Figo não diz "adeus", mas "até já"

21-08-2004
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Figo Não Diz "Adeus", mas "Até Já"

Por BRUNO PRATA

Quinta-feira, 19 de Agosto de 2004 Luís Figo não é nem nunca será um homem de extremar posições ou de rupturas radicais e o comunicado que ontem divulgou não pode ser lido como um "adeus" definitivo à selecção portuguesa de futebol. É, no máximo, um "até já". Ou, como ele próprio escreveu, "o momento de fazer uma pausa". Segundo Miguel Macedo, da empresa Starzone, que representa os interesses do futebolista do Real Madrid, designadamente desde que este optou por deixar de ser representado pelo ex-empresário José Veiga, não está sequer excluída a possibilidade de Figo vir a ser chamado para um ou outro jogo mais complicado na corrida de Portugal ao apuramento para o Mundial 2006. E a sua presença ou não na fase final, que irá decorrer na Alemanha, no caso da selecção portuguesa se apurar, será sempre resultado da apreciação que Figo e Luiz Scolari irão fazer pouco antes do início da prova. Terá sido isso, de resto, que Figo acertou anteontem à noite numa conversa em Lisboa com o seleccionador português. A questão do abandono de Luís Figo surgiu pouco antes do arranque do Campeonato da Europa e foi suscitada por declarações do próprio futebolista, que admitiu esse cenário logo após o fim da prova em que a selecção portuguesa só foi batida pela Grécia e obteve o seu melhor resultado de sempre. Mas, ao contrário do seu amigo Rui Costa, que surpreendeu até os seus próprios companheiros e treinadores com o anúncio definitivo do adeus à selecção na véspera do decisivo jogo com a Grécia, Figo deixou sempre uma porta entreaberta. Percebeu-se que a sua vontade era ser dispensado dos jogos particulares e de qualificação para o Mundial, mantendo-se disponível para a fase final se as pernas e o ânimo não o traírem entretanto. E manteve essa disponibilidade mesmo depois de alguns "opinions makers" terem criticado o facto de Figo poder vir a jogar o Mundial aproveitando-se do suor e da entrega de outros jogadores, que assim teriam de ficar pelo caminho para lhe abrir uma vaga. Fê-lo, provavelmente, porque confia que a sua eventual chamada nessas circunstâncias pode vir a resultar de um consenso nacional, a exemplo do que aconteceu, por exemplo, na Suécia com o avançado Larsson, que depois do abandono não resistiu às pressões para regressar e acabou por ser titular no Europeu recentemente disputado em Portugal. Notícia da SIC Nesse sentido, Figo foi tendo conversas com os responsáveis federativos e com o próprio Scolari, em que lhes fez sentir a dificuldade de repetir a última época, em que aos compromissos extenuantes do Real Madrid nas diversas provas em Espanha e no calendário internacional, que o obrigaram a jogar seis dezenas de jogos, teve de juntar os diversos jogos ao serviço da selecção nacional. Tarefa hercúlea a quem, como lembrou Miguel Macedo, "nunca se poupa", já tem 31 anos e serve com total assuidade a selecção portuguesa há 15 épocas. Por isso, e por entender que em Portugal existem já outros valores de qualidade que o podem substituir em muitos jogos, Figo reclamava a possibilidade de durante os dois anos que faltam até ao Mundial pudesse apenas procupar-se com o clube madrileno. Mas uma notícia divulgada há poucas semanas pelo canal de televisão SIC, segundo a qual Figo já teria decidido abandonar definitivamente a selecção nacional, não agradou ao jogador e fê-lo apressar todo o processo, que redundou no comunicado ontem divulgado. Antes de o escrever, o futebolista português deslocou-se anteontem à noite a Lisboa para um encontro com Luiz Felipe Scolari. A conversa foi "extremamente cordata e interessante", com o seleccionador português a entender as razões de Figo e a aceitar a solução por ele proposta. Tudo indica que Scolari terá na altura assegurado a disponibilidade de Figo para os jogos da fase de apuramento mais difíceis e em que a sua presença possa ser mais determinante. Treinador e jogador terão, de resto, concluído que isso até pode ser facilitado pelo facto de os responsáveis portugueses terem negociado bem a calendarização do apuramento para o Mundial e as deslocações ao Leste para jogar com a Estónia, Eslováquia, Letónia e Rússia não caírem nos sempre mais complicados meses de Inverno. Obviamente, logo ali ficou definido que Figo não será convocado para o jogo com a Letónia, a realizar já a 4 de Setembro, em Riga. Telefonema a Sampaio Logo após o encontro com Scolari, Luís Figo encontrou-se também com o presidente da Federação Portuguesa de Futebol (FPF), e a conversa decorreu em moldes idênticos. Aliás, o próprio Gilberto Madaíl afirmou ontem "não estar a ver Luís Figo abandonar a Selecção Nacional numa altura em que a campanha para o Mundial está à porta". "Pedi ao Luís para se manter ao serviço da nossa Selecção. Estivemos reunidos e francamente não estou a ver o Luís deixar a Selecção nesta altura, tanto mais que o jogador pretende ainda ter uma passagem pelo futebol inglês", acrescentou o líder da FPF, que confirmou os encontros. Figo teve ainda a preocupação de telefonar posteriormente ao Presidente da Républica, Jorge Sampaio, de quem é um amigo de há longa data, dando-lhe conta do que se estava a passar. O jogador português já tinha aproveitado a viagem com o Real Madrid à Polónia, onde jogou a primeira mão da pré-eliminatória da Liga dos Campeões com o Wisla Cracóvia para fazer o rascunho do comunicado. A versão final do documento fê-la chegar ontem a Luís Vicente, também da Starzone, que por sua vez a enviou a Gilberto Madaíl, conforme combinado. Começando por admitir que "há momentos na vida em que todos somos obrigados a fazer opções", Figo recorda o seu percurso de 15 anos na selecção, as muitas alegrias que viveu e também "algumas tristezas". Admite que "surgiu um novo grupo de futebolistas, capaz de garantir a continuidade do nível alcançado", e conclui que "chegou o momento de fazer uma pausa". "Não sei, ainda, dizer se para sempre - porque nunca recusei servir o meu país e porque ninguém pode prever o futuro - , mas, neste momento sinto necessidade de parar. Esta é a expressão do meu sentimento", acrescenta ainda, para mais à frente sublinhar que se vai manter "presente e disponível para ajudar a selecção nacional sempre que entenderem" que a sua presença "representa uma mais-valia indispensável". Enigmático para muitos, mas claro como a água para quem esteve a par das conversas com Scolari. O próprio secretário de Estado do Desporto sublinhou ao PÚBLICO que "Figo é uma referencia incontornável do país, como o provam, por exemplo, os seus índices de notoriedade". "A sua partida, mesmo que não definitiva, já nos deixa saudadas", acrescentou Hermínio Loureiro. Luís Figo é "um jogador incomparável", dizia ontem Madaíl, que nunca admitiu a possibilidade de Portugal prescindir totalmente da principal bandeira do futebol português. OUTROS TÍTULOS EM DESTAQUE Figo não diz "adeus", mas "até já"

