Santana Lopes furioso com cisão da família PSD

12-12-2004
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Santana Lopes Furioso com Cisão da Família PSD

Por CELESTE PEREIRA

Segunda-feira, 29 de Novembro de 2004 O primeiro-ministro viveu ontem um dos dias mais difíceis do mandato que iniciou há pouco mais de quatro meses. Ele próprio nem fez esforços para esconder a sua irritação e desalento. O dia tinha tudo para ser de festa - a agenda de Santana Lopes estava preenchida com três inaugurações em municípios transmontanos liderados pelo PSD, uma delas a abertura do novo lanço do IP3, entre Vila Real e a Régua -, mas as cisões na família "laranja" acabaram por deixar o chefe do Governo à beira de um ataque de nervos. E não era para menos: depois dos recados de Cavaco Silva anteontem no semanário "Expresso", que lançou um "grito de alarme" contra "políticos incompetentes" que obedecem a "interesses particulares", Santana Lopes tinha tudo, menos razões para sorrir. Mas até ao princípio da tarde ainda se esforçou por mostrar boa disposição. Em Ribeira de Pena e Vila Pouca de Aguiar, o primeiro-ministro andou de riso nos lábios aos beijos e abraços à população e o seu semblante só se alterou radicalmente quando soube da demissão do ministro e seu amigo Henrique Chaves, que há cinco dias passou de ministro-adjunto do primeiro-ministro para a pasta da Juventude e Desporto. O dia começou em Ribeira de Pena, onde Santana Lopes inaugurou o Lar da Santa Casa da Misericórdia local. O primeiro-ministro quis passear a pé para cumprimentar os muitos cidadãos que se concentraram na vila transmontana e os sinais de irritação só surgiram mais tarde quando, no seu discurso de inauguração, inusitadamente, disparou algumas indirectas que batiam certinho em Cavaco Silva e na "família" cavaquista. Santana Lopes não se escusou aliás de os acusar de "traição". "Quem quisesse apresentar alternativas, sendo militante do partido que dirijo, teve uma oportunidade óptima no congresso do PSD. Não o ter feito e continuar a fazer barulho, é uma forma de traição que os portugueses registam e certamente não esquecem", disse. Aos jornalistas, e, com muita ironia à mistura, o chefe do Governo sublinhou que não revia a classe política que dirige nas farpas lançadas por Cavaco Silva com as quais, de resto, sublinhou, "não podia estar mais de acordo". "Palavras dirigidas em geral", anotou Santana, considerando que, no artigo, Cavaco se referiu "à necessidade que o país deve ter nos vários níveis de actividade de procurar os melhores e mais capazes para as tarefas que têm que desempenhar". Este é, aliás, "um esforço que todos temos que fazer", insistiu Santana Lopes que, como sublinhou, procurou "formar um governo com pessoas competentes". E "com honra e orgulho posso comparar o Governo que lidero com outros que o antecederam", concluiu. Explicações feitas, Santana terminava a resposta ao "alarmista" Cavaco Silva parafraseando o próprio ex-primeiro-ministro: "Deixem-me trabalhar!". O "bebé prematuro" Mas a surpresa do dia estava reservada para mais tarde. Santana Lopes passeava pelas ruas de Vila Pouca de Aguiar, onde chegou com mais de uma hora de atraso, quando em Lisboa Henrique Chaves pedia a demissão, acusando o primeiro-ministro de "falta de lealdade, solidariedade e coordenação". Santana saberia da demissão um pouco mais tarde, quando se preparava para discursar na inauguração dos novos paços do concelho aguiarenses, que até já estão a funcionar há algum tempo, e reagiu de imediato, não escondendo a fúria com mais esta "traição" da família PSD. O modo como Henrique Chaves, amigo de Santana, se demitiu foi um duro golpe para o primeiro-ministro, que se terá inspirado na velha máxima "com amigos assim, quem precisa de ter inimigos?" para reagir à surpresa. "Já viram que o engenheiro Sócrates quase não precisa de falar, porque o tempo que era guardado para ele falar, como líder da oposição, é ocupado por outros [do PSD] que em vez de nos ajudar fazem o papel que devia ser a oposição a fazer?", desabafou. Santana já tinha chegado mesmo a comparar o nascimento deste Governo ao de um bebé prematuro que teve que ir para a incubadora, "para ganhar direito à vida", mas que, em vez de ser acarinhado pela família foi logo tratado pelos "irmãos mais velhos" aos "estalos e pontapés". Em Portugal é assim, lamentou o primeiro-ministro, só "a posteriori" as pessoas são reconhecidas. "Os que antigamente criticavam Cavaco Silva, agora cantam hossanas e louvores e só dizem bem dele", disse. Como se não bastasse, o dia terminou com apupos de cidadãos na inauguração do IP3 do lanço do entre Vila Real e a Régua, agora A24. Santana Lopes chegou à cerimónia com mais de uma hora e meia de atraso e, apesar da chuva e do frio, tinha um bom número de cidadãos à sua espera, prontos a insultá-lo contra a introdução de portagens na nova via e os atrasos no pagamento das respectivas expropriações de terrenos. Santana ficou com o semblante tão carregado que o social-democrata Manuel Martins, presidente da Câmara de Vila Real, não conteve um gesto de conforto ao chefe de Governo: "Eu também fui ao fundo do infernos e depois subi ao purgatório e estive quatro anos até sair do purgatório. É preciso ser persistente, ter coragem e ser determinado e o senhor é-o." O dia corria tão mal que nem a solidariedade do autarca PSD alterou o semblante de Santana. Caixa Governo itinerante em 2005 Em 2005, o Governo vai sair para a rua e dedicar cada mês do ano a cada um dos 12 distritos mais carenciados do país. O anúncio foi feito ontem por Santana Lopes, durante a sua visita a Trás-os-Montes. O chefe de Governo não explicou como irá concretizar esta medida, mas deixou no ar a estranha ideia de que transformará o Governo numa espécie de executivo itinerante. "Já não se consegue conceber um país em que o primeiro-ministro e os ministros estão sentados no Terreiro do Paço. É preciso ir aos sítios e ao terreno", sublinhava, acrescentando que "ninguém deveria ser membro do Governo central sem primeiro passar pelo governo autárquico", como foi o seu caso. CP OUTROS TÍTULOS EM DESTAQUE Sampaio vai avaliar condições de Santana para governar

