EXPRESSO: País

01-09-2002
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«A palavra é agora de quem não é um líder frouxo»

«A palavra é agora de quem não é um líder frouxo» João Cravinho (sobre Ferro Rodrigues) «Compreendemos a mensagem que o eleitorado nos deu no dia 16 de Dezembro»

Ferro Rodrigues «Belmiro, se fundar um partido, que faça isso»

idem (sobre o repto do empresário para anunciar o ministro das Finanças antes das eleições) «Eles (PSD) são uma espécie de xerife de Nottingham contra o Robin dos Bosques»

idem

PS volta a jogo Os socialistas acreditam que ainda podem dar a volta ao resultado Luiz Carvalho Ferro Rodrigues em Matosinhos: o líder do PS ganhou novo alento com os «autogolos» do PSD em matéria de futebol OTEMPORAL ao sul foi dando lugar a um sol que parece ter começado a brilhar para os socialistas à medida que a caravana foi rumando ao norte do país. Não tanto porque lhes tenham antecipado a Primavera, mas mais porque já acreditam que as nuvens estão a passar para outras paragens. OTEMPORAL ao sul foi dando lugar a um sol que parece ter começado a brilhar para os socialistas à medida que a caravana foi rumando ao norte do país. Não tanto porque lhes tenham antecipado a Primavera, mas mais porque já acreditam que as nuvens estão a passar para outras paragens. De facto, o «inner circle» de Ferro Rodrigues ganhou outro alento com as polémicas que choveram sobre o PSD, nomeadamente a do Euro-2004 no Porto, entre Rui Rio e Pinto da Costa, e a contestada declaração do presidente do Benfica, Manuel Vilarinho, garantindo o apoio dos órgãos sociais do clube à candidatura do PSD. O partido que pôs a rosa na lapela para voltar a cerrar o punho e para esticar o polegar até trocou as voltas ao programa, para apostar mais alto e arriscar um megacomício no Porto (hoje à noite), que passe a imagem da mobilização e reduza a vaga laranja a uma onda que já passou. Tarefa difícil e aposta de risco, reconhecida pelos próprios colaboradores de Ferro Rodrigues. Mas a verdade é que o candidato socialista até já salta nos palcos dos comícios e ensaia uns passos de dança com o povo em plena rua. A campanha arrancou morna no fim-de-semana com passagem pelo Alentejo e Algarve. Mas ganhou novo fôlego ao quarto dia em Coimbra. Na cidade dos estudantes, Ferro conseguiu mesmo um dos melhores momentos de campanha com uma calorosa recepção popular nas ruas e no comício dessa noite. Não houve fumo nem balões mas não faltaram rosas, bandeiras, muitos sorrisos, cumprimentos e até papelinhos. Verdes, cor-de-rosa, brancos, choviam das janelas dos prédios. Sempre acompanhado de Almeida Santos, Fausto Correia e Helena Roseta, Ferro lá foi distribuindo beijos e abraços aos muitos populares que se lhe dirigiam e que insistiam em não descolar da comitiva. A certa altura e deparando-se com um grupo de jovens, o candidato do PS chegou a dançar ao som de «YMCA» tocado pela fanfarra que ia abrindo caminho. Mas já na manhã de segunda-feira, numa incursão por Benfica, Ferro tinha sentido um cheirinho a sucesso, com Manuel Alegre, João Soares e Edite Estrela na comitiva a serem entusiasticamente recebidos pela população. Um dia em que os socialistas resolveram sair em força para a rua com passeios também pelo Entroncamento e por Abrantes. «Vaga» de fundo Primeiro foram os ataques ao PSD. Ao célebre choque fiscal dos sociais-democratas, à sua «febre suspensiva», à