O símbolo nacional

O comunicado

Ficha

Cronologia

Figo Não Diz "Adeus", mas "Até Já"

Por BRUNO PRATA

Quinta-feira, 19 de Agosto de 2004 Luís Figo não é nem nunca será um homem de extremar posições ou de rupturas radicais e o comunicado que ontem divulgou não pode ser lido como um "adeus" definitivo à selecção portuguesa de futebol. É, no máximo, um "até já". Ou, como ele próprio escreveu, "o momento de fazer uma pausa". Segundo Miguel Macedo, da empresa Starzone, que representa os interesses do futebolista do Real Madrid, designadamente desde que este optou por deixar de ser representado pelo ex-empresário José Veiga, não está sequer excluída a possibilidade de Figo vir a ser chamado para um ou outro jogo mais complicado na corrida de Portugal ao apuramento para o Mundial 2006. E a sua presença ou não na fase final, que irá decorrer na Alemanha, no caso da selecção portuguesa se apurar, será sempre resultado da apreciação que Figo e Luiz Scolari irão fazer pouco antes do início da prova. Terá sido isso, de resto, que Figo acertou anteontem à noite numa conversa em Lisboa com o seleccionador português. A questão do abandono de Luís Figo surgiu pouco antes do arranque do Campeonato da Europa e foi suscitada por declarações do próprio futebolista, que admitiu esse cenário logo após o fim da prova em que a selecção portuguesa só foi batida pela Grécia e obteve o seu melhor resultado de sempre. Mas, ao contrário do seu amigo Rui Costa, que surpreendeu até os seus próprios companheiros e treinadores com o anúncio definitivo do adeus à selecção na véspera do decisivo jogo com a Grécia, Figo deixou sempre uma porta entreaberta. Percebeu-se que a sua vontade era ser dispensado dos jogos particulares e de qualificação para o Mundial, mantendo-se disponível para a fase final se as pernas e o ânimo não o traírem entretanto. E manteve essa disponibilidade mesmo depois de alguns "opinions makers" terem criticado o facto de Figo poder vir a jogar o Mundial aproveitando-se do suor e da entrega de outros jogadores, que assim teriam de ficar pelo caminho para lhe abrir uma vaga. Fê-lo, provavelmente, porque confia que a sua eventual chamada nessas circunstâncias pode vir a resultar de um consenso nacional, a exemplo do que aconteceu, por exemplo, na Suécia com o avançado Larsson, que depois do abandono não resistiu às pressões para regressar e acabou por ser titular no Europeu recentemente disputado em Portugal. Notícia da SIC Nesse sentido, Figo foi tendo conversas com os responsáveis federativos e com o próprio Scolari, em que lhes fez sentir a dificuldade de repetir a última época, em que aos compromissos extenuantes do Real Madrid nas diversas provas em Espanha e no calendário internacional, que o obrigaram a jogar seis dezenas de jogos, teve de juntar os diversos jogos ao serviço da selecção nacional. Tarefa hercúlea a quem, como lembrou Miguel Macedo, "nunca se poupa", já tem 31 anos e serve com total assuidade a selecção portuguesa há 15 épocas. Por isso, e por entender que em Portugal existem já outros valores de qualidade que o podem substituir em muitos jogos, Figo reclamava a possibilidade de durante os dois anos que faltam até ao Mundial pudesse apenas procupar-se com o clube madrileno. Mas uma notícia divulgada há poucas semanas pelo canal de televisão SIC, segundo a qual Figo já teria decidido abandonar definitivamente a selecção nacional, não agradou ao jogador e fê-lo apressar todo o processo, que redundou no comunicado ontem divulgado. Antes de o escrever, o