Suplemento Pública

10-05-2004
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"Navegar" à Borla

Domingo, 11 de Abril de 2004

%Isabel Gorjão Santos

É fim-de-semana, de madrugada. As empresas devem estar vazias e os administradores dos sistemas informáticos a descansar. Nuno, chamemos-lhe assim, junta-se com alguns amigos, mete-se num carro com o computador portátil no colo e vai passear por Lisboa. Vai à procura da Rede. Quer aceder "à socapa" a redes sem fios, ou "wireless", por onde não deveria "navegar".

Tem 18 anos, mora na zona de Setúbal, acabou agora o 12º ano e quer vir a trabalhar na área da informática. Há já algum tempo que não pratica "wardriving", o nome pelo qual é conhecido, na gíria, isto de andar de carro, com o computador, à procura de uma rede "desprevenida". Por diversas vezes acedeu a redes de particulares ou empresas, sempre com o mesmo objectivo: vaguear pela Internet, em banda larga, pelo tempo que lhe apetecesse e, claro, "à borla".

Diz Nuno que o grupo de "caçadores" de redes "wireless" é já bastante grande. Alguns praticam "warchalking": procuram as redes e avisam os outros. Com um giz ("chalk") marcam um símbolo na parede, num local discreto. Quem conhece o código passa a saber que a rede existe, se está ou não aberta, como é que pode aceder e qual é a largura de banda. Tudo isto explicado com círculos, semicírculos e números que revelam a largura de banda e o endereço IP (Internet Protocol) que permite o acesso. A maioria das pessoas não entenderá os símbolos, mas o código é internacional e está todo explicado, por exemplo, em www.warchalking.org, um "site" onde se pode obter, inclusive, o cartão de membro desta espécie de comunidade.

"Como cidadão, não acho grande piada ao 'warchalking', pois uma coisa é aceder a uma rede e outra coisa é expô-la", diz Nuno, assegurando que são inúmeras as redes desprotegidas em Portugal e que, ao contrário do "warchalking", que "não se vê muito", o "wardriving" cresce cada vez mais.

Em grande parte dos casos, o objectivo é aceder à Internet e fazer "downloads" através de banda larga. Mas a possibilidade de aceder a dados para outros fins também existe, por isso muitos optam por não as sinalizar. "Uma coisa é aceder com ética, outra é expor uma rede e causar problemas [ao proprietário]", diz Nuno. Afinal, para este "wardriver", até a intromissão em redes alheias pode ser feita "com ética". Neste caso, ética quer dizer que não se acedem aos dados e não se utiliza a informação disponível na rede para fins pouco lícitos. Diz quem se interessa há muito por este assunto que, neste jogo "do gato e do rato" entre a segurança das redes e quem a procura contornar, é sempre difícil imaginar onde estão os limites. E é quase impossível saber até onde poderá ir alguém com bons conhecimentos técnicos e más intenções.

"Existem, um pouco por todo o lado, 'hotspots' involuntários", explica Pedro Loureiro, consultor técnico da Hiperbit, empresa que desenvolve soluções para sistemas de informação e que se dedica às áreas de redes, de "software" ou de negócio através da Internet.

Os "hotspots" são os equipamentos que se instalam para criar uma rede sem fios. O acesso pode ser bloqueado mas "há sempre maneira de contornar as medidas de segurança, por mais eficazes que pareçam". Em vários casos, avisa Pedro Loureiro é possível entrar na rede interna de uma empresa e a todos os dados que nela circulam.

As empresas são os alvos preferenciais quando se pratica "warchalking" ou "wardriving", sobretudo por possuírem ligações em banda larga. Mas muitas das redes "wireless" instaladas em habitações também se encontram "abertas", o que significa que os seus proprietários, por despreocupação ou desconhecimento, não as tornaram seguras.

"Navegar" à Borla

Domingo, 11 de Abril de 2004

%Isabel Gorjão Santos

É fim-de-semana, de madrugada. As empresas devem estar vazias e os administradores dos sistemas informáticos a descansar. Nuno, chamemos-lhe assim, junta-se com alguns amigos, mete-se num carro com o computador portátil no colo e vai passear por Lisboa. Vai à procura da Rede. Quer aceder "à socapa" a redes sem fios, ou "wireless", por onde não deveria "navegar".

Tem 18 anos, mora na zona de Setúbal, acabou agora o 12º ano e quer vir a trabalhar na área da informática. Há já algum tempo que não pratica "wardriving", o nome pelo qual é conhecido, na gíria, isto de andar de carro, com o computador, à procura de uma rede "desprevenida". Por diversas vezes acedeu a redes de particulares ou empresas, sempre com o mesmo objectivo: vaguear pela Internet, em banda larga, pelo tempo que lhe apetecesse e, claro, "à borla".

Diz Nuno que o grupo de "caçadores" de redes "wireless" é já bastante grande. Alguns praticam "warchalking": procuram as redes e avisam os outros. Com um giz ("chalk") marcam um símbolo na parede, num local discreto. Quem conhece o código passa a saber que a rede existe, se está ou não aberta, como é que pode aceder e qual é a largura de banda. Tudo isto explicado com círculos, semicírculos e números que revelam a largura de banda e o endereço IP (Internet Protocol) que permite o acesso. A maioria das pessoas não entenderá os símbolos, mas o código é internacional e está todo explicado, por exemplo, em www.warchalking.org, um "site" onde se pode obter, inclusive, o cartão de membro desta espécie de comunidade.

"Como cidadão, não acho grande piada ao 'warchalking', pois uma coisa é aceder a uma rede e outra coisa é expô-la", diz Nuno, assegurando que são inúmeras as redes desprotegidas em Portugal e que, ao contrário do "warchalking", que "não se vê muito", o "wardriving" cresce cada vez mais.

Em grande parte dos casos, o objectivo é aceder à Internet e fazer "downloads" através de banda larga. Mas a possibilidade de aceder a dados para outros fins também existe, por isso muitos optam por não as sinalizar. "Uma coisa é aceder com ética, outra é expor uma rede e causar problemas [ao proprietário]", diz Nuno. Afinal, para este "wardriver", até a intromissão em redes alheias pode ser feita "com ética". Neste caso, ética quer dizer que não se acedem aos dados e não se utiliza a informação disponível na rede para fins pouco lícitos. Diz quem se interessa há muito por este assunto que, neste jogo "do gato e do rato" entre a segurança das redes e quem a procura contornar, é sempre difícil imaginar onde estão os limites. E é quase impossível saber até onde poderá ir alguém com bons conhecimentos técnicos e más intenções.

"Existem, um pouco por todo o lado, 'hotspots' involuntários", explica Pedro Loureiro, consultor técnico da Hiperbit, empresa que desenvolve soluções para sistemas de informação e que se dedica às áreas de redes, de "software" ou de negócio através da Internet.

Os "hotspots" são os equipamentos que se instalam para criar uma rede sem fios. O acesso pode ser bloqueado mas "há sempre maneira de contornar as medidas de segurança, por mais eficazes que pareçam". Em vários casos, avisa Pedro Loureiro é possível entrar na rede interna de uma empresa e a todos os dados que nela circulam.

As empresas são os alvos preferenciais quando se pratica "warchalking" ou "wardriving", sobretudo por possuírem ligações em banda larga. Mas muitas das redes "wireless" instaladas em habitações também se encontram "abertas", o que significa que os seus proprietários, por despreocupação ou desconhecimento, não as tornaram seguras.

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