TERTÚLIA POÉTICA AO ENCONTRO DE BOCAGE: julho 2004 Archives

10-10-2004
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ILUSTRES POETISAS 7 - CECÍLIA MEIRELES Filha de Carlos Alberto de Carvalho Meireles, funcionário do Banco do Brasil S.A., e de D. Matilde Benevides Meireles, professora municipal, nasceu a 7 de novembro de 1901, na Tijuca, Rio de Janeiro, Cecília Benevides de Carvalho Meireles foi a única sobrevivente dos quatros filhos do casal. O pai faleceu três meses antes do seu nascimento, e a mãe, quando Cecília ainda não tinha três anos. Criou-a, a partir de então, sua avó D. Jacinta Garcia Benevides. Escreveria mais tarde:

"Nasci aqui mesmo no Rio de Janeiro, três meses depois da morte de meu pai, e perdi minha mãe antes dos três anos. Essas e outras mortes ocorridas na família acarretaram muitos contratempos materiais, mas, ao mesmo tempo, me deram, desde pequenina, uma tal intimidade com a Morte que docemente aprendi essas relações entre o Efêmero e o Eterno.

(...) Em toda a vida, nunca me esforcei por ganhar nem me espantei por perder. A noção ou o sentimento da transitoriedade de tudo é o fundamento mesmo da minha personalidade.

(...) Minha infância de menina sozinha deu-me duas coisas que parecem negativas, e foram sempre positivas para mim: silêncio e solidão. Essa foi sempre a área de minha vida. Área mágica, onde os caleidoscópios inventaram fabulosos mundos geométricos, onde os relógios revelaram o segredo do seu mecanismo, e as bonecas o jogo do seu olhar. Mais tarde foi nessa área que os livros se abriram, e deixaram sair suas realidades e seus sonhos, em combinação tão harmoniosa que até hoje não compreendo como se possa estabelecer uma separação entre esses dois tempos de vida, unidos como os fios de um pano."

Diplomando-se pela Escola Normal em 1917, passou a exercer o magistério primário em escolas oficiais do antigo Distrito Federal. De 1930 a 1934, manteve no Diário de Notícias uma página diária sobre problemas de educação. Nesse último ano, criou a primeira biblioteca infantil do Rio de Janeiro, ao dirigir o Centro Infantil, que funcionou durante quatro anos. De 1936 a 1938, lecionou Literatura Luso-Brasileira e Técnica e Crítica Literária, na Universidade do Distrito Federal (hoje UFRJ). Realizou numerosas viagens aos Estados Unidos, à Europa, à Ásia e à África, fazendo conferências, em diferentes países, sobre Literatura, Educação e Folclore, em cujos estudos se especializou. Em Deli, o Presidente da República da Índia conferiu-lhe o diploma de doutor honoris causa da Universidade. Colaborou ainda, ativamente, no jornal A Manhã e na revista Observador Econômico.

Aposentou-se em 1951 como diretora de escola, porém continuou a trabalhar, como produtora e redatora de programas culturais, na Rádio Ministério da Educação.

A concessão do Prêmio de Poesia Olavo Bilac, pela Academia Brasileira de Letras, ao seu livro Viagem, em 1939, resultou de animados debates, que tornaram manifesta a alta qualidade de sua poesia.

Casada em 1921 com o pintor português Correia Dias, teve três filhas: Maria Elvira, Maria Matilde e Maria Fernanda, esta última artista teatral consagrada. Enviuvando-se, casou-se em 1940 com o professor Heitor Grilo. Deixou cinco netos. Faleceu no Rio de Janeiro a 9 de novembro de 1964, sendo-lhe prestadas grandes homenagens públicas. O Governo do então Estado da Guanabara denominou Sala Cecília Meireles o grande salão de concertos e conferências do Largo da Lapa. Há uma rua com o seu nome, na cidade portuguesa de Benfica. MURMÚRIO Traze-me um pouco das sombras serenas

que as nuvens transportam por cima do dia!

Um pouco de sombra, apenas,

- vê que nem te peço alegria. Traze-me um pouco da alvura dos luares

que a noite sustenta no teu coração!

A alvura, apenas, dos ares:

- vê que nem te peço ilusão. Traze-me um pouco da tua lembrança,

aroma perdido, saudade da flor!

- Vê que nem te digo - esperança!

- Vê que nem sequer sonho - amor!

REINVENÇÃO

A vida só é possível

reinventada. Anda o sol pelas campinas

e passeia a mão dourada

pelas águas, pelas folhas...

Ah! tudo bolhas

que vem de fundas piscinas

de ilusionismo... — mais nada. Mas a vida, a vida, a vida,

a vida só é possível

reinventada. Vem a lua, vem, retira

as algemas dos meus braços.

Projeto-me por espaços

cheios da tua Figura.

Tudo mentira! Mentira

da lua, na noite escura. Não te encontro, não te alcanço...

Só — no tempo equilibrada,

desprendo-me do balanço

que além do tempo me leva.

Só — na treva,

fico: recebida e dada. Porque a vida, a vida, a vida,

a vida só é possível

reinventada.

RETRATO

Eu não tinha este rosto de hoje,

assim calmo, assim triste, assim magro,

nem estes olhos tão vazios,

nem o lábio amargo. Eu não tinha estas mãos sem força,

tão paradas e frias e mortas;

eu não tinha este coração

que nem se mostra. Eu não dei por esta mudança,

tão simples, tão certa, tão fácil:

— Em que espelho ficou perdida

a minha face?

O MENINO AZUL

O menino quer um burrinho

para passear.

Um burrinho manso,

que não corra nem pule,

mas que saiba conversar.

O menino quer um burrinho

que saiba dizer

o nome dos rios,

das montanhas, das flores,

— de tudo o que aparecer.

O menino quer um burrinho

que saiba inventar histórias bonitas

com pessoas e bichos

e com barquinhos no mar.

E os dois sairão pelo mundo

que é como um jardim

apenas mais largo

e talvez mais comprido

e que não tenha fim.

(Quem souber de um burrinho desses,

pode escrever

para a Ruas das Casas,

Número das Portas,

ao Menino Azul que não sabe ler.)

Cecília Meireles

In POESIAS

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A TRIBUNA DOS POETAS 20 POETAS DO MEU PAÍS Por Euclides Cavaco Aos que a nossa Língua Pátria

Cantaram em poesia,

Presto aqui minha homenagem,

Nesta leve cortesia. Lembro Camões e Pessoa,

João de Deus e Florbela,

Miguel Torga e Alorna

E, outros estros como Ela. Bocage e João Vilarett

E Artur Ribeiro, entre tantos.

Natália, Aleixo e Nemésio,

Zeca Afonso e Ary dos Santos. O Pedro Homem de Melo,

José Régio e Gedeão.

Augusto Gil e Valério,

Namora e Carlos Paião. João de Barros e Almada

E Correia de Oliveira.

O Frederico de Brito

E Afonso Lopes Vieira. Fica a eterna gratidão,

Aos poetas em geral,

Que na sua inspiração,

Nos cantaram Portugal !... Euclides Cavaco

In POETAS DO MEU PAÍS

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A TRIBUNA DOS POETAS 19 ALDEIA DO INTERIOR Por António Sala

Cresci numa aldeia do interior,

de casas mal pintadas.

Ruas estreitas,

mal iluminadas

e campos floridos em redor. Cresci numa aldeia do interior,

onde em cada casa há uma varanda,

vasos de barro

e flores à janela,

um cão vadio é ali a sentinela. Cresci numa aldeia do interior

com uma ponte sobre o rio

e o velho moinho

já cansado,

a mastigar o pão que mata o frio. Cresci numa aldeia do interior

onde uma “chanfana”

é carne assada

na caçoila.

O vinho é bem tirado

e quem vier depois

terá sempre um lugar ao nosso lado. Minha aldeia, minha aldeia,

avenidas de alecrim,

fontanário de cântaros sem fim.

Minha aldeia, minha aldeia,

sons de sino a repicar

ou que, dolentes, avisam

que um de nós nos vai deixar.

António Sala

In PALAVRAS DESPIDAS DE MÚSICA Comentários: (0) Posted by assismachado at 10:38 PM

ILUSTRES POETISAS 6 - IRENE LISBOA Irene do Céu Vieira Lisboa (1892-1958) nasceu no Casal da Murzinheira, Arruda dos Vinhos, e faleceu em Lisboa. Formou-se pela Escola Normal Primária de Lisboa e fez estudos de especialização pedagógica na Suíça, França e Bélgica, tendo contactado com Piaget, em Genebra. Foi um dos nomes mais importantes da "escrita feminina" portuguesa do século XX. Estreou-se em 1926, com o livro de contos, 13 Contarelos a que se seguiram dois livros de poesia. Também sob os pseudónimos de Manuel Soares e João Falco, é autora de uma vasta obra, pouco conhecida, que se reparte entre a ficção intimista e autobiográfica, a crónica, o conto (para crianças e adultos), a poesia, a pedagogia e a crítica literária. Professora primária e pedagoga de grande mérito e activa intervenção cívica, era amiga de José Rodrigues Miguéis e foi colaboradora da Seara Nova. A sua escrita é, por vezes, considerada como inserindo-se no "saudosismo", tendência da literatura portuguesa que radica na obra de Teixeira de Pascoaes e no grupo da Renascença Portuguesa e que se mantém relativamente à margem das correntes estéticas suas contemporâneas. No entanto, a sua sensibilidade crítico-poética é difícil de encaixar seja em géneros convencionais, seja em correntes literárias conhecidas. De todas as escritoras suas contemporâneas, Irene Lisboa é, sem dúvida, aquela que recebeu maior reconhecimento crítico, nomeadamente de José Régio, João Gaspar Simões e Vitorino Nemésio. No entanto, a sua obra não pareceu merecer grande popularidade junto do grande público. CHUVOSO MAIO Deste lado oiço gotejar sobre as pedras.

Som da cidade ...

Do outro via a chuva no ar.

Perpendicular, fina,

Tomava cor, distinguia-se contra o fundo das trepadeiras do jardim.

No chão, quando caía, abria círculos nas pocinhas brilhantes, já formadas?

Há lá coisa mais linda que este bater de água na outra água?

Um pingo cai

E forma uma rosa... um movimento circular, que se espraia.

Vem outro pingo

E nasce outra rosa... e sempre assim! Os nossos olhos desconsolados,

sem alegria nem tristeza,

tranquilamente vão vendo formar-se as rosas,

brilhar e mover-se a água...

AFRODITE Formosa.

Esses peitos pequenos, cheios.

Esse ventre, o seu redondo espraiado!

O vinco da cinta, o gracioso umbigo, o escorrido

das ancas, o púbis discreto ligeiramente alteado,

as coxas esbeltas, um joelho único suave e agudo,

o coto de um braço, o tronco robusto, a linha

cariciosa do ombro...

Afrodite, não chorei quando te descobri?

Aquele museu plácido, tantas memórias da Grécia

e de Roma!

Tantas figuras graves, de gestos nobres e de

frontes tranquilas, abstractas...

Mas aquela sala vasta, cheia, não era uma necró-

pole.

Era uma assembleia de amáveis espíritos, divaga-

dores, ente si trocando serenas, eternas e nunca

desprezadas razões formais. Afrodite, Afrodite, tão humana e sem tempo...

O descanso desse teu gesto!

A perna que encobre a outra, que aperta o corpo.

A doce oferta desse pomo tentador: peito e ventre.

E um fumo, uma impressão tão subtil e tão pro-

vocante de pudor, de volúpia, de reserva, de

abandono...

Já passaram sobre ti dois mil anos? Estranha obra de um homem!

Que doçura espalhas e que grandeza...

És o equilíbrio e a harmonia e não és senão corpo.

Não és mística, não exacerbas, não angústias.

Geras o sonho do amor. Praxíteles.

Como pudeste criar Afrodite?

E não a macerar, delapidar, arruinar, na ânsia de

a vencer, gozar!

Tinha de assim ser.

Eternizaste-a!

A beleza, o desejo, a promessa, a doce carne...

Irene Lisboa

In POESIAS

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A TRIBUNA DOS POETAS 18 A BOCAGE Por Frassino Machado Máximo dom da natureza-mãe Anseia toda a gente recolher Numa busca incessante p’ ra fazer Unir o sentimento que sustem Engendrando com versos da razão Levantados na alma e coração. Muita é a garra q ’urge registar Abarcada no poeta a existência Reforçando a verdade e a diligência Importa agora est’ arte sublimar Até que a fiel justiça ganhe essência. Bocage, que desta arte és timoneiro, Apreende à tua luz o apaixonado Realizando o projecto destinado. Bocage, o teu estro é verdadeiro, Onde a injustiça medra com furor, Sais sempre a defender o desgraçado Acima do que podes com humor. Do combate leal és pregoeiro Unindo o teu sonhar ao mundo inteiro... Bocage tu, qu’ és Vate, és proémio Onde mais mundo houver nesta jornada Cantarão para sempre na alvorada Aqueles poetas d’ alma nobre e génio Gerando, na desgraça, em toda a idade Enérgico sentir de felicidade Frassino Machado In AS MINHAS ANDANÇAS Comentários: (0) Posted by assismachado at 10:38 AM

A TRIBUNA DOS POETAS 17 CURIOSAMENTE Por Von Trina

Ter uma existência fútil

trivial banal

mas claro alegre

parece amenizar

quase tudo

quase todos

e transmitir confiança

serenidade respeitabilidade

e até – pasme-se – seriedade ! Assim

sou moderadamente louco

curiosamente responsável

serenamente radical.

