Casos de aborto clandestino foram mais do dobro dos legais

01-06-2002
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Casos de Aborto Clandestino Foram Mais do Dobro dos Legais

Por ALEXANDRA CAMPOS

Sexta-feira, 17 de Maio de 2002 Segundo semestre do ano passado Os hospitais receberam 578 mulheres com complicações surgidas na sequência de interrupções clandestinas da gravidez O número de interrupções voluntárias de gravidez (IVG) resultantes de complicações surgidas na sequência de abortos clandestinos que obrigaram a internamento nos hospitais e maternidades, durante o último semestre do ano passado, representa mais do dobro do total de abortos praticados ao abrigo da lei, no mesmo período, a crer nos últimos dados disponíveis, ontem adiantados ao PÚBLICO pelo Ministério da Saúde. Do conjunto das 578 situações de complicações pós-aborto que deram entrada nas unidades do Serviço Nacional de Saúde - contra 242 situações de interrupção legal -, destacam-se cinco perfurações do útero, 34 casos de infecção ("sepsis") e 180 abortos retidos (morte do feto sem esvaziamento do útero). Os restantes casos (359) referem-se a abortos incompletos. Um cenário que permite perceber que o número de complicações pós-aborto clandestino que chegam aos hospitais ainda é muito elevado e que oferece a possibilidade de avaliar com maior precisão o que, de facto, se passa a este nível. Os dados reportados pela Direcção-Geral de Saúde, por exemplo, dão conta de uma quantidade consideravelmente inferior de abortos referenciados como ilegais (197, durante todo o ano 2000), apesar de integrarem um número elevadíssimo de abortos retidos (3285, em 2000) e não-especificados (2344, no mesmo ano). Os dados agora disponibilizados pelo Ministério da Saúde - referentes apenas ao segundo semestre do ano passado e agrupados pelas cinco administrações regionais de saúde - permitem ainda concluir, de uma forma inequívoca, que a esmagadora maioria dos abortos legais (197) resultaram da actividade de diagnóstico pré-natal, que permite detectar atempadamente eventuais malformações e doenças graves do feto. Apenas 35 IVG feitas ao abrigo das circunstâncias previstas na lei resultaram das chamadas causas maternas (quando está em risco a saúde ou a vida da mulher). O quadro com o registo dos episódios de internamento relacionados com a interrupção de gravidez é omisso quanto às restantes situações. Interessante é também notar que uma parte significativa destas mulheres (1696) acabou por ser encaminhada para consultas de planeamento familiar, o que, aliás, a própria lei estipula. Uma situação que se verificou, curiosamente, com maior frequência na área da Administração Regional de Saúde (ARS) do Norte (onde 777 mulheres foram encaminhadas para consultas de planeamento familiar), contra 702 na ARS de Lisboa e Vale do Tejo, onde se registou o maior número de complicações pós-abortos clandestinos (496, quando em todo o Norte foram apenas 34). ALGUNS NÚMEROS · 578 casos de complicações pós-aborto que obrigaram a internamento nas unidades do Serviço Nacional de Saúde durante o segundo semestre do ano · 242 casos de interrupção legal da gravidez foram registados nos hospitais no mesmo período OUTROS TÍTULOS EM DESTAQUE Parlamento aprova estudo sobre aborto, planeamento e educação sexual

Baixa à comissão salva proposta de Helena Roseta

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Não há dados fidedignos sobre a interrupção da gravidez

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