política para a função pública e ao «programa icebergue» de Durão Barroso que tem «uma parte invisível». Mas com a onda de optimismo que invadiu a caravana socialista, Ferro foi ganhando espaço para aligeirar as críticas ao adversário. «Quero intervir falando o menos possível do PSD e do seu líder. Eles fazem parte do passado e não do nosso futuro» e arriscar, pela primeira vez, um discurso triunfalista: «Saio de Coimbra para o Porto com a convicção de que a tal vaga de fundo de que eles tanto falavam, afinal sempre existe mas está aqui connosco e não com eles». E já horas antes, num almoço na Figueira da Foz, assegurara «daqui para a frente e até 17 de Março não vamos dar um milímetro de espaço para os nossos adversários recuperarem o que já perderam nos últimos dias». Uma ideia reiterada por Almeida Santos, que com um sorriso de orgulho e emoção estampado no rosto dizia: «O PS é um grande partido. Ficou adormecido com o choque das autárquicas mas agora começa a crescer. A maré estava contra nós mas o nosso marinheiro é melhor do que o deles e agora a maré também começa a mudar». Discretamente, o apelo ao voto útil tem vindo também a ganhar forma, contra o desperdício de votos no PCP e no BE. «Não fiquemos pelos comícios e pelos jantares. Vamos lá para fora pedir para que não haja desperdício de votos e sim concentração de votos. O que está em causa nestas eleições é saber quem vai formar Governo: eu ou o Dr. Durão Barroso». Com um crescente à-vontade no contacto com a população, para que muito contribuem as suas tiradas espirituosas, Ferro Rodrigues vai insistindo na recusa da demagogia. Não hesita em responder à D. Maria, quando interpelado sobre a reforma aos 60 anos, que «isso não pode ser porque quanto mais cedo mais dinheiro é necessário». E foi também com frontalidade que Ferro enfrentou os empresários, na quarta-feira, numa conferência do «Diário Económico». Consciente da sua posição de desvantagem (Durão Barroso estivera no mesmo local, horas antes, a explanar o seu «choque fiscal», ao agrado dos empresários) e de que dificilmente levaria dali mais um voto, Ferro defendeu e repetiu à exaustão a necessidade de uma maior produtividade, mas sempre acompanhada de «coesão social». Houve empresários que se levantaram ao fim dos primeiros minutos da sua intervenção (com o argumento de estar a ser «muito pesado, dá muito sono»), mas Ferro não desarmou e aproveitou para rebater as críticas ao Rendimento Mínimo Garantido («uma ideia falsa que se instalou»), que ele próprio tem ouvido em acções de campanha. E à noite, no comício em Aveiro, voltou a criticar os «patrões que há 20 anos repetem a mesma lengalenga, que a culpa é do Estado e das leis laborais». «Se fosse assim», concluiu, «não havia empresas modernas e inovadoras. Não contem connosco para subsidiar projectos do passado. O IRC deverá ser diminuído gradualmente, sim, mas para os que inovam e não para os que são amigos de certo partido». Ferro tem sabido aproveitar as oportunidades que vão surgindo para puxar dos galardões numa área que tão bem conhece: as políticas sociais. E para matar saudades da sua curta experiência à frente do Ministério do Equipamento e das Obras Públicas não faltou à romaria à barragem de Alqueva nem ao aeroporto da Ota e às obras da auto-estrada do Algarve. As deixas certas para mostrar que «o Governo socialista fez e vai continuar a fazer obra».