Sério

confesso que só às escondidas

porque não quero incomodar

ser repreensível

criticável. Pensar

só nas catacumbas da vida

nos intervalos da metafísica

no conforto da clandestinidade.

Reflectir

torna-nos

torna-vos

torna-se

dispensável dispensáveis.

Von Trina

In A DÁDIVA ASTUCIOSA DOS DEUSES

Ed. Minerva Comentários: (0) Posted by assismachado at 09:24 AM

ILUSTRES POETISAS 5 - NATÁLIA CORREIA

Natália de Oliveira Correia nasceu na ilha de São Miguel, Açores, em 13/09/1923 e morreu em Lisboa em 16/03/1993. Importante figura da cultura portuguesa da segunda metade do século XX, notabilizou-se como poetisa e como política, tendo sido eleita deputada pelo Partido Socialista. Obras poéticas: Rio de Nuvens (1947), Poemas (1955), Dimensão Encontrada (1957), Passaporte (1958), Comunicação (1959), Cântico do País Imerso (1961), O Vinho e a Lira (1966), Mátria (1968), As Maçãs de Orestes (1970), Mosca Iluminada (1972), O Anjo do Ocidente à Entrada do Ferro (1973), Poemas a Rebate (1975), Epístola aos Iamitas (1976), O Dilúvio e a Pomba (1979), Sonetos Românticos (1990), O Armistício (1985), O Sol das Noites e o Luar nos Dias (1993), Memória da Sombra (1994, com fotos de António Matos). Ficção: Anoiteceu no Bairro (1946), A Madona (1968), A Ilha de Circe (1983). Teatro: O Progresso de Édipo (1957), O Homúnculo (1965), O Encoberto (1969), Erros meus, má fortuna, amor ardente (1981), A Pécora (1983). Ensaio: Poesia de arte e realismo poético (1958), Uma estátua para Herodes (1974). Obras várias: Descobri que era Europeia (1951 – viagens), Não Percas a Rosa (1978 – diário), A questão académica de 1907 (1962), Antologia da Poesia Erótica e Satírica (1966), Cantares Galego-Portugueses (1970), Trovas de D. Dinis (1970), A Mulher (1973), O Surrealismo na Poesia Portuguesa (1973), Antologia da Poesia Portuguesa no Período Barroco (1982), A Ilha de São Nunca (1982). AO AMOR A ilha me perdeu, sou de nenhuma.

Saudade-amor de mim, pedra que móis

Meu trigo que ceifei por outros sóis

Onde o suor não se evapora em bruma. Sou valquíria que escolhe os seus heróis.

Minha paixão sou eu. Não me consuma

Outra paixão, amor. Bebo uma a uma

As gotas do veneno com que dóis. Se as ilhas fossem gente, eu era o Pico,

De coração só feito de mistérios

E os longes das paisagens onde fico. Das arribas do ser, a vida tomba

E os amores do Amor a morte fere-os.

Não libertem por mim nenhuma pomba.

AUTO-RETRATO ALEXANDRINO

Eu nunca fui na vida, eu nunca fui menina:

Impura sim. Eu sou a imaculada impura.

Não vesti tafetás nem chitas de candura

Nem quis vencer jamais esta invencível sina. Foi sã minha poesia, e foi também perjura

Como uma flor-de-lis entre ascos de latrina.

Cantei ainda cedo a loa vespertina.

Se há Deus, vou-Lhe a caminho, e sinto-me segura. Por ódio ou por amor, chamem-me louca ou bela.

Sinto a inveja e o ciúme em modos de homenagem:

Se tenho de aceitá-la, eu não me nego a ela. Fui rainha de mim, de versos e de prosas,

E só a mim também honrei em vassalagem.

Cada espinho que fere é um sinal de rosas. Natália Correia

In DIMENSÃO ENCONTRADA Comentários: (0) Posted by assismachado at 08:34 PM

A TRIBUNA DOS POETAS 16 ORAÇÃO BUCÓLICA Por Ângelo Rodrigues

Possuir

as águas dos regatos,

as flores dos campos...

sublimar a todos os céus

uma oração bucólica. Saborear

incensos e cheiros silvestres,

a luz do sol namorando a manhã,

o gnomo do bosque a sorrir só para mim...

sublimar a todos os céus

uma oração bucólica. Acariciar

os frutos das árvores de ninguém,

a lã das ovelhas de todos os rebanhos do Homem,

as penas dos pássaros que sabem de alguma Liberdade...

sublimar a todos os céus

uma oração bucólica. Quedar-nos-emos

ao bucolismo do mundo.

Queremos reencarnar na matéria desta oração:

no possuir, no saborear, no acariciar.

Ângelo Rodrigues

In UM BAILADO NO CENTRO DA ALMA

Editorial Minerva Comentários: (0) Posted by assismachado at 03:52 PM

A TRIBUNA DOS POETAS 15 O TEU SORRISO Por Júlio Roberto

É a coisa mais linda

que anda no ar! Ele é cascata, é sonho, é luar.

Ele é búzio e semente de flor. Borboleta que voa,

erva de Verão,

fonte de ternura,

cor do teu olhar. Ah, o teu sorriso... Nuvem que passa,

onde eu subo

e atiro serpentinas

para o ar. Rio que vai,

de noite e de dia,

correndo para o mar. Ah, o teu sorriso... É a sabedoria de saber amar! ...

Júlio Roberto

In O JARDIM DO POETA

Edições ITAU Comentários: (0) Posted by assismachado at 03:48 PM

ILUSTRES POETISAS 4 - FLORBELA ESPANCA Florbela de Alma Conceição Espanca (1894-1930) nasceu em Vila Viçosa e faleceu em Matosinhos. Estudou em Évora, onde concluiu em 1917 o curso liceal, matriculando-se na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa. É por essa altura que publica as suas primeiras poesias. Tendo casado várias vezes e tendo sido em todas elas infeliz, começou a consumir estupefacientes. Só depois da sua morte é que a poetisa viria a ser conhecida do grande público, tendo contribuído para isso a publicação de Charneca em Flor (1930) pelo professor italiano Guido Batelli. Das suas obras destacam-se: Livro de Mágoas (1919), Livro de Sóror Saudade (1923), Charneca em Flor (1930), Reliquae (1931), A Máscara do Destino (1931) e Dominó Negro (contos, 1931).

Na Enciclopédia Larousse, esta poetisa é definida como «parnasiana, de intenso acento erótico feminino, sem precedentes na Literatura Portuguesa. A sua obra lírica, iniciada em 1919, com o Livro das Mágoas, antecipa em seu meio a emancipação literária da mulher».

CHARNECA EM FLOR Enche o meu peito, num encanto mago,

O frémito das coisas dolorosas...

Sob as urzes queimadas nascem rosas...

Nos meus olhos as lágrimas apago... Anseio! Asas abertas! O que trago

Em mim? Eu oiço bocas silenciosas

Murmurar-me as palavras misteriosas

Que perturbam meu ser como um afago! E, nesta febre ansiosa que me invade,

Dispo a minha mortalha, o meu bruel,

E já não sou, Amor, Soror Saudade... Olhos a arder em êxtases de amor,

Boca a saber a sol, a fruto, a mel:

Sou a charneca rude a abrir em flor!

LÁGRIMAS OCULTAS Se me ponho a cismar em outras eras

Em que ri e cantei, em que era querida,

Parece-me que foi noutras esferas,

Parece-me que foi numa outra vida... E a minha triste boca dolorida,

Que dantes tinha o rir das primaveras,

Esbate as linhas graves e severas

E cai num abandono de esquecida! E fico, pensativa, olhando o vago...

Toma a brandura plácida dum lago

O meu rosto de monja de marfim... E as lágrimas que choro, branca e calma,

Ninguém as vê brotar dentro da alma!

Ninguém as vê cair dentro de mim!

AMAR Eu quero amar, amar perdidamente!

Amar só por amar: Aqui...além...

Mais Este e Aquele, o Outro e toda a gente...

Amar! Amar! E não amar ninguém! Recordar? Esquecer? Indiferente!...

Prender ou desprender? É mal? É bem?

Quem disser que se pode amar alguém

Durante a vida inteira é porque mente! Há uma Primavera em cada vida:

É preciso cantá-la assim florida,

Pois, se Deus nos deu voz, foi pra cantar! E se um dia hei-de ser pó, cinza e nada

Que seja a minha noite uma alvorada,

Que me saiba perder... pra me encontrar...

Florbela Espanca

In CHARNECA EM FLOR

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A TRIBUNA DOS POETAS 14 MELANCOLIA * Por Luís Gonzaga Tavares Na ventosa noite da minha existência

Tudo é vago e informe, tudo é negro breu.

Só a dor, na fúria da sua própria essência,

Passa à desfilada, rubra de violência,

A uivar na treva que amortalha o céu. Nem a lua brilha, nem a fonte chora,

Só o mar troveja nas imensidões !

No lugar da esperança um suspiro mora,

Jamais o sol rompe nas franjas da aurora,

Cai a neve em flocos de desilusões !

Luís Gonzaga Tavares

In SERENATA À CHUVA * 1º Prémio de poesia livre nos Jogos Florais

da Academia de Santo Amaro, de Lisboa. Comentários: (0) Posted by assismachado at 07:05 PM

A TRIBUNA DOS POETAS 13 NADA SOBROU ... Por Isabel Ribeiro

Mataste todos os meus sentimentos.

Mataste toda a minha sensibilidade.

Tu, nunca me mataste !

Foi apenas paixão

O que sentiste por mim !

Retalhaste o meu coração,

Com o teu condão,

De homem leviano !

E um dia,

Quando olhares para trás ...

Verás a minha sombra

Perdida na bruma,

No nevoeiro

Do teu triste cativeiro

Que não te largará jamais !

E, se acaso voltares

Numa outra vida ...

Ficarei aguardando a tua volta ! Isabel Ribeiro

In FARRAPOS ... SÓ FARRAPOS Comentários: (0) Posted by assismachado at 06:47 PM

ILUSTRES POETISAS 3 - SOROR VIOLANTE DO CÉU Soror Violante do Céu (1602-1693) era uma freira dominicana que na vida secular se chamou Violante Montesino. Professou no Convento de Nossa Senhora do Rosário da Ordem de S. Domingos em 1630. Foi uma das poetisas mais consideradas do seu tempo, sendo conhecida pelos meios culturais da época como Décima Musa e Fénix dos Engenhos Lusitanos. É hoje um dos máximos expoentes da poesia barroca em Portugal. Aos 17 anos celebrizou-se ao compor uma comédia para ser representada durante a visita de Filipe II a Lisboa. Além do volume Rimas publicado em Ruão em 1646 e do Parnaso Lusitano de Divinos e Humanos Versos, publicado em Lisboa em 1733 em dois volumes, tem várias composições poéticas na Fénix Renascida.

Se apartada do corpo a doce vida,

Domina em seu lugar a dura morte,

De que nasce tardar-me tanto a morte

Se ausente da alma estou, que me dá vida?

Não quero sem Silvano já ter vida,

Pois tudo sem Silvano é viva morte,

Já que se foi Silvano, venha a morte,

Perca-se por Silvano a minha vida.

Ah! suspirado ausente, se esta morte

Não te obriga querer vir dar-me vida,

Como não ma vem dar a mesma morte?

Mas se na alma consiste a própria vida,

Bem sei que se me tarda tanto a morte,

Que é porque sinta a morte de tal vida.

Será brando o rigor, firme a mudança,

Humilde a presunção, vária a firmeza,

Fraco o valor, cobarde a fortaleza,

Triste o prazer, discreta a confiança;

Terá a ingratidão firme lembrança,

Será rude o saber, sábia a rudeza,

Lhana a ficção, sofística a lhaneza,

Áspero o a mor, benigna a esquivança;

Será merecimento a indignidade,

Defeito a perfeição, culpa a defensa,

Intrépito o temor, dura a piedade,

Delito a obrigação, favor a ofensa,

Verdadeira a traição, falsa a verdade,

Antes que vosso amor meu peito vença.

Que suspensão, que enleio, que cuidado

É este meu, tirano deus Cupido?

Pois tirando-me enfim todo o sentido

Me deixa o sentimento duplicado.

Absorta no rigor de um duro fado,

Tanto de meus sentidos me divido,

Que tenho só de vida o bem sentido

E tenho já de morte o mal logrado.

Enlevo-me no dano que me ofende,

Suspendo-me na causa de meu pranto

Mas meu mal (ai de mim!) não se suspende.

Ó cesse, cesse, amor, tão raro encanto

Que para quem de ti não se defende

Basta menos rigor, não rigor tanto.

