Jerónimo de Sousa teve de sair do único debate a cinco desta campanha

18-02-2005
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Jerónimo de Sousa Teve de Sair do Único Debate a Cinco Desta Campanha

Quarta-feira, 16 de Fevereiro de 2005

Louçã e Portas deixam cenários de acordo com PS em abert

Isenções fiscais à banca, levantadas pelo BE, motivaram troca de acusações entre Sócrates e Santan

Natália Faria

Com o secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, afónico, o debate de ontem à noite da RTP ficou reduzido a quatro elementos. Atravessado essencialmente pelas questões económicas e sociais, a conversa deixou várias perguntas no ar. Do lado do PS, José Sócrates recusou responder o que fará num cenário de maioria relativa. Do BE, Francisco Louçã, esquivou-se à pergunta sobre se aceitará integrar um Governo liderado por Sócrates, optando por dizer que está disponível para entendimentos sobre políticas concretas, enquanto Paulo Portas optou por fazer "tabu" sobre a sua disponibilidade para cumprir o acordo pré-eleitoral com o PSD se o cenário pós-eleitoral lhe for adverso.

O episódio que marcou as quase três horas de debate foi, porém, protagonizado por Francisco Louçã, que lembrou a isenção concedida pela coligação PSD-CDS a uma das mais recentes fusões do sector bancário, entre o Crédito Predial, o Totta & Açores e o Santander. o líder do PSD clarificou que a referida isenção fiscal está prevista na lei, argumentando que pôs a banca a pagar "mais do dobro de impostos do que pagava".

José Sócrates não desdenhou a boleia. "Pode ser legal, mas Santana Lopes tem que justificar politicamente por que é que o fez, porque isso contradiz o discurso que anda a fazer". O ainda primeiro-ministro contra-atacou com o caso do "Freeport", de Alcochete ("O contraditório é o senhor tirar de reservas naturais zonas protegidas", disse, dirigindo-se a Sócrates). O assunto seria retomado já na segunda parte do debate, em que, depois de ter feito um telefonema, Santana Lopes optou pela estratégia de repartir culpas com o PS. "O senhor gosta muito de atirar pedras para o telhado dos outros. Houve várias fusões da banca que foram totalmente isentadas pelo PS", atirou.

Antes disso, Paulo Portas, que foi o primeiro a falar, já tinha aludido às vantagens do travão colocado por Bagão Félix aos benefícios fiscais das contas poupança-habitação, dando oportunidade a que Sócrates prometesse reintroduzir outro sistema de incentivo à poupança, "no próximo ano, se ganhar as eleições". O líder do PS voltou a fazer profissão de fé no objectivo de criar 150 mil novos empregos nos próximos quatro anos, ao passo que Santana desviou o rumo para enfatizar que "2004 foi o ano com menos greves desde 1997" e que "a criminalidade global baixou pela primeira vez nos últimos dois anos".

Jerónimo de Sousa ainda ensaiou uma intervenção para explicar como é que o PCP se propõe "devolver a qualidade de vida aos portugueses sem aumentar a despesa pública", mas a rouquidão impediu-o de falar e, depois de lembrar a necessidade de medidas que preservem os 75 mil postos de trabalho que estão em risco no sector têxtil e de ter responsabilizado o PS por ter aberto o precedente das reformas antecipadas, acabaria por abandonar a sala, com a mensagem: "Perdi a voz, mas não perdi a esperança de que os portugueses votem na CDU."

Divergências saúde e segurança social

Por essa altura, já Sócrates e Santana se tinham envolvido num duelo verbal a propósito da questão das reformas. O líder do PS condicionou o aumento da idade da reforma ao resultado do estudo que vier a ser feito sobre a sustentabilidade da Segurança Social. E, depois de alguma insistência dos jornalistas, Santana lá acabou por clarificar que a sua proposta passa por alargar até aos 70 anos (65 no caso dos funcionários públicos) a idade de reforma para quem está no activo há menos de 35 anos. Os restantes deverão poder optar.