Sofia Rainho, com Ana Paula Azevedo

Positivo Ferro Rodrigues tem insistido que jamais aceitará ser uma personagem de plástico nesta campanha eleitoral. E não hesita em defender as suas convicções nem em responder aos eleitores que o abordam nas ruas aquilo que eles... não gostariam de ouvir. E assim vai resistindo às tentações da demagogia. Não sem que, mesmo assim, ainda às vezes lhe fuja o pé para o chinelo

Negativo Depois do discurso dos «desgraçados», Jorge Coelho voltou a dar nas vistas. Ou melhor, a não dar nas vistas, já que faltou na manhã de segunda-feira ao lado de Ferro Rodrigues nas ruas de Lisboa. Mas no dia seguinte, e já sem Ferro, lá andava a distribuir rosas e abraços pela cidade, atirando para os jornalistas «Isto já são milhares de desgraçados». Nos quais, pelos vistos, não se inclui...

A eloquência e as contradições Rui Duarte Silva €€António Almeida Santos em Coimbra: a campanha dos socialistas não tem tido chama no distrito da co-incineração A CAMPANHA eleitoral do PS no distrito de Coimbra tem decorrido à imagem do seu cabeça-de-lista, António Almeida Santos: sem chama, monocórdica e com discursos eloquentes, mas de circunstância, que evitam tocar em temas polémicos, como o da co-incineração. A CAMPANHA eleitoral do PS no distrito de Coimbra tem decorrido à imagem do seu cabeça-de-lista, António Almeida Santos: sem chama, monocórdica e com discursos eloquentes, mas de circunstância, que evitam tocar em temas polémicos, como o da co-incineração. Com excepção de terça-feira, em que a caravana de Ferro Rodrigues animou (bastante) as ruas das cidades de Coimbra e da Figueira da Foz, os dias de campanha têm decorrido com uma monotonia que não foi sequer quebrada com os debates (a dois) entre Almeida Santos e Dias Loureiro (cabeça-de-lista do PSD). Aliás, a única nota de interesse nestes frente-a-frentes foi a manifestação de protesto e o boicote que a CDU levou a cabo, quinta-feira, no Hotel Quinta das Lágrimas, onde os cabeças-de-lista socialista e social-democrata iniciavam mais um confronto, desta feita organizado pela TSF. Com uma deliberação da Comissão Nacional de Eleições considerando «grave» que aquela estação de rádio não tivesse convidado as outras forças políticas, os manifestantes da CDU, liderados pelo cabeça-de-lista Mário Nogueira, não deixaram que o debate se prolongasse por mais de 15 minutos. Durante a campanha socialista têm sobressaído as já tradicionais eloquência e fluência discursivas de Almeida Santos, que, porém, não compensam a falta de magnetismo de uma lista visivelmente dominada pelo «aparelho partidário» e que se traduz na notória dificuldade dos candidatos em mobilizar o vasto eleitorado socialista no distrito. Recorde-se que o PS obteve no distrito de Coimbra significativas vitórias nas eleições para a Assembleia da República em 1995 e em 1999, tendo conseguido em ambos os casos votações na ordem dos 50% e elegendo seis dos dez deputados em disputa. As contradições da «bastonária» Curiosamente, tem sido a «estrangeira» Helena Roseta quem tem procurado inovar o discurso político e tentado trazer ao debate alguns dos problemas com mais actualidade no distrito e na cidade de Coimbra. Curiosamente, tem sido a «estrangeira» Helena Roseta quem tem procurado inovar o discurso político e tentado trazer ao debate alguns dos problemas com mais actualidade no distrito e na cidade de Coimbra. Helena Roseta considera que o distrito e a cidade de Coimbra estão num «momento de viragem» e que «ainda é possível um modelo de desenvolvimento baseado no respeito do ambiente, num equilíbrio entre a construção e natureza». Mas, apesar de tudo, Roseta não consegue fazer esquecer de todo que a sua candidatura por Coimbra não foi recebida com «muito entusiasmo» pelo PS local. No comício de terça-feira, com Ferro Rodrigues, Almeida Santos reduziu a participação de Helena Roseta nas lista do PS à dimensão de um «ornamento político e até físico». Em declarações ao EXPRESSO, Roseta considerou a frase como um «piropo próprio de outra geração». E acrescentou: «Temos de aceitar cada um com a linguagem que tem, mas, depois de Maio de 68, essa já não é a nossa linguagem». A participação de Helena Roseta na lista do PS (em 4º lugar) contraria promessas feitas durante as eleições para Bastonário da Ordem dos Arquitectos. Roseta afirmou então que, se vencesse, não integraria as listas do PS para a Assembleia da República. Já depois de ter sido eleita bastonária, Roseta reiterou esse compromisso, tendo afirmado ao EXPRESSO : «Poderei participar na campanha do PS, mas não faz sentido o meu nome estar nas listas». E acrescentava ainda: «Continuo a fazer política, mas deixa de ser partidária». Agora Helena Roseta diz que «nunca disse que não queria ser candidata, mas sim que provavelmente já não seria». E esclarece: «Eu não estava a pensar candidatar-me, mas aceitei porque estas eleições são muito importantes e eu não prescindo da cidadania».

