EXPRESSO: Vidas

21-08-2002
marcar artigo

Texto de Ana Cristina Câmara

Fotografias de Jorge Simão

Espancam o marido que se atrasa sempre para o jantar; esmurram o estômago da vizinha até lhe saírem as tripas porque aspira a casa de madrugada; deslocam, à cotovelada, o maxilar da namorada que não se cala com a falta de atenção; pontapeiam a rótula da mãe que os obriga todos os dias a comer a sopa; dão joelhadas firmes e bem colocadas no colega que os anda a tramar: ninguém é poupado, e quem escapa com vida não é mais que uma papa inerte de pele, osso e sangue. Em seguida, os agressores, exaustos e aliviados, regressam ao lar ou ao emprego, abraçam as amadas caras-metade, cumprimentam os vizinhos com cortesia, aconchegam os rebentos, mimam os colegas com sorrisos sinceros - inocentes!

NOTAS vidas Vítor Rainho

Quando um leitor escreve uma carta aos jornais, esta é publicada se não for injuriosa e se estiver devidamente identificada. São assim as regras há anos. Na Internet as coisas são diferentes. Os ciberleitores podem vilipendiar quem quiserem, escondendo-se atrás de um «nickname» ou do anonimato absoluto. A cobardia reina na auto-estrada da informação. Quem o faz deve ter tido uma infância muito infeliz, do género de se esconder atrás dos amigos e «chamar nomes» a outros protegido pela muralha defensiva de uns tantos fortalhaços.

PESSOAS

Empresários

Agentes à portuguesa

Texto de Ana Soromenho

Os artistas são, por natureza, medianos gestores da sua imagem e péssimos administradores dos seus haveres. Têm de deixar isso nas mãos de alguém. Vindos do fundo dos tempos, os agentes fazem as vezes de contabilistas do talento que lhes falta para estas tarefas. Têm jeito para outras coisas, como é comum desculparem-se. Ser agente artístico é uma profissão de risco, mesmo quando o dinheiro em causa é o de outra pessoa. Há os aventureiros, os indiscretos, e os que ninguém sabe quem são. Abundam no desporto, na música e na «gestão da imagem», que fez nascer agentes em catadupa com o advento de fenómenos como o «Big Brother». No cinema contam-se pelos dedos. De uma só mão.

PESSOAS

Banda

Na pele do Gorillaz

Texto de Ricardo Nabais

Crítico e «blasé», com um toque de arrogância do «dundee» típico, Damon Albarn abriu um parêntesis na sua carreira com os Blur. Feita a pausa, juntou-se, recentemente, no maior segredo, a Chris Frantz e Tina Weymouth, ex-membros de outro colosso da «pop», os Talking Heads. Disfarçaram-se em nomes de código - ele é «2D» - e «camuflaram-se» em vários desenhos que fazem lembrar «graffitis», nas capas dos discos. Não revelaram as respectivas «identidades» e criaram um «site» ( www.gorillaz.com ), que acompanha a banda a par e passo, desde a sua formação.

PESSOAS

Música

A alma da Guitarra

Texto de Vanda Lopes

«ícones da alma portuguesa» - numa colecção particular que ultrapassa as três dezenas. Na rua das Portas de Santo Antão há muito que o ar deixou de estar impregnado do cheiro dos vernizes e da madeira com que, no século XIX, os artesãos faziam guitarras, que depois seguiam o seu fado pelas vielas de Alfama. Ao longo dos anos as oficinas foram desaparecendo, e com elas a memória desses tempos, mas não as guitarras. Pedro Caldeira Cabral, compositor, executante e estudioso de música antiga, faz questão de salvar os exemplares sobreviventes - para ele,- numa colecção particular que ultrapassa as três dezenas.

