Plágios bons, plágios maus

20-02-2003
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Plágios bons, plágios maus

ACTUAL • José Casanova

A Lusa descobriu e divulgou que uma crónica assinada por Clara Pinto Correia (CPC) e publicada na revista Visão, era um plágio: «96 das 106 linhas do texto» eram «rigorosamente iguais (...) frase por frase, parágrafo por parágrafo», a um texto publicado numa revista norte-americana. Os jornais, praticamente todos, noticiaram. O Público foi ouvir a cronista e informou-nos que, segundo ela, tratara-se de uma «distracção» - «distracção» que, pelos vistos, se repetiu já que, logo a seguir, como informa o mesmo Público, alguém descobriu segunda crónica plagiada. Os jornais, praticamente todos, voltaram a noticiar, a Visão cessou a colaboração com a, digamos assim cronista, e uma editora que se preparava para lançar um volume de crónicas (supostamente) escritas por CPC suspendeu a publicação do livro.

Esta reacção espalhafatosa dos vários jornais surpreende. Quanto mais não seja porque, como muito bem sabemos, em matéria de textos de opinião todos eles estão pejados de ideias, conclusões e apreciações plagiadas. Ou não?

Tenho para mim que estas setas contra CPC decorrem de raivazinhas e invejas pelo espaço e pelo tempo que lhe é concedido nos média, onde ela passeia os seus múltiplos talentos, exibindo sorrisos e olhares, pernas e peitos, prosas e saberes, escritas e falas.

Aqui chegado, não posso deixar de lembrar que, há tempos, um colaborador regular do Público – Francisco Louçã (também ele, como CPC, habitué na exibição mediática de múltiplos talentos, sublinhe-se) – certamente por efeito de «distracção» semelhante à de CPC, assinou um artigo que, no essencial, mais não era do que a tradução de um texto de Choussodovsky – facto para o qual se chamou a atenção aqui no Avante! mas que, naturalmente, foi silenciado em toda a restante comunicação social, Público incluído... talvez por ali se considerar que há plágios bons (os que à Casa interessam) e há plágios maus (todos os outros). Ora, Louçã é dirigente do Bloco de Esquerda e, por isso e enquanto tal, intocável na comunicação social dominante a qual, como todos os dias vemos, trata o BE com carinhos, enlevos e desvelos raros e o enche de mimos como o pai babado ao filho único chegado já em idade avançada.

É certo que, por vezes, CPC se banha nas modernas águas bloquistas... mas não passa de uma principiante, de uma simples apoiante de quem ninguém se lembra enquanto tal. Por isso Louçã pode plagiar e ela não.

«Avante!» Nº 1524 - 13.Fevereiro.2003

Plágios bons, plágios maus

ACTUAL • José Casanova

A Lusa descobriu e divulgou que uma crónica assinada por Clara Pinto Correia (CPC) e publicada na revista Visão, era um plágio: «96 das 106 linhas do texto» eram «rigorosamente iguais (...) frase por frase, parágrafo por parágrafo», a um texto publicado numa revista norte-americana. Os jornais, praticamente todos, noticiaram. O Público foi ouvir a cronista e informou-nos que, segundo ela, tratara-se de uma «distracção» - «distracção» que, pelos vistos, se repetiu já que, logo a seguir, como informa o mesmo Público, alguém descobriu segunda crónica plagiada. Os jornais, praticamente todos, voltaram a noticiar, a Visão cessou a colaboração com a, digamos assim cronista, e uma editora que se preparava para lançar um volume de crónicas (supostamente) escritas por CPC suspendeu a publicação do livro.

Esta reacção espalhafatosa dos vários jornais surpreende. Quanto mais não seja porque, como muito bem sabemos, em matéria de textos de opinião todos eles estão pejados de ideias, conclusões e apreciações plagiadas. Ou não?

Tenho para mim que estas setas contra CPC decorrem de raivazinhas e invejas pelo espaço e pelo tempo que lhe é concedido nos média, onde ela passeia os seus múltiplos talentos, exibindo sorrisos e olhares, pernas e peitos, prosas e saberes, escritas e falas.

Aqui chegado, não posso deixar de lembrar que, há tempos, um colaborador regular do Público – Francisco Louçã (também ele, como CPC, habitué na exibição mediática de múltiplos talentos, sublinhe-se) – certamente por efeito de «distracção» semelhante à de CPC, assinou um artigo que, no essencial, mais não era do que a tradução de um texto de Choussodovsky – facto para o qual se chamou a atenção aqui no Avante! mas que, naturalmente, foi silenciado em toda a restante comunicação social, Público incluído... talvez por ali se considerar que há plágios bons (os que à Casa interessam) e há plágios maus (todos os outros). Ora, Louçã é dirigente do Bloco de Esquerda e, por isso e enquanto tal, intocável na comunicação social dominante a qual, como todos os dias vemos, trata o BE com carinhos, enlevos e desvelos raros e o enche de mimos como o pai babado ao filho único chegado já em idade avançada.

É certo que, por vezes, CPC se banha nas modernas águas bloquistas... mas não passa de uma principiante, de uma simples apoiante de quem ninguém se lembra enquanto tal. Por isso Louçã pode plagiar e ela não.

«Avante!» Nº 1524 - 13.Fevereiro.2003

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