EXPRESSO: Desporto

18-11-2002
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Râguebi de 7 campeão reivindica mais apoios

Com o acesso olímpico em 2008, a Federação quer capitalizar o título europeu

Fotografias de António Pedro Ferreira O seleccionador nacional, Tomás Morais, sustenta que o râguebi de sete encaixa com perfeição nas características dos jogadores portugueses

A SELECÇÃO nacional de râguebi de sete juntou recentemente mais um triunfo internacional ao notável currículo de vitórias que tem vindo a constituir nos últimos meses. Ao vencer no passado fim-de-semana, no longínquo Sri Lanka, um torneio integrante do circuito mundial organizado pelo International Board, que integra a Federação Internacional (FIRA), a equipa mais não fez do que confirmar que o título europeu conquistado em Agosto, e a anterior vitória em Madrid, num torneio do mesmo circuito, não foram obra do acaso.

Na ilha vizinha da Índia, os portugueses somaram seis vitórias, derrotando na final o Quénia (24-21). Mas além do troféu correspondente ao primeiro lugar, trouxeram ainda dois prémios individuais: António Cascais e Tomás Morais foram eleitos, respectivamente, o melhor jogador e treinador da competição.

O râguebi de sete é uma das variantes da modalidade clássica, jogada, como se sabe, por equipas com quinze elementos. Lançado pelos escoceses nos anos 80, como forma de prolongar a época e também proporcionar uma actividade mais lúdica e prazenteira aos jogadores, o râguebi de sete chegou a Portugal no final dessa década e depressa houve uma forte identificação com os portugueses.

O Torneio Lisboa Sevens, que todos os anos juntava na capital alguns dos melhores clubes mundiais, tornou-se uma referência internacional e ajudou à captação de novos jogadores.

Poucos mas bons

Tomás Morais

, revela Tomás Morais., acrescenta.

Só isso ajuda a explicar que um país como Portugal, com não mais de 3750 atletas federados (competição e formação), que no râguebi de 15 milita na II Divisão europeia e a nível mundial não vai além, presentemente, da 23ª posição, seja um dos expoentes máximos no jogo de sete.

Mantendo-se as dimensões do campo e as regras básicas (embora as «melées» e os alinhamentos sejam feitos com apenas três jogadores de cada lado, em vez dos habituais oito no râguebi clássico), esta variante pouco tem a ver com as características da modalidade-mãe.

Com muito mais espaço disponível, impera a circulação de bola à mão (quase não se joga ao pé) e o jogo torna-se muito mais criativo, técnico e veloz, alcançando-se «ensaios permanentes e muito bonitos». A robustez física perde o peso que apresenta no râguebi de 15 «e isso vai precisamente ao encontro das características dos portugueses», refere o treinador campeão europeu.

Tomás Morais salienta ter a equipa que dirige conseguido «criar um estilo próprio de jogo». «Jogue quem jogar, a equipa mantém sempre o mesmo nível», reforça, com orgulho.

A velocidade impera, os jogadores terminam esgotados. «É sempre a andar, quase não há paragens e o ritmo chega a ser estonteante», reforça Tomás Morais. Por isso as partidas têm uma duração de apenas 14 minutos úteis (com duas partes), realizando-se em média três por dia. Como as substituições são definitivas e estão reduzidas a um máximo de três, nos últimos tempos as federações nacionais têm feito alguma pressão no sentido de as regras serem alteradas e permitirem a rotatividade permanente dos jogadores, à semelhança do que se faz noutras modalidades.

Não deixa de ser caricato, no entanto, que o título europeu conquistado há um mês só tenha sido amealhado depois de os jogadores, perante a falta de verbas da Federação Portuguesa de Râguebi (FPR), terem aceitado custear do seu bolso parte das despesas. Em média, cada um adiantou 250 euros para pagar a gasolina (consumida por carros dos próprios) e gastos com a alimentação e estada em Heidelberg.

Aposta olímpica

«Completamente amadores como são, só a paixão pelo râguebi permite uma coisa destas», considera Picão de Abreu. Por essa razão, antes da partida para o Sri Lanka, o presidente federativo e os membros da selecção nacional de sete visitaram Hermínio Loureiro, tentando sensibilizar o secretário de Estado dos Desportos para a necessidade de a modalidade ser vista com outros olhos.

«O nosso orçamento deste ano é de apenas 620 mil euros», revela Picão de Abreu. Verba essa que representa, em termos orçamentais, uma diminuição de 23,2% em relação a 1997, enquanto o número de praticantes aumentou 15,2%.

Na visita ao responsável governativo, a FPR não deixou de referir a circunstância do râguebi de sete passar a ser modalidade olímpica a partir dos Jogos de 2008, em Pequim, e de perante os resultados até agora atingidos pela selecção nacional ser necessário o reforço de verbas para a modalidade.

«Devia ser ao contrário, o dinheiro devia vir antes dos resultados. Mas como temos de jogar com as regras impostas pelo sistema, embora discordemos delas, fomos pedir aquilo a que julgamos ter direito», disse Picão de Abreu. Na mesma audiência, o dirigente federativo chamou ainda a atenção de Hermínio Loureiro para a necessidade de os duodécimos pagos pelo IND serem pagos a tempo e horas, salientando que a FPR tem neste momento três meses em atraso.

Jogando com a ironia, Picão de Abreu ofereceu a Hermínio Loureiro uma bola de râguebi assinada por todos os campeões europeus... mas vazia, justificando a ausência do pipo precisamente com a falta de dinheiro para a sua aquisição.