António Marinho

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«A palavra é agora de quem não é um líder frouxo» João Cravinho (sobre Ferro Rodrigues) «Compreendemos a mensagem que o eleitorado nos deu no dia 16 de Dezembro»

Ferro Rodrigues «Belmiro, se fundar um partido, que faça isso»

idem (sobre o repto do empresário para anunciar o ministro das Finanças antes das eleições) «Eles (PSD) são uma espécie de xerife de Nottingham contra o Robin dos Bosques»

idem

PS volta a jogo Os socialistas acreditam que ainda podem dar a volta ao resultado Luiz Carvalho Ferro Rodrigues em Matosinhos: o líder do PS ganhou novo alento com os «autogolos» do PSD em matéria de futebol OTEMPORAL ao sul foi dando lugar a um sol que parece ter começado a brilhar para os socialistas à medida que a caravana foi rumando ao norte do país. Não tanto porque lhes tenham antecipado a Primavera, mas mais porque já acreditam que as nuvens estão a passar para outras paragens. OTEMPORAL ao sul foi dando lugar a um sol que parece ter começado a brilhar para os socialistas à medida que a caravana foi rumando ao norte do país. Não tanto porque lhes tenham antecipado a Primavera, mas mais porque já acreditam que as nuvens estão a passar para outras paragens. De facto, o «inner circle» de Ferro Rodrigues ganhou outro alento com as polémicas que choveram sobre o PSD, nomeadamente a do Euro-2004 no Porto, entre Rui Rio e Pinto da Costa, e a contestada declaração do presidente do Benfica, Manuel Vilarinho, garantindo o apoio dos órgãos sociais do clube à candidatura do PSD. O partido que pôs a rosa na lapela para voltar a cerrar o punho e para esticar o polegar até trocou as voltas ao programa, para apostar mais alto e arriscar um megacomício no Porto (hoje à noite), que passe a imagem da mobilização e reduza a vaga laranja a uma onda que já passou. Tarefa difícil e aposta de risco, reconhecida pelos próprios colaboradores de Ferro Rodrigues. Mas a verdade é que o candidato socialista até já salta nos palcos dos comícios e ensaia uns passos de dança com o povo em plena rua. A campanha arrancou morna no fim-de-semana com passagem pelo Alentejo e Algarve. Mas ganhou novo fôlego ao quarto dia em Coimbra. Na cidade dos estudantes, Ferro conseguiu mesmo um dos melhores momentos de campanha com uma calorosa recepção popular nas ruas e no comício dessa noite. Não houve fumo nem balões mas não faltaram rosas, bandeiras, muitos sorrisos, cumprimentos e até papelinhos. Verdes, cor-de-rosa, brancos, choviam das janelas dos prédios. Sempre acompanhado de Almeida Santos, Fausto Correia e Helena Roseta, Ferro lá foi distribuindo beijos e abraços aos muitos populares que se lhe dirigiam e que insistiam em não descolar da comitiva. A certa altura e deparando-se com um grupo de jovens, o candidato do PS chegou a dançar ao som de «YMCA» tocado pela fanfarra que ia abrindo caminho. Mas já na manhã de segunda-feira, numa incursão por Benfica, Ferro tinha sentido um cheirinho a sucesso, com Manuel Alegre, João Soares e Edite Estrela na comitiva a serem entusiasticamente recebidos pela população. Um dia em que os socialistas resolveram sair em força para a rua com passeios também pelo Entroncamento e por Abrantes. «Vaga» de fundo Primeiro foram os ataques ao PSD. Ao célebre choque fiscal dos sociais-democratas, à sua «febre suspensiva», à política para a função