O filme está a ficar demasiado pesado

09-12-2004
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O Filme Está a Ficar Demasiado Pesado

Segunda-feira, 29 de Novembro de 2004 realidade continua a ultrapassar a ficção. Quase não passa um dia sem que o Governo proporcione aos portugueses mais uma trapalhada. O Governo não, que as trapalhadas têm quase sempre o mesmo epicentro: o centro do Governo, os próximos de Santana Lopes, o próprio primeiro-ministro. A surpresa de ontem - a demissão intempestiva de um ministro que tomara posse em novas funções apenas há quatro dias -, para mais feita através de um comunicado público de uma enorme agressividade política, ultrapassou tudo. E é capaz de desencadear um processo em que nem a maioria, nem o principal partido da oposição, nem o Presidente da República, pareciam interessados para já: a dissolução do Parlamento e a convocação de eleições antecipadas. O que há de novo no que ontem se passou? Primeiro, o facto de o ministro que se demite ser membro do núcleo dos fiéis de Santana, alguém que não existiria politicamente sem ele e que era tido como um seu amigo a toda a prova. Depois, porque a demissão volta a tocar o núcleo político do Governo, de que Henrique Chaves faria parte (depois do seu comunicado de ontem ficou-se com dúvidas...) até há pouco dias. E, por fim, porque a forma violenta como o ministro se despediu revelou que não é mais possível saber onde começa a verdade e terminam as mentiras, os enganos e as omissões nas mensagens que Santana vai transmitindo ao ritmo frenético de um cavalo louco. Henrique Chaves, que há cinco dias dissera que saía das suas funções de ministro Adjunto por excesso de trabalho, revela agora que não tinha nenhum trabalho delegado nesse papel (um papel que já se sabia, de resto, que não desempenhava, pois coordenação entre ministros foi algo que nunca houve neste Governo). Revela também que lhe mentiram, pois deram-lhe entender, para aceitar a despromoção, que se não a aceitasse o Governo cairia, empurrado pelo Presidente. E acrescenta ainda que haverá mais um ministro a substituir, não revelando é qual. Quando isto é dito por um inimigo político, desconfia-se - quando é escrito pelo aliado e companheiro mais fiel, percebe-se a que ponto chegaram as trapalhadas dentro de um Governo que, no entender no primeiro-ministro, "é um bebé que precisa de ser acarinhado". Principalmente acarinhado pela família, isto é, pelos membros do PSD como Cavaco Silva, o antigo primeiro-ministro que no sábado, em artigo no "Expresso", cortou de vez com o actual chefe do Governo. Aproveitando uma cerimónia pública para lavar em público a roupa suja, este "bebé" que já anda pela política e pelos gabinetes ministeriais há 25 anos, nem sequer percebeu que mostrava mais uma vez aquilo que não é: um homem de Estado. O que não surpreende, sobretudo se se confirmar a notícia de que adiou a tomada de posse dos dois secretários de Estado reconduzidos para ir, no sábado, a um casamento... Este filme começa a ser demasiado pesado, o que está no comunicado de Chaves é demasiado feio, para que mesmo o mais tolerante e paciente não perceba que a instabilidade está no coração do Governo, nasce no gabinete daquele que devia ser o chefe de orquestra e deva reconsiderar todos os cenários políticos. Aquando da discussão sobre a dissolução da AR, em Julho, defendi que a legalidade formal e constitucional não a recomendava, mas que a figura do primeiro-ministro autorizava uma decisão "ad-hominem". Santana Lopes tem-se encarregado de mostrar que há momentos na política em que o problema são mesmo os homens e as suas qualidades - ou a gritante falta delas. OUTROS TÍTULOS EM DESTAQUE Sampaio vai avaliar condições de Santana para governar

As razões de Henrique Chaves

Sócrates não pede demissão do Governo

Santana Lopes furioso com cisão da família PSD

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