Santana apreensivo com novos desafios

04-08-2004
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Santana Apreensivo com Novos Desafios

Por HELENA PEREIRA E EUNICE LOURENÇO

Sábado, 03 de Julho de 2004

O novo presidente do PSD, Pedro Santana Lopes, reconhece a situação de dificuldade em que se encontra para (eventualmente) formar Governo sob o olhar atento do Presidente da República e para liderar um partido, onde apesar do consenso alargado continua a ser olhado por desconfiança por alguns sectores. Por isso, Santana não quererá hostilizar nenhuma das alas do PSD - a "limpeza" que alguns sociais-democratas previam não deverá concretizar-se. E tem emitido sinais de que está disposto a receber a contribuição de quase todos os lados - leia-se, mesmo do lado dos cavaquistas.

É neste contexto que já se fala em nomes de ex-ministros de Cavaco Silva, como Mira Amaral e Eduardo Catroga desejados pelo PSD para assumir a pasta da Economia (o primeiro) e das Finanças (o segundo), numa altura em que se sabe que é determinante para o Presidente da República a pessoa que irá suceder a Manuela Ferreira Leite. António Borges é outro dos nomes falados para essa pasta.

No discurso que fez aos conselheiros nacionais do PSD anteontem à noite, o agora presidente do partido pediu apoio para os tempos mais próximos e pediu claramente ajuda para arranjar "uma boa solução", ao mesmo tempo que garantia que uma das suas intenções será manter uma boa relação com o Presidente da República. O autarca fez questão de dizer que nos últimos dois anos (em que esteve na direcção do PSD) aprendeu muito com Durão, nomeadamente a unificar o partido.

Depois de eleito, em conferência de imprensa, repetiu agora aos jornalistas que os que "têm dúvidas são bem-vindos desde que queiram ajudar". O discurso de Santana têm sido o de reconciliação, quando no final da semana passada alguns sectores do PSD começaram por recear que, assim que este chegasse à liderança do partido e formasse Governo, quisesse "correr" com quem no passado o criticou.

O espírito de abertura de Pedro Santana Lopes prende-se, segundo soube o PÚBLICO, com o reconhecimento das dificuldades em que está. Apanhar um Governo a meio e convidar ministros para um horizonte temporal de pouco mais que um ano não é fácil, apesar dos seus mais directos apoiantes repetirem que o autarca de Lisboa terá maior capacidade de recrutar pessoas à sociedade civil do que Durão Barroso. Santana, no entanto, conta com o apoio de uma série de empresários, que se têm manifestado pela continuidade da actual maioria parlamentar. O PÚBLICO sabe que figuras como Mira Amaral têm estado a ser pressionadas por empresários para entrar para o eventual futuro Governo de Santana.

Fonte próxima do autarca de Lisboa garante que Santana "não fará um Governo de amigos". O próprio Dias Loureiro, presidente da mesa do congresso do PSD e cavaquista, foi um dos que discordou da ida de Durão para a presidência da Comissão Europeia, tal como Cavaco Silva, mas que agora está empenhado na construção de um novo Governo. Durão Barroso tem garantido, internamente, que irá trabalhar também para a formação do novo Executivo.

Por outro lado, o presidente do PSD sabe que, se for primeiro-ministro, haverá um controle apertado de Sampaio à actuação do seu Governo. O Presidente vai estar "mais atento ao desempenho" do Executivo de Santana do que esteve com Durão, refere um dirigente social-democrata.

Pedro Santana Lopes irá encontrar-se quarta-feira com o Presidente da República, no âmbito das audições de Sampaio com os partidos políticos.

Ontem, no primeiro dia como líder do PSD, Pedro Santana Lopes esteve reunido com o líder parlamentar, Guilherme Silva, que colocou o cargo à disposição, tendo sido imediatamente reconduzido. O lugar de vice-presidente do partido, deixado vago pela eleição de Santana, não será ocupado por ninguém.

Mendes confirma saída

Dos actuais ministros de Durão Barroso, o único que parece ter continuidade assegurada será o ministro da Presidência, Nuno Morais Sarmento. Fontes partidárias garantem, por outro lado, que José Luís Arnaut poderá deixar o Governo, mas não irá com Durão para Bruxelas.

Na reunião do conselho nacional, Marques Mendes, ministro dos Assuntos Parlamentares, também deu sinal de que não irá ficar no Governo. Depois de uma intervenção bastante crítica do processo de sucessão de Durão Barroso, Mendes terminou, glosando a parte final do poema "Cântico Negro", de José Régio: "Não sei por onde vou, sei que não vou por aí." A conclusão do discurso do ministro, foi, naturalmente, lida como uma confirmação de que não está disposto a colaborar com Santana.

A reunião do conselho nacional foi também aproveitada por Manuela Ferreira Leite para anunciar que até já tinha dito a Durão Barroso que deveria sair do Governo. Ontem, em declarações à Rádio Renascença, a ministra das Finanças assumiu que um dos três votos contra a eleição de Santana Lopes para presidente do PSD foi "evidentemente" o seu. Ferreira Leite fez ainda questão de esclarecer que se pronunciou pela realização de um congresso do partido e que se limitou a dar explicações sobre essa opinião, porque foi interpelada nesse sentido. A ministra tinha dito ao PÚBLICO que a escolha de um líder sem congresso seria um "golpe de Estado partidário". Anteontem, esclareceu que não questiona a legalidade da eleição em conselho nacional e desculpou-se por um eventual excesso de linguagem. "Não me arrependo daquilo que disse", disse ontem à RR.

