Crónica do Nordeste

14-06-2002
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Nordeste

E agora, senhor ministro?

Por José Brinquete

Refiro-me ao dr. Guilherme de Oliveira Martins, actual ministro da Educação.

E passo a explicar para que os leitores possam com toda a objectividade tirar as devidas conclusões.

Decorria o ano de 1993, o Partido Socialista encontrava-se na oposição e, como é sabido, ambicionava voltar ao poder o mais rápido possível. As clientelas políticas dos partidos social-democratas a isso obrigam.

Ah! É preciso dizer que meses antes, ainda, no ano de 1992, Armando Vara tinha apresentado no parlamento, em nome do PS, o projecto de lei (n.º 239/VII) de criação da Universidade de Bragança.

Bem, agora, já podemos voltar ao dr. Guilherme de Oliveira Martins.

Então, é assim: em 13 de Março de 1993 a Federação Distrital de Bragança do PS toma a iniciativa de promover um colóquio subordinado ao tema «Univerdade de Bragança», para dar suporte, no plano político, à iniciativa parlamentar de Armando Vara/PS.

Participaram nesse colóquio, para além da «fina flor» do partido que o promoveu, entre outros, o reitor da Universidade de Aveiro e o deputado Guilherme de Oliveira Martins, este na qualidade de porta-voz do PS para a Educação.

As conclusões aprovadas nesse colóquio e subscritas por todos os oradores são, em síntese, as seguintes: «A necessidade de criar a Universidade de Bragança, atendendo ao aspecto de que Bragança é hoje a capital de distrito mais distante de qualquer universidade do País», alegando que «o actual Instituto Politécnico dispõe de recursos humanos com formação consentânea com as exigências do ensino universitário, para além das instalações, estruturas sociais e infra-estruturas técnicas e científicas adequadas (veja-se os inúmeros projectos de investigação existentes, bem como todas as situações de apoio à comunidade)».

Penso que agora já todos percebemos do que se trata. Pois é, este «ilustre» senhor foi, nos últimos quatro anos, secretário de Estado da Educação e é, desde Novembro, ministro da Educação de Portugal para os próximos 4 anos.

Portanto, é legítimo perguntar ao senhor ministro da Educação, dr. Guilherme de Oliveira Martins, se mantém a mesma opinião de 1993, acerca da criação da Universidade de Bragança. Porque, em política é mesmo assim: ou as pessoas são coerentes com as suas atitudes ou, sendo incoerentes, cairão em descrédito, como é natural.

Senhor ministro da Educação, certamente que os seus «camaradas», responsáveis regionais, não deixarão de lhe lembrar o compromisso que assumiu em Março de 1993! Entretanto, se me permite, gostaria de lhe fazer um desafio: tenha a iniciativa e a coragem política, de se antecipar, visite Bragança, o mais urgente possível, a transmitir-nos os seus propósitos.

Também não deixam de ser, no mínimo, interessantes o comportamento e a coerência de Armando Vara. Durante anos defendeu e até propôs, como constatámos atrás, a criação da Universidade de Bragança para, muito recentemente, de uma forma grotesca e patética (em plena campanha eleitoral), vir defender a criação de uma Faculdade de Economia «pendurada» de uma outra Universidade.

Sei que muitos socialistas não gostarão do uso de adjectivos como grotesco e patético, mas que outro epíteto poderá ser usado nestas circunstâncias?

Se tivermos em devida conta as responsabilidades políticas de Armando Vara, o mínimo que dele se esperava seria que tivesse apresentado essa proposta por escrito, indicando com clareza o que pretendia dizer com «uma Faculdade pendurada». Nada disso aconteceu. Limitou-se a mandar «areia para os olhos» de quem o ouvia.

Mas mais lastimável é o facto de, logo a seguir às eleições, numa entrevista dada a um jornal regional, Armando Vara ter afirmado que «a transformação do IPB em Universidade põe em risco todo o ensino politécnico do País», e ter acrescentado que «se as pessoas não querem compreender isso, estão a trabalhar para que Bragança não tenha nada». Senhor ministro adjunto, sabe uma coisa? Estamos fartos de ameaças. E de tanto estarmos fartos já nem receamos as suas

Bem andaria Bragança — cidade, concelho e região – se um dia empunhasse uma bandeira que incomodasse os poderes instalados na capital, incluindo os ministros adjuntos. Talvez o mal desta terra seja, precisamente, não ter nos últimos anos qualquer objectivo ou reivindicação mobilizadoras que catapultasse para primeiro plano os verbos lutar e reivindicar.

