A campanha em Setúbal

18-02-2005
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A Campanha em Setúbal

Quarta-feira, 16 de Fevereiro de 2005

Um distrito onde todos querem ganha

Cláudia Velos

É ainda um bastião comunista e um dos distritos de peso, responsável pela eleição de 17 deputados, que pode determinar o resultado eleitoral do próximo domingo. Todos os candidatos o sabem e, por isso, Setúbal foi ponto de passagem obrigatório na rota da campanha. Todos parecem acreditar numa vitória no distrito.

Logo no debate distrital do Fórum Novas Fronteiras, que marcava o arranque do apelo ao voto, António Vitorino dizia acreditar que a maioria do PS se ia começar a desenhar em Setúbal, seguro de que mais socialistas se juntarão aos sete eleitos nas últimas legislativas. Em 1999, foi neste distrito que o PS "perdeu2 a maioria absoluta, ao não cumprir o objectivo de aqui eleger dez deputados, apesar da forte campanha da lista então liderada por Jorge Coelho. Este ano o número dez é Paulo Pedroso, que tinha sido o primeiro na lista de há três anos.

Paulo Portas, ao apresentar o cabeça-de-lista Nuno Magalhães, actual secretário de Estado da Administração Interna, apostava na eleição de um segundo deputado por este círculo. O histórico Narana Coissoró deixou de figurar na lista.

O Bloco de Esquerda, que nas últimas eleições ficou à beira de levar Fernando Rosas ao Parlamento, está convicto na conquista dos mil votos que faltaram em 2002.

Fernando Negrão, a escolha do PSD para convencer o eleitorado de Setúbal, por aliar peso nacional e local, foi mais comedido e pediu a manutenção dos cinco deputados.

A CDU joga em casa e nem o facto de ter escolhido uma figura menos mediática para o topo da lista - o antigo operário Francisco Lopes - tornou a campanha menos enérgica. Jerónimo de Sousa, ex-deputado por Setúbal, deu uma ajuda para segurar os quatro eleitos e Heloísa Apolónia, do Partido Ecologista "Os Verdes", protagonizou muitas das iniciativas no distrito, sobretudo sobre questões ambientais.

Indiscutível foi o sucesso da passagem dos dois candidatos a primeiro-ministro pela baixa de Setúbal. Em dias seguidos, Pedro Santana Lopes e José Sócrates percorreram as ruas, entraram nas lojas, acenaram à população. O primeiro bebeu moscatel, o segundo preferiu castanhas assadas. Foi, aliás, neste dia que Santana quis provar que também faz campanha de rua, com o povo, depois de ter afirmado não gostar de tambores e de distribuir sacos de plástico. A enchente terá entusiasmado Fernando Negrão, que junto ao líder avançou a possibilidade de eleger um sexto representante parlamentar pelo distrito.

Foi também em Setúbal que ficou o registo de outra dúvida no seio do PS. Ao lado de Sócrates, 24 horas depois da passagem da caravana laranja pelo mesmo circuito, Vitorino deixou soltar que nada está decidido no que toca à co-incineração na Secil do Outão.

Mas à noite, e apesar da tensão que já era visível porque se sabia que a imprensa, no dia seguinte, sairia com a notícia do alegado envolvimento de Sócrates no caso "Freeport", os socialistas tiveram a confirmação de que Setúbal ainda é "rosa". A organização arrependeu-se de não ter escolhido um pavilhão maior para o jantar-comício. Muitos apoiantes ficaram de pé no Pavilhão do Clube Naval.

Braço de ferro à esquerda

Quanto a Jerónimo de Sousa, sabe que a reconquista da presidência da Câmara de Setúbal nas últimas autárquicas ajudou a consolidar a imagem dos comunistas no distrito. O comício regional de abertura da campanha, no Fórum Luísa Todi e com a sempre decisiva presença de Odete Santos, foi um primeiro sinal de que as coisas corriam bem por terras sadinas. A arruada pela baixa da cidade, apesar da chuva, também mobilizou muita gente. Mas Jerónimo de Sousa e Francisco Lopes também sabem que paira sobre a CDU um novo inimigo: o Bloco de Esquerda.

