Crianças de Braga fascinadas com a Assembleia da República

24-10-2002
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Crianças de Braga Fascinadas com a Assembleia da República

Por NUNO PASSOS

Quarta-feira, 16 de Outubro de 2002

O PÚBLICO acompanhou visita de alunos do quarto ano do I Ciclo do concelho ao Parlamento

Os corredores da Assembleia da República (AR) e os animais do Jardim Zoológico lisboeta são hoje vistos, pelo terceiro e último dia consecutivo, pelos alunos do quarto ano do I Ciclo do concelho de Braga. O grupo de oito centenas de alunos, pertencente a vinte de oitenta e três escolas envolvidas, está curioso por conhecer um órgão fundamental da soberania portuguesa e, lá mais para a tarde, ver as acrobacias dos golfinhos no Zoo. O primeiro dia de viagem foi na segunda-feira e o PÚBLICO acompanhou o percurso dos mais pequenos.

Às 6h00 da manhã de anteontem, o exterior do Conservatório Calouste Gulbenkian, em Braga, recebia um dos 12 autocarros alugados pela edilidade bracarense. "Alguns nem dormiram, vão com expectativa, principalmente para irem à Assembleia, porque a maioria já foi ao Zoo", esclareceu a professora Clara Pardal, antes dos gritos que selaram a despedida aos pais madrugadores. O céu cobria-se de negro, mas o sono não voltou.

Daniela, nove anos, queria ver o primeiro-ministro, Durão Barroso. "Dizia-lhe para fazer mais casas, para as pessoas que estão pobres e fazer mais lares, que só há um em Sta. Tecla". Para se entreter durante a viagem ia dando toques de telemóvel. Justino Truta, de oito anos e da Escola do I Ciclo de Fraião, queria "ver o Presidente da República", porque não gosta de Durão. "É muito elogiado", reclamou. A colega Patrícia Silva não quer que Braga tenha "tantos prédios iguais". Pelo meio dos desconhecedores da política, Diogo Lemos, de S. Vítor, teve a estudar antes da viagem. Sabe quem é o Ministro da Defesa e que há 230 deputados, dos quais 18 de Braga. Para ele, na AR "há sempre muitas discussões".

"Os presidentes vão aparecer?", arriscou um, já em Lisboa, à chegada ao órgão legislativo da soberania. "Não, só os deputados da AR", respondeu uma docente. E, em fila compacta, dois a dois, foram entrando, olhos esbugalhados para a abóbada a cinco metros de altura, as colunas brilhantes e as serenas estátuas de mármore. A chegada à "sala que aparece na televisão" ocorreu um lanço de escadas depois. Uma miúda trouxe até binóculos. "Gosto das cadeiras e dos padrões das cidades, por cima do quadro em forma de lua", segredou Daniela Araújo, antes de fixar a abóbada em vitral. Ao lado, um professor explicava que cada deputado representa uma região e tem um lugar específico para se sentar.

Instantes mais tarde, aparecia a única deputada representante de Braga. Goreti Machado, do PSD. "O público tem de assistir serenamente, senão o presidente da AR [Mota Amaral] manda calar ou evacuar a sala", referiu. A também presidente da Junta de Freguesia de Fraião revelou ainda que "um deputado tem que ter muita consciência nas decisões que toma". "Hoje estou cá eu, amanhã quem sabe estão alguns de vocês", rematou, entre sorrisos envergonhados da plateia. Entretanto, um grupo principiou o hino português e, num ápice, todos se levantaram. Em uníssono, cantaram sem risota, concentrados.

Seguidamente, a rota traçou-se pela escadaria nobre, pela sala dos passos perdidos e pelo salão nobre. Pelo caminho, o olhar percorreu "as janelas grandes e as pinturas sobre os descobrimentos portugueses". "Chegaram a várias terras", apontava um no bloco, preparando a composição que seria pedida no término da visita de estudo.

Goreti Machado só lamentou que a inexistência de condições técnicas impedisse os alunos de questionar os deputados ou sugerir-lhes acções. "Já sei os lugares onde ficam os deputados, os jornalistas, o público e uma pintura tinha visto num livro da escola", disse, por seu turno, Mayuri, da Calouste Gulbenkian. "O balanço é positivo, as crianças vêm estafadas, mas contentes", resumiu João Nogueira.

Caixa

Escolas rurais ficaram de fora

Hoje, as escolas do I Ciclo de Real, S. João do Souto, Carandá e Gondizalves são algumas da vintena que fecha a digressão que custou 50 mil euros aos cofres camarários. Para 2003, o percurso poderá ser feito de comboio pendular alugado. De fora, ficaram cerca de 250 alunos, pertencentes às escolas do I Ciclo de Presa (Adaúfe), Pedralva, Priscos, Carrascal e Ruães (ambas de Mire de Tibães), Urtigueira e Póvoa (ambas de Palmeira), Frossos, Nogueira da Silva, Pedralva, Sto. Estevão e S. Lázaro. "Queríamos mostrar às crianças o local de um órgão da soberania ao qual dificilmente iriam e, quanto ao Zoo, ensinar-lhes a saber respeitar os animais, saber que há espécies que correm perigo de extinção", afirmou o vereador da Educação João Nogueira. O lamento maior está na impossibilidade de algumas escolas não poderem ter vindo, principalmente porque pertencem a meios rurais. "As zonas rurais têm assimetrias que poderiam ser corrigidas com a nossa visita, é mesmo uma pena que não tenham vindo, pois foi talvez a única oportunidade de elas irem à AR e perderam o espectáculo dos golfinhos". A culpa, disse, é dos docentes: "É pena, pois são os mesmos professores que contribuem com muitas iniciativas de acção social para os alunos".