As razões de Henrique Chaves

Sócrates não pede demissão do Governo

Santana Lopes furioso com cisão da família PSD

O filme está a ficar demasiado pesado

Santana Lopes Furioso com Cisão da Família PSD

Por CELESTE PEREIRA

Segunda-feira, 29 de Novembro de 2004 O primeiro-ministro viveu ontem um dos dias mais difíceis do mandato que iniciou há pouco mais de quatro meses. Ele próprio nem fez esforços para esconder a sua irritação e desalento. O dia tinha tudo para ser de festa - a agenda de Santana Lopes estava preenchida com três inaugurações em municípios transmontanos liderados pelo PSD, uma delas a abertura do novo lanço do IP3, entre Vila Real e a Régua -, mas as cisões na família "laranja" acabaram por deixar o chefe do Governo à beira de um ataque de nervos. E não era para menos: depois dos recados de Cavaco Silva anteontem no semanário "Expresso", que lançou um "grito de alarme" contra "políticos incompetentes" que obedecem a "interesses particulares", Santana Lopes tinha tudo, menos razões para sorrir. Mas até ao princípio da tarde ainda se esforçou por mostrar boa disposição. Em Ribeira de Pena e Vila Pouca de Aguiar, o primeiro-ministro andou de riso nos lábios aos beijos e abraços à população e o seu semblante só se alterou radicalmente quando soube da demissão do ministro e seu amigo Henrique Chaves, que há cinco dias passou de ministro-adjunto do primeiro-ministro para a pasta da Juventude e Desporto. O dia começou em Ribeira de Pena, onde Santana Lopes inaugurou o Lar da Santa Casa da Misericórdia local. O primeiro-ministro quis passear a pé para cumprimentar os muitos cidadãos que se concentraram na vila transmontana e os sinais de irritação só surgiram mais tarde quando, no seu discurso de inauguração, inusitadamente, disparou algumas indirectas que batiam certinho em Cavaco Silva e na "família" cavaquista. Santana Lopes não se escusou aliás de os acusar de "traição". "Quem quisesse apresentar alternativas, sendo militante do partido que dirijo, teve uma oportunidade óptima no congresso do PSD. Não o ter feito e continuar a fazer barulho, é uma forma de traição que os portugueses registam e certamente não esquecem", disse. Aos jornalistas, e, com muita ironia à mistura, o chefe do Governo sublinhou que não revia a classe política que dirige nas farpas lançadas por Cavaco Silva com as quais, de resto, sublinhou, "não podia estar mais de acordo". "Palavras dirigidas em geral", anotou Santana, considerando que, no artigo, Cavaco se referiu "à necessidade que o país deve ter nos vários níveis de actividade de procurar os melhores e mais capazes para as tarefas que têm que desempenhar". Este é, aliás, "um esforço que todos temos que fazer", insistiu Santana Lopes que, como sublinhou, procurou "formar um governo com pessoas competentes". E "com honra e orgulho posso comparar o Governo que lidero com outros que o antecederam", concluiu. Explicações feitas, Santana terminava a resposta ao "alarmista" Cavaco Silva parafraseando o próprio ex-primeiro-ministro: "Deixem-me trabalhar!". O "bebé prematuro" Mas a surpresa do dia estava reservada para mais tarde. Santana Lopes passeava pelas ruas de Vila Pouca de Aguiar, onde chegou com mais de uma hora de