pública e ao «programa icebergue» de Durão Barroso que tem «uma parte invisível». Mas com a onda de optimismo que invadiu a caravana socialista, Ferro foi ganhando espaço para aligeirar as críticas ao adversário. «Quero intervir falando o menos possível do PSD e do seu líder. Eles fazem parte do passado e não do nosso futuro» e arriscar, pela primeira vez, um discurso triunfalista: «Saio de Coimbra para o Porto com a convicção de que a tal vaga de fundo de que eles tanto falavam, afinal sempre existe mas está aqui connosco e não com eles». E já horas antes, num almoço na Figueira da Foz, assegurara «daqui para a frente e até 17 de Março não vamos dar um milímetro de espaço para os nossos adversários recuperarem o que já perderam nos últimos dias». Uma ideia reiterada por Almeida Santos, que com um sorriso de orgulho e emoção estampado no rosto dizia: «O PS é um grande partido. Ficou adormecido com o choque das autárquicas mas agora começa a crescer. A maré estava contra nós mas o nosso marinheiro é melhor do que o deles e agora a maré também começa a mudar». Discretamente, o apelo ao voto útil tem vindo também a ganhar forma, contra o desperdício de votos no PCP e no BE. «Não fiquemos pelos comícios e pelos jantares. Vamos lá para fora pedir para que não haja desperdício de votos e sim concentração de votos. O que está em causa nestas eleições é saber quem vai formar Governo: eu ou o Dr. Durão Barroso». Com um crescente à-vontade no contacto com a população, para que muito contribuem as suas tiradas espirituosas, Ferro Rodrigues vai insistindo na recusa da demagogia. Não hesita em responder à D. Maria, quando interpelado sobre a reforma aos 60 anos, que «isso não pode ser porque quanto mais cedo mais dinheiro é necessário». E foi também com frontalidade que Ferro enfrentou os empresários, na quarta-feira, numa conferência do «Diário Económico». Consciente da sua posição de desvantagem (Durão Barroso estivera no mesmo local, horas antes, a explanar o seu «choque fiscal», ao agrado dos empresários) e de que dificilmente levaria dali mais um voto, Ferro defendeu e repetiu à exaustão a necessidade de uma maior produtividade, mas sempre acompanhada de «coesão social». Houve empresários que se levantaram ao fim dos primeiros minutos da sua intervenção (com o argumento de estar a ser «muito pesado, dá muito sono»), mas Ferro não desarmou e aproveitou para rebater as críticas ao Rendimento Mínimo Garantido («uma ideia falsa que se instalou»), que ele próprio tem ouvido em acções de campanha. E à noite, no comício em Aveiro, voltou a criticar os «patrões que há 20 anos repetem a mesma lengalenga, que a culpa é do Estado e das leis laborais». «Se fosse assim», concluiu, «não havia empresas modernas e inovadoras. Não contem connosco para subsidiar projectos do passado. O IRC deverá ser diminuído gradualmente, sim, mas para os que inovam e não para os que são amigos de certo partido». Ferro tem sabido aproveitar as oportunidades que vão surgindo para puxar dos galardões numa área que tão bem conhece: as políticas sociais. E para matar saudades da sua curta experiência à frente do Ministério do Equipamento e das Obras Públicas não faltou à romaria à barragem de Alqueva nem ao aeroporto da Ota e às obras da auto-estrada do Algarve. As deixas certas para mostrar que «o Governo socialista fez e vai continuar a fazer obra».