Crianças de Braga Fascinadas com a Assembleia da República

Por NUNO PASSOS

Quarta-feira, 16 de Outubro de 2002

O PÚBLICO acompanhou visita de alunos do quarto ano do I Ciclo do concelho ao Parlamento

Os corredores da Assembleia da República (AR) e os animais do Jardim Zoológico lisboeta são hoje vistos, pelo terceiro e último dia consecutivo, pelos alunos do quarto ano do I Ciclo do concelho de Braga. O grupo de oito centenas de alunos, pertencente a vinte de oitenta e três escolas envolvidas, está curioso por conhecer um órgão fundamental da soberania portuguesa e, lá mais para a tarde, ver as acrobacias dos golfinhos no Zoo. O primeiro dia de viagem foi na segunda-feira e o PÚBLICO acompanhou o percurso dos mais pequenos.

Às 6h00 da manhã de anteontem, o exterior do Conservatório Calouste Gulbenkian, em Braga, recebia um dos 12 autocarros alugados pela edilidade bracarense. "Alguns nem dormiram, vão com expectativa, principalmente para irem à Assembleia, porque a maioria já foi ao Zoo", esclareceu a professora Clara Pardal, antes dos gritos que selaram a despedida aos pais madrugadores. O céu cobria-se de negro, mas o sono não voltou.

Daniela, nove anos, queria ver o primeiro-ministro, Durão Barroso. "Dizia-lhe para fazer mais casas, para as pessoas que estão pobres e fazer mais lares, que só há um em Sta. Tecla". Para se entreter durante a viagem ia dando toques de telemóvel. Justino Truta, de oito anos e da Escola do I Ciclo de Fraião, queria "ver o Presidente da República", porque não gosta de Durão. "É muito elogiado", reclamou. A colega Patrícia Silva não quer que Braga tenha "tantos prédios iguais". Pelo meio dos desconhecedores da política, Diogo Lemos, de S. Vítor, teve a estudar antes da viagem. Sabe quem é o Ministro da Defesa e que há 230 deputados, dos quais 18 de Braga. Para ele, na AR "há sempre muitas discussões".

"Os presidentes vão aparecer?", arriscou um, já em Lisboa, à chegada ao órgão legislativo da soberania. "Não, só os deputados da AR", respondeu uma docente. E, em fila compacta, dois a dois, foram entrando, olhos esbugalhados para a abóbada a cinco metros de altura, as colunas brilhantes e as serenas estátuas de mármore. A chegada à "sala que aparece na televisão" ocorreu um lanço de escadas depois. Uma miúda trouxe até binóculos. "Gosto das cadeiras e dos padrões das cidades, por cima do quadro em forma de lua", segredou Daniela Araújo, antes de fixar a abóbada em vitral. Ao lado, um professor explicava que cada deputado representa uma região e tem um lugar específico para se sentar.

Instantes mais tarde, aparecia a única deputada representante de Braga. Goreti Machado, do PSD. "O público tem de assistir serenamente, senão o presidente da AR [Mota Amaral] manda calar ou evacuar a sala", referiu. A também presidente da Junta de Freguesia de Fraião revelou ainda que "um deputado tem que ter muita consciência nas decisões que toma". "Hoje estou cá eu, amanhã quem sabe estão alguns de vocês", rematou, entre sorrisos envergonhados da plateia. Entretanto, um grupo principiou o hino português e, num ápice, todos se levantaram. Em uníssono, cantaram sem risota, concentrados.

Seguidamente, a rota traçou-se pela escadaria nobre, pela sala dos passos perdidos e pelo salão nobre. Pelo caminho, o olhar percorreu "as janelas grandes e as pinturas sobre os descobrimentos portugueses". "Chegaram a várias terras", apontava um no bloco, preparando a composição que seria pedida no término da visita de estudo.

Goreti Machado só lamentou que a inexistência de condições técnicas impedisse os alunos de questionar os deputados ou sugerir-lhes acções. "Já sei os lugares onde ficam os deputados, os jornalistas, o público e uma pintura tinha visto num livro da escola", disse, por seu turno, Mayuri, da Calouste Gulbenkian. "O balanço é positivo, as crianças vêm estafadas, mas contentes", resumiu João Nogueira.

Caixa

Escolas rurais ficaram de fora

Hoje, as escolas do I Ciclo de Real, S. João do Souto, Carandá e Gondizalves são algumas da vintena que fecha a digressão que custou 50 mil euros aos cofres camarários. Para 2003, o percurso poderá ser feito de comboio pendular alugado. De fora, ficaram cerca de 250 alunos, pertencentes às escolas do I Ciclo de Presa (Adaúfe), Pedralva, Priscos, Carrascal e Ruães (ambas de Mire de Tibães), Urtigueira e Póvoa (ambas de Palmeira), Frossos, Nogueira da Silva, Pedralva, Sto. Estevão e S. Lázaro. "Queríamos mostrar às crianças o local de um órgão da soberania ao qual dificilmente iriam e, quanto ao Zoo, ensinar-lhes a saber respeitar os animais, saber que há espécies que correm perigo de extinção", afirmou o vereador da Educação João Nogueira. O lamento maior está na impossibilidade de algumas escolas não poderem ter vindo, principalmente porque pertencem a meios rurais. "As zonas rurais têm assimetrias que poderiam ser corrigidas com a nossa visita, é mesmo uma pena que não tenham vindo, pois foi talvez a única oportunidade de elas irem à AR e perderam o espectáculo dos golfinhos". A culpa, disse, é dos docentes: "É pena, pois são os mesmos professores que contribuem com muitas iniciativas de acção social para os alunos".

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