casa Pia.

Ramalho Eanes foi o chefe de Estado visado. Teresa Costa Macedo recordou um episódio passado no banquete da cerimónia dos 200 anos da instituição, quando o Presidente e a própria foram "levados para uma sala onde seis meninos explicaram ao pormenor as violações" de que tinham sido vítimas. "O provedor foi proibido de entrar", disse.

De acordo com a ex-governante, a reunião deixou Ramalho Eanes "chocado", tendo durado hora e meia. Costa Macedo acrescentou que o Presidente foi acompanhado a pé até à sua residência oficial pelos alunos, que pelo caminho lhe foram fornecendo mais dados. O ex-Presidente emitiu um comunicado onde dava conta da "muito má relação entre o Governo e os alunos" na altura, tendo acrescentado que tinha deixado o processo à "iniciativa" da então secretária de Estado.

Depois, a antiga secretária de Estado apontou o dedo a João Soares Louro, na altura presidente da RTP, de "ter abafado" a divulgação de uma reportagem resultante dessa recolha de depoimentos. Disse ter confrontado Soares Louro com o facto, ao que este lhe respondeu que o assunto "era tão grave" que não podia ser divulgado à época. O ex-presidente da RTP reagiu tendo afirmado já não ser o responsável na altura, assegurando que "não ficaria calado como Costa Macedo ficou estes anos todos" caso tivesse sabido do escândalo.

As baterias de Costa Macedo viraram-se também contra os ministros dos Assuntos Sociais entre 1980 e 1982. Morais Leitão, Carlos Macedo e Luís Barbosa, disse, sabiam o que se passava porque, explicou: "Se os ministros davam posse a novos provedores [foram três], concerteza que eu tinha de explicar..."

Mas Costa Macedo não se ficou por aqui. Contou ter recebido um telefonema de "um ministro do Bloco Central" - à saída disse tratar-se de Jaime Gama - que queria saber por que é que "andava a perseguir politicamente os seus funcionários". A ex-governante respondeu convidando-o a consultar o processo. De seguida deixou no ar uma conclusão elogiosa para o visado ao lembrar que "esses funcionários nunca foram promovidos".

Jaime Gama, contudo, poucas horas depois, fez sair uma nota à imprensa negando tudo: "Nunca recebi nenhuma participação sobre qualquer assunto conexo com a Casa Pia nem com ela [Teresa Costa Macedo] mantive nenhuma espécie de conversa sobre tal temática."

A ex-secretária de Estado recordou também alguns "deputados do PS que tiveram conhecimento directo do processo", embora tenha apenas confirmado o nome de José Luís Nunes. Teria sido este que a encontrou "numa viagem de avião e disse que ia abrir um processo" contra Costa Macedo por acreditar estar perante um "encobrimento". Mas, segundo a ex-governante, recuou depois de ter consultado os "dossiers".

Leonor Beleza, que sucedeu a Costa Macedo no cargo de secretária de estado da Família, esteve na comissão para dizer que ninguém a havia alertado para o problema.

Teresa Costa Macedo Implica Presidentes, Ministros e Deputados

Por NUNO SÁ LOURENÇO

Terça-feira, 17 de Dezembro de 2002

Casa Pia no Parlamento

Ramalho Eanes, Jaime Gama e João Soares Louro contestam a ex-secretária de Estado

Logo no arranque da sessão das audições agendadas com ex-secretários de Estado, a presidente da comissão de Assuntos Constitucionais, Assunção Esteves, lembrou aos presentes que o que ali se tratava de fazer era "apurar as responsabilidades políticas" dos governantes envolvidos na gestão do processo. Teresa Costa Macedo, secretária de Estado da Família entre 1980 e 1983, ouviu e aproveitou para responder à letra. Durante a sua audição acusou um Presidente da República, outro da RTP, quatro ministros e pelo menos um deputado de conivência em relação ao silêncio sobre os casos de abuso sexual na Casa Pia.

Ramalho Eanes foi o chefe de Estado visado. Teresa Costa Macedo recordou um episódio passado no banquete da cerimónia dos 200 anos da instituição, quando o Presidente e a própria foram "levados para uma sala onde seis meninos explicaram ao pormenor as violações" de que tinham sido vítimas. "O provedor foi proibido de entrar", disse.

De acordo com a ex-governante, a reunião deixou Ramalho Eanes "chocado", tendo durado hora e meia. Costa Macedo acrescentou que o Presidente foi acompanhado a pé até à sua residência oficial pelos alunos, que pelo caminho lhe foram fornecendo mais dados. O ex-Presidente emitiu um comunicado onde dava conta da "muito má relação entre o Governo e os alunos" na altura, tendo acrescentado que tinha deixado o processo à "iniciativa" da então secretária de Estado.

Depois, a antiga secretária de Estado apontou o dedo a João Soares Louro, na altura presidente da RTP, de "ter abafado" a divulgação de uma reportagem resultante dessa recolha de depoimentos. Disse ter confrontado Soares Louro com o facto, ao que este lhe respondeu que o assunto "era tão grave" que não podia ser divulgado à época. O ex-presidente da RTP reagiu tendo afirmado já não ser o responsável na altura, assegurando que "não ficaria calado como Costa Macedo ficou estes anos todos" caso tivesse sabido do escândalo.

As baterias de Costa Macedo viraram-se também contra os ministros dos Assuntos Sociais entre 1980 e 1982. Morais Leitão, Carlos Macedo e Luís Barbosa, disse, sabiam o que se passava porque, explicou: "Se os ministros davam posse a novos provedores [foram três], concerteza que eu tinha de explicar..."

Mas Costa Macedo não se ficou por aqui. Contou ter recebido um telefonema de "um ministro do Bloco Central" - à saída disse tratar-se de Jaime Gama - que queria saber por que é que "andava a perseguir politicamente os seus funcionários". A ex-governante respondeu convidando-o a consultar o processo. De seguida deixou no ar uma conclusão elogiosa para o visado ao lembrar que "esses funcionários nunca foram promovidos".

Jaime Gama, contudo, poucas horas depois, fez sair uma nota à imprensa negando tudo: "Nunca recebi nenhuma participação sobre qualquer assunto conexo com a Casa Pia nem com ela [Teresa Costa Macedo] mantive nenhuma espécie de conversa sobre tal temática."

A ex-secretária de Estado recordou também alguns "deputados do PS que tiveram conhecimento directo do processo", embora tenha apenas confirmado o nome de José Luís Nunes. Teria sido este que a encontrou "numa viagem de avião e disse que ia abrir um processo" contra Costa Macedo por acreditar estar perante um "encobrimento". Mas, segundo a ex-governante, recuou depois de ter consultado os "dossiers".

Leonor Beleza, que sucedeu a Costa Macedo no cargo de secretária de estado da Família, esteve na comissão para dizer que ninguém a havia alertado para o problema.

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