Santana Apreensivo com Novos Desafios

Por HELENA PEREIRA E EUNICE LOURENÇO

Sábado, 03 de Julho de 2004

O novo presidente do PSD, Pedro Santana Lopes, reconhece a situação de dificuldade em que se encontra para (eventualmente) formar Governo sob o olhar atento do Presidente da República e para liderar um partido, onde apesar do consenso alargado continua a ser olhado por desconfiança por alguns sectores. Por isso, Santana não quererá hostilizar nenhuma das alas do PSD - a "limpeza" que alguns sociais-democratas previam não deverá concretizar-se. E tem emitido sinais de que está disposto a receber a contribuição de quase todos os lados - leia-se, mesmo do lado dos cavaquistas.

É neste contexto que já se fala em nomes de ex-ministros de Cavaco Silva, como Mira Amaral e Eduardo Catroga desejados pelo PSD para assumir a pasta da Economia (o primeiro) e das Finanças (o segundo), numa altura em que se sabe que é determinante para o Presidente da República a pessoa que irá suceder a Manuela Ferreira Leite. António Borges é outro dos nomes falados para essa pasta.

No discurso que fez aos conselheiros nacionais do PSD anteontem à noite, o agora presidente do partido pediu apoio para os tempos mais próximos e pediu claramente ajuda para arranjar "uma boa solução", ao mesmo tempo que garantia que uma das suas intenções será manter uma boa relação com o Presidente da República. O autarca fez questão de dizer que nos últimos dois anos (em que esteve na direcção do PSD) aprendeu muito com Durão, nomeadamente a unificar o partido.

Depois de eleito, em conferência de imprensa, repetiu agora aos jornalistas que os que "têm dúvidas são bem-vindos desde que queiram ajudar". O discurso de Santana têm sido o de reconciliação, quando no final da semana passada alguns sectores do PSD começaram por recear que, assim que este chegasse à liderança do partido e formasse Governo, quisesse "correr" com quem no passado o criticou.

O espírito de abertura de Pedro Santana Lopes prende-se, segundo soube o PÚBLICO, com o reconhecimento das dificuldades em que está. Apanhar um Governo a meio e convidar ministros para um horizonte temporal de pouco mais que um ano não é fácil, apesar dos seus mais directos apoiantes repetirem que o autarca de Lisboa terá maior capacidade de recrutar pessoas à sociedade civil do que Durão Barroso. Santana, no entanto, conta com o apoio de uma série de empresários, que se têm manifestado pela continuidade da actual maioria parlamentar. O PÚBLICO sabe que figuras como Mira Amaral têm estado a ser pressionadas por empresários para entrar para o eventual futuro Governo de Santana.

Fonte próxima do autarca de Lisboa garante que Santana "não fará um Governo de amigos". O próprio Dias Loureiro, presidente da mesa do congresso do PSD e cavaquista, foi um dos que discordou da ida de Durão para a presidência da Comissão Europeia, tal como Cavaco Silva, mas que agora está empenhado na construção de um novo Governo. Durão Barroso tem garantido, internamente, que irá trabalhar também para a formação do novo Executivo.

Por outro lado, o presidente do PSD sabe que, se for primeiro-ministro, haverá um controle apertado de Sampaio à actuação do seu Governo. O Presidente vai estar "mais atento ao desempenho" do Executivo de Santana do que esteve com Durão, refere um dirigente social-democrata.

Pedro Santana Lopes irá encontrar-se quarta-feira com o Presidente da República, no âmbito das audições de Sampaio com os partidos políticos.

Ontem, no primeiro dia como líder do PSD, Pedro Santana Lopes esteve reunido com o líder parlamentar, Guilherme Silva, que colocou o cargo à disposição, tendo sido imediatamente reconduzido. O lugar de vice-presidente do partido, deixado vago pela eleição de Santana, não será ocupado por ninguém.

Mendes confirma saída

Dos actuais ministros de Durão Barroso, o único que parece ter continuidade assegurada será o ministro da Presidência, Nuno Morais Sarmento. Fontes partidárias garantem, por outro lado, que José Luís Arnaut poderá deixar o Governo, mas não irá com Durão para Bruxelas.

Na reunião do conselho nacional, Marques Mendes, ministro dos Assuntos Parlamentares, também deu sinal de que não irá ficar no Governo. Depois de uma intervenção bastante crítica do processo de sucessão de Durão Barroso, Mendes terminou, glosando a parte final do poema "Cântico Negro", de José Régio: "Não sei por onde vou, sei que não vou por aí." A conclusão do discurso do ministro, foi, naturalmente, lida como uma confirmação de que não está disposto a colaborar com Santana.

A reunião do conselho nacional foi também aproveitada por Manuela Ferreira Leite para anunciar que até já tinha dito a Durão Barroso que deveria sair do Governo. Ontem, em declarações à Rádio Renascença, a ministra das Finanças assumiu que um dos três votos contra a eleição de Santana Lopes para presidente do PSD foi "evidentemente" o seu. Ferreira Leite fez ainda questão de esclarecer que se pronunciou pela realização de um congresso do partido e que se limitou a dar explicações sobre essa opinião, porque foi interpelada nesse sentido. A ministra tinha dito ao PÚBLICO que a escolha de um líder sem congresso seria um "golpe de Estado partidário". Anteontem, esclareceu que não questiona a legalidade da eleição em conselho nacional e desculpou-se por um eventual excesso de linguagem. "Não me arrependo daquilo que disse", disse ontem à RR.

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