Depressão em jovens

17-06-2004
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Depressão em Jovens

Domingo, 11 de Abril de 2004

%Andréia Azevedo Soares

A prescrição de antidepressivos a menores de 18 anos nunca foi tão desencorajada como agora. É que, no mês passado, a FDA - o organismo que regula o mercado de remédios e alimentos nos Estados Unidos da América (EUA) - fez um claro alerta aos médicos: travar a recomendação de antidepressivos para jovens, pelo menos até ao dia em que a ciência for capaz de elucidar se, de facto, estas substâncias estão ou não associadas a tendências suicidas entre os adolescentes. A agência norte-americana preconiza ainda que esta advertência conste dos rótulos dos medicamentos. Estas medidas surgem após um conjunto de pais de crianças deprimidas terem, há cerca de um ano, relatado às autoridades de saúde casos de suicídio logo após o início do tratamento dos seus filhos.

"Acolhemos esta recomendação da FDA em Portugal com muita atenção, mas felizmente o uso de antidepressivos entre os jovens portugueses não é alto. Isso se deve ao facto da pedopsiquiatria, no nosso país, desenvolver um excelente trabalho baseado sobretudo na terapia", refere o psiquiatra Rui Mota Cardoso, professor catedrático da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto. O médico tranquiliza os pais portugueses lembrando que, em geral, são reduzidos os casos de jovens a quem se indica o tratamento medicamentoso - ao contrário dos EUA, onde o consumo de antidepressivos aumentou 60 por cento nos últimos quinze anos.

Para o especialista, apenas os casos mais graves da doença requerem a prescrição das tais "pílulas da felicidade" e, mesmo assim, com acompanhamento psiquiátrico rigoroso. Nestes casos, Rui Mota Cardoso recorda que, como em todas as outras especialidades, "os pais têm sempre o direito de ouvir a opinião de outro médico". Por outras palavras, se o seu filho apresenta um quadro clínico que, de acordo com o psiquiatra que o acompanha, justifique o uso de remédios específicos, é legítimo que queira escutar uma segunda opinião antes de ir à farmácia.

A polémica nos EUA deriva do facto da maior parte dos fármacos não ter sido, pelo menos até agora, testada em crianças e adolescentes. Por um lado, isso impede que a comunidade científica comprove a relação entre a ingestão dos tais comprimidos e o desejo dos jovens de pôr termo à própria vida, por outro a ausência desses mesmos estudos ilibaria a indústria farmacêutica. No entanto, existem nalguns sítios electrónicos notícias da BBC, bem como relatos de pais que perderam os seus filhos, que acusam os fabricantes de terem ocultado estes resultados para não prejudicar a venda dos medicamentos. O endereço http://www.antidepressantsfacts.com/review.htm é um deles.

-O actual Plano Nacional de Saúde, no que toca à prevalência da depressão entre os portugueses, refere que este mal pode afectar 20 por cento da população. O mesmo documento chama atenção para o aumento dos casos de suicídios nas faixas etárias mais baixas, frisando ainda que as respostas oferecidas pelos serviços públicos são, em geral, "insuficientes" e "desajustada" das reais necessidades dos jovens.

-O diagnóstico da doença em jovens é considerado complexo, sobretudo porque nem todos os miúdos conseguem verbalizar as suas angústias. Por vezes, os sinais são enviados aos pais através da apatia, mudez ou birra. O baixo rendimento escolar também pode ser uma pista. Com a chegada da adolescência, acompanhada de um leque de mudanças biológicas e psicológicas, o jovem pode sentir-se transtornado, inseguro ou insatisfeito com a sua imagem corporal, por exemplo. Estes são alguns dos factores que podem contribuir para o desenvolvimento não só de perturbações alimentares ou de sono, mas também psíquicas. Em caso de dúvida ou receio, os pais podem sempre procurar um especialista para esclarecer as dúvidas. Sobretudo se, entre as suspeitas, estiver uma tentativa de suicídio. "É um sinal de alarme que não deve nunca ser desprezado", frisa Mota Cardoso.