Aprendemos com as palavras avisadas do Presidente da República quando, no mês passado, ao visitar o distrito, dizia: «lutem pelos vossos direitos».

AAssembleia Municipal de Bragança aprovou, em 26 de Fevereiro de 1999, a criação de uma Comissão Pró-Universidade, amplamente abrangente e representativa das forças vivas, partidos e instituições locais e regionais. Essa Comissão tomou posse no dia 6 deste mês. É liderada pelo presidente da Câmara Municipal de Bragança.

A criação desta Comissão é uma boa medida para que a problemática da criação ou não da Universidade de Bragança possa ser analisada com serenidade, seriedade e responsabilidade. Aguardam-se resultados do trabalho que irá desenvolver. O ensino superior é, do ponto de vista nacional, uma questão estratégica, não se compadece com atitudes oportunistas e eleitoralistas.

Todos esperamos que a Comissão agora constituída saiba definir objectivos estratégicos que respondam às necessidades da região. Sendo certo que, do ponto de vista da decisão do Governo, o mesmo se rege por critérios de natureza política.

Todos sabemos que o ensino superior, com a criação de inúmeros estabelecimentos privados, apadrinhados por PS e PSD, vive no reino da confusão e em alguns casos sob suspeita de manobras e actividades pouco claras. É a lei do vale tudo, a lei da selva. Hoje há universidades privadas que vendem cursos como quem vende detergentes ou coca-cola.

Recusamo-nos a participar nessa irresponsabilidade. Queremos e defendemos um ensino superior público de qualidade.

A Comissão Pró-Universidade, depois de definir o que quer, tem muitos caminhos a seguir. De forma pacífica mas determinada, dentro das normas constitucionais estabelecidas, tanto pode pedir audiências ao Governo como apresentar petições à Assembleia da República e, se necessário, promover uma megamanifestação, em pleno centro da cidade, para fazer ouvir a voz deste povo, que tanto tem sido esquecido e abandonado pelo poder central.

O desenvolvimento exige-o e Bragança merece.

«Avante!» Nº 1363 - 13.Janeiro.2000

Nordeste

E agora, senhor ministro?

Por José Brinquete

Refiro-me ao dr. Guilherme de Oliveira Martins, actual ministro da Educação.

E passo a explicar para que os leitores possam com toda a objectividade tirar as devidas conclusões.

Decorria o ano de 1993, o Partido Socialista encontrava-se na oposição e, como é sabido, ambicionava voltar ao poder o mais rápido possível. As clientelas políticas dos partidos social-democratas a isso obrigam.

Ah! É preciso dizer que meses antes, ainda, no ano de 1992, Armando Vara tinha apresentado no parlamento, em nome do PS, o projecto de lei (n.º 239/VII) de criação da Universidade de Bragança.

Bem, agora, já podemos voltar ao dr. Guilherme de Oliveira Martins.

Então, é assim: em 13 de Março de 1993 a Federação Distrital de Bragança do PS toma a iniciativa de promover um colóquio subordinado ao tema «Univerdade de Bragança», para dar suporte, no plano político, à iniciativa parlamentar de Armando Vara/PS.

Participaram nesse colóquio, para além da «fina flor» do partido que o promoveu, entre outros, o reitor da Universidade de Aveiro e o deputado Guilherme de Oliveira Martins, este na qualidade de porta-voz do PS para a Educação.

As conclusões aprovadas nesse colóquio e subscritas por todos os oradores são, em síntese, as seguintes: «A necessidade de criar a Universidade de Bragança, atendendo ao aspecto de que Bragança é hoje a capital de distrito mais distante de qualquer universidade do País», alegando que «o actual Instituto Politécnico dispõe de recursos humanos com formação consentânea com as exigências do ensino universitário, para além das instalações, estruturas sociais e infra-estruturas técnicas e científicas adequadas (veja-se os inúmeros projectos de investigação existentes, bem como todas as situações de apoio à comunidade)».

Penso que agora já todos percebemos do que se trata. Pois é, este «ilustre» senhor foi, nos últimos quatro anos, secretário de Estado da Educação e é, desde Novembro, ministro da Educação de Portugal para os próximos 4 anos.