Quando o debate chegou às questões da saúde houve momentos pedagógicos e outros nem por isso. À pergunta sobre se pretende continuar com os hospitais SA, Sócrates garantiu que a promessa eleitoral de transformar os hospitais em empresas públicas é para manter. "É um sinal evidente de que não queremos privatizar a gestão dos serviços de saúde", aproveitou para lembrar. E depois sublinhou que pretendeu apostar fortemente nos centros de saúde, bem como no reforço dos serviços domiciliários e de assistência aos idosos. Sobre esse assunto, Francisco Louçã voltou a defender a despenalização das drogas leves e a distribuição de heroína a toxicodependentes incuráveis. "Conheço prisões portuguesas em que os doentes se injectavam com canetas 'Bic'. Por isso é que temos tanta sida nas prisões", justificou.

Na parte final do debate, Sócrates fugiu à pergunta sobre o que fará no caso de não ter maioria absoluta: "Temos o objectivo de alcançar a maioria absoluta e vamos lutar por ele". E quanto a um Plano B? "Não quero entreter-me a especular sobre outros cenários", respondeu, insistindo nas virtualidades da maioria absoluta, na medida em que estas, alegou, "são responsabilizantes e não permitem álibis nem desculpas". Do mesmo modo - , e depois de Santana Lopes ter convergido na ideia de que o país necessita de governos fortes mas que está disposto a respeitar o acordo pré-eleitoral que assinou com o CDS - , Louçã esquivou-se à pergunta crucial sobre se aceitará integrar um futuro governo do PS: "O BE vai-se bater pelas políticas concretas que tem vindo a anunciar, chegaremos ao Governo quando tivermos força para isso."

Por seu turno, Paulo Portas, voltou a sacar de gráficos e figuras para mostrar que, se o CDS conseguir captar dez por cento do eleitorado (nas últimas legislativas ficou-se nos 8,7 por cento), aumentará a sua representatividade parlamentar, logo, inviabilizará qualquer maioria absoluta monopartidária. E quando questionado sobre se cumprirá o tal acordo pré-eleitoral com o PSD, respondeu: "Os acordos são para cumprir, mas o engenheiro José Sócrates não é o único nesta mesa com direito a dizer que não se pronuncia sobre cenários que lhe são desfavoráveis", considerou, prometendo bater-se até ao dia 20 "para que haja uma maioria de centro-direita em Portugal".

Jerónimo de Sousa Teve de Sair do Único Debate a Cinco Desta Campanha

Quarta-feira, 16 de Fevereiro de 2005

Louçã e Portas deixam cenários de acordo com PS em abert

Isenções fiscais à banca, levantadas pelo BE, motivaram troca de acusações entre Sócrates e Santan

Natália Faria

Com o secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, afónico, o debate de ontem à noite da RTP ficou reduzido a quatro elementos. Atravessado essencialmente pelas questões económicas e sociais, a conversa deixou várias perguntas no ar. Do lado do PS, José Sócrates recusou responder o que fará num cenário de maioria relativa. Do BE, Francisco Louçã, esquivou-se à pergunta sobre se aceitará integrar um Governo liderado por Sócrates, optando por dizer que está disponível para entendimentos sobre políticas concretas, enquanto Paulo Portas optou por fazer "tabu" sobre a sua disponibilidade para cumprir o acordo pré-eleitoral com o PSD se o cenário pós-eleitoral lhe for adverso.

O episódio que marcou as quase três horas de debate foi, porém, protagonizado por Francisco Louçã, que lembrou a isenção concedida pela coligação PSD-CDS a uma das mais recentes fusões do sector bancário, entre o Crédito Predial, o Totta & Açores e o Santander. o líder do PSD clarificou que a referida isenção fiscal está prevista na lei, argumentando que pôs a banca a pagar "mais do dobro de impostos do que pagava".

José Sócrates não desdenhou a boleia. "Pode ser legal, mas Santana Lopes tem que justificar politicamente por que é que o fez, porque isso contradiz o discurso que anda a fazer". O ainda primeiro-ministro contra-atacou com o caso do "Freeport", de Alcochete ("O contraditório é o senhor tirar de reservas naturais zonas protegidas", disse, dirigindo-se a Sócrates). O assunto seria retomado já na segunda parte do debate, em que, depois de ter feito um telefonema, Santana Lopes optou pela estratégia de repartir culpas com o PS. "O senhor gosta muito de atirar pedras para o telhado dos outros. Houve várias fusões da banca que foram totalmente isentadas pelo PS", atirou.