Soror Violante do Céu In PARNASO LUSITANO Comentários: (1) Posted by assismachado at 12:44 PM

A TRIBUNA DOS POETAS 12 OS SEIS ANOS DO ARAUTO Por Armando David A os seis anos, quem diria R azão que o tempo perdura, A divulgar poesia U m “Arauto” de cultura. T ens, por toda a criatura O sentido e galhardia, D e dar azo a ter figura E a todos, alegria. B em hajas, p’ lo tempo fora, O teu desígnio se implora C om dinamismo divino. A mensagem que anuncias, G oze leais simpatias E m prol de Elmano Sadino. Armando David Acróstico comemorativo, Teatro de D. Maria II Comentários: (0) Posted by assismachado at 11:21 AM

TRIBUNA DOS POETAS 11 PENOSA CONDIÇÃO Por Eloy do Amaral

Meu doce Amor, agora, amargurado,

Por minha triste ausência tão forçada,

Eu sonho-te, Marília idolatrada,

Num Mundo bem cruel desencantado. Que me serviu viver e ter amado

Com fervor e paixão tão exaltada,

Se a alma, insofrida e perturbada,

Sente, profunda, a dor de abandonado. Que hórrida existência sem ventura

Daquele que só ama quem desama

E transforma o Amar em desventura. Penosa condição a de quem ama

Sentindo bem na alma essa tristura

Que tira a luz da vida e sua chama.

F. Eloy do Amaral Comentários: (0) Posted by assismachado at 11:12 AM

ILUSTRES POETISAS 2 - SOROR MARIA DO CÉU

Soror Maria do Céu (1658-1753), tendo professado numa ordem religiosa, foi uma poetiza barroca de sabor quinhentista que cantou a efemeridade da vida. Mendes dos Remédios, em Escritoras de Outros Tempos (Coimbra, 1914), elaborou um pequeno estudo sobre esta autora. Obras: A Preciosa, Alegoria Moral(Lisboa, 1731-1733), publicada sob o criptónimo de Marina Clemência; Enganos do Bosque, Desenganos do Rio, em que a Alma Entra Perdida e Sai Desenganada (Lisboa, 1736); Aves Ilustradas em Avisos para as Religiosas Servirem os Ofícios dos seus Mosteiros, Lisboa, 1734). CIDRA, CIÚME

É ciúmes a Cidra,

E indo a dizer ciúmes disse Hidra,

Que o ciúme é serpente,

Que espedaca seu louco padecente,

Dá-Ihe um cento de amor o apelido,

Que o ciúme é amor, mas mal sofrido,

Vé-se cheia de espinhos e amarela,

Que piques e desvelos vão por ela,

Já do forno no lume,

Cidra que foi zelo, se não foi ciúme,

Troquem, pois, os amantes e haja poucos,

Pelo zelo de Deus, ciúmes loucos.

MORTAL DOENÇA

Na febre do amor-próprio estou ardendo,

No frio da tibieza tiritando,

No fastio ao bem desfalecendo,

Na sezão do meu mal delirando,

Na fraqueza do ser, vou falecendo,

Na inchação da soberba arrebentado,

Já morro, já feneço, já termino,

Vão-me chamar o Médico Divino.

Na dureza do peito atormentada,

Na sede dos alívios consumida,

No sono da preguiça amadornada,

No desmaio à razão amortecida,

Nos temores da morte trespassada,

No soluço do pranto esmorecida,

Já morro, já feneço, já termino,

Vão-me chamar o Médico Divino.

Na dor de ver-me assim, vou desfazendo,

Nos sintomas do mal descoroçoando,

Na sezão de meu dano estou tremendo

No ris como da doença imaginando,

No fervor de querer-me enardecendo,

Na tristeza de ver-me sufocando,

Já morro, já feneço, já termino,

Vão-me chamar o Médico Divino.

Vou ao pasmo do mal emudecendo,

À sombra da vontade vou cegando,

Aos gritos do delito emouquecendo,

No tempo sobre tempo caducando,

Nos erros do caminho entorpecendo,

Na maligna da culpa agonizando,

Já morro, já feneço, já termino,

Vão-me chamar o Médico Divino.

Soror Maria do Céu

In ESCRITORAS DE OUTROS TEMPOS Comentários: (1) Posted by assismachado at 12:06 AM

A TRIBUNA DOS POETAS - 10 VOAREMOS JUNTOS Por Humberto de Castro

Voaremos juntos por esse mundo fora

com as asas do nosso desejo

e chegaremos a uma terra distante

onde nenhum ser humano chegou antes. Tudo florirá só para nós,

e as aves e os riachos só para nós cantarão. Aí nascerão os nossos filhos

longe deste “nosso” mundo de podridão,

de mentiras e de egoísmos,

de misérias e de guerras! E aí esqueceremos tudo

vivendo só para o futuro

esse futuro de paz

que nós construiremos! Voaremos juntos por esse mundo fora

com as asas do nosso encantamento !

Humberto de Castro

In POEMAS DESCALÇOS Comentários: (0) Posted by assismachado at 12:17 PM

A TRIBUNA DOS POETAS - 9 BOCAGE II Por Félix Heleno

Mas nem a cova fria e bem concreta

O conseguiu calar perpetuamente,

Não há terra que devore o transcendente,

Nem há vermes que devorem o poeta. Não há fim num horizonte em linha recta,

No futuro, no passado e no presente;

Há-de haver sempre um Bocage irreverente

Enquanto houver no mundo uma caneta. Enquanto o sol nascer no horizonte,

Enquanto houver um nome de Malhoa,

Enquanto Deus nos der alento e voz. Há-de ser Camões em verso a nossa fonte

E enquanto houver um nome de Pessoa

Haverá sempre um Bocage em todos nós.

Félix Heleno

In GRÃO DE PÓ EM SONHO ETERNO Comentários: (0) Posted by assismachado at 12:14 PM

ILUSTRES POETISAS 1 - MARQUESA DE ALORNA D. Leonor de Almeida Portugal Lorena e Lencastre, Marquesa de Alorna (1750-1839) nasceu em Lisboa. Tendo o seu pai sido preso, acusado de participar no atentado ao rei D. José, Leonor, de oito anos, entrou com sua irmã para o convento de Chelas, vindo somente a sair após a morte do Marquês de Pombal. Casou com o Conde de Oeynhausen e viajou por Viena, Berlim e Londres. Enviuvou aos 43 anos de idade, vivendo com algumas dificuldades económicas, dificuldades estas que não a impediram de se dedicar à literatura. Adoptou na Arcádia o nome de Alcipe. Traduziu a Arte Poética de Horácio e o Ensaio sobre a Crítica de Pope. É considerada uma poetisa pré-romântica. As suas obras foram publicadas em 1844 em seis volumes com o título genérico de Obras Poéticas. ALCIPE DA NOVA ARCÁDIA Eu cantarei um dia da tristeza

por uns termos tão ternos e saudosos,

que deixem aos alegres invejosos

de chorarem o mal que lhes não pesa. Abrandarei das penhas a dureza,

exalando suspiros tão queixosos,

que jamais os rochedos cavernosos

os repitam da mesma natureza. Serras, penhascos, troncos, arvoredos,

ave, ponte, montanha, flor, corrente,

comigo hão-de chorar de amor enredos. Mas ah! que adoro uma alma que não sente!

Guarda, Amor, os teus pérfidos segredos,

que eu derramo os meus ais inutilmente. NO LIMIAR DO ROMANTISMO Sozinha no bosque

com meus pensamentos.

calei as saudades,

fiz trégua aos tormentos. Olhei para a Lua,

que as sombras rasgava,

nas trémulas águas

seus raios soltava. Naquela torrente

que vai despedida,

encontro, assustada,

a imagem da vida. Do peito, em que as dores

já iam cessar,

revoa a tristeza,

e torno a pensar.

Marquesa de Alorna

In OBRAS POÉTICAS Comentários: (0) Posted by assismachado at 11:41 AM

PEDAGOGIA DA ARTE POÉTICA - I ARCADISMO LITERÁRIO Arcadismo em Portugal (1756-1825) Com a fundação da Arcádia Lusitana, em 1756, iniciou-se uma nova etapa literária em Portugal, caracterizada pela rebeldia contra o Barroco. Sua divisa - inutilia truncar - atestava o desejo de repúdio às coisas inúteis, característica marcante da poesia barroca.

A palavra arcádia, que dá origem a Arcadismo, é grega e designa uma sociedade literária típica da última fase do Classicismo, cujos membros adotam nomes poéticos pastoris, em homenagem à vida simples dos pastores, em comunhão com a natureza

Na Itália essa influência assumiu feição particular. Conhecida como Arcadismo, inspirava-se na lendária região da Grécia antiga. Segundo a lenda, a Arcádia era dominada pelo deus Pari e habitada por pastores que, vivendo de modo simples e espontâneo, se divertiam cantando, fazendo disputas poéticas e celebrando o amor e o prazer Simplicidade da arte renascentista A Arcádia Lusitana teve por base a Arcádia Romana, fundada na Itália em 1690, cuja tentativa foi restabelecer a simplicidade da arte renascentista e antiga. A Arcádia Lusitana estiveram ligados, entre outros, os poetas Antônio Dinis da Cruz e Silva (um de seus fundadores), Pedro Antônio Correia Garção, também doutrinador do movimento

.

NOVA ARCÁDIA Em 1790, foi fundada a Academia de Belas Artes, logo após denominada Nova Arcádia que, três anos mais tarde, publicava algumas obras poéticas de seus sócios, sob o título Almanaque das Musas. Os membros mais importantes dessa associação foram o brasileiro Domingos Caldas Barbosa, famoso nos ambientes aristocráticos por sua obra lírica, o poeta satírico Padre Agostinho de Macedo e o poeta lírico e satírico Manuel Maria Barbosa du Bocage. Arcadismo - A linguagem árcade A linguagem árcade é a expressão das idéias e dos sentimentos do artista do século XVIII. Seus temas e sua construção procuram adequar-se à nova realidade social vivida pela classe que a produzia e a consumia: a burguesia. Arcadismo - Características Além das características da linguagem árcade estudadas, outras merecem destaque:

- fugere urbem (fuga da cidade): influenciados pelo poeta latino Horácio, os árcades defendiam o bucolismo como ideal de vida, isto é, uma vida simples e natural, junto ao campo, distante dos centros urbanos. Tal princípio era reforçado pelo pensamento do filósofo francês Jean Jacques Rousseau, segundo o qual a civilização corrompe os costumes do homem, que nasce naturalmente bom.

- aurea mediocritas (vida medíocre materialmente mas rica em realizações espirituais): outro traço presente advindo da poesia horaciana é a idealização de uma vida pobre e feliz no campo, em oposição à vida luxuosa e triste na cidade

- idéias iluministas: como expressão artística da burguesia, o Arcadismo veicula também certos ideais políticos e ideológicos dessa classe, no caso, idéias do Iluminismo. Os iluministas foram pensadores que defenderam o uso da razão, em contraposição à fé cristã, e combateram o Absolutismo. Embora não sejam a preocupação central da maioria dos poetas árcades, idéias de liberdade, justiça e igualdade social estão presentes em alguns textos da época.

- convencionalismo amoroso: na poesia árcade, as situações são artificiais; não é o próprio poeta quem fala de si e de seus reais sentimentos. No plano amoroso, por exemplo, quase sempre é um pastor que confessa o seu amor por uma pastora e a convida para aproveitar a vida junto à natureza. Porém, ao se lerem vários poemas, de poetas árcades diferentes, tem-se a impressão de que se trata sempre de um mesmo homem, de uma mesma mulher e de um mesmo tipo de amor. Não há variações emocionais. Isso ocorre devido ao convencionalismo amoroso, que impede a livre expressão dos sentimentos, levando o poeta a racionalizá-los. Ou seja, o que mais importava ao poeta árcade era seguir a convenção, fazer poemas de amor como faziam os poetas clássicos, e não expressar os sentimentos. Além disso mantém-se o distanciamento amoroso entre os amantes, que já se verificava na poesia clássica. A mulher é vista como um ser superior, inalcançável e imaterial.

- carpe diem: o desejo de aproveitar o dia e a vida enquanto é possível tema já bastante explorado pelo Barroco - é retomado pelos árcades e faz parte do convite amoroso.

Pesquisa e organização de

Assis Machado Comentários: (0) Posted by assismachado at 06:31 PM

A TRIBUNA DOS POETAS - 8 DOCE CONTEMPLAR Por Eugénia Chaveiro Olhando as estrelas

Fui-lhes perguntar

Coisas que não entendo

Se estando tão alto

Conseguem ajudar

O mundo a entendê-las

Subindo um planalto

A terra vão vendo

Que em toda a claridade

Há uma imensidão

Para ser entendida

E que só há felicidade

Quando esta é vivida

Com a alegria do coração !

Eugénia Chaveiro

In DEGRAU PARA UM HORIZONTE Comentários: (0) Posted by assismachado at 06:09 PM

A TRIBUNA DOS POETAS - 7 A SAUDADE Por Mª de Lourdes Agapito Atravesso uma parede

Encontro a noite,

Afago a Saudade,

Fecho a porta

E ficou aqui !

Mª de Lourdes Agapito Comentários: (0) Posted by assismachado at 06:06 PM

A AVENTURA DA NOVA ARCÁDIA A Academia literária Nova Arcádia foi fundada no ano de 1790 e logo que a fama de improvisador de Bocage lhe chegou ao conhecimento, a Academia convidou-o para sócio. As sessões, presididas pelo padre mulato Domingos Caldas Barbosa ( o "Lereno" ), cantor de lânguidas modinhas brasileiras acompanhadas à guitarra ou à viola, muito em voga nos salões da época, realizavam-se em casa do Conde de Pombeiro ( o "fofo conde", segundo a irónica expressão de Bocage ) ou do Conde de Vimioso, outro aristocrático mecenas.