Fernando Rosas desdobrou-se em acções de campanha pelo distrito, nalgumas acompanhado por Francisco Louçã, e os níveis de adesão foram significativos. Pela primeira vez, o dirigente bloquista organizou um comício digno desse nome, no Barreiro. Mas o recém-eleito líder dos comunistas ainda tem esperanças que uma possível eleição de Rosas não seja à custa dos tradicionais votos na CDU. Jerónimo também conseguiu a empatia dos setubalenses, fosse nas ruas do centro histórico ou junto do "povo operário" da Lisnave ou da Borealis de Sines.

Ponto de passagem obrigatório para todas as caravanas foram os mercados mensais de Azeitão e do Pinhal Novo. A mistura de cores, de bandeiras e de caras, umas mais conhecidas que outras, terá deixado os feirantes baralhados.

Mais discreta, talvez discreta demais para quem se disse apostado em eleger dois deputados, foi a campanha do CDS/PP no distrito. Destaque para a iniciativa "Vamos falar do que é útil aos portugueses", em Almada, sobre imigração.

Mas se os candidatos sabem que Setúbal será um distrito decisivo para os resultados de domingo, os setubalenses sabem que há questões decisivas a tratar por aqueles a quem confiarem o voto. Desemprego, insegurança e insuficiência dos serviços de saúde são alguns dos problemas que afligem os 659.011 eleitores de Setúbal, uma região fortemente dependente do sector automóvel mas onde 40 mil pessoas continuam sem emprego.

Para além das candidaturas dos principais partidos, também vão a sufrágio candidatos a deputados do Partido Operário de Unidade Socialista (POUS), Ana Paula Amaral, do Partido Nacional Renovador (PNR), José Eduardo Saraiva, do Partido da Nova Democracia (PND), Maria Augusta Gomes, do Partido Humanista (PH) Sónia Rodrigues, e do PCTP/MRPP, Leonel Coelho.

A Campanha em Setúbal

Quarta-feira, 16 de Fevereiro de 2005

Um distrito onde todos querem ganha

Cláudia Velos

É ainda um bastião comunista e um dos distritos de peso, responsável pela eleição de 17 deputados, que pode determinar o resultado eleitoral do próximo domingo. Todos os candidatos o sabem e, por isso, Setúbal foi ponto de passagem obrigatório na rota da campanha. Todos parecem acreditar numa vitória no distrito.

Logo no debate distrital do Fórum Novas Fronteiras, que marcava o arranque do apelo ao voto, António Vitorino dizia acreditar que a maioria do PS se ia começar a desenhar em Setúbal, seguro de que mais socialistas se juntarão aos sete eleitos nas últimas legislativas. Em 1999, foi neste distrito que o PS "perdeu2 a maioria absoluta, ao não cumprir o objectivo de aqui eleger dez deputados, apesar da forte campanha da lista então liderada por Jorge Coelho. Este ano o número dez é Paulo Pedroso, que tinha sido o primeiro na lista de há três anos.

Paulo Portas, ao apresentar o cabeça-de-lista Nuno Magalhães, actual secretário de Estado da Administração Interna, apostava na eleição de um segundo deputado por este círculo. O histórico Narana Coissoró deixou de figurar na lista.

O Bloco de Esquerda, que nas últimas eleições ficou à beira de levar Fernando Rosas ao Parlamento, está convicto na conquista dos mil votos que faltaram em 2002.

Fernando Negrão, a escolha do PSD para convencer o eleitorado de Setúbal, por aliar peso nacional e local, foi mais comedido e pediu a manutenção dos cinco deputados.

A CDU joga em casa e nem o facto de ter escolhido uma figura menos mediática para o topo da lista - o antigo operário Francisco Lopes - tornou a campanha menos enérgica. Jerónimo de Sousa, ex-deputado por Setúbal, deu uma ajuda para segurar os quatro eleitos e Heloísa Apolónia, do Partido Ecologista "Os Verdes", protagonizou muitas das iniciativas no distrito, sobretudo sobre questões ambientais.

