Basta dizer "Que horror!" para negatizar a violência da TV

24-02-2003
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Basta Dizer "Que Horror!" para Negatizar a Violência da TV

Por ELISABETE VILAR

Sexta-feira, 21 de Fevereiro de 2003 Audição pública sobre programação infantil Os Verdes querem avaliar a qualidade dos programas para crianças. Maiores preocupações são agressão, linguagem e referências culturais "Yamasaky quer vencer, ser herói do mundo seu. Quantas guerras vai perder, Yamasaky o mundo é só teu." "O mundo vejo do céu, tão fácil de conquistar. Um dia será só meu, o mundo não vou partilhar." Foi quando ouviu a sua filha de quatro anos trautear esta letra, do genérico de um desenho animado exibido na RTP, que, preocupada, a deputada do Partido "Os Verdes" (PEV), Heloísa Apolónia, dirigiu um requerimento ao ministro da Cultura sobre os conteúdos dos programas de TV para crianças, em Outubro passado. De então para cá, as inquietações sobre a matéria foram crescendo no seio do PEV, tendo dado origem, ontem, a uma audição pública sobre a qualidade da programação infantil na Assembleia da República, em Lisboa. Ver violência na TV faz das crianças adultos violentos? Que mensagens passam os desenhos animados em termos culturais, linguísticos e de valores? As questões são antigas, mas o debate que ontem juntou profissionais, produtores, actores, programadores e educadores procurou trazer alguma luz sobre elas. Maria Benedita Monteiro, psicóloga social e autora de estudos sobre a matéria, lembrou a importância da mediação no "consumo" de violência televisiva. Por vezes, um simples comentário de um adulto - "Que horror!", por exemplo, ou "Este é mesmo um bandido", ou ainda "Vamos mudar de canal" - é quanto basta para a criança ter uma referência, saber como deve colocar-se perante essa violência e formar o seu próprio código de valores e sentido crítico face ao que vê na TV. A investigadora revelou também alguns dados, apesar de tudo tranquilizadores sobre a interpretação indirecta que fazem da violência os mais novos. Num estudo que efectuou há alguns anos, em quatro mil crianças, apenas quatro por cento escolheram como herói personagens verdadeiramente violentos, como Rambo. Mais de 50 por cento optavam por um herói que, embora chegasse a aplicar a violência, o fazia com intuitos pró-sociais, pelo bem geral, e não anti-sociedade. Para Inês Barros Baptista, directora da revista "Pais & Filhos", o que se regista, antes de mais, é um problema de "autoridade dos pais". "As crianças dominam o telecomando e monopolizam a TV, até ao ponto de muitos pais lhes colocarem um televisor no quarto." Os pais, lamentou, "preocupam-se de mais mas agem de menos". Mostrou-se, contudo, preocupada com a aparente falta de cuidado com que certas promoções de programas para adultos são introduzidas entre dois desenhos animados. Animação portuguesa custa seis mil euros por minuto Vasco Granja, antigo responsável por esta área na TV pública, queixou-se da "muita batota" que os computadores ajudam a fazer e que mata a criatividade e a fantasia, criticou a produção de animação "em massa" e entende que "retrocedemos muito nesse campo". Já Teresa Paixão, directora de Programação Infantil e Juvenil da RTP, desdramatizou. Considerou a actual programação infantil "muito próxima da adequada", com algumas falhas que se prendem com a impossibilidade de conhecer completamente as séries antes da exibição e a falta de orçamentos para investir na aquisição ou produção de produtos mais caros. E confessou mesmo ter ainda "mais umas porcarias para passar", já adquiridas. Mas lembrou também que a animação feita em Portugal custa seis mil euros por minuto. No entanto, sublinhou as preocupações do operador público em ter programas de "múltiplas origens", para garantir a diversidade; em apresentar "conteúdos que apoiam a escolaridade" e que não perpetuem estereótipos e exibam a violência "apenas para contar a história do mundo". A aposta, garantiu, vai para conteúdos "que acrescentem algo à vida das crianças e que lhes dêem alegria". A responsável da televisão do Estado reconheceu que "a audiência é uma questão essencial". "Mas não a angariamos com meios pouco legítimos", assegurou. Teresa Paixão anunciou ainda que a RTP pensa voltar a produzir um boletim informativo para os mais jovens. Ermelinda Duarte e Amélia Muge, que estiveram no departamento de dobragens da RTP até à extinção, sublinharam a importância do tempo e dinheiro que é necessário dedicar às adaptações de programas estrangeiros. Amélia Muge observou que aquilo que por vezes se poupa na dobragem de uma série não compensa o custo que isso acarreta na "desaprendizagem" da língua e da cultura portuguesas. OUTROS TÍTULOS EM MEDIA RTP bloqueia novos canais da Sport TV

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