PESSOAS

Julia Stiles

O estilo de Julia

Texto de Rui Henriques Coimbra, correspondente em Los Angeles

Wicked e Julia Stiles, por ser a actriz principal, dominava os cartazes espalhados pela cidade fora, como uma ditadora que tivesse colocado a sua cara em selos monstruosos. Os cartazes mais gigantes de todos encontravam-se assentes em andaimes, colocados no meio do rio que atravessa aquela cidade termal e belíssima situada a oeste de Praga. Mas aquela cara, que antes era apenas uma mistura de Branca de Neve e deusa dos subúrbios americanos, é hoje uma das referências mais promissoras do novo baralho de actrizes americanas. A primeira coisa de que me lembro é do corpo dela como que a flutuar no meio do rio. Foi talvez há três anos no festival de cinema de Karlovy Vary, na República Checa. Um dos filmes em competição era oe Julia Stiles, por ser a actriz principal, dominava os cartazes espalhados pela cidade fora, como uma ditadora que tivesse colocado a sua cara em selos monstruosos. Os cartazes mais gigantes de todos encontravam-se assentes em andaimes, colocados no meio do rio que atravessa aquela cidade termal e belíssima situada a oeste de Praga. Mas aquela cara, que antes era apenas uma mistura de Branca de Neve e deusa dos subúrbios americanos, é hoje uma das referências mais promissoras do novo baralho de actrizes americanas.

PESSOAS

Prisão

O sol de Biggs

Texto de Eunice Goes, correspondente em Londres

Ao contrário do que o tablóide «The Sun» anunciou em letras garrafais, a saga Ronald Biggs não terminou. De certa maneira, pode dizer-se que o seu regresso à prisão marca o início da segunda parte desta história que tem apaixonado a opinião pública. A chegada a Londres do mais célebre ladrão de comboios britânico, que andou 35 anos fugido à justiça, provocou um agitado debate - levando mesmo à realização de referendos telefónicos - no Reino Unido.

PESSOAS

Turismo

O príncipe que não viu Mickey

Texto de César Avó

Ao que ia Kim Jong Nam, acompanhado de duas mulheres e de um menino de quatro anos, quando se apresentou na semana passada no aeroporto de Tóquio? Viagem de turismo ou de espionagem? Fora ele um cidadão comum e a utilização de um passaporte falso teria as consequências normais, isto é, a detenção e posterior julgamento. Se este norte-coreano pertencesse ao número, que se crê esmagador, de compatriotas que passam extremas dificuldades - cenário impossível, uma vez que o cidadão anónimo não tem meios para sair do país -, a revelação da sua identidade seria divulgada à comunicação social pelas autoridades japonesas. Mas entre um conflito diplomático com um país com o qual não tem relações oficiais e um silêncio ambíguo, Tóquio optou pela segunda hipótese.

DESAFIOS

Sonho

Hélices do desejo

Texto de Nelson Soares

Não pretende fugir de nenhum labirinto da ilha de Creta, nem inventou umas asas de penas presas com cera e fio. Mas à semelhança de Ícaro, um entusiasmo autista incita-o a voar. Aos comandos de um helicóptero construído pelas suas mãos. O desafio é antigo, abandonou o plano das ideias há um ano e está já em fase de conclusão. Mas se o invento de António Castro não corre o risco de derreter, as apertadas normas do Instituto Nacional de Aviação Civil (INAC) podem fazê-lo «despenhar-se».

DESAFIOS

Prendas

Blair «suborna» potenciais gangsters

Texto de Eunice Goes, correspondente em Londres

Os YOBS, expressão inglesa que define jovens cujo comportamento oscila entre o anti-social e o vandalismo puro, estão na mira do Governo trabalhista, que se sente genuinamente embaraçado de cada vez que se confronta com imagens de «hooligans» ingleses a fazerem distúrbios em cidades europeias. Desde 1997 que o Governo lançou uma verdadeira ofensiva contra os YOBS 2. Uma avalanche de novas leis foi implementada ou está a ser debatida na Câmara dos Comuns - recolher obrigatório para menores de 10 anos; proibição do consumo de álcool a menores; combate ao comportamento anti-social; multas; aceleramento do sistema de justiça criminal para menores; recrutamento de mais polícias; regras contra os «hooligans»... Tudo em nome da ordem e das boas maneiras.