Indiscutível foi o sucesso da passagem dos dois candidatos a primeiro-ministro pela baixa de Setúbal. Em dias seguidos, Pedro Santana Lopes e José Sócrates percorreram as ruas, entraram nas lojas, acenaram à população. O primeiro bebeu moscatel, o segundo preferiu castanhas assadas. Foi, aliás, neste dia que Santana quis provar que também faz campanha de rua, com o povo, depois de ter afirmado não gostar de tambores e de distribuir sacos de plástico. A enchente terá entusiasmado Fernando Negrão, que junto ao líder avançou a possibilidade de eleger um sexto representante parlamentar pelo distrito.

Foi também em Setúbal que ficou o registo de outra dúvida no seio do PS. Ao lado de Sócrates, 24 horas depois da passagem da caravana laranja pelo mesmo circuito, Vitorino deixou soltar que nada está decidido no que toca à co-incineração na Secil do Outão.

Mas à noite, e apesar da tensão que já era visível porque se sabia que a imprensa, no dia seguinte, sairia com a notícia do alegado envolvimento de Sócrates no caso "Freeport", os socialistas tiveram a confirmação de que Setúbal ainda é "rosa". A organização arrependeu-se de não ter escolhido um pavilhão maior para o jantar-comício. Muitos apoiantes ficaram de pé no Pavilhão do Clube Naval.

Braço de ferro à esquerda

Quanto a Jerónimo de Sousa, sabe que a reconquista da presidência da Câmara de Setúbal nas últimas autárquicas ajudou a consolidar a imagem dos comunistas no distrito. O comício regional de abertura da campanha, no Fórum Luísa Todi e com a sempre decisiva presença de Odete Santos, foi um primeiro sinal de que as coisas corriam bem por terras sadinas. A arruada pela baixa da cidade, apesar da chuva, também mobilizou muita gente. Mas Jerónimo de Sousa e Francisco Lopes também sabem que paira sobre a CDU um novo inimigo: o Bloco de Esquerda.

Fernando Rosas desdobrou-se em acções de campanha pelo distrito, nalgumas acompanhado por Francisco Louçã, e os níveis de adesão foram significativos. Pela primeira vez, o dirigente bloquista organizou um comício digno desse nome, no Barreiro. Mas o recém-eleito líder dos comunistas ainda tem esperanças que uma possível eleição de Rosas não seja à custa dos tradicionais votos na CDU. Jerónimo também conseguiu a empatia dos setubalenses, fosse nas ruas do centro histórico ou junto do "povo operário" da Lisnave ou da Borealis de Sines.

Ponto de passagem obrigatório para todas as caravanas foram os mercados mensais de Azeitão e do Pinhal Novo. A mistura de cores, de bandeiras e de caras, umas mais conhecidas que outras, terá deixado os feirantes baralhados.

Mais discreta, talvez discreta demais para quem se disse apostado em eleger dois deputados, foi a campanha do CDS/PP no distrito. Destaque para a iniciativa "Vamos falar do que é útil aos portugueses", em Almada, sobre imigração.

Mas se os candidatos sabem que Setúbal será um distrito decisivo para os resultados de domingo, os setubalenses sabem que há questões decisivas a tratar por aqueles a quem confiarem o voto. Desemprego, insegurança e insuficiência dos serviços de saúde são alguns dos problemas que afligem os 659.011 eleitores de Setúbal, uma região fortemente dependente do sector automóvel mas onde 40 mil pessoas continuam sem emprego.

Para além das candidaturas dos principais partidos, também vão a sufrágio candidatos a deputados do Partido Operário de Unidade Socialista (POUS), Ana Paula Amaral, do Partido Nacional Renovador (PNR), José Eduardo Saraiva, do Partido da Nova Democracia (PND), Maria Augusta Gomes, do Partido Humanista (PH) Sónia Rodrigues, e do PCTP/MRPP, Leonel Coelho.

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