Desacordo quanto às vantagens de uma maioria absoluta

19-02-2005
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Desacordo Quanto às Vantagens de Uma Maioria Absoluta

Sexta-feira, 18 de Fevereiro de 2005

Paula espera que o BE roube a maioria absoluta ao PS, mas o marido, Rui, não a teme, embora não contribua para ela. O mais radical é Ricardo que contesta "a cobardia" dos que pedem "o poder absoluto

Graça Barbosa Ribeiro

Entre os membros da família Grácio, de Coimbra, só o mais velho, Rui, não se assusta com a possibilidade de o PS ter maioria absoluta. A mulher, Paula, teme "a arrogância de José Sócrates" e espera que os partidos à esquerda "lhe roubem muitos votos". Também o filho, Ricardo, considera que a maioria absoluta é "altamente desaconselhável". Mas, como aos 19 anos não tem "ilusões" de que "as coisas possam mudar", vai votar em branco... "Como castigo".

"Imagine um Governo que, com maioria absoluta ou sem ela, se preocupasse em consensualizar com os representantes dos restantes partidos todas as medidas. Não por estratégia, mas com honestidade. E que todos tivessem a mesma preocupação: a do bem comum... Não era fantástico?", sonha Ricardo. Depois, dá uma gargalhada e sentencia: "A isto chama-se utopia."

É por achar "fantástico" aquele cenário que o estudante de Filosofia fica "arrepiado" com os apelos de Sócrates à maioria absoluta. "É o discurso dos cobardes, dos que se estão nas tintas para os outros. Dos que querem quatro anos de poder! Poder absoluto!", acusa, quase zangado.

O pai, que tal como Paula é sócio da editora Pé de Página, contrapõe que "há que desdramatizar". "Ainda agora, a ouvir falar numa sondagem que dá maioria absoluta ao Sócrates, dei comigo a perguntar - 'E porque não?". Com 44 anos de idade, lembra que "as maiorias absolutas não perpetuam ninguém no poder". "Afinal são só quatro anos!...", diz, alegando que "um pouco de estabilidade não faria mal ao país". Ainda assim, não vai contribuir para a dita estabilidade e mantém a intenção de votar no Bloco de Esquerda. "Premeio aqueles que melhor fizeram oposição. Não voto útil, mas por convicção", justifica.

Paula, de 40 anos, também vai votar BE. Mas "com a esperança de que o seu voto contribua para obrigar o PS a negociar". A discussão entre o líder do Bloco e Paulo Portas sobre "o direito a falar de vida" fez com que Louçã "caísse" na sua "consideração". E até é contra o aborto, apesar de "respeitar as opções dos outros". "Mas que alternativas tenho eu?", pergunta-se, para explicar o voto.

Desiludidos com a campanha eleitoral - e inclusivamente com a prestação de Louçã - Rui e Paula decidiram não ter em conta o que foi dito neste período. Já Ricardo não perde a oportunidade de se indignar e o debate a cinco foi um bom pretexto, "Vem esta gente defender que é preciso coragem para acabar com os cursos que não dão emprego! Ora esta!? Agora querem impedir-me de estudar Filosofia? Acaba-se com a Filosofia em Portugal?! 'Bora! Tudo a estudar informática'! Era só o que faltava", protesta.

Ricardo acha que seria bom que houvesse uma grande percentagem de votos em branco e de abstenção. "Para ver se eles, os políticos, recebiam o recado." Já o pai concorda que "o distanciamento das pessoas em relação à campanha é a característica mais marcante destas eleições", mas nem por isso prevê o aumento da abstenção. "Talvez a situação seja motivadora. Quando sentem que as coisas estão mesmo mal, as pessoas percebem que ficar em casa é que não é remédio."

Desacordo Quanto às Vantagens de Uma Maioria Absoluta

Sexta-feira, 18 de Fevereiro de 2005

Paula espera que o BE roube a maioria absoluta ao PS, mas o marido, Rui, não a teme, embora não contribua para ela. O mais radical é Ricardo que contesta "a cobardia" dos que pedem "o poder absoluto

Graça Barbosa Ribeiro

Entre os membros da família Grácio, de Coimbra, só o mais velho, Rui, não se assusta com a possibilidade de o PS ter maioria absoluta. A mulher, Paula, teme "a arrogância de José Sócrates" e espera que os partidos à esquerda "lhe roubem muitos votos". Também o filho, Ricardo, considera que a maioria absoluta é "altamente desaconselhável". Mas, como aos 19 anos não tem "ilusões" de que "as coisas possam mudar", vai votar em branco... "Como castigo".

"Imagine um Governo que, com maioria absoluta ou sem ela, se preocupasse em consensualizar com os representantes dos restantes partidos todas as medidas. Não por estratégia, mas com honestidade. E que todos tivessem a mesma preocupação: a do bem comum... Não era fantástico?", sonha Ricardo. Depois, dá uma gargalhada e sentencia: "A isto chama-se utopia."

É por achar "fantástico" aquele cenário que o estudante de Filosofia fica "arrepiado" com os apelos de Sócrates à maioria absoluta. "É o discurso dos cobardes, dos que se estão nas tintas para os outros. Dos que querem quatro anos de poder! Poder absoluto!", acusa, quase zangado.

O pai, que tal como Paula é sócio da editora Pé de Página, contrapõe que "há que desdramatizar". "Ainda agora, a ouvir falar numa sondagem que dá maioria absoluta ao Sócrates, dei comigo a perguntar - 'E porque não?". Com 44 anos de idade, lembra que "as maiorias absolutas não perpetuam ninguém no poder". "Afinal são só quatro anos!...", diz, alegando que "um pouco de estabilidade não faria mal ao país". Ainda assim, não vai contribuir para a dita estabilidade e mantém a intenção de votar no Bloco de Esquerda. "Premeio aqueles que melhor fizeram oposição. Não voto útil, mas por convicção", justifica.

Paula, de 40 anos, também vai votar BE. Mas "com a esperança de que o seu voto contribua para obrigar o PS a negociar". A discussão entre o líder do Bloco e Paulo Portas sobre "o direito a falar de vida" fez com que Louçã "caísse" na sua "consideração". E até é contra o aborto, apesar de "respeitar as opções dos outros". "Mas que alternativas tenho eu?", pergunta-se, para explicar o voto.

Desiludidos com a campanha eleitoral - e inclusivamente com a prestação de Louçã - Rui e Paula decidiram não ter em conta o que foi dito neste período. Já Ricardo não perde a oportunidade de se indignar e o debate a cinco foi um bom pretexto, "Vem esta gente defender que é preciso coragem para acabar com os cursos que não dão emprego! Ora esta!? Agora querem impedir-me de estudar Filosofia? Acaba-se com a Filosofia em Portugal?! 'Bora! Tudo a estudar informática'! Era só o que faltava", protesta.

Ricardo acha que seria bom que houvesse uma grande percentagem de votos em branco e de abstenção. "Para ver se eles, os políticos, recebiam o recado." Já o pai concorda que "o distanciamento das pessoas em relação à campanha é a característica mais marcante destas eleições", mas nem por isso prevê o aumento da abstenção. "Talvez a situação seja motivadora. Quando sentem que as coisas estão mesmo mal, as pessoas percebem que ficar em casa é que não é remédio."

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