Eram essas as famosas "quartas feiras de Lereno", preenchidas com chá, torradas e bolinhos, canto, recitação e doses maciças de elogio mútuo, no meio de muita mesquinhez e artifício. Bocage, que adoptara o sobrenome poético de Elmano Sadino, retratou essas reuniões insípidas com a ironia e a graça de que tão bem conhecia o segredo e foi implacável nos seus ataques aos sócios da Arcádia. Um soneto contra ela, sobretudo, agita-a internamente, fazendo rir os botequins: Preside o neto da rainha Ginga

A corja vil, aduladora insana;

Traz sujo moço amostras de chanfana;

Em copos desiguais se esgota a pinga. Vem pão, manteiga e chá, tudo à catinga,

Massa, farinha e turba americana

E o orangotango a corda à banza abana,

Com gestos e vibagens de mendiga. Um bando de comparsas logo acode,

Do fofo Conde ao novo Talaveiras;

Improvisa, berrando, o rouco bode. Aplaudem de contínuo as frioleiras

Belmiro em ditirambo, o ex-frade em ode

- Eis aqui do Lereno as quartas-feiras. Tal sátira explodiu como uma bomba e muitas se lhe seguiram atingindo contundentemente alguns dos membros da Arcádia entre eles o Padre Caldas, Curvo Semedo, o abade de Almoster e outros que também não o poupam às mais violentas críticas.

José Agostinho de Macedo dirige-lhe versos de grande combate atingindo o seu modo de vida e a sua fama de boémio. Tu és vadio, és magro, és pobre, és feio,

E nada disto em ti reprovo ou noto;

Mas posso emudecer quando comtemplo

Que queres ser um déspoto em poesia? Membro desta associação durante três anos, Elmano acabou por se saturar daquela atmosfera de mediocridade e devido às suas sátiras mordazes aos membros da Arcádia, acabou por dela ser expulso. A guerra verbal, de enorme violência, continuou impiedosa por algum tempo, para grande gáudio do público, ávido de sensacionalismo. Entretanto a Arcádia, coberta de ridículo e de sarcasmo acabou por sucumbir, enquanto por seu lado, Bocage publicava em 1791 o 1º volume das suas Rimas.

Pesquisa de

Assis Machado Comentários: (0) Posted by assismachado at 05:44 PM

BOCAGE UMA HISTÓRIA SOFREDORA 2 A pena Satírica de Bocage não atacou apenas os membros e as regras estilísticas da Nova Arcádia. Somam-se a essa lista os poderes da Inquisição, o despotismo da Monarquia portuguesa e o fanatismo religioso.

O pensamento irreverente e liberal de Bocage, que se traduzia em versos aplaudidos e repetidos pelo povo, faz com que o poeta seja preso após a divulgação da "Epístola a Marília" ou "Pavorosa Ilusão da Eternidade" e de um soneto dedicado a Napoleão, obras essas, consideradas uma ameaça à segurança do Estado e da Igreja. Bocage é conduzido, em 1797, à prisão do Limoeiro. Nesse mesmo ano é transferido para o Hospício de Nossa Senhora das Necessidades onde o Frei Joaquim de Foios está incumbido de doutrinar o poeta.

Assim foi o fim do primeiro Bocage. No entanto, após a prisão nos cárceres da Inquisição, surge um outro Bocage que agora está reconciliado com os princípios religiosos e com os companheiros da Nova Arcádia, a quem ironizou. Esse novo Bocage é considerado por muitos estudiosos como um poeta menor que o primeiro. Isso se dá porque o Bocage que ficou na memória do povo é o poeta boémio, satírico e erótico que frequentava, principalmente, o bar do Nicola, que fazia uma poesia, que rompia com os padrões neoclássicos e que popularizou-se de tal modo que chegou ao Brasil e ainda permanece vivo em um imenso anedotário, de bom e mau gosto, que lhe é atribuído.

Depois de libertado, Bocage, para sustentar sua irmã, Maria Francisca, que está desamparada, passa a exercer atividades de tradutor e tarefas similares. "Já Bocage não sou!... À cova escura

Meu estro foi parar desfeito em vento...

(...)

Outro Aretino fui... A santidade manchei!...

Oh! se me creste, gente ímpia,

Rasga meus versos, crê na eternidade" Cabe aqui uma pergunta: Será que o poeta, após cumprir sua pena, realmente arrependeu-se?

Alguns de seus sonetos nos mostram que sim. No entanto, seus hábitos boémios, que ao longo dos anos debilitaram a saúde e que o levam a morte, vitíma de um aneurisma, em 21 de dezembro de 1805, não mudaram totalmente e isso nos dá a entender que não.

Arrependido ou não, Bocage, devido à perspectiva de morte que se aproximava, torna-se emotivo, sensível, e mergulha sua poesia em um profundo subjectivismo. Dessa forma, Bocage despe-se totalmente do fingimento Neoclássico e prepara o terreno para o advento do Romantismo. "Pavorosa ilusão da Eternidade,

Terror dos vivos, cárcere dos mortos;

D'almas vãs sonho vão, chamado Inferno,

Sistema da política opressora

Freio que a mão dos déspotas, dos bonzos,

Forjou para boçal credulidade;

Dogma funesto, que o remorso arreigas

Nos ternos corações, e paz lhe arrancas;

Dogma funesto, detestável crença,

Que envenenas delícias inocentes

Tais como aquelas que no céu se fingem!

Fúrias, Cerastes, Dragos Centimanos

Perpétua escuridão, perpétua chama

Incompatíveis produções do engano,

Do sempiterno horror terrível quadro,

(Só terrível aos olhos da ignorância):

Não, não me assombram tuas negras cores;

Dos homens o pincel e a mão conheço.

Trema de ouvir sacrílego ameaço

Quem dum Deus, quando quer, faz um tirano;

Trema a superstição; lágrimas, preces,

Votos, suspiros arquejando espalhe,

Cosa as faces co'a terra, os peitos fira,

Vergonhosa piedade, inútil vénia

Espere às plantas do impostor sagrado,

Que ora os infernos abre, ora os ferrolha...."

Pesquisa de

Assis Machado

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A TRIBUNA DOS POETAS - 6 FONTE INESGOTÁVEL Por Graciett Vaz

Alentejo, doce fonte inesgotável,

Onde a minha musa vai beber

Quando ganha asas de vento afável

Refresca-se no condão do teu saber. Quase sempre, à tarde, ao escurecer

Embevecida no teu cântico adorável

Em teus braços costumam adormecer,

E julga-se num campo invejável. Sonhando, imagina-se criança,

Então, solta os cabelos ao vento,

Salta, salta e ganha confiança. P´la manhã, quando o sol desponta

E nas silvas a toutinegra já canta

Acorda feliz e saceia a garganta.

Graciett Vaz Comentários: (0) Posted by assismachado at 12:07 PM

BOCAGE UMA HISTÓRIA SOFREDORA 1 A 15 de 0utubro de 1765, nasce em Setúbal o poeta Manuel Maria Barbosa du Bocage. Ele é o quarto dos seis filhos do advogado José Luís Soares Barbosa e de Maria Joaquina Lestof du Bocage.

Desde cedo Bocage entra em contato com as letras. Aos oito anos escreve e lê com certa desenvoltura e logo surgem as primeiras composições, que superam os dotes artísticos do pai, que também versejava. "Das faixas infantis despido apenas,

Sentia o sacro fogo arder na mente;

Meu terno coração inda inocente

Iam ganhando as plácidas Camenas." Depois da morte da mãe, quando o poeta tinha apenas dez anos, Bocage é mandado estudar com D. João de Medina, com quem aprende Latim, língua essa que lhe seria muito útil nas posteriores atividades como tradutor. Bocage aprende ainda francês com o pai e italiano sendo, nessa língua, segundo alguns biógrafos, autodidacta.

Por volta de 1781 Bocage foge de casa e assenta praça, como soldado, no regimento de Setúbal. Dois anos depois ingressa no corpo da Marinha Real e vai para Lisboa onde entra em contato com a boémia e a vida intelectual desse lugar. O Bocage dessa época é um poeta atraído pelos clássicos gregos e também pelos clássicos da sua terra, como por exemplo: Camões, que era, como o próprio nos mostra no fragmento do soneto abaixo, o seu modelo. "Camões, grande Camões, quão semelhante

Acho teu fado ao meu, quando os cotejo!

Igual causa nos fez perdendo o Tejo

Arrostar co sacrílego gigante: Modelo meu tu és... Mas, oh tristeza!...

Se te imito nos transes da ventura,

Não te imito nos dons da Natureza." Os versos de Bocage, nessa fase, estão presos aos valores literários da época. Eles são corretíssimos, ou seja, perfeitos na rima e na métrica, porém, de pouca originalidade e espontaneadade. O próprio Bocage criticou, anos mais tarde, a sua falta de criatividade, como pode ser observado no fragmento do soneto abaixo: "Incultas produções da mocidade

Exponho a vossos olhos, ó leitores:

Vede-as com mágoa, vede-as com piedade,

Que elas buscam piedade, e não louvores:

(...)

E se entre versos mil de sentimento

Encontrardes alguns, cuja aparência

Indique festival contentamento, Crede, ó mortais, que foram com violência

Escritos pela mão do Fingimento,

Cantados pela voz da Dependência." Ainda nesse período, sua poesia está repleta de Marílias, Fílis, Nises e tantas outras ninfas que se transformam em pastoras e vivem sob o clima pastoril que caracterizou as produções Árcades.

A ninfa de maior destaque é Gertrúria, devido a quantidade de versos a ela dedicados, acredita-se que ela tenha sido o maior dos amores do poeta. ( Continua ) Pesquisa de

Assis Machado Comentários: (0) Posted by assismachado at 11:07 AM

A TRIBUNA DOS POETAS - 5 O FOGO DA PAIXÃO

Por Maria Celeste Reis

Vive o mundo desesperado

Sem encontrar explicação

Porque terá de passar

Pelo fogo da Paixão. Ninguém a ele escapa,

Nem às suas emoções,

Tanto nos mostra o céu,

Como a lava dos vulcões. De que vale ser controlado

Para que serve a precaução?

Um coração apaixonado

É corrente de alta tensão... Nesta impetuosa corrente

Quem lhe pensa resistir ?

Arrasta com ela toda a gente

Do Altar o Santo faz cair... Tantas são as subtilezas

Ao redor das sensações,

Só se conhecem certezas

Ao escorregar nas traições... Bem poucas são as venturas

Comparadas às labaredas,

Quanto maiores são as alturas

Maiores são as nossas quedas... Mas... quem controla a paixão ?

Se ela surge, quem resiste ?

Despedaça qualquer coração

Mas... desistir, quem desiste ? Se nos recusamos guiar

P’ la luz da nossa candeia,

teremos sempre de escutar

o gargalhar da sereia. E essa voz cativante

Faz-se ouvir a cada instante

Pois jamais ela emudece...

Mas... se à nossa frente aparece

Não há outra solução,

Ou se cai ou se enlouquece

Ou se morre de paixão. Maria Celeste Reis Comentários: (0) Posted by assismachado at 04:42 PM

A TRIBUNA DOS POETAS - 4 MAGIA DA SAUDADE

Por Lurdes Ferreira

Não quero perder a esperança, de te ter,

Na sombra de uma gruta, na aragem do mar,

No céu, na lua, no horizonte eu viver,

Pois nunca deixarei de te amar. Não quero perder a esperança, de sentir,

Tua alma, junto à minha solidão,

No silêncio eu procuro, redimir,

O sabor, que eu sinto, da paixão ... Quero ser como as nuvens fugidias,

A seguirem seu caminho, devagar,

Queria também ter asas luzidias,

Ter o infinito e te abraçar... Ser anjo, e descobrir o Universo,

No silêncio total da Eternidade,

Nessa distância louca, me disperso,

Vivendo, na magia da saudade !

Lurdes Ferreira Comentários: (0) Posted by assismachado at 04:38 PM

A LENDA BOCAGEANA NA TRADIÇÃO POPULAR « TRADIÇÃO E MENTALIDADE, UMA ESTÓRIA REAL » Se Camões foi o poeta dos intelectuais, Bocage foi adoptado pelo povo português como porta-voz das suas expectativas, ambições e reivindicações.

Ao longo do século XIX e da primeira metade do século XX, foi-se sedimentando um anedotário que tinha o escritor como principal interveniente. Por outro lado, as transgressões aos valores instituídos também eram de imediato identificadas com o nome de Bocage. Deste modo, foi-se tecendo uma lenda que continua ainda a ser alimentada.

A personalidade e a obra do poeta foram retratadas em dezenas de biografias, em oito peças de teatro, canções, múltiplos poemas, bem como em dois filmes - um português, dirigido por Leitão de Barros, em 1936, e um brasileiro, de Djalma Limongi, em 1998. Os artistas plásticos também têm querido homenagear a figura deste poeta setubalense. Entre aqueles que contribuíram com óleos, desenhos, gravuras ou caricaturas para o imortalizar, contam-se Júlio Pomar, Lima de Freitas, Vasco, Fernando Santos, Júlio Gil e Luciano Santos.