atraso, quando em Lisboa Henrique Chaves pedia a demissão, acusando o primeiro-ministro de "falta de lealdade, solidariedade e coordenação". Santana saberia da demissão um pouco mais tarde, quando se preparava para discursar na inauguração dos novos paços do concelho aguiarenses, que até já estão a funcionar há algum tempo, e reagiu de imediato, não escondendo a fúria com mais esta "traição" da família PSD. O modo como Henrique Chaves, amigo de Santana, se demitiu foi um duro golpe para o primeiro-ministro, que se terá inspirado na velha máxima "com amigos assim, quem precisa de ter inimigos?" para reagir à surpresa. "Já viram que o engenheiro Sócrates quase não precisa de falar, porque o tempo que era guardado para ele falar, como líder da oposição, é ocupado por outros [do PSD] que em vez de nos ajudar fazem o papel que devia ser a oposição a fazer?", desabafou. Santana já tinha chegado mesmo a comparar o nascimento deste Governo ao de um bebé prematuro que teve que ir para a incubadora, "para ganhar direito à vida", mas que, em vez de ser acarinhado pela família foi logo tratado pelos "irmãos mais velhos" aos "estalos e pontapés". Em Portugal é assim, lamentou o primeiro-ministro, só "a posteriori" as pessoas são reconhecidas. "Os que antigamente criticavam Cavaco Silva, agora cantam hossanas e louvores e só dizem bem dele", disse. Como se não bastasse, o dia terminou com apupos de cidadãos na inauguração do IP3 do lanço do entre Vila Real e a Régua, agora A24. Santana Lopes chegou à cerimónia com mais de uma hora e meia de atraso e, apesar da chuva e do frio, tinha um bom número de cidadãos à sua espera, prontos a insultá-lo contra a introdução de portagens na nova via e os atrasos no pagamento das respectivas expropriações de terrenos. Santana ficou com o semblante tão carregado que o social-democrata Manuel Martins, presidente da Câmara de Vila Real, não conteve um gesto de conforto ao chefe de Governo: "Eu também fui ao fundo do infernos e depois subi ao purgatório e estive quatro anos até sair do purgatório. É preciso ser persistente, ter coragem e ser determinado e o senhor é-o." O dia corria tão mal que nem a solidariedade do autarca PSD alterou o semblante de Santana. Caixa Governo itinerante em 2005 Em 2005, o Governo vai sair para a rua e dedicar cada mês do ano a cada um dos 12 distritos mais carenciados do país. O anúncio foi feito ontem por Santana Lopes, durante a sua visita a Trás-os-Montes. O chefe de Governo não explicou como irá concretizar esta medida, mas deixou no ar a estranha ideia de que transformará o Governo numa espécie de executivo itinerante. "Já não se consegue conceber um país em que o primeiro-ministro e os ministros estão sentados no Terreiro do Paço. É preciso ir aos sítios e ao terreno", sublinhava, acrescentando que "ninguém deveria ser membro do Governo central sem primeiro passar pelo governo autárquico", como foi o seu caso. CP OUTROS TÍTULOS EM DESTAQUE Sampaio vai avaliar condições de Santana para governar

As razões de Henrique Chaves

Sócrates não pede demissão do Governo

Santana Lopes furioso com cisão da família PSD

O filme está a ficar demasiado pesado

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