Contra-ataque

14-12-2004
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Domingo, 12 de Dezembro de 2004 O machado de guerra não ia ficar enterrado muito tempo - prevíamos ontem. Não chegou a estar enterrado 24 horas. O PSD, o seu líder e primeiro-ministro e o Governo como um todo, assim como o líder do PP, reagiram ontem de forma muito dura à dissolução do Parlamento. Primeiro, pelo simbolismo do acto: demitiram-se sem serem obrigados a tal. Depois de terem ouvido os ataques do Presidente, depois de analisarem o conteúdo das suas declarações, exploraram as contradições e insuficiências presidenciais. Por outras palavras: disseram que um Governo constitucionalmente na plenitude das suas funções não é, ao mesmo tempo, um Governo diminuído e vigiado. Logo, se não abandonam as funções, passam a governo de gestão. Na prática o que é que isso significa? Não muito. Como ontem referimos, o governo "de gestão" de Guterres procedeu a mais de 120 actos legislativos, incluindo 50 decretos-lei. Este Governo pode fazer o mesmo, até porque muito disso faz-se discretamente. Ou pode fazê-lo afrontando o Presidente, enviando para Belém legislação para ratificação e, depois, comparar o que Sampaio fez com a que Guterres lhe enviou e o que fará com a de Santana. Ao mesmo tempo, pode cancelar actos formais importantes e simbólicos e anunciá-lo tonitroantemente, como ontem sucedeu ao desmarcar a próxima cimeira lusa-francesa, atirando com o ónus para Belém. O objectivo será sempre o mesmo: vitimizar-se mostrando que Jorge Sampaio não agiu de forma coerente. Pior: que tratou de uma forma um Governo da sua cor política e de outra forma um Governo formado pelo PSD e pelo PP. Jorge Sampaio devia estar avisado que Santana Lopes é muito hábil neste tipo de jogo. Como ontem foi. No fundo, fez o discurso que Sampaio não fez: em lugar de se referir genericamente a um clima de instabilidade, falou de casos concretos. Recordou como o Presidente agiu com Guterres - apesar das muitas trapalhadas finais do seu mandato - e como agiu com ele. Não recordou os discursos com "recados" de Sampaio, mas insinuou que este fez campanha contra o Governo chamando a Belém economistas hostis e o hostilíssimo Marcelo Rebelo de Sousa. Recapitulou as condições colocadas no discurso de posse e perguntou qual delas estava a ser incumprida, sobretudo quando a única dúvida que admitiu - a do prosseguimento da orientação em matéria orçamental - não impediu o Presidente de ser favorável à aprovação do Orçamento do Estado que virtualmente corporizaria uma ruptura. No papel que ontem desempenhou Santana Lopes sente-se bem. E aproveita cada migalha de espaço que o adversário lhe concede. Exactamente o que sucedera na véspera com um discurso presidencial que ficou muito aquém das expectativas e do que o país precisava de ouvir. 2. PSD e PP não irão juntos ao próximo acto eleitoral. Aparentemente por puro cálculo político-eleitoral: separados, as sondagens que mandaram fazer indicarão que têm mais hipóteses de evitar a catástrofe do que concorrendo juntos. Mas a catástrofe não deixa por isso de ser a perspectiva mais crível. No fundo a uma coligação faltaria real objecto, pois dificilmente seria possível colar os cacos de um agrupamento de gente que, nestes anos, não foi capaz de mostrar ter um projecto coerente e mobilizador para o país. Oportunidades não faltaram, mas olhando para o que foi feito, e para além do estancar da espiral despesista que vinha dos socialistas e pusera o país em sérias dificuldades orçamentais, apenas houve algumas acções positivas nalguns ministérios e muitos desastres completos noutros. Foi uma maioria que passou e não entrará na história, a não ser porventura pelos desconchavos finais do consulado de Santana. Tal coligação também não teria alma, já que ambos os partidos se olham de lado, desconfiados. Se servisse para alguma coisa seria apenas para esconder mazelas, evitar que o ónus dos erros e da impopularidade caísse apenas sobre o PSD ou por o CDS temer ser esmagado pelo voto útil. Só que a Portas, que tantas vezes lidou com más sondagens e em muito as superou, e a Santana, que acredita - ingenuamente - poder repetir Lisboa, sobra-lhes em autoconfiança o que lhes falta em percepção do que é o descontentamento do homem da rua. Por isso, com ou sem coligação, o que esperam é por um milagre e a possibilidade de, repetindo golpes de teatro, esconderem a vacuidade das suas propostas. O que talvez seja menos difícil do que se julga porque é a vacuidade que domina o debate político, sendo curioso verificar como também são vazios os discursos à esquerda, feitos ora das generalidades de sempre, onde o PCP é imbatível, ora de "sound-bytes" telegénicos, a especialidade de Francisco Louçã, ora da promessa de que o importante é discutir o país continuando a discutir o acessório, como ainda ontem voltou a fazer José Sócrates. OUTROS TÍTULOS EM DESTAQUE A sachar couves, mas sempre prontos para o futebol

PCP acusa PSD e CDS de Estratégia de "Vitimização"

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PSD rejeita coligação com CDS na Madeira

"Saímos como entrámos. Pobres"

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