Em 1998, foi fundado, em Setúbal, o Centro de Estudos Bocageanos, que tem como escopo divulgar a obra e dinamizar a investigação acerca de Bocage. Foram realizadas por esta associação várias sessões de poesia, tendo ainda sido publicados uma colecção de postais, que reconstitui a prisão do escritor, e um livro que inclui as traduções de fábulas, bem como as de La Fontaine, por si escrupulosamente traduzidas. A CIGARRA E A FORMIGA Adaptação das Fábulas de Fontaine, por Bocage

Tendo a cigarra em cantigas

passado todo o Verão

achou-se em extrema penúria

na tormentosa estação. Não lhe restando migalha

que trincasse, a tagarela

foi valer-se da formiga,

que morava perto dela. Rogou-lhe que lhe emprestasse,

pois tinha riqueza e brio,

algum grão com que manter-se

Até voltar o aceso estio. - Amiga, diz a cigarra,

prometo, à fé d’ animal,

pagar-vos antes d’ Agosto

os juros e o principal. A formiga nunca empresta,

nunca dá, por isso ajunta.

- No Verão, em que lidavas ?

à pedinte ela pergunta. Responde a outra: - eu cantava,

noite e dia e a toda a hora !

- Ah, bravo! responde a formiga,

- Cantavas ? Pois dança agora !

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ANEDOTÁRIO BOCAGEANO O ANEDOTÁRIO ATRIBUÍDO A BOCAGE Domingos Caldas, brasileiro famoso pelas modinhas que tangia à viola e ainda pelos seus versos, escreveu uma quadra pouco abonatória para Elmano : "De todos diz mal

O ímpio Manuel Maria

E se de Deus não disse

Foi porque o não conhecia" Acusação gravosa esta para a época, que podia significar um processo inquisitorial. Bocage não se fez rogado e respondeu literalmente: "Dizem que o Caldas glutão

Em Bocage aferra o dente

Ora é forte admiração

Ver um cão morder na gente!" É bem conhecido o carácter irreverente de Bocage. Com efeito, da sua pena contundente saíram sátiras impiedosas, críticas ao modelo de sociedade, ao governo, aos poderosos de uma maneira geral. O novo-riquismo, a mediocridade, as convenções sociais, o clero, os médicos, os avarentos e os literatos, entre outros, também foram objecto da sua observação rigorosa e da sua crítica corrosiva.

Recorde-se que a anemia e a estagnação que caracterizavam a sociedade portuguesa de finais do século XVIII eram um espartilho para uma personalidade que estava muito para além da mentalidade da época. Co-existiam em Bocage a sensibilidade extrema, a ousadia aberta, a percepção aguda da realidade, a emotividade exuberante e o imenso talento. Estes atributos, aliados a um repentismo fulminante e à sua permanente insatisfação relativamente aos valores dominantes e a determinados tabus, fizeram com que entrasse em rota de colisão com o poder, tendo sido preso por crime de lesa majestade e, pouco depois, entregue às malhas mutiladoras da Inquisição. O objectivo era a sua "reeducação". Ao fim de poucos meses, foi libertado pois o perigo de converter alguns frades aos seus ideais era cada vez mais real...

Poder-se-á defender a tese de que Bocage incarnou o inconsciente colectivo do povo português. Ele consubstanciou a voz do povo oprimido mas crítico que compensava com o riso, com a caricatura e com o ridículo a sua legítima insatisfação. A filosofia de vida de Bocage - crítico, ousado, irreverente, boémio, popular, espontâneo - propiciou- lhe uma auréola notável e consequentemente uma legião de admiradores. Comprova-o o facto de a sua personalidade ter sido incensada em mais de cem poemas da autoria de contemporâneos que tiveram o privilégio de com ele conviver.

Em contraponto e como corolário da sua frontalidade, registe-se que, obviamente, não foram poucos os seus detractores que acintosamente o atacaram em sátiras e polémicas que Bocage ia também ciosa e apaixonadamente alimentando.

Tendo em consideração que o povo português encarou Bocage como se de filho seu se tratasse, houve a tendência natural para lhe atribuir a participação activa em ocorrências cómicas, satíricas ou brejeiras. Dir-se-ia que o seu aval tornaria as situações mais credíveis e humorísticas.

Os livros de anedotas cuja autoria é atribuída a Bocage pouco terão a ver com o poeta. Pelo menos nada há escrito do seu punho de carácter anedótico. A tradição oral encarregou-se de ir perpetuando todo este acervo, como se fosse da sua autoria. Resta-nos apenas a filosofia subjacente a muitos destes livros, essa sim Bocageana, como muitos dos seus amigos – Pato Moniz, D. Gastão da Câmara Coutinho, Bingre, entre outros – testemunharam.

É bem verdade que Bocage foi a consciência crítica do povo, como já foi referido. Mas não é menos verdade que houve editores que, para ganharem dinheiro facilmente, instrumentalizaram o seu nome, optando pelo primarismo e pela obscenidade. Confundiram talvez conscientemente erotismo com pornografia, sensualidade com boçalidade, ironia subtil com sarcasmo.

O primeiro livro de anedotas atribuídas a Bocage de que há notícia remonta ao princípio do presente século e está directamente relacionado com a liberalizarão da sociedade portuguesa e com a comemoração do centenário do falecimento do escritor em 1905. A partir desta data, inúmeras edições foram vindo a lume.

De extrema relevância é o facto de a auréola bocageana se ter propagado exuberantemente ao Brasil. Com efeito, actualmente, o poeta tem mais livros à venda naquele país do que em Portugal e está amplamente representado na literatura de cordel brasileira, sendo o herói de aventuras tropicais e mirabolantes que ele não poderia ter protagonizado certamente na sua breve estada na Rua das Violas, no Rio de Janeiro, em 1786, a caminho de Goa.

Com o Vinte Cinco de Abril, Bocage, poeta da Liberdade e do inconformismo, foi sendo cada vez menos o protagonista do anedotário popular. A liberdade de expressão, finalmente readquirida, deslocou o "epicentro" das anedotas para outros intervenientes do nosso quotidiano. Com ampla vantagem para o Bocage sonetista emérito, tradutor rigoroso, sátiro impiedoso, polemista incansável e arauto de uma sociedade em sintonia com os valores mais nobres da natureza humana.

Pesquisa de

Assis Machado

Comentários: (0) Posted by assismachado at 11:27 PM

A TRIBUNA DOS POETAS - 3 QUANDO A SAUDADE FALA

Por Perpétua Matias

A roseira singela,

Rodeada de mil flores,

Vivia num canteiro

Com seus rebentos, seus amores.

Um deles, mudou para outro canteiro,

Mais soalheiro,

Nunca mais aquele jardim visitou.

A roseira singela estava desgostosa,

Esmoreceu, deixou cair a última rosa.

Pediu ao vento e ao luar,

Às estrelas do céu, para a ajudar.

Então por magia lá estava,

Do outro lado do jardim,

E era assim,

Que as saudades matava.

Só por carregar no botão do rebento,

Que não via há tempo,

A roseira singela tinha esperança,

Estava à espera,

Que o seu rebento a visitasse na Primavera.

Numa noite de relento,

Era de prata o luar,

Vieram as ninfas do mar,

Porque voltou o rebento.

Todo o jardim floriu,

De lindas flores, tão belas,

A roseira singela, sorriu,

E revestiu-se de rosas amarelas.

Perpétua Matias

In VOAR LIVREMENTE

Edição da Autora Comentários: (0) Posted by assismachado at 10:38 PM

TRIBUNA DOS POETAS - 2

SOLIDÃO

Por Amélia Marques

A vida só é bela

quando a vida o brilho tem

deixa de ser bela a vida

quando não se te ninguém.

Vida é ter o sol que aquece

e luz que nos ilumine

vida é ter abrigo e afecto

de alguém que nos estime.

Ficam as lágrimas e a saudade

quando parte o nosso amor

e quanto mais tempo passa

maior é a nossa dor.

No meu canto solitário

ao meu pranto eu dou largas

me sinto aliviada

vertendo as minhas lágrimas.

A minha janela eu abro

para entrar um raio de luz

olho o azul do firmamento

peço as graças a Jesus.

Ai, solidão, solidão,

és tão grande e não te vejo!

Mas te sinto a toda a hora.

Ai, solidão, solidão,

quem dera partir agira.

Amélia Marques

In FLORES DO CAMPO

Editorial Minerva Comentários: (0) Posted by assismachado at 10:17 PM

BIOGRAFIA DO GRANDE POETA BOCAGE Poeta lírico neoclássico português, que tinha pretensão a vir a ser um segundo Camões, mas que dissipou suas energias numa vida agitada. Nasceu em Setúbal, em 15/09/1765 e morreu em Lisboa (21/12/1805), aos 40 anos de idade, vítima de um aneurisma. Nos últimos anos o poeta vivia com uma irmã e uma sobrinha, sustentando-as com traduções de livros didácticos. Para viver seus últimos dias, inclusive, teve de valer-se de um amigo (José Pedro da Silva) que vendia, nas ruas de Lisboa, suas derradeiras composições: Improvisos de Bocage na Sua Mui Perigosa Enfermidade e Colecção dos Novos Improvisos de Bocage na Sua Moléstia.

Filho de um advogado, fugiu de casa aos 14 anos para juntar-se ao exército. Foi transferido para a Armada dois anos depois. Como integrante da Academia da Armada Real, em Lisboa, dedicou seu tempo a casos amorosos, poesia e boémia.

Em 1786 foi enviado, tal qual seu herói Camões, para a Índia (Goa e Damão) e, também como Camões, desiludiu-se com o Oriente. Depois, por vontade própria e à revelia de seus superiores, dirigiu-se a Macau, voltando a Portugal em 1790. Ingressou então na Nova Arcádia — uma academia literária com vagas vocações igualitárias e libertárias —, usando o pseudónimo de Elmano Sadino. Contudo, de temperamento forte e violento, desentendeu-se com seus pares, e suas sátiras a respeito deles levou à sua expulsão do grupo. Seguiu-se uma longa guerra de versos que envolveu a maior parte dos poetas lisboetas.

Em 1797, acusado de heresia, dissolução dos costumes e ideias republicanas, foi implacavelmente perseguido, julgado e condenado, sendo sucessivamente encarcerado em várias prisões portuguesas. Ali realizou traduções de Virgílio, Ovídio, Tasso, Rousseau, Racine e Voltaire, que o ajudaram a sobreviver seus anos seguintes, como homem livre.

Ao recuperar a liberdade, graças à influência de amigos, e com a promessa de criar juízo, o poeta, envelhecido, parece ter abandonado a boémia e zelado até seus últimos momentos por impor aos seus contemporâneos uma imagem nova: a de homem arrependido, digno e chefe de família exemplar. Sua passagem pelo Convento dos Oratorianos (onde é doutrinado, logo após sua saída da cadeia) parece ter contribuído para tal.

Portugal, na época de Bocage, era um império em ruínas, imerso no atraso, na decadência económica e na libertinagem cortesã, feita às custas da miséria de servos e operários, perpetuando o pantanal cinzento do absolutismo e das atitudes inquisitoriais, da Real Mesa Censória e dos calabouços destinados aos maçons e descontentes.

Ninguém encarnou melhor o espírito da classe dirigente lusitana do fim do século XVIII do que Pina Manique. Ex-policial e ex-juiz, conquistou a confiança dos poderosos, tornando-se o grande senhor do reinado de D. Maria I (só oficialmente reconhecida como louca em 1795), reprimindo com grande ferocidade tudo o que pudesse lembrar as "abomináveis ideias francesas". Graças a ele, inúmeros sábios, cientistas e artistas conheceram o caminho do exílio.

Bocage usou vários tipos de versos, mas fez o melhor no Soneto. Não obstante a estrutura neoclássica de sua obra poética, seu intenso tom pessoal, a frequente violência na expressão e a auto-dramatizada obsessão face ao destino e à morte, anteciparam o Romantismo.

Suas poesias, Rimas, foram publicadas em três volumes (1791, 1799 e 1804). O último deles foi dedicado à Marquesa de Alorna, que passou a protegê-lo.

Os poemas não censurados do autor são geralmente convencionais e bajulatórios, copiando a lição dos mestres neoclássicos e abusando da mitologia, uma espécie de poesia académica feita por e para iniciados. Outra parcela de sua obra é considerada pré-romântica, trazendo para poesia o mundo pessoal e subjectivo da paixão amorosa, do sofrimento e da morte.

Já sua poesia censurada surgiu da necessidade de agradar ao público que pagava: com admirável precisão, o poeta punha o dedo acusador nas chagas sociais de um país de aristocracia decadente, aliada a um clero corrupto, comprometidos ambos com uma política interna e externa anacrónica para aquele momento. Também está presente ali a exaltação do amor físico que, inspirado no modelo natural, varre longe todo o platonismo fictício de uma sociedade que via pecado e imoralidade em tudo o que não fosse convenientemente escondido. Pesquisa e adaptação

de Assis Machado

Comentários: (1) Posted by assismachado at 11:09 PM

A TRIBUNA DOS POETAS - 1 O MEU PALCO

Meu palco o lugar de magia

onde minh’alma flutua

e o meu corpo se delicia

sendo inteiramente tua. Quando meus pés te pisam

toda a dor desaparece

os versos se eternizam

no calor da minha prece. Palco, mar das minhas emoções

és a voz do coração

e o expressar das paixões

na cratera dum vulcão. Palco, vida da minha vida

amarra onde me abraço

já nem sequer sinto a ferida

na teia onde me enlaço. Palco, irmão da poesia

lenitivo para a dor

és a grande sinfonía

nas mãos do compositor. Eu te amo palco amado

que a arte fazes viver

és o refúgio sagrado

onde afogo o meu sofrer.

