Um ex-ministro que prefere a caça à política

11-01-2005
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Um Ex-ministro Que Prefere a Caça à Política

Terça-feira, 30 de Novembro de 2004 De perfeito desconhecido para o eleitorado, Henrique Chaves tornou-se, de um dia para o outro, em figura central de uma crise política, da qual até pode sair como "o coveiro do santanismo". Foi apresentado a Pedro Santana Lopes, em 1994, por Cinha Jardim e, desde então, tornou-se um santanista. Passados dez anos rompe com o seu amigo Pedro, a quem acusou de traidor e mentiroso, saindo, com estardalhaço, de um Governo onde mal se tinha dado por ele. Por Eunice Lourenço á apenas seis dias, quando tomou posse como ministro da Juventude, do Desporto e da Reabilitação, Henrique Chaves disse que tinha deixado de ser ministro adjunto do primeiro-ministro porque "tinha muitos pelouros" e era "completamente impossível acumular isso com a função de ministro adjunto". Mais, acrescentou: "Não é possível fisicamente aguentar todas estas actividades." "Todas estas actividades" eram a tutela do Desporto e da Juventude (cada pasta tem um secretário de Estado), a defesa do consumidor e o desenvolvimento sustentável e a tarefa de auxiliar o primeiro-ministro na coordenação política do Governo. Ora, é essa coordenação política que Chaves primeiro disse que não tinha sido impossível de acumular e que, ontem, no comunicado em que tornou pública a sua demissão, se vem queixar que nunca o deixaram desempenhar. Chegado ao Governo como escolha pessoal de Pedro Santana Lopes - formava, com Gomes da Silva, o duo de santanistas no Executivo -, Henrique Chaves nunca terá chegado a fazer parte do núcleo duro de tomada de decisões. Amigos e adversários salientam as ausências e a pouca disponibilidade. O gosto pela política nunca superou o prazer da caça e do tiro aos pombos, de que Chaves é praticante. Apesar da displicência com que terá passado pelo Executivo, Chaves não gostava que pusessem o pé no seu quintal. Exemplo disso foi o episódio passado com a secretária de Estado das Artes e Espectáculos, Teresa Caeiro, e que o próprio chegou a contar em acontecimentos sociais. Esta foi convidada pelo Comité Paralímpico português a ir a Atenas, durante os Jogos Paralímpicos. A secretária de Estado e dirigente do CDS/PP, que manteve ligações ao movimento paralímpico desde o tempo em que foi governadora civil de Lisboa, iria a título pessoal e a expensas próprias. O então ministro adjunto soube e não gostou. Mexeu-se e terá sido a própria ministra da Cultura a dizer à sua secretária de Estado que ela não podia ir a Atenas. O agora ex-ministro licenciou-se em Direito na Faculdade de Lisboa em 1975, especializando-se em direito civil, comercial e de arrendamento e, até entrar para o Governo, exerceu advocacia num escritório da capital, para o qual, aliás, convidou Santana Lopes, depois de este deixar a presidência do Sporting. Os dois conheceram-se em 1994, por intermédio de Cinha Jardim, então namorada de Pedro Santana Lopes. Em 1995, no Congresso do Coliseu, Chaves já é o candidato de Santana a secretário-geral do PSD, numa candidatura à liderança que o agora primeiro-ministro não levou até ao fim. E será sempre ao lado de Santana Lopes que Henrique Chaves fará vida no PSD, chegando ao Parlamento em 1999. Aí fez parte das comissões de Ética e de