DESAFIOS

Beber

Pubs sem limites

Texto de Eunice Goes, correspondente em Londres

Texto de Ana Cristina Câmara

Fotografias de Jorge Simão

Espancam o marido que se atrasa sempre para o jantar; esmurram o estômago da vizinha até lhe saírem as tripas porque aspira a casa de madrugada; deslocam, à cotovelada, o maxilar da namorada que não se cala com a falta de atenção; pontapeiam a rótula da mãe que os obriga todos os dias a comer a sopa; dão joelhadas firmes e bem colocadas no colega que os anda a tramar: ninguém é poupado, e quem escapa com vida não é mais que uma papa inerte de pele, osso e sangue. Em seguida, os agressores, exaustos e aliviados, regressam ao lar ou ao emprego, abraçam as amadas caras-metade, cumprimentam os vizinhos com cortesia, aconchegam os rebentos, mimam os colegas com sorrisos sinceros - inocentes!

NOTAS vidas Vítor Rainho

Quando um leitor escreve uma carta aos jornais, esta é publicada se não for injuriosa e se estiver devidamente identificada. São assim as regras há anos. Na Internet as coisas são diferentes. Os ciberleitores podem vilipendiar quem quiserem, escondendo-se atrás de um «nickname» ou do anonimato absoluto. A cobardia reina na auto-estrada da informação. Quem o faz deve ter tido uma infância muito infeliz, do género de se esconder atrás dos amigos e «chamar nomes» a outros protegido pela muralha defensiva de uns tantos fortalhaços.

PESSOAS

Empresários

Agentes à portuguesa

Texto de Ana Soromenho

Os artistas são, por natureza, medianos gestores da sua imagem e péssimos administradores dos seus haveres. Têm de deixar isso nas mãos de alguém. Vindos do fundo dos tempos, os agentes fazem as vezes de contabilistas do talento que lhes falta para estas tarefas. Têm jeito para outras coisas, como é comum desculparem-se. Ser agente artístico é uma profissão de risco, mesmo quando o dinheiro em causa é o de outra pessoa. Há os aventureiros, os indiscretos, e os que ninguém sabe quem são. Abundam no desporto, na música e na «gestão da imagem», que fez nascer agentes em catadupa com o advento de fenómenos como o «Big Brother». No cinema contam-se pelos dedos. De uma só mão.

PESSOAS

Banda

Na pele do Gorillaz

Texto de Ricardo Nabais

Crítico e «blasé», com um toque de arrogância do «dundee» típico, Damon Albarn abriu um parêntesis na sua carreira com os Blur. Feita a pausa, juntou-se, recentemente, no maior segredo, a Chris Frantz e Tina Weymouth, ex-membros de outro colosso da «pop», os Talking Heads. Disfarçaram-se em nomes de código - ele é «2D» - e «camuflaram-se» em vários desenhos que fazem lembrar «graffitis», nas capas dos discos. Não revelaram as respectivas «identidades» e criaram um «site» ( www.gorillaz.com ), que acompanha a banda a par e passo, desde a sua formação.

PESSOAS

Música

A alma da Guitarra

Texto de Vanda Lopes

«ícones da alma portuguesa» - numa colecção particular que ultrapassa as três dezenas. Na rua das Portas de Santo Antão há muito que o ar deixou de estar impregnado do cheiro dos vernizes e da madeira com que, no século XIX, os artesãos faziam guitarras, que depois seguiam o seu fado pelas vielas de Alfama. Ao longo dos anos as oficinas foram desaparecendo, e com elas a memória desses tempos, mas não as guitarras. Pedro Caldeira Cabral, compositor, executante e estudioso de música antiga, faz questão de salvar os exemplares sobreviventes - para ele,- numa colecção particular que ultrapassa as três dezenas.