Ao pisar-te meu palco,

sinto-me renascer.

América Miranda Comentários: (0) Posted by assismachado at 10:51 PM

TERTÚLIA POÉTICA - HIERARQUIA CRONOLÓGICA Presidente e Fundadora : Poetisa AMÉRICA MIRANDA QUADRO DOS COLABORADORES DA TERTÚLIA América Miranda *

Lídia Susana Alves *

Celeste Reis *

Armando David *

Perpétua Matias *

Mª de Lourdes Agapito *

Félix Heleno *

Manuel dos Santos *

F. Heloy do Amaral *

António Carvalho *

Isabel Ribeiro *

Graciett Vaz *

Domingos Vaz *

Lourdes Ferreira *

Lopes Victor *

Júlio Roberto *

Amélia Marques *

L. Gonzaga Tavares *

Humberto de Castro *

Ângelo Rodrigues

Von Trina

Cristina Estrompa

Pedro Mulder

Ruy de Carvalho

João de Carvalho

Victor de Sousa

Orlando Lizardo

António Sala

Frassino Machado *

Euclides Cavaco

( * ) - Membros efectivos da Tertúlia

Contactos Úteis : Correio Electrónico ( E – MAIL ) : americamiranda@sapo.pt

E – MAIL Alternativo : assismachado@sapo.pt ( Webmaster ) Comentários: (0) Posted by assismachado at 02:26 PM

TERTÚLIA POÉTICA - CONTACTOS ÚTEIS Presidente e Fundadora : Poetisa AMÉRICA MIRANDA

Residência : Rua Prior do Crato, nº 86 – 1º Esq.

1350 – 262 LISBOA

Fax.: 21 397 64 81

Telm.: 93 423 66 12

Correio Electrónico ( E – MAIL ) : americamiranda@sapo.pt

E – MAIL Alternativo : assismachado@sapo.pt ( Webmaster ) Comentários: (1) Posted by assismachado at 12:18 PM

PABLO NERUDA - POETA CARISMÁTICO DO SEC. XX

O Arauto dos oprimidos, amante da vida nas mais diversas facetas, diplomata de profissão, faria, se fosse vivo, esta semana cem anos - nasceu em 12 de Julho de 1904, em Santiago do Chile. Deixou-nos peças líricas e odes inesquecíveis, reunidas em Colectâneas como :

Residencia en la Tierra ; Canto General ; Veinte poemas de Amor y una Cancion Desesperada, entre outras Obras, valeram-lhe o Nobel de Literatura em 1971 LA CAMPESINA Entre los surcos tu cuerpo moreno

es un racimo que a la tierra llega.

Torna los ojos, mírate los senos,

son dos semillas ácidas y ciegas.

Tu carne es tierra que será madura

cuando el otoño te tienda las manos,

y el surco que será tu sepultura

temblará, temblará, como un humano

al recibir tus carnes y tus huesos

-rosas de pulpa con rosas de cal:

rosas que en el primero de los besos

vibraron como un vaso de cristal-.

La palabra de qué concepto pleno

será tu cuerpo? No lo he de saber!

Torna los ojos, mírate los senos,

tal vez no alcanzarás a florecer.

AUSENCIA

Apenas te he dejado,

vas en mí, cristalina

o temblorosa,

o inquieta, herida por mí mismo

o colmada de amor, como cuando tus ojos

se cierran sobre el don de la vida

que sin cesar te entrego.

Amor mío,

nos hemos encontrado

sedientos y nos hemos

bebido toda el agua y la sangre,

nos encontramos

con hambre

y nos mordimos

como el fuego muerde,

dejándonos heridas.

Pero espérame,

guárdame tu dulzura.

Yo te daré también

una rosa.

Pablo Neruda

In CANTO GENERAL

Comentários: (0) Posted by assismachado at 05:01 PM

AMÉRICA - A POETISA MISSIONÁRIA DE BOCAGE « Coração amarrotado

por tanta hipocrisia

traz meu eu atormentado

nesta vaga de poesia ».

América Miranda Sete anos América serviu

Bocage e a Tertúlia com fervor,

a divulgar Elmano, com amor,

a quem por tanto amor sempre seguiu. Melhor do que ninguém ela sentiu

a beleza do verso inspirador

a revelar doçura, imensa dor

e a paixão, que Elmano, dividiu. Sete anos América aturou

os bons tertulianos com poesia

que, por bem, tantas vezes recitou. Sete anos sentindo idolatria

por Bocage, que ama e sempre amou,

e sempre amará em Fantasia.

Eloy do Amaral Teatro Nacional D. Maria II

17-01-2004 ( Homenagem pelo VII Aniversário da

Tertúlia Poética “Ao encontro de Bocage” )

Comentários: (0) Posted by assismachado at 03:57 PM

A POETISA SOPHIA POR ELA MESMO

A POETISA SOPHIA POR ELA MESMA

Tive amigos que morriam, amigos que partiam,

Outros quebravam o seu rosto contra o tempo,

Odiei o que era fácil,

Procurei-me na luz, no mar, no vento ...

.....................

Este é o tempo

da selva mais obscura

Até o azul se tornou grades

e a luz do sol se tornou impura

Esta é a noite densa de chacais

pesada de amargura

Este é o tempo

em que os homens renunciam.

......................

É preciso que eu deixe

o poema dizer-se ...

.............................

Não se perdeu nenhuma coisa em mim.

Continuam as noites e os poentes

Que escorreram na casa e no jardim,

Continuam as vozes diferentes

Que intactas no meu ser estão suspensas.

Trago o terror e trago a claridade,

E através de todas as presenças

Caminho para a única unidade.

.............................. Comentários: (0) Posted by assismachado at 10:27 PM

PRÓXIMAS TERTÚLIAS A REALIZAR TODOS À TERTÚLIA ! TODOS À TERTÚLIA ! Dia 17 de Julho, às 15 Horas, na Biblioteca Municipal Camões, Largo do Calhariz Dia 31 de Julho, às 15 Horas, No Instituto de Naturalogia, R. Do Alecrim, 38 – 3º ............... ( FÉRIAS ) ................ Dia 11 de Setembro, às 17 Horas, « HOMENAGEM AO GRANDE POETA BOCAGE » No Auditório Carlos Paredes, Avenida Gomes Pereira, 17 Participação de todos os Tertulianos e de alguns Actores do Teatro Português O Programa integra : Declamações de Poesias, Fados e Canções - Música Variada TODOS À TERTÚLIA ! Comentários: (0) Posted by assismachado at 09:53 PM

IMPERATRIZ SOPHIA 1 IMPERATRIZ SOFIA

Sofia de todos nós

de poesia moldada

és entre todos fadada,

desde ancestrais avós.

De poesia criada

gritos largos sem voz

és a saudade atroz

duma pena encantada.

Andrade, Jorge e Pessoa

com uma Sofia feliz

fizestes bela Lisboa.

E cada um de aprendiz

compôs poesia boa

como a grande Imperatriz.

Frassino Machado

In FILHOS DA ESPERANÇA Comentários: (0) Posted by assismachado at 06:49 PM

A NOSSA HOMENAGEM À POETISA SOPHIA DE MELLO ANDRESEN RUMOS DE UMA VIDA EXEMPLAR 1919 – Nasce a 6 de Novembro no Porto, onde passou a infância. Aos 3 anos, tem o primeiro contacto com a poesia, quando uma criada lhe recita A Nau Catrineta, que aprenderia de cor. Mesmo antes de aprender a ler, o avô ensinou-a a recitar Camões e Antero. «Recordo-me de descobrir que num poema era preciso que cada palavra fosse necessária, as palavras não podem ser decorativas, não podiam servir só para ganhar tempo até ao fim do decassílabo, as palavras tinham que estar ali porque eram absolutamente indispensáveis. Isso foi uma descoberta» (JL 468, de 25/6/91) 1926 – Frequenta o Colégio do Sagrado Coração de Maria, no Porto, até aos 17 anos. Primeiro semi-interna, depois externa. Tem professores marcantes, como a D. Carolina (de Português). E, apesar da pouca estima por disciplinas como Matemática e Química, nunca chumbou. Aos doze anos escreve os primeiros poemas. Entre os 16 e os 23 tem uma fase excepcionalmente fértil na sua produção poética 1936 – Estuda Filologia Clássica, na Faculdade de Letras de Lisboa, mas não leva a licenciatura até ao fim. Três anos depois, regressa ao Porto, onde vive até casar com Francisco Sousa Tavares, altura em que se muda definitivamente para Lisboa. Tem cinco filhos 1944 – Publica o primeiro livro, Poesia, uma edição de autor de 300 exemplares, paga pelo pai, que sairia em Coimbra por diligência de um amigo: Fernando Vale. Em 1975 seria reeditado pela Ática. Este livro é uma escolha, que integra alguns poemas escritos com 14 anos. E o início de um fulgurante percurso poético e não só. Publicaria também ficção, literatura para crianças e traduziu, nomeadamente, Dante e Shakespeare 1947 – O Dia do Mar, Ática 1950 – Coral, Livraria Simões Lopes 1954 – No Tempo Dividido, Guimarães 1956 – O Rapaz de Bronze (literatura infantil), Minotauro 1958 – Mar Novo, Guimarães; A Menina do Mar (infantil), Figueirinhas; A Fada Oriana (infantil), Figueirinhas. Escreve um ensaio sobre Cecília Meireles na «Cidade Nova» 1960 – Noite de Natal (infantil), Ática. Publica o ensaio Poesia e Realidade, na «Colóquio 8» 1961 – O Cristo Cigano, Minotauro 1962 – Livro Sexto, Salamandra, distinguido com o Grande Prémio de Poesia da Sociedade Portuguesa de Escritores, em 1964; Contos Exemplares (ficção), Figueirinhas 1964 – O Cavaleiro da Dinamarca (infantil), Figueirinhas 1967 – Geografia, Ática 1968 – A Floresta (infantil), Figueirinhas; Antologia, Portugália, cuja 5ª edição (1985 – Figueirinhas) é prefaciada por Eduardo Lourenço 1970 – Grades, D. Quixote 1972 – Dual, Moraes 1975 – Publica o ensaio O Nu na Antiguidade Clássica, integrado em O Nu e a Arte, uma edição dos Estúdios Cor. Deputada pelo Partido Socialista à Assembleia Constituinte. A sua actividade político-partidária, não foi longa, mas ao longo da sua vida sempre foi uma lutadora empenhada pelas causas da liberdade e justiça. Antes do 25 de Abril, pertence mesmo à Comissão Nacional de Apoio aos Presos Políticos «A poesia é das raras actividades humanas que, no tempo actual, tentam salvar uma certa espiritualidade. A poesia não é uma espécie de religião, mas não há poeta, crente ou descrente, que não escreva para a salvação da sua alma – quer a essa alma se chame amor, liberdade, dignidade ou beleza» (JL 709, de 17/12/97) 1977 – O Nome das Coisas, Moraes, distinguido com o Prémio Teixeira de Pascoaes 1983 – Navegações (IN-CM), recebe o Prémio da Crítica do Centro Português da Associação de Críticos Literários 1984 – Histórias da Terra e do Mar (ficção), Salamandra 1985 – Árvore (infantil), Figueirinhas 1989 – Ilhas, Texto, distinguido com os Prémios D. Dinis, da Fundação Casa de Mateus e Inasset-INAPA (1990) 1990 – Reúne toda a sua obra em três Volumes, Obra Poética, com a chancela da Editorial Caminho; é distinguida com o Grande Prémio de Poesia Pen Clube 1992 – Grande Prémio Calouste Gulbenkian de Literatura para Crianças 1994 – Musa, Caminho. Recebe Prémio Vida Literária da Associação Portuguesa de Escritores. Publica Signo, um livro/disco com poemas lidos por Luís Miguel Sintra, uma edição Presença/Casa Fernando Pessoa 1995 – Placa de Honra do Prémio Petrarca, atribuída em Itália 1996 – Homenageada do Carrefour des Littératures, na IV Primavera Portuguesa de Bordéus e da Aquitânia 1998 – O Búzio de Cós, Caminho, distinguido com o Prémio da Fundação Luís Míguel Nava 1999 – Prémio Camões Sophia de Mello Breyner Andresen morreu a 2 de Julho de 2004 Comentários: (0) Posted by assismachado at 06:19 PM RUMOS DE UMA VIDA EXEMPLAR 1919 – Nasce a 6 de Novembro no Porto, onde passou a infância. Aos 3 anos, tem o primeiro contacto com a poesia, quando uma criada lhe recita A Nau Catrineta, que aprenderia de cor. Mesmo antes de aprender a ler, o avô ensinou-a a recitar Camões e Antero. «Recordo-me de descobrir que num poema era preciso que cada palavra fosse necessária, as palavras não podem ser decorativas, não podiam servir só para ganhar tempo até ao fim do decassílabo, as palavras tinham que estar ali porque eram absolutamente indispensáveis. Isso foi uma descoberta» (JL 468, de 25/6/91) 1926 – Frequenta o Colégio do Sagrado Coração de Maria, no Porto, até aos 17 anos. Primeiro semi-interna, depois externa. Tem professores marcantes, como a D. Carolina (de Português). E, apesar da pouca estima por disciplinas como Matemática e Química, nunca chumbou. Aos doze anos escreve os primeiros poemas. Entre os 16 e os 23 tem uma fase excepcionalmente fértil na sua produção poética 1936 – Estuda Filologia Clássica, na Faculdade de Letras de Lisboa, mas não leva a licenciatura até ao fim. Três anos depois, regressa ao Porto, onde vive até casar com Francisco Sousa Tavares, altura em que se muda definitivamente para Lisboa. Tem cinco filhos 1944 – Publica o primeiro livro, Poesia, uma edição de autor de 300 exemplares, paga pelo pai, que sairia em Coimbra por diligência de um amigo: Fernando Vale. Em 1975 seria reeditado pela Ática. Este livro é uma escolha, que integra alguns poemas escritos com 14 anos. E o início de um fulgurante percurso poético e não só. Publicaria também ficção, literatura para crianças e traduziu, nomeadamente, Dante e Shakespeare 1947 – O Dia do Mar, Ática 1950 – Coral, Livraria Simões Lopes 1954 – No Tempo Dividido, Guimarães 1956 – O Rapaz de Bronze (literatura infantil), Minotauro 1958 – Mar Novo, Guimarães; A Menina do Mar (infantil), Figueirinhas; A Fada Oriana (infantil), Figueirinhas. Escreve um ensaio sobre Cecília Meireles na «Cidade Nova» 1960 – Noite de Natal (infantil), Ática. Publica o ensaio Poesia e Realidade, na «Colóquio 8» 1961 – O Cristo Cigano, Minotauro 1962 – Livro Sexto, Salamandra, distinguido com o Grande Prémio de Poesia da Sociedade Portuguesa de Escritores, em 1964; Contos Exemplares (ficção), Figueirinhas 1964 – O Cavaleiro da Dinamarca (infantil), Figueirinhas 1967 – Geografia, Ática 1968 – A Floresta (infantil), Figueirinhas; Antologia, Portugália, cuja 5ª edição (1985 – Figueirinhas) é prefaciada por Eduardo Lourenço 1970 – Grades, D. Quixote 1972 – Dual, Moraes 1975 – Publica o ensaio O Nu na Antiguidade Clássica, integrado em O Nu e a Arte, uma edição dos Estúdios Cor. Deputada pelo Partido Socialista à Assembleia Constituinte. A sua actividade político-partidária, não foi longa, mas ao longo da sua vida sempre foi uma lutadora empenhada pelas causas da liberdade e justiça. Antes do 25 de Abril, pertence mesmo à Comissão Nacional de Apoio aos Presos Políticos «A poesia é das raras actividades humanas que, no tempo actual, tentam salvar uma certa espiritualidade. A poesia não é uma espécie de religião, mas não há poeta, crente ou descrente, que não escreva para a salvação da sua alma – quer a essa alma se chame amor, liberdade, dignidade ou beleza» (JL 709, de 17/12/97) 1977 – O Nome das Coisas, Moraes, distinguido com o Prémio Teixeira de Pascoaes 1983 – Navegações (IN-CM), recebe o Prémio da Crítica do Centro Português da Associação de Críticos Literários 1984 – Histórias da Terra e do Mar (ficção), Salamandra 1985 – Árvore (infantil), Figueirinhas 1989 – Ilhas, Texto, distinguido com os Prémios D. Dinis, da Fundação Casa de Mateus e Inasset-INAPA (1990) 1990 – Reúne toda a sua obra em três Volumes, Obra Poética, com a chancela da Editorial Caminho; é distinguida com o Grande Prémio de Poesia Pen Clube 1992 – Grande Prémio Calouste Gulbenkian de Literatura para Crianças 1994 – Musa, Caminho. Recebe Prémio Vida Literária da Associação Portuguesa de Escritores. Publica Signo, um livro/disco com poemas lidos por Luís Miguel Sintra, uma edição Presença/Casa Fernando Pessoa 1995 – Placa de Honra do Prémio Petrarca, atribuída em Itália 1996 – Homenageada do Carrefour des Littératures, na IV Primavera Portuguesa de Bordéus e da Aquitânia 1998 – O Búzio de Cós, Caminho, distinguido com o Prémio da Fundação Luís Míguel Nava 1999 – Prémio Camões Sophia de Mello Breyner Andresen morreu a 2 de Julho de 2004