Defesa. Chegado ao Governo, Santana Lopes escolheu-o para ministro adjunto do primeiro-ministro, um cargo de confiança pessoal e pelo qual deveriam passar tarefas coordenação política. Aí, Chaves sucedeu a José Luís Arnaut, que acumulava com o cargo de secretário-geral do PSD. Ou seja, sucedeu a um homem que, além de fazer parte do núcleo duro do barrosismo e ter a confiança do primeiro-ministro, dominava o partido e fazia a ponte com as suas estruturas. Fundador do PSD Embora pareça que Henrique Chaves só chegou à política na década passada e por obra e graça da sua amizade com Pedro Santana Lopes, já tinha exercido funções no Governo no pós-25 de Abril e é mesmo militante fundador do PSD. Foi adjunto do secretário de Estado dos Assuntos Judiciários no VI Governo Provisório (1975-76) e o primeiro vereador social-democrata na Câmara Municipal de Lisboa depois da Revolução, por indicação da Junta de Salvação Nacional. Nascido em 1951, casado e com dois filhos, Henrique Chaves, segundo o seu perfil no site do Governo, foi também administrador e gerente de empresas "com vários ramos de actividade" e vogal do Conselho Superior da Ordem dos Advogados. Um dos últimos episódios a que o seu nome ficou ligado é o da reunião com dirigentes do Benfica. Chaves, que já foi advogado do presidente benfiquista, Luís Filipe Vieira, recebeu este e o presidente da Assembleia Geral, Tinoco Faria, que tinha pedido um encontro a propósito da polémica arbitragem do Benfica-FC Porto. Na segunda-feira, 22, os dirigentes do clube foram recebido na Presidência do Conselho de Ministros, munidos de vária documentação, incluindo um DVD do jogo polémico. Na quarta-feira, 25, o ministro anuncia não está nos seus planos ver o DVD do jogo que lhe foi entregue pelos responsáveis benfiquistas, o qual "só não foi pela janela fora por delicadeza". Enquanto visitava o futuro Complexo Desportivo do Boavista, Chaves disse ainda: "Não me estão a ver discutir com alguém foi ou não golo ou se estava ou não em fora de jogo." Estas declarações terão sido feitas depois de o primeiro-ministro lhe ter ligado a chamá-lo para Lisboa, onde iria decorrer a tomada de posse. Chaves terá tido conhecimento da remodelação nesse momento, mas não terá logo percebido a sua dimensão e já só em Belém terá percebido que ia deixar de ser ministro adjunto, o que quatro dias depois acabou por considerar uma despromoção. "Quem se mete com o Benfica acaba mal", dizia anteontem um benfiquista, enquanto um membro do Governo avisava: "Ninguém pode governar a dizer mal do Benfica, do Sporting e do Porto." Não foi, contudo, o Benfica que lhe ditou a saída do Governo, mas, a julgar pelo seu comunicado de domingo, a profunda desilusão com o seu amigo Santana a quem acusa de traidor e mentiroso. De autêntico desconhecido, Henrique Chaves passou, assim, a figura central de uma crise política que pode ser a mais inusitada do santanismo ou mesmo a sua última. Ou seja, como ontem escrevia Vicente Jorge Silva, no blogue Causa Nossa, "se Sampaio decide, finalmente, que esta é a gota que fez transbordar o vaso da sua infinita paciência e convoca eleições antecipadas" corre o risco de "conceder a uma figura tão irrelevante e patética como Chaves o estatuto quase épico de coveiro do santanismo e criador de uma tremenda crise institucional". OUTROS TÍTULOS EM DESTAQUE Governo suspenso