PESSOAS

Julia Stiles

O estilo de Julia

Texto de Rui Henriques Coimbra, correspondente em Los Angeles

Wicked e Julia Stiles, por ser a actriz principal, dominava os cartazes espalhados pela cidade fora, como uma ditadora que tivesse colocado a sua cara em selos monstruosos. Os cartazes mais gigantes de todos encontravam-se assentes em andaimes, colocados no meio do rio que atravessa aquela cidade termal e belíssima situada a oeste de Praga. Mas aquela cara, que antes era apenas uma mistura de Branca de Neve e deusa dos subúrbios americanos, é hoje uma das referências mais promissoras do novo baralho de actrizes americanas. A primeira coisa de que me lembro é do corpo dela como que a flutuar no meio do rio. Foi talvez há três anos no festival de cinema de Karlovy Vary, na República Checa. Um dos filmes em competição era oe Julia Stiles, por ser a actriz principal, dominava os cartazes espalhados pela cidade fora, como uma ditadora que tivesse colocado a sua cara em selos monstruosos. Os cartazes mais gigantes de todos encontravam-se assentes em andaimes, colocados no meio do rio que atravessa aquela cidade termal e belíssima situada a oeste de Praga. Mas aquela cara, que antes era apenas uma mistura de Branca de Neve e deusa dos subúrbios americanos, é hoje uma das referências mais promissoras do novo baralho de actrizes americanas.

PESSOAS

Prisão

O sol de Biggs

Texto de Eunice Goes, correspondente em Londres

Ao contrário do que o tablóide «The Sun» anunciou em letras garrafais, a saga Ronald Biggs não terminou. De certa maneira, pode dizer-se que o seu regresso à prisão marca o início da segunda parte desta história que tem apaixonado a opinião pública. A chegada a Londres do mais célebre ladrão de comboios britânico, que andou 35 anos fugido à justiça, provocou um agitado debate - levando mesmo à realização de referendos telefónicos - no Reino Unido.

PESSOAS

Turismo

O príncipe que não viu Mickey

Texto de César Avó

Ao que ia Kim Jong Nam, acompanhado de duas mulheres e de um menino de quatro anos, quando se apresentou na semana passada no aeroporto de Tóquio? Viagem de turismo ou de espionagem? Fora ele um cidadão comum e a utilização de um passaporte falso teria as consequências normais, isto é, a detenção e posterior julgamento. Se este norte-coreano pertencesse ao número, que se crê esmagador, de compatriotas que passam extremas dificuldades - cenário impossível, uma vez que o cidadão anónimo não tem meios para sair do país -, a revelação da sua identidade seria divulgada à comunicação social pelas autoridades japonesas. Mas entre um conflito diplomático com um país com o qual não tem relações oficiais e um silêncio ambíguo, Tóquio optou pela segunda hipótese.

DESAFIOS

Sonho

Hélices do desejo

Texto de Nelson Soares

Não pretende fugir de nenhum labirinto da ilha de Creta, nem inventou umas asas de penas presas com cera e fio. Mas à semelhança de Ícaro, um entusiasmo autista incita-o a voar. Aos comandos de um helicóptero construído pelas suas mãos. O desafio é antigo, abandonou o plano das ideias há um ano e está já em fase de conclusão. Mas se o invento de António Castro não corre o risco de derreter, as apertadas normas do Instituto Nacional de Aviação Civil (INAC) podem fazê-lo «despenhar-se».

DESAFIOS

Prendas

Blair «suborna» potenciais gangsters

Texto de Eunice Goes, correspondente em Londres

Os YOBS, expressão inglesa que define jovens cujo comportamento oscila entre o anti-social e o vandalismo puro, estão na mira do Governo trabalhista, que se sente genuinamente embaraçado de cada vez que se confronta com imagens de «hooligans» ingleses a fazerem distúrbios em cidades europeias. Desde 1997 que o Governo lançou uma verdadeira ofensiva contra os YOBS 2. Uma avalanche de novas leis foi implementada ou está a ser debatida na Câmara dos Comuns - recolher obrigatório para menores de 10 anos; proibição do consumo de álcool a menores; combate ao comportamento anti-social; multas; aceleramento do sistema de justiça criminal para menores; recrutamento de mais polícias; regras contra os «hooligans»... Tudo em nome da ordem e das boas maneiras.

DESAFIOS

Beber

Pubs sem limites

Texto de Eunice Goes, correspondente em Londres

marcar artigo