TERTÚLIA POÉTICA « AO ENCONTRO DE BOCAGE » Ó meu Vate Sadino tão amado, Nossa Tertúlia te rende homenagem... E para que o teu nome seja louvado, Não perderemos nunca a coragem. Teu rosto nas estrelas está gravado, Teus poemas murmurados pela aragem... Teu mérito em nossas almas está marcado, Nós somos os poetas da viragem!... Vivemos em poesia e sofrimentos, Gritamos a todo o mundo teus lamentos E queremos exaltar os teus amores E, enquanto esta assembleia existir, Continuaremos sempre a resistir Àqueles que não amam teus valores!... América Miranda in VENDAVAL DE EMOÇÕES Comentários: (0) Posted by assismachado at 10:49 AM

FRASEOLOGIA CURIOSA E DIGNIFICANTE DE ALGUNS AUTORES SOBRE BOCAGE

“Lendo os teus versos, numeroso Elmano,

e o não vulgar conceito e a feliz frase,

disse entre mim: - Depõe, Filinto, a lira

já velha, já cansada;

que este mancebo vem tomar-te os loiros,

galnados com teu canto na aurea quadra

em que ao bom Coridon, a Elpino, a Alfeno,

aplaudia Ulisseia”. Filinto Elísio

“... Elmano... Oh, nome! Oh, nome!

Um prodígio tu és! Prodígios fazes ...” Tomás e Silva PELO 1º CENTENÁRIO DA MORTE DE BOCAGE Lindo amor que nasceu à cabeceira

Do teu leito de lágrimas e dores,

E foi contigo até à derradeira

Hora de angústia, amor dos teus amores. Até esse perdido. A vez primeira

Que o céu te quis mostrar os seus fulgores

E apagavam-te a estrela, feiticeiro,

E desfolhavam-te as mais puras flores... O génio do amor tudo ilumina

E o teu verso, oh Elmano, d’oiro ardente

Tem lágrimas no fundo e a amar ensina. Poeta, foste a flor n’uma torrente,

Mas sempre a tua voz, clara e divina,

Se ouve entre as ondas – canta eternamente. Júlio Brandão

Comentários: (0) Posted by assismachado at 06:47 PM

HINO DA TERTÚLIA BOCAGE SONHADOR

Letra : Armando David

Música: Francisco de Assis

Refrão:

Bocage sonhador,

poeta trovador,

Lisboa é sem favor,

terra dos teus amores.

E nós na capital,

tertúlia a ti leal,

te damos sem igual

louvores e mais louvores !

1. Terra de pescadores

Setúbal tem valores

a quem nos esplendores

viage.

Possui almas dilectas,

em linhas bem directas,

o maior dos poetas

Bocage.

2. Foi audaz marinheiro,

leal e verdadeiro,

herói aventureiro

real.

Satírico, amoroso,

poeta valoroso,

o seu estro não tem

rival.

Comentários: (0) Posted by assismachado at 03:28 PM

CONTRASTE ENTRE A VIDA CAMPESTRE E A DAS CIDADES Nos campos o vilão sem sustos passa,

inquieto na corte o nobre mora;

o que é ser infeliz aquela ignora,

este encontra nas pompas a desgraça: Aquele canta e ri; não se embaraça

com essas cousas vãs que o mundo adora:

este ( ó cega ambição ) mil vezes chora,

porque não acha bem que o satisfaça: Aquele dorme em paz no chão deitado,

este no ebúrneo leito precioso

nutre, exaspera velador cuidado: Triste, sai do palácio magestoso;

se hás-de ser cortesão, mas desgraçado,

antes ser camponês, e venturoso !

Barbosa du Bocage Comentários: (0) Posted by assismachado at 02:11 PM

EDITORIAIS BOCAGIANOS - 01 ... EM LOUVOR DE BOCAGE ! Comentários: (0) Posted by assismachado at 07:37 PM View image EDITORIAIS BOCAGIANOS – 01 Por América Miranda ( * ) Bocage foi um desses clarões que fulguram rubros acima de todo o horizonte para que toda a gente os veja e admire. Inquieto ou submisso, piedoso ou sarcástico, simples ou eloquente, inconsequente ou sentencioso, era um jovem insatisfeito, vivendo com a lira e à maneira do cantor de OS LUSÍADAS enaltecia o Olimpo e adorava o Céu. Manuel Maria era um romântico por natureza e na poesia um lírico que nasceu numa época de transição literária, na qual a literatura de Portugal emergia do marasmo do pseudo-classicismo, ainda dominante no século XVIII para o doce período do Romantismo. Desviando-se dos moldes clássicos, demasiado rígidos o nosso Vate pendeu para a escola que seria a de António Feliciano de Castilho. Embora o seu forte fosse o Soneto, onde foi mestre, compôs vários géneros de poesia, entre os quais odes satíricas e anacreônticas. A sua índole buliçosa por vezes custou-lhe amargos dias, sobretudo naquele período de vero despotismo governamental e religioso. Por toda a sua grandeza rendo as minhas homenagens ao Egrégio Poeta que foi Manuel Maria L’Hedois de Barbosa du Bocage. América Miranda ( * ) - “O Arauto de Bocage” - Ano VII - Nºs. 73 / 74

SESSÃO TERTULIANA NO AUDITÓRIO CARLOS PAREDES Teve lugar ontem, dia 10 de Julho, no Auditório Carlos Paredes, da Junta de Freguesia de Benfica, pelas 18 horas, mais uma Sessão da Tertúlia Poética “Ao encontro de Bocage”. O Programa foi bastante animado e concorrido com a apresentação da Poetisa América Miranda – Presidente e fundadora desta mesma Tertúlia. A sequência evoluiu da seguinte forma : Abertura – Cantou-se o Hino da Tertúlia, com letra de Armando David e música de Francisco de Assis - Francisco de Assis, com duas Canções - Mário Rodrigues, dois Fados - Domingos Vaz, dois Poemas - Celeste Reis, dois Poemas - Armando David, duas Histórias Poemáticas - Humberto de Castro, duas Canções - João de Carvalho, Actor, alguns episódios humoristas e dois Poemas - Amélia Marques, dois Poemas - Graciete Vaz, dois Poemas - América Miranda, dois Poemas - Dois convidados da Tertúlia presentes, cada um seu Poema - Lopes Victor, dois Poemas - Manuel dos Santos, dois Poemas - Francisco de Assis, dois Poemas - Humberto de Castro, duas Canções - Félix Heleno e América Miranda, Poemas conjuntos Durante a Sessão foram homenageados escritores e artistas já falecidos, nomeadamente: Manuel da Fonseca, Zeca Afonso, Sophia Andresen, Henrique Mendes e Lurdes Pintassilgo. Todas as intervenções foram efusivamente aplaudidas. Marcaram-se novas Sessões para os próximos dias 17 e 31 deste mês, a saber: - Dia 17, às 15 horas, na Biblioteca Camões - Dia 31, às 15 horas, no Instituto de Naturalogia O cronista presente: Assis Machado Comentários: (0) Posted by assismachado at 07:05 PM Teve lugar ontem, dia 10 de Julho, no Auditório Carlos Paredes, da Junta de Freguesia de Benfica, pelas 18 horas, mais uma Sessão da Tertúlia Poética “Ao encontro de Bocage”. O Programa foi bastante animado e concorrido com a apresentação da Poetisa América Miranda – Presidente e fundadora desta mesma Tertúlia. A sequência evoluiu da seguinte forma : Abertura – Cantou-se o Hino da Tertúlia, com letra de Armando David e música de Francisco de Assis - Francisco de Assis, com duas Canções - Mário Rodrigues, dois Fados - Domingos Vaz, dois Poemas - Celeste Reis, dois Poemas - Armando David, duas Histórias Poemáticas - Humberto de Castro, duas Canções - João de Carvalho, Actor, alguns episódios humoristas e dois Poemas - Amélia Marques, dois Poemas - Graciete Vaz, dois Poemas - América Miranda, dois Poemas - Dois convidados da Tertúlia presentes, cada um seu Poema - Lopes Victor, dois Poemas - Manuel dos Santos, dois Poemas - Francisco de Assis, dois Poemas - Humberto de Castro, duas Canções - Félix Heleno e América Miranda, Poemas conjuntos Durante a Sessão foram homenageados escritores e artistas já falecidos, nomeadamente: Manuel da Fonseca, Zeca Afonso, Sophia Andresen, Henrique Mendes e Lurdes Pintassilgo. Todas as intervenções foram efusivamente aplaudidas. Marcaram-se novas Sessões para os próximos dias 17 e 31 deste mês, a saber: - Dia 17, às 15 horas, na Biblioteca Camões - Dia 31, às 15 horas, no Instituto de Naturalogia O cronista presente: Assis Machado

TERTÚLIA POÉTICA « AO ENCONTRO DE BOCAGE » MENSAGEM DE BOAS VINDAS PELA PRESIDENTE E FUNDADORA A POETISA AMÉRICA MIRANDA A todos os Poetas e Poetisas, filiados ou não nesta TERTÚLIA, quero saudar com grande amizade, reconhecimento e admiração e desejar que, ao visitarem este nosso espaço de Poesia e de convivência cultural, se sintam como se deles fosse e desejar que connosco partilhem as suas experiências através de comentários, críticas, sugestões e colaborações e que, se o desejarem, possam a partir daqui divulgar o conhecimento da obra literária do grande poeta e patrono da Tertúlia, Manuel Maria Barbosa du Bocage, bem assim dar a conhecer de igual modo os seus próprios poemas pessoais, os quais teremos muito gosto em publicar. América Miranda Comentários: (0) Posted by assismachado at 11:27 PM MENSAGEM DE BOAS VINDAS PELA PRESIDENTE E FUNDADORA A POETISA AMÉRICA MIRANDA A todos os Poetas e Poetisas, filiados ou não nesta TERTÚLIA, quero saudar com grande amizade, reconhecimento e admiração e desejar que, ao visitarem este nosso espaço de Poesia e de convivência cultural, se sintam como se deles fosse e desejar que connosco partilhem as suas experiências através de comentários, críticas, sugestões e colaborações e que, se o desejarem, possam a partir daqui divulgar o conhecimento da obra literária do grande poeta e patrono da Tertúlia, Manuel Maria Barbosa du Bocage, bem assim dar a conhecer de igual modo os seus próprios poemas pessoais, os quais teremos muito gosto em publicar. América Miranda

" O ARAUTO DE BOCAGE " Comentários: (0) Posted by assismachado at 03:12 PM View image Leia e divulgue o " O ARAUTO DE BOCAGE " ! MENSÁRIO DE EXPANSÃO CULTURAL Fundado em Janeiro de 1998 Fundadora e Directora : América Miranda " O ARAUTO DE BOCAGE " é publicado bimestralmente e tem uma tiragem média de 400 exemplares. Registado como Publicação Periódica SOB O Nº 122327, no Instituto de Comunicação Social.