Portanto, é legítimo perguntar ao senhor ministro da Educação, dr. Guilherme de Oliveira Martins, se mantém a mesma opinião de 1993, acerca da criação da Universidade de Bragança. Porque, em política é mesmo assim: ou as pessoas são coerentes com as suas atitudes ou, sendo incoerentes, cairão em descrédito, como é natural.

Senhor ministro da Educação, certamente que os seus «camaradas», responsáveis regionais, não deixarão de lhe lembrar o compromisso que assumiu em Março de 1993! Entretanto, se me permite, gostaria de lhe fazer um desafio: tenha a iniciativa e a coragem política, de se antecipar, visite Bragança, o mais urgente possível, a transmitir-nos os seus propósitos.

Também não deixam de ser, no mínimo, interessantes o comportamento e a coerência de Armando Vara. Durante anos defendeu e até propôs, como constatámos atrás, a criação da Universidade de Bragança para, muito recentemente, de uma forma grotesca e patética (em plena campanha eleitoral), vir defender a criação de uma Faculdade de Economia «pendurada» de uma outra Universidade.

Sei que muitos socialistas não gostarão do uso de adjectivos como grotesco e patético, mas que outro epíteto poderá ser usado nestas circunstâncias?

Se tivermos em devida conta as responsabilidades políticas de Armando Vara, o mínimo que dele se esperava seria que tivesse apresentado essa proposta por escrito, indicando com clareza o que pretendia dizer com «uma Faculdade pendurada». Nada disso aconteceu. Limitou-se a mandar «areia para os olhos» de quem o ouvia.

Mas mais lastimável é o facto de, logo a seguir às eleições, numa entrevista dada a um jornal regional, Armando Vara ter afirmado que «a transformação do IPB em Universidade põe em risco todo o ensino politécnico do País», e ter acrescentado que «se as pessoas não querem compreender isso, estão a trabalhar para que Bragança não tenha nada». Senhor ministro adjunto, sabe uma coisa? Estamos fartos de ameaças. E de tanto estarmos fartos já nem receamos as suas

Bem andaria Bragança — cidade, concelho e região – se um dia empunhasse uma bandeira que incomodasse os poderes instalados na capital, incluindo os ministros adjuntos. Talvez o mal desta terra seja, precisamente, não ter nos últimos anos qualquer objectivo ou reivindicação mobilizadoras que catapultasse para primeiro plano os verbos lutar e reivindicar.

Aprendemos com as palavras avisadas do Presidente da República quando, no mês passado, ao visitar o distrito, dizia: «lutem pelos vossos direitos».

AAssembleia Municipal de Bragança aprovou, em 26 de Fevereiro de 1999, a criação de uma Comissão Pró-Universidade, amplamente abrangente e representativa das forças vivas, partidos e instituições locais e regionais. Essa Comissão tomou posse no dia 6 deste mês. É liderada pelo presidente da Câmara Municipal de Bragança.

A criação desta Comissão é uma boa medida para que a problemática da criação ou não da Universidade de Bragança possa ser analisada com serenidade, seriedade e responsabilidade. Aguardam-se resultados do trabalho que irá desenvolver. O ensino superior é, do ponto de vista nacional, uma questão estratégica, não se compadece com atitudes oportunistas e eleitoralistas.

Todos esperamos que a Comissão agora constituída saiba definir objectivos estratégicos que respondam às necessidades da região. Sendo certo que, do ponto de vista da decisão do Governo, o mesmo se rege por critérios de natureza política.

Todos sabemos que o ensino superior, com a criação de inúmeros estabelecimentos privados, apadrinhados por PS e PSD, vive no reino da confusão e em alguns casos sob suspeita de manobras e actividades pouco claras. É a lei do vale tudo, a lei da selva. Hoje há universidades privadas que vendem cursos como quem vende detergentes ou coca-cola.

Recusamo-nos a participar nessa irresponsabilidade. Queremos e defendemos um ensino superior público de qualidade.

A Comissão Pró-Universidade, depois de definir o que quer, tem muitos caminhos a seguir. De forma pacífica mas determinada, dentro das normas constitucionais estabelecidas, tanto pode pedir audiências ao Governo como apresentar petições à Assembleia da República e, se necessário, promover uma megamanifestação, em pleno centro da cidade, para fazer ouvir a voz deste povo, que tanto tem sido esquecido e abandonado pelo poder central.

O desenvolvimento exige-o e Bragança merece.

«Avante!» Nº 1363 - 13.Janeiro.2000

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