Râguebi de 7 campeão reivindica mais apoios

Com o acesso olímpico em 2008, a Federação quer capitalizar o título europeu

Fotografias de António Pedro Ferreira O seleccionador nacional, Tomás Morais, sustenta que o râguebi de sete encaixa com perfeição nas características dos jogadores portugueses

A SELECÇÃO nacional de râguebi de sete juntou recentemente mais um triunfo internacional ao notável currículo de vitórias que tem vindo a constituir nos últimos meses. Ao vencer no passado fim-de-semana, no longínquo Sri Lanka, um torneio integrante do circuito mundial organizado pelo International Board, que integra a Federação Internacional (FIRA), a equipa mais não fez do que confirmar que o título europeu conquistado em Agosto, e a anterior vitória em Madrid, num torneio do mesmo circuito, não foram obra do acaso.

Na ilha vizinha da Índia, os portugueses somaram seis vitórias, derrotando na final o Quénia (24-21). Mas além do troféu correspondente ao primeiro lugar, trouxeram ainda dois prémios individuais: António Cascais e Tomás Morais foram eleitos, respectivamente, o melhor jogador e treinador da competição.

O râguebi de sete é uma das variantes da modalidade clássica, jogada, como se sabe, por equipas com quinze elementos. Lançado pelos escoceses nos anos 80, como forma de prolongar a época e também proporcionar uma actividade mais lúdica e prazenteira aos jogadores, o râguebi de sete chegou a Portugal no final dessa década e depressa houve uma forte identificação com os portugueses.

O Torneio Lisboa Sevens, que todos os anos juntava na capital alguns dos melhores clubes mundiais, tornou-se uma referência internacional e ajudou à captação de novos jogadores.

Poucos mas bons

Tomás Morais

, revela Tomás Morais., acrescenta.

Só isso ajuda a explicar que um país como Portugal, com não mais de 3750 atletas federados (competição e formação), que no râguebi de 15 milita na II Divisão europeia e a nível mundial não vai além, presentemente, da 23ª posição, seja um dos expoentes máximos no jogo de sete.

Mantendo-se as dimensões do campo e as regras básicas (embora as «melées» e os alinhamentos sejam feitos com apenas três jogadores de cada lado, em vez dos habituais oito no râguebi clássico), esta variante pouco tem a ver com as características da modalidade-mãe.

Com muito mais espaço disponível, impera a circulação de bola à mão (quase não se joga ao pé) e o jogo torna-se muito mais criativo, técnico e veloz, alcançando-se «ensaios permanentes e muito bonitos». A robustez física perde o peso que apresenta no râguebi de 15 «e isso vai precisamente ao encontro das características dos portugueses», refere o treinador campeão europeu.

Tomás Morais salienta ter a equipa que dirige conseguido «criar um estilo próprio de jogo». «Jogue quem jogar, a equipa mantém sempre o mesmo nível», reforça, com orgulho.

A velocidade impera, os jogadores terminam esgotados. «É sempre a andar, quase não há paragens e o ritmo chega a ser estonteante», reforça Tomás Morais. Por isso as partidas têm uma duração de apenas 14 minutos úteis (com duas partes), realizando-se em média três por dia. Como as substituições são definitivas e estão reduzidas a um máximo de três, nos últimos tempos as federações nacionais têm feito alguma pressão no sentido de as regras serem alteradas e permitirem a rotatividade permanente dos jogadores, à semelhança do que se faz noutras modalidades.

Não deixa de ser caricato, no entanto, que o título europeu conquistado há um mês só tenha sido amealhado depois de os jogadores, perante a falta de verbas da Federação Portuguesa de Râguebi (FPR), terem aceitado custear do seu bolso parte das despesas. Em média, cada um adiantou 250 euros para pagar a gasolina (consumida por carros dos próprios) e gastos com a alimentação e estada em Heidelberg.

Aposta olímpica

«Completamente amadores como são, só a paixão pelo râguebi permite uma coisa destas», considera Picão de Abreu. Por essa razão, antes da partida para o Sri Lanka, o presidente federativo e os membros da selecção nacional de sete visitaram Hermínio Loureiro, tentando sensibilizar o secretário de Estado dos Desportos para a necessidade de a modalidade ser vista com outros olhos.

«O nosso orçamento deste ano é de apenas 620 mil euros», revela Picão de Abreu. Verba essa que representa, em termos orçamentais, uma diminuição de 23,2% em relação a 1997, enquanto o número de praticantes aumentou 15,2%.

Na visita ao responsável governativo, a FPR não deixou de referir a circunstância do râguebi de sete passar a ser modalidade olímpica a partir dos Jogos de 2008, em Pequim, e de perante os resultados até agora atingidos pela selecção nacional ser necessário o reforço de verbas para a modalidade.

«Devia ser ao contrário, o dinheiro devia vir antes dos resultados. Mas como temos de jogar com as regras impostas pelo sistema, embora discordemos delas, fomos pedir aquilo a que julgamos ter direito», disse Picão de Abreu. Na mesma audiência, o dirigente federativo chamou ainda a atenção de Hermínio Loureiro para a necessidade de os duodécimos pagos pelo IND serem pagos a tempo e horas, salientando que a FPR tem neste momento três meses em atraso.

Jogando com a ironia, Picão de Abreu ofereceu a Hermínio Loureiro uma bola de râguebi assinada por todos os campeões europeus... mas vazia, justificando a ausência do pipo precisamente com a falta de dinheiro para a sua aquisição.

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