À conquista do eleitorado socialista e comunista

28-07-2004
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À Conquista do Eleitorado Socialista e Comunista

Por MARIA JOSÉ OLIVEIRA

Sexta-feira, 11 de Junho de 2004

A estratégia foi cirúrgica: a campanha do Bloco de Esquerda (BE) investiu na autoproclamação dos seus deputados, relevando a actuação dos bloquistas na Assembleia da República desde a vitória da coligação governamental PSD-CDS/PP, e obteve resultados. Isso mesmo foi notório nas constantes interpelações de que foi alvo Francisco Louçã nas mais diversas acções da jornada eleitoral, com muitas pessoas a quererem cumprimentá-lo pelas suas intervenções no Parlamento. Mais: o eleitorado do BE, normalmente enquadrado nas camadas mais jovens, parece começar a ganhar novos contornos, com a aparente conquista de eleitores de idade avançada.

A táctica de ganhar pontos junto dos socialistas e comunistas, a quem Louçã chegou mesmo a dirigir-se dizendo que o BE lhes "estendia a mão", configurou-se, precisamente, através da renúncia em atacar directamente o PS e a CDU. "Não fazemos oposição à oposição" foi uma das frases mais ouvidas durante a campanha e aquela que melhor ilustra o estratagema dos bloquistas. Escolheram um alvo exclusivo, a coligação governamental, e tentaram, desta forma, resgatar votos à direita e sobretudo à esquerda.

Houve, porém, um pequeno desvio neste trajecto previamente delineado: foi quando o candidato socialista António Costa acusou implicitamente Miguel Portas de anti-patriotismo por este ter afirmado, numa entrevista à RTP, que mais depressa apoiaria na corrida à presidência da Comissão Europeia um candidato alemão, de "Os Verdes", defensor de uma política social próxima da do Bloco, do que António Vitorino. Os bloquistas não conseguiram disfarçar que ficaram surpreendidos com as declarações de Costa, dando a entender que parecia existir uma espécie de acordo tácito entre o BE e o PS para a ausência de acusações mútuas, e foram obrigados a reagir. Francisco Louçã foi o escolhido para responder a Costa e, desvalorizando as afirmações do socialista, acabou por estancar a polémica que se adivinhava.

Numa campanha espartilhada em blocos temáticos (imigração. ambiente, guerra, privatizações, despenalização do aborto) e muito centrada nos grandes centros urbanos, Miguel Portas revelou pouca desenvoltura na rua, ao invés de Louçã, devidamente desembaraçado de um perfil aparentemente tímido. O cabeça de lista admitiu ao PÚBLICO que não gosta das acções de rua, preferindo as sessões públicas ou os debates televisivos, mas nem mesmo a tarimba que devia ter ganho durante a pré-campanha o salvou de alguns momentos de atrapalhação. Portas foi, porém, o grande e solitário rosto da campanha do BE, já que a segunda candidata da lista bloquista, Violante Saramago Matos, surgiu uma única vez ao lado do cabeça de lista, na passada terça-feira, em Lisboa. A sua aparição não adiantou muito. Aproveitando a presença das televisões, no comício do Largo do Carmo, a candidata número dois fez uma intervenção que se destacou de todas as outras: em nenhum momento falou da Europa, discursando apenas sobre e para a Madeira. Fez claramente um discurso de pré-campanha para as eleições regionais de Outubro próximo.

Os candidatos independentes, João Semedo e Diana Andringa, respectivamente colocados em terceiro e quarto lugar, foram as maiores surpresas da campanha bloquista, demonstrando, sobretudo nos comícios, uma eloquência rara nos círculos políticos.

À Conquista do Eleitorado Socialista e Comunista

Por MARIA JOSÉ OLIVEIRA

Sexta-feira, 11 de Junho de 2004

A estratégia foi cirúrgica: a campanha do Bloco de Esquerda (BE) investiu na autoproclamação dos seus deputados, relevando a actuação dos bloquistas na Assembleia da República desde a vitória da coligação governamental PSD-CDS/PP, e obteve resultados. Isso mesmo foi notório nas constantes interpelações de que foi alvo Francisco Louçã nas mais diversas acções da jornada eleitoral, com muitas pessoas a quererem cumprimentá-lo pelas suas intervenções no Parlamento. Mais: o eleitorado do BE, normalmente enquadrado nas camadas mais jovens, parece começar a ganhar novos contornos, com a aparente conquista de eleitores de idade avançada.

A táctica de ganhar pontos junto dos socialistas e comunistas, a quem Louçã chegou mesmo a dirigir-se dizendo que o BE lhes "estendia a mão", configurou-se, precisamente, através da renúncia em atacar directamente o PS e a CDU. "Não fazemos oposição à oposição" foi uma das frases mais ouvidas durante a campanha e aquela que melhor ilustra o estratagema dos bloquistas. Escolheram um alvo exclusivo, a coligação governamental, e tentaram, desta forma, resgatar votos à direita e sobretudo à esquerda.

Houve, porém, um pequeno desvio neste trajecto previamente delineado: foi quando o candidato socialista António Costa acusou implicitamente Miguel Portas de anti-patriotismo por este ter afirmado, numa entrevista à RTP, que mais depressa apoiaria na corrida à presidência da Comissão Europeia um candidato alemão, de "Os Verdes", defensor de uma política social próxima da do Bloco, do que António Vitorino. Os bloquistas não conseguiram disfarçar que ficaram surpreendidos com as declarações de Costa, dando a entender que parecia existir uma espécie de acordo tácito entre o BE e o PS para a ausência de acusações mútuas, e foram obrigados a reagir. Francisco Louçã foi o escolhido para responder a Costa e, desvalorizando as afirmações do socialista, acabou por estancar a polémica que se adivinhava.

Numa campanha espartilhada em blocos temáticos (imigração. ambiente, guerra, privatizações, despenalização do aborto) e muito centrada nos grandes centros urbanos, Miguel Portas revelou pouca desenvoltura na rua, ao invés de Louçã, devidamente desembaraçado de um perfil aparentemente tímido. O cabeça de lista admitiu ao PÚBLICO que não gosta das acções de rua, preferindo as sessões públicas ou os debates televisivos, mas nem mesmo a tarimba que devia ter ganho durante a pré-campanha o salvou de alguns momentos de atrapalhação. Portas foi, porém, o grande e solitário rosto da campanha do BE, já que a segunda candidata da lista bloquista, Violante Saramago Matos, surgiu uma única vez ao lado do cabeça de lista, na passada terça-feira, em Lisboa. A sua aparição não adiantou muito. Aproveitando a presença das televisões, no comício do Largo do Carmo, a candidata número dois fez uma intervenção que se destacou de todas as outras: em nenhum momento falou da Europa, discursando apenas sobre e para a Madeira. Fez claramente um discurso de pré-campanha para as eleições regionais de Outubro próximo.

Os candidatos independentes, João Semedo e Diana Andringa, respectivamente colocados em terceiro e quarto lugar, foram as maiores surpresas da campanha bloquista, demonstrando, sobretudo nos comícios, uma eloquência rara nos círculos políticos.

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