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Um Ex-ministro Que Prefere a Caça à Política

Terça-feira, 30 de Novembro de 2004 De perfeito desconhecido para o eleitorado, Henrique Chaves tornou-se, de um dia para o outro, em figura central de uma crise política, da qual até pode sair como "o coveiro do santanismo". Foi apresentado a Pedro Santana Lopes, em 1994, por Cinha Jardim e, desde então, tornou-se um santanista. Passados dez anos rompe com o seu amigo Pedro, a quem acusou de traidor e mentiroso, saindo, com estardalhaço, de um Governo onde mal se tinha dado por ele. Por Eunice Lourenço á apenas seis dias, quando tomou posse como ministro da Juventude, do Desporto e da Reabilitação, Henrique Chaves disse que tinha deixado de ser ministro adjunto do primeiro-ministro porque "tinha muitos pelouros" e era "completamente impossível acumular isso com a função de ministro adjunto". Mais, acrescentou: "Não é possível fisicamente aguentar todas estas actividades." "Todas estas actividades" eram a tutela do Desporto e da Juventude (cada pasta tem um secretário de Estado), a defesa do consumidor e o desenvolvimento sustentável e a tarefa de auxiliar o primeiro-ministro na coordenação política do Governo. Ora, é essa coordenação política que Chaves primeiro disse que não tinha sido impossível de acumular e que, ontem, no comunicado em que tornou pública a sua demissão, se vem queixar que nunca o deixaram desempenhar. Chegado ao Governo como escolha pessoal de Pedro Santana Lopes - formava, com Gomes da Silva, o duo de santanistas no Executivo -, Henrique Chaves nunca terá chegado a fazer parte do núcleo duro de tomada de decisões. Amigos e adversários salientam as ausências e a pouca disponibilidade. O gosto pela política nunca superou o prazer da caça e do tiro aos pombos, de que Chaves é praticante. Apesar da displicência com que terá passado pelo Executivo, Chaves não gostava que pusessem o pé no seu quintal. Exemplo disso foi o episódio passado com a secretária de Estado das Artes e Espectáculos, Teresa Caeiro, e que o próprio chegou a contar em acontecimentos sociais. Esta foi convidada pelo Comité Paralímpico português a ir a Atenas, durante os Jogos Paralímpicos. A secretária de Estado e dirigente do CDS/PP, que manteve ligações ao movimento paralímpico desde o tempo em que foi governadora civil de Lisboa, iria a título pessoal e a expensas próprias. O então ministro adjunto soube e não gostou. Mexeu-se e terá sido a própria ministra da Cultura a dizer à sua secretária de Estado que ela não podia ir a Atenas. O agora ex-ministro licenciou-se em Direito na Faculdade de Lisboa em 1975, especializando-se em direito civil, comercial e de arrendamento e, até entrar para o Governo, exerceu advocacia num escritório da capital, para o qual, aliás, convidou Santana Lopes, depois de este deixar a presidência do Sporting. Os dois conheceram-se em 1994, por intermédio de Cinha Jardim, então namorada de Pedro Santana Lopes. Em 1995, no Congresso do Coliseu, Chaves já é o candidato de Santana a secretário-geral do PSD, numa candidatura à liderança que o agora primeiro-ministro não levou até ao fim. E será sempre ao lado de Santana Lopes que Henrique Chaves fará vida no PSD, chegando ao Parlamento em 1999. Aí fez parte das comissões de Ética e de Defesa. Chegado ao Governo, Santana Lopes escolheu-o para ministro adjunto do primeiro-ministro, um cargo de confiança pessoal e pelo qual deveriam passar tarefas coordenação política. Aí, Chaves sucedeu a José Luís Arnaut, que acumulava com o cargo de secretário-geral do PSD. Ou seja, sucedeu a um homem que, além de fazer parte do núcleo duro do barrosismo e ter a confiança do primeiro-ministro, dominava o partido e fazia a ponte com as suas estruturas. Fundador do PSD Embora pareça que Henrique Chaves só chegou à política na década passada e por obra e graça da sua amizade com Pedro Santana Lopes, já tinha exercido funções no Governo no pós-25 de Abril e é mesmo militante fundador do PSD. Foi adjunto do secretário de Estado dos Assuntos Judiciários no VI Governo Provisório (1975-76) e o primeiro vereador social-democrata na Câmara Municipal de Lisboa depois da Revolução, por indicação da Junta de Salvação Nacional. Nascido em 1951, casado e com dois filhos, Henrique Chaves, segundo o seu perfil no site do Governo, foi também administrador e gerente de empresas "com vários ramos de actividade" e vogal do Conselho Superior da Ordem dos Advogados. Um dos últimos episódios a que o seu nome ficou ligado é o da reunião com dirigentes do Benfica. Chaves, que já foi advogado do presidente benfiquista, Luís Filipe Vieira, recebeu este e o presidente da Assembleia Geral, Tinoco Faria, que tinha pedido um encontro a propósito da polémica arbitragem do Benfica-FC Porto. Na segunda-feira, 22, os dirigentes do clube foram recebido na Presidência do Conselho de Ministros, munidos de vária documentação, incluindo um DVD do jogo polémico. Na quarta-feira, 25, o ministro anuncia não está nos seus planos ver o DVD do jogo que lhe foi entregue pelos responsáveis benfiquistas, o qual "só não foi pela janela fora por delicadeza". Enquanto visitava o futuro Complexo Desportivo do Boavista, Chaves disse ainda: "Não me estão a ver discutir com alguém foi ou não golo ou se estava ou não em fora de jogo." Estas declarações terão sido feitas depois de o primeiro-ministro lhe ter ligado a chamá-lo para Lisboa, onde iria decorrer a tomada de posse. Chaves terá tido conhecimento da remodelação nesse momento, mas não terá logo percebido a sua dimensão e já só em Belém terá percebido que ia deixar de ser ministro adjunto, o que quatro dias depois acabou por considerar uma despromoção. "Quem se mete com o Benfica acaba mal", dizia anteontem um benfiquista, enquanto um membro do Governo avisava: "Ninguém pode governar a dizer mal do Benfica, do Sporting e do Porto." Não foi, contudo, o Benfica que lhe ditou a saída do Governo, mas, a julgar pelo seu comunicado de domingo, a profunda desilusão com o seu amigo Santana a quem acusa de traidor e mentiroso. De autêntico desconhecido, Henrique Chaves passou, assim, a figura central de uma crise política que pode ser a mais inusitada do santanismo ou mesmo a sua última. Ou seja, como ontem escrevia Vicente Jorge Silva, no blogue Causa Nossa, "se Sampaio decide, finalmente, que esta é a gota que fez transbordar o vaso da sua infinita paciência e convoca eleições antecipadas" corre o risco de "conceder a uma figura tão irrelevante e patética como Chaves o estatuto quase épico de coveiro do santanismo e criador de uma tremenda crise institucional". OUTROS TÍTULOS EM DESTAQUE Governo suspenso

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