Sofia Rainho, com Ana Paula Azevedo

Positivo Ferro Rodrigues tem insistido que jamais aceitará ser uma personagem de plástico nesta campanha eleitoral. E não hesita em defender as suas convicções nem em responder aos eleitores que o abordam nas ruas aquilo que eles... não gostariam de ouvir. E assim vai resistindo às tentações da demagogia. Não sem que, mesmo assim, ainda às vezes lhe fuja o pé para o chinelo

Negativo Depois do discurso dos «desgraçados», Jorge Coelho voltou a dar nas vistas. Ou melhor, a não dar nas vistas, já que faltou na manhã de segunda-feira ao lado de Ferro Rodrigues nas ruas de Lisboa. Mas no dia seguinte, e já sem Ferro, lá andava a distribuir rosas e abraços pela cidade, atirando para os jornalistas «Isto já são milhares de desgraçados». Nos quais, pelos vistos, não se inclui...

A eloquência e as contradições Rui Duarte Silva €€António Almeida Santos em Coimbra: a campanha dos socialistas não tem tido chama no distrito da co-incineração A CAMPANHA eleitoral do PS no distrito de Coimbra tem decorrido à imagem do seu cabeça-de-lista, António Almeida Santos: sem chama, monocórdica e com discursos eloquentes, mas de circunstância, que evitam tocar em temas polémicos, como o da co-incineração. A CAMPANHA eleitoral do PS no distrito de Coimbra tem decorrido à imagem do seu cabeça-de-lista, António Almeida Santos: sem chama, monocórdica e com discursos eloquentes, mas de circunstância, que evitam tocar em temas polémicos, como o da co-incineração. Com excepção de terça-feira, em que a caravana de Ferro Rodrigues animou (bastante) as ruas das cidades de Coimbra e da Figueira da Foz, os dias de campanha têm decorrido com uma monotonia que não foi sequer quebrada com os debates (a dois) entre Almeida Santos e Dias Loureiro (cabeça-de-lista do PSD). Aliás, a única nota de interesse nestes frente-a-frentes foi a manifestação de protesto e o boicote que a CDU levou a cabo, quinta-feira, no Hotel Quinta das Lágrimas, onde os cabeças-de-lista socialista e social-democrata iniciavam mais um confronto, desta feita organizado pela TSF. Com uma deliberação da Comissão Nacional de Eleições considerando «grave» que aquela estação de rádio não tivesse convidado as outras forças políticas, os manifestantes da CDU, liderados pelo cabeça-de-lista Mário Nogueira, não deixaram que o debate se prolongasse por mais de 15 minutos. Durante a campanha socialista têm sobressaído as já tradicionais eloquência e fluência discursivas de Almeida Santos, que, porém, não compensam a falta de magnetismo de uma lista visivelmente dominada pelo «aparelho partidário» e que se traduz na notória dificuldade dos candidatos em mobilizar o vasto eleitorado socialista no distrito. Recorde-se que o PS obteve no distrito de Coimbra significativas vitórias nas eleições para a Assembleia da República em 1995 e em 1999, tendo conseguido em ambos os casos votações na ordem dos 50% e elegendo seis dos dez deputados em disputa. As contradições da «bastonária» Curiosamente, tem sido a «estrangeira» Helena Roseta quem tem procurado inovar o discurso político e tentado trazer ao debate alguns dos problemas com mais actualidade no distrito e na cidade de Coimbra. Curiosamente, tem sido a «estrangeira» Helena Roseta quem tem procurado inovar o discurso político e tentado trazer ao debate alguns dos problemas com mais actualidade no distrito e na cidade de Coimbra. Helena Roseta considera que o distrito e a cidade de Coimbra estão num «momento de viragem» e que «ainda é possível um modelo de desenvolvimento baseado no respeito do ambiente, num equilíbrio entre a construção e natureza». Mas, apesar de tudo, Roseta não consegue fazer esquecer de todo que a sua candidatura por Coimbra não foi recebida com «muito entusiasmo» pelo PS local. No comício de terça-feira, com Ferro Rodrigues, Almeida Santos reduziu a participação de Helena Roseta nas lista do PS à dimensão de um «ornamento político e até físico». Em declarações ao EXPRESSO, Roseta considerou a frase como um «piropo próprio de outra geração». E acrescentou: «Temos de aceitar cada um com a linguagem que tem, mas, depois de Maio de 68, essa já não é a nossa linguagem». A participação de Helena Roseta na lista do PS (em 4º lugar) contraria promessas feitas durante as eleições para Bastonário da Ordem dos Arquitectos. Roseta afirmou então que, se vencesse, não integraria as listas do PS para a Assembleia da República. Já depois de ter sido eleita bastonária, Roseta reiterou esse compromisso, tendo afirmado ao EXPRESSO : «Poderei participar na campanha do PS, mas não faz sentido o meu nome estar nas listas». E acrescentava ainda: «Continuo a fazer política, mas deixa de ser partidária». Agora Helena Roseta diz que «nunca disse que não queria ser candidata, mas sim que provavelmente já não seria». E esclarece: «Eu não estava a pensar candidatar-me, mas aceitei porque estas eleições são muito importantes e eu não prescindo da cidadania».

António Marinho

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