Depressão em Jovens

Domingo, 11 de Abril de 2004

%Andréia Azevedo Soares

A prescrição de antidepressivos a menores de 18 anos nunca foi tão desencorajada como agora. É que, no mês passado, a FDA - o organismo que regula o mercado de remédios e alimentos nos Estados Unidos da América (EUA) - fez um claro alerta aos médicos: travar a recomendação de antidepressivos para jovens, pelo menos até ao dia em que a ciência for capaz de elucidar se, de facto, estas substâncias estão ou não associadas a tendências suicidas entre os adolescentes. A agência norte-americana preconiza ainda que esta advertência conste dos rótulos dos medicamentos. Estas medidas surgem após um conjunto de pais de crianças deprimidas terem, há cerca de um ano, relatado às autoridades de saúde casos de suicídio logo após o início do tratamento dos seus filhos.

"Acolhemos esta recomendação da FDA em Portugal com muita atenção, mas felizmente o uso de antidepressivos entre os jovens portugueses não é alto. Isso se deve ao facto da pedopsiquiatria, no nosso país, desenvolver um excelente trabalho baseado sobretudo na terapia", refere o psiquiatra Rui Mota Cardoso, professor catedrático da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto. O médico tranquiliza os pais portugueses lembrando que, em geral, são reduzidos os casos de jovens a quem se indica o tratamento medicamentoso - ao contrário dos EUA, onde o consumo de antidepressivos aumentou 60 por cento nos últimos quinze anos.

Para o especialista, apenas os casos mais graves da doença requerem a prescrição das tais "pílulas da felicidade" e, mesmo assim, com acompanhamento psiquiátrico rigoroso. Nestes casos, Rui Mota Cardoso recorda que, como em todas as outras especialidades, "os pais têm sempre o direito de ouvir a opinião de outro médico". Por outras palavras, se o seu filho apresenta um quadro clínico que, de acordo com o psiquiatra que o acompanha, justifique o uso de remédios específicos, é legítimo que queira escutar uma segunda opinião antes de ir à farmácia.

A polémica nos EUA deriva do facto da maior parte dos fármacos não ter sido, pelo menos até agora, testada em crianças e adolescentes. Por um lado, isso impede que a comunidade científica comprove a relação entre a ingestão dos tais comprimidos e o desejo dos jovens de pôr termo à própria vida, por outro a ausência desses mesmos estudos ilibaria a indústria farmacêutica. No entanto, existem nalguns sítios electrónicos notícias da BBC, bem como relatos de pais que perderam os seus filhos, que acusam os fabricantes de terem ocultado estes resultados para não prejudicar a venda dos medicamentos. O endereço http://www.antidepressantsfacts.com/review.htm é um deles.

-O actual Plano Nacional de Saúde, no que toca à prevalência da depressão entre os portugueses, refere que este mal pode afectar 20 por cento da população. O mesmo documento chama atenção para o aumento dos casos de suicídios nas faixas etárias mais baixas, frisando ainda que as respostas oferecidas pelos serviços públicos são, em geral, "insuficientes" e "desajustada" das reais necessidades dos jovens.

-O diagnóstico da doença em jovens é considerado complexo, sobretudo porque nem todos os miúdos conseguem verbalizar as suas angústias. Por vezes, os sinais são enviados aos pais através da apatia, mudez ou birra. O baixo rendimento escolar também pode ser uma pista. Com a chegada da adolescência, acompanhada de um leque de mudanças biológicas e psicológicas, o jovem pode sentir-se transtornado, inseguro ou insatisfeito com a sua imagem corporal, por exemplo. Estes são alguns dos factores que podem contribuir para o desenvolvimento não só de perturbações alimentares ou de sono, mas também psíquicas. Em caso de dúvida ou receio, os pais podem sempre procurar um especialista para esclarecer as dúvidas. Sobretudo se, entre as suspeitas, estiver uma tentativa de suicídio. "É um sinal de alarme que não deve nunca ser desprezado", frisa Mota Cardoso.

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