::: SERIEY 3 :::

12-02-2004
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O mistério permanece

Carlos Câmara Leme Três deputados, do PS, do PSD e do BE, convidados pelo PÚBLICO para verem o filme — fazerem pequenas críticas com estrelas e tudo — são unânimes: por que razão não se consegue, 13 anos depois, ir mais além no esclarecimento sobre Camarate? 4 de Dezembro de 1980. Às 21h29 desse dia dramático para a história da vida política portuguesa contemporânea, a RTP interrompe a emissão para dar a notícia brutal: o Cessna, que transportava Francisco Sá Carneiro e Adelino Amaro da Costa com destino ao Porto, acabara de cair em Camarate. 13 anos depois, António Braga, Gonçalo Capitão e Joana Amaral Dias recordam-se perfeitamente onde estavam. Todos estavam em casa, a ver televisão. Os sentimentos é que variam. “Foi um choque absoluto à mistura com alguma incredulidade”, diz o socialista António Braga, 40 anos. Gonçalo Capitão, 32 anos, lembra-se das imagens a preto e branco. Tinha 9 anos. “Fiquei impressionadíssimo. Lembro-me de ter que ir à marquise, buscar qualquer, e ter medo de passar naquela zona escura da casa. E já gostava do Sá Carneiro.” Ao contrário, a figura do líder histórico do PPD/PSD para Joana Amaral Dias, 29 anos, deputada do Bloco de Esquerda, não era simpática. ”Assustava-me um bocadinho, parecia um falcão, com aquelas sobrancelhas.” Joana Amaral Dias tinha apenas seis anos: “Além das imagens da TV, havia um burburinho no ar, e uma grande tensão, que para uma criança é uma espécie de confronto com a morte”, acrescenta. Agora, para o melhor ou para o pior, com ou sem provas, há muito que na opinião pública se instalou a ideia de que “mataram Sá Carneiro”. Os três deputados estão de acordo. “Era a voz do povo, apesar do sentimento de incredulidade. Já tinham passado os anos de brasa da Revolução e nada de semelhante acontecera”, comenta António Braga. Gonçalo Capitão afina pelo mesmo tom: “Ainda hoje penso assim: fui-me inclinando para a hipótese de atentado mas com a sensação de que quando a lenda se torna realidade publica-se a lenda! Este é o receio que cada vez mais tenho.” Oriunda de uma família fortemente dividida entre a esquerda e a direita, Joana Amaral Dias desde muito cedo que sentiu um certo “horror por não se apurar as coisas”. Ainda hoje, pensa o mesmo. “É dramático sentirmos uma impotência imensa em não se descobrir a verdade e a de não se exercer a democracia plenamente. A de não se fazer justiça.” Vice-presidente do grupo parlamentar do PSD, Gonçalo Capitão continua a pensar que “é uma pecha do nosso sistema judicial, em, por tabela, para o sistema democrático não se descobrir quem matou o primeiro-ministro. Até porque, também, no PSD criou-se a convicção de que Sá Carneiro foi assassinado”. António Braga já integrou várias comissões de inquérito, além da actual, sobre Camarate e está a preparar um livro sobre o tema. Dizendo que já ultrapassou o sentimento de impotência por não se apurar a verdade, afirma: “Também me inquieto por que razão não podermos ir mais além. É certo, porém, que as comissões de inquérito têm, exaustivamente, procurado todos os elementos para alcançar a verdade. É a minha convicção.”

O mistério permanece

Carlos Câmara Leme Três deputados, do PS, do PSD e do BE, convidados pelo PÚBLICO para verem o filme — fazerem pequenas críticas com estrelas e tudo — são unânimes: por que razão não se consegue, 13 anos depois, ir mais além no esclarecimento sobre Camarate? 4 de Dezembro de 1980. Às 21h29 desse dia dramático para a história da vida política portuguesa contemporânea, a RTP interrompe a emissão para dar a notícia brutal: o Cessna, que transportava Francisco Sá Carneiro e Adelino Amaro da Costa com destino ao Porto, acabara de cair em Camarate. 13 anos depois, António Braga, Gonçalo Capitão e Joana Amaral Dias recordam-se perfeitamente onde estavam. Todos estavam em casa, a ver televisão. Os sentimentos é que variam. “Foi um choque absoluto à mistura com alguma incredulidade”, diz o socialista António Braga, 40 anos. Gonçalo Capitão, 32 anos, lembra-se das imagens a preto e branco. Tinha 9 anos. “Fiquei impressionadíssimo. Lembro-me de ter que ir à marquise, buscar qualquer, e ter medo de passar naquela zona escura da casa. E já gostava do Sá Carneiro.” Ao contrário, a figura do líder histórico do PPD/PSD para Joana Amaral Dias, 29 anos, deputada do Bloco de Esquerda, não era simpática. ”Assustava-me um bocadinho, parecia um falcão, com aquelas sobrancelhas.” Joana Amaral Dias tinha apenas seis anos: “Além das imagens da TV, havia um burburinho no ar, e uma grande tensão, que para uma criança é uma espécie de confronto com a morte”, acrescenta. Agora, para o melhor ou para o pior, com ou sem provas, há muito que na opinião pública se instalou a ideia de que “mataram Sá Carneiro”. Os três deputados estão de acordo. “Era a voz do povo, apesar do sentimento de incredulidade. Já tinham passado os anos de brasa da Revolução e nada de semelhante acontecera”, comenta António Braga. Gonçalo Capitão afina pelo mesmo tom: “Ainda hoje penso assim: fui-me inclinando para a hipótese de atentado mas com a sensação de que quando a lenda se torna realidade publica-se a lenda! Este é o receio que cada vez mais tenho.” Oriunda de uma família fortemente dividida entre a esquerda e a direita, Joana Amaral Dias desde muito cedo que sentiu um certo “horror por não se apurar as coisas”. Ainda hoje, pensa o mesmo. “É dramático sentirmos uma impotência imensa em não se descobrir a verdade e a de não se exercer a democracia plenamente. A de não se fazer justiça.” Vice-presidente do grupo parlamentar do PSD, Gonçalo Capitão continua a pensar que “é uma pecha do nosso sistema judicial, em, por tabela, para o sistema democrático não se descobrir quem matou o primeiro-ministro. Até porque, também, no PSD criou-se a convicção de que Sá Carneiro foi assassinado”. António Braga já integrou várias comissões de inquérito, além da actual, sobre Camarate e está a preparar um livro sobre o tema. Dizendo que já ultrapassou o sentimento de impotência por não se apurar a verdade, afirma: “Também me inquieto por que razão não podermos ir mais além. É certo, porém, que as comissões de inquérito têm, exaustivamente, procurado todos os elementos para alcançar a verdade. É a minha convicção.”

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