futebolista português deslocou-se anteontem à noite a Lisboa para um encontro com Luiz Felipe Scolari. A conversa foi "extremamente cordata e interessante", com o seleccionador português a entender as razões de Figo e a aceitar a solução por ele proposta. Tudo indica que Scolari terá na altura assegurado a disponibilidade de Figo para os jogos da fase de apuramento mais difíceis e em que a sua presença possa ser mais determinante. Treinador e jogador terão, de resto, concluído que isso até pode ser facilitado pelo facto de os responsáveis portugueses terem negociado bem a calendarização do apuramento para o Mundial e as deslocações ao Leste para jogar com a Estónia, Eslováquia, Letónia e Rússia não caírem nos sempre mais complicados meses de Inverno. Obviamente, logo ali ficou definido que Figo não será convocado para o jogo com a Letónia, a realizar já a 4 de Setembro, em Riga. Telefonema a Sampaio Logo após o encontro com Scolari, Luís Figo encontrou-se também com o presidente da Federação Portuguesa de Futebol (FPF), e a conversa decorreu em moldes idênticos. Aliás, o próprio Gilberto Madaíl afirmou ontem "não estar a ver Luís Figo abandonar a Selecção Nacional numa altura em que a campanha para o Mundial está à porta". "Pedi ao Luís para se manter ao serviço da nossa Selecção. Estivemos reunidos e francamente não estou a ver o Luís deixar a Selecção nesta altura, tanto mais que o jogador pretende ainda ter uma passagem pelo futebol inglês", acrescentou o líder da FPF, que confirmou os encontros. Figo teve ainda a preocupação de telefonar posteriormente ao Presidente da Républica, Jorge Sampaio, de quem é um amigo de há longa data, dando-lhe conta do que se estava a passar. O jogador português já tinha aproveitado a viagem com o Real Madrid à Polónia, onde jogou a primeira mão da pré-eliminatória da Liga dos Campeões com o Wisla Cracóvia para fazer o rascunho do comunicado. A versão final do documento fê-la chegar ontem a Luís Vicente, também da Starzone, que por sua vez a enviou a Gilberto Madaíl, conforme combinado. Começando por admitir que "há momentos na vida em que todos somos obrigados a fazer opções", Figo recorda o seu percurso de 15 anos na selecção, as muitas alegrias que viveu e também "algumas tristezas". Admite que "surgiu um novo grupo de futebolistas, capaz de garantir a continuidade do nível alcançado", e conclui que "chegou o momento de fazer uma pausa". "Não sei, ainda, dizer se para sempre - porque nunca recusei servir o meu país e porque ninguém pode prever o futuro - , mas, neste momento sinto necessidade de parar. Esta é a expressão do meu sentimento", acrescenta ainda, para mais à frente sublinhar que se vai manter "presente e disponível para ajudar a selecção nacional sempre que entenderem" que a sua presença "representa uma mais-valia indispensável". Enigmático para muitos, mas claro como a água para quem esteve a par das conversas com Scolari. O próprio secretário de Estado do Desporto sublinhou ao PÚBLICO que "Figo é uma referencia incontornável do país, como o provam, por exemplo, os seus índices de notoriedade". "A sua partida, mesmo que não definitiva, já nos deixa saudadas", acrescentou Hermínio Loureiro. Luís Figo é "um jogador incomparável", dizia ontem Madaíl, que nunca admitiu a possibilidade de Portugal prescindir totalmente da principal bandeira do futebol português. OUTROS TÍTULOS EM DESTAQUE Figo não diz "adeus", mas "até já"

O símbolo nacional

O comunicado

Ficha

Cronologia

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