Antes disso, Paulo Portas, que foi o primeiro a falar, já tinha aludido às vantagens do travão colocado por Bagão Félix aos benefícios fiscais das contas poupança-habitação, dando oportunidade a que Sócrates prometesse reintroduzir outro sistema de incentivo à poupança, "no próximo ano, se ganhar as eleições". O líder do PS voltou a fazer profissão de fé no objectivo de criar 150 mil novos empregos nos próximos quatro anos, ao passo que Santana desviou o rumo para enfatizar que "2004 foi o ano com menos greves desde 1997" e que "a criminalidade global baixou pela primeira vez nos últimos dois anos".

Jerónimo de Sousa ainda ensaiou uma intervenção para explicar como é que o PCP se propõe "devolver a qualidade de vida aos portugueses sem aumentar a despesa pública", mas a rouquidão impediu-o de falar e, depois de lembrar a necessidade de medidas que preservem os 75 mil postos de trabalho que estão em risco no sector têxtil e de ter responsabilizado o PS por ter aberto o precedente das reformas antecipadas, acabaria por abandonar a sala, com a mensagem: "Perdi a voz, mas não perdi a esperança de que os portugueses votem na CDU."

Divergências saúde e segurança social

Por essa altura, já Sócrates e Santana se tinham envolvido num duelo verbal a propósito da questão das reformas. O líder do PS condicionou o aumento da idade da reforma ao resultado do estudo que vier a ser feito sobre a sustentabilidade da Segurança Social. E, depois de alguma insistência dos jornalistas, Santana lá acabou por clarificar que a sua proposta passa por alargar até aos 70 anos (65 no caso dos funcionários públicos) a idade de reforma para quem está no activo há menos de 35 anos. Os restantes deverão poder optar.

Quando o debate chegou às questões da saúde houve momentos pedagógicos e outros nem por isso. À pergunta sobre se pretende continuar com os hospitais SA, Sócrates garantiu que a promessa eleitoral de transformar os hospitais em empresas públicas é para manter. "É um sinal evidente de que não queremos privatizar a gestão dos serviços de saúde", aproveitou para lembrar. E depois sublinhou que pretendeu apostar fortemente nos centros de saúde, bem como no reforço dos serviços domiciliários e de assistência aos idosos. Sobre esse assunto, Francisco Louçã voltou a defender a despenalização das drogas leves e a distribuição de heroína a toxicodependentes incuráveis. "Conheço prisões portuguesas em que os doentes se injectavam com canetas 'Bic'. Por isso é que temos tanta sida nas prisões", justificou.

Na parte final do debate, Sócrates fugiu à pergunta sobre o que fará no caso de não ter maioria absoluta: "Temos o objectivo de alcançar a maioria absoluta e vamos lutar por ele". E quanto a um Plano B? "Não quero entreter-me a especular sobre outros cenários", respondeu, insistindo nas virtualidades da maioria absoluta, na medida em que estas, alegou, "são responsabilizantes e não permitem álibis nem desculpas". Do mesmo modo - , e depois de Santana Lopes ter convergido na ideia de que o país necessita de governos fortes mas que está disposto a respeitar o acordo pré-eleitoral que assinou com o CDS - , Louçã esquivou-se à pergunta crucial sobre se aceitará integrar um futuro governo do PS: "O BE vai-se bater pelas políticas concretas que tem vindo a anunciar, chegaremos ao Governo quando tivermos força para isso."

Por seu turno, Paulo Portas, voltou a sacar de gráficos e figuras para mostrar que, se o CDS conseguir captar dez por cento do eleitorado (nas últimas legislativas ficou-se nos 8,7 por cento), aumentará a sua representatividade parlamentar, logo, inviabilizará qualquer maioria absoluta monopartidária. E quando questionado sobre se cumprirá o tal acordo pré-eleitoral com o PSD, respondeu: "Os acordos são para cumprir, mas o engenheiro José Sócrates não é o único nesta mesa com direito a dizer que não se pronuncia sobre cenários que lhe são desfavoráveis", considerou, prometendo bater-se até ao dia 20 "para que haja uma maioria de centro-direita em Portugal".

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