ILUSTRES POETISAS 7 - CECÍLIA MEIRELES Filha de Carlos Alberto de Carvalho Meireles, funcionário do Banco do Brasil S.A., e de D. Matilde Benevides Meireles, professora municipal, nasceu a 7 de novembro de 1901, na Tijuca, Rio de Janeiro, Cecília Benevides de Carvalho Meireles foi a única sobrevivente dos quatros filhos do casal. O pai faleceu três meses antes do seu nascimento, e a mãe, quando Cecília ainda não tinha três anos. Criou-a, a partir de então, sua avó D. Jacinta Garcia Benevides. Escreveria mais tarde:

"Nasci aqui mesmo no Rio de Janeiro, três meses depois da morte de meu pai, e perdi minha mãe antes dos três anos. Essas e outras mortes ocorridas na família acarretaram muitos contratempos materiais, mas, ao mesmo tempo, me deram, desde pequenina, uma tal intimidade com a Morte que docemente aprendi essas relações entre o Efêmero e o Eterno.

(...) Em toda a vida, nunca me esforcei por ganhar nem me espantei por perder. A noção ou o sentimento da transitoriedade de tudo é o fundamento mesmo da minha personalidade.

(...) Minha infância de menina sozinha deu-me duas coisas que parecem negativas, e foram sempre positivas para mim: silêncio e solidão. Essa foi sempre a área de minha vida. Área mágica, onde os caleidoscópios inventaram fabulosos mundos geométricos, onde os relógios revelaram o segredo do seu mecanismo, e as bonecas o jogo do seu olhar. Mais tarde foi nessa área que os livros se abriram, e deixaram sair suas realidades e seus sonhos, em combinação tão harmoniosa que até hoje não compreendo como se possa estabelecer uma separação entre esses dois tempos de vida, unidos como os fios de um pano."

Diplomando-se pela Escola Normal em 1917, passou a exercer o magistério primário em escolas oficiais do antigo Distrito Federal. De 1930 a 1934, manteve no Diário de Notícias uma página diária sobre problemas de educação. Nesse último ano, criou a primeira biblioteca infantil do Rio de Janeiro, ao dirigir o Centro Infantil, que funcionou durante quatro anos. De 1936 a 1938, lecionou Literatura Luso-Brasileira e Técnica e Crítica Literária, na Universidade do Distrito Federal (hoje UFRJ). Realizou numerosas viagens aos Estados Unidos, à Europa, à Ásia e à África, fazendo conferências, em diferentes países, sobre Literatura, Educação e Folclore, em cujos estudos se especializou. Em Deli, o Presidente da República da Índia conferiu-lhe o diploma de doutor honoris causa da Universidade. Colaborou ainda, ativamente, no jornal A Manhã e na revista Observador Econômico.

Aposentou-se em 1951 como diretora de escola, porém continuou a trabalhar, como produtora e redatora de programas culturais, na Rádio Ministério da Educação.

A concessão do Prêmio de Poesia Olavo Bilac, pela Academia Brasileira de Letras, ao seu livro Viagem, em 1939, resultou de animados debates, que tornaram manifesta a alta qualidade de sua poesia.

Casada em 1921 com o pintor português Correia Dias, teve três filhas: Maria Elvira, Maria Matilde e Maria Fernanda, esta última artista teatral consagrada. Enviuvando-se, casou-se em 1940 com o professor Heitor Grilo. Deixou cinco netos. Faleceu no Rio de Janeiro a 9 de novembro de 1964, sendo-lhe prestadas grandes homenagens públicas. O Governo do então Estado da Guanabara denominou Sala Cecília Meireles o grande salão de concertos e conferências do Largo da Lapa. Há uma rua com o seu nome, na cidade portuguesa de Benfica. MURMÚRIO Traze-me um pouco das sombras serenas

que as nuvens transportam por cima do dia!

Um pouco de sombra, apenas,

- vê que nem te peço alegria. Traze-me um pouco da alvura dos luares

que a noite sustenta no teu coração!

A alvura, apenas, dos ares:

- vê que nem te peço ilusão. Traze-me um pouco da tua lembrança,

aroma perdido, saudade da flor!

- Vê que nem te digo - esperança!

- Vê que nem sequer sonho - amor!

REINVENÇÃO

A vida só é possível

reinventada. Anda o sol pelas campinas

e passeia a mão dourada

pelas águas, pelas folhas...

Ah! tudo bolhas

que vem de fundas piscinas

de ilusionismo... — mais nada. Mas a vida, a vida, a vida,

a vida só é possível

reinventada. Vem a lua, vem, retira

as algemas dos meus braços.

Projeto-me por espaços

cheios da tua Figura.

Tudo mentira! Mentira

da lua, na noite escura. Não te encontro, não te alcanço...

Só — no tempo equilibrada,

desprendo-me do balanço

que além do tempo me leva.

Só — na treva,

fico: recebida e dada. Porque a vida, a vida, a vida,

a vida só é possível

reinventada.

RETRATO

Eu não tinha este rosto de hoje,

assim calmo, assim triste, assim magro,

nem estes olhos tão vazios,

nem o lábio amargo. Eu não tinha estas mãos sem força,

tão paradas e frias e mortas;

eu não tinha este coração

que nem se mostra. Eu não dei por esta mudança,

tão simples, tão certa, tão fácil:

— Em que espelho ficou perdida

a minha face?

O MENINO AZUL

O menino quer um burrinho

para passear.

Um burrinho manso,

que não corra nem pule,

mas que saiba conversar.

O menino quer um burrinho

que saiba dizer

o nome dos rios,

das montanhas, das flores,

— de tudo o que aparecer.

O menino quer um burrinho

que saiba inventar histórias bonitas

com pessoas e bichos

e com barquinhos no mar.

E os dois sairão pelo mundo

que é como um jardim

apenas mais largo

e talvez mais comprido

e que não tenha fim.

(Quem souber de um burrinho desses,

pode escrever

para a Ruas das Casas,

Número das Portas,

ao Menino Azul que não sabe ler.)

Cecília Meireles

In POESIAS

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A TRIBUNA DOS POETAS 20 POETAS DO MEU PAÍS Por Euclides Cavaco Aos que a nossa Língua Pátria

Cantaram em poesia,

Presto aqui minha homenagem,

Nesta leve cortesia. Lembro Camões e Pessoa,

João de Deus e Florbela,

Miguel Torga e Alorna

E, outros estros como Ela. Bocage e João Vilarett

E Artur Ribeiro, entre tantos.

Natália, Aleixo e Nemésio,

Zeca Afonso e Ary dos Santos. O Pedro Homem de Melo,

José Régio e Gedeão.

Augusto Gil e Valério,

Namora e Carlos Paião. João de Barros e Almada

E Correia de Oliveira.

O Frederico de Brito

E Afonso Lopes Vieira. Fica a eterna gratidão,

Aos poetas em geral,

Que na sua inspiração,

Nos cantaram Portugal !... Euclides Cavaco

In POETAS DO MEU PAÍS

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A TRIBUNA DOS POETAS 19 ALDEIA DO INTERIOR Por António Sala

Cresci numa aldeia do interior,

de casas mal pintadas.

Ruas estreitas,

mal iluminadas

e campos floridos em redor. Cresci numa aldeia do interior,

onde em cada casa há uma varanda,

vasos de barro

e flores à janela,

um cão vadio é ali a sentinela. Cresci numa aldeia do interior

com uma ponte sobre o rio

e o velho moinho

já cansado,

a mastigar o pão que mata o frio. Cresci numa aldeia do interior

onde uma “chanfana”

é carne assada

na caçoila.

O vinho é bem tirado

e quem vier depois

terá sempre um lugar ao nosso lado. Minha aldeia, minha aldeia,

avenidas de alecrim,

fontanário de cântaros sem fim.

Minha aldeia, minha aldeia,

sons de sino a repicar

ou que, dolentes, avisam

que um de nós nos vai deixar.

António Sala

In PALAVRAS DESPIDAS DE MÚSICA Comentários: (0) Posted by assismachado at 10:38 PM

ILUSTRES POETISAS 6 - IRENE LISBOA Irene do Céu Vieira Lisboa (1892-1958) nasceu no Casal da Murzinheira, Arruda dos Vinhos, e faleceu em Lisboa. Formou-se pela Escola Normal Primária de Lisboa e fez estudos de especialização pedagógica na Suíça, França e Bélgica, tendo contactado com Piaget, em Genebra. Foi um dos nomes mais importantes da "escrita feminina" portuguesa do século XX. Estreou-se em 1926, com o livro de contos, 13 Contarelos a que se seguiram dois livros de poesia. Também sob os pseudónimos de Manuel Soares e João Falco, é autora de uma vasta obra, pouco conhecida, que se reparte entre a ficção intimista e autobiográfica, a crónica, o conto (para crianças e adultos), a poesia, a pedagogia e a crítica literária. Professora primária e pedagoga de grande mérito e activa intervenção cívica, era amiga de José Rodrigues Miguéis e foi colaboradora da Seara Nova. A sua escrita é, por vezes, considerada como inserindo-se no "saudosismo", tendência da literatura portuguesa que radica na obra de Teixeira de Pascoaes e no grupo da Renascença Portuguesa e que se mantém relativamente à margem das correntes estéticas suas contemporâneas. No entanto, a sua sensibilidade crítico-poética é difícil de encaixar seja em géneros convencionais, seja em correntes literárias conhecidas. De todas as escritoras suas contemporâneas, Irene Lisboa é, sem dúvida, aquela que recebeu maior reconhecimento crítico, nomeadamente de José Régio, João Gaspar Simões e Vitorino Nemésio. No entanto, a sua obra não pareceu merecer grande popularidade junto do grande público. CHUVOSO MAIO Deste lado oiço gotejar sobre as pedras.

Som da cidade ...

Do outro via a chuva no ar.

Perpendicular, fina,

Tomava cor, distinguia-se contra o fundo das trepadeiras do jardim.

No chão, quando caía, abria círculos nas pocinhas brilhantes, já formadas?

Há lá coisa mais linda que este bater de água na outra água?

Um pingo cai

E forma uma rosa... um movimento circular, que se espraia.

Vem outro pingo

E nasce outra rosa... e sempre assim! Os nossos olhos desconsolados,

sem alegria nem tristeza,

tranquilamente vão vendo formar-se as rosas,

brilhar e mover-se a água...

AFRODITE Formosa.

Esses peitos pequenos, cheios.

Esse ventre, o seu redondo espraiado!

O vinco da cinta, o gracioso umbigo, o escorrido

das ancas, o púbis discreto ligeiramente alteado,

as coxas esbeltas, um joelho único suave e agudo,

o coto de um braço, o tronco robusto, a linha

cariciosa do ombro...

Afrodite, não chorei quando te descobri?

Aquele museu plácido, tantas memórias da Grécia

e de Roma!

Tantas figuras graves, de gestos nobres e de

frontes tranquilas, abstractas...

Mas aquela sala vasta, cheia, não era uma necró-

pole.

Era uma assembleia de amáveis espíritos, divaga-

dores, ente si trocando serenas, eternas e nunca

desprezadas razões formais. Afrodite, Afrodite, tão humana e sem tempo...

O descanso desse teu gesto!

A perna que encobre a outra, que aperta o corpo.

A doce oferta desse pomo tentador: peito e ventre.

E um fumo, uma impressão tão subtil e tão pro-

vocante de pudor, de volúpia, de reserva, de

abandono...

Já passaram sobre ti dois mil anos? Estranha obra de um homem!

Que doçura espalhas e que grandeza...

És o equilíbrio e a harmonia e não és senão corpo.

Não és mística, não exacerbas, não angústias.

Geras o sonho do amor. Praxíteles.

Como pudeste criar Afrodite?

E não a macerar, delapidar, arruinar, na ânsia de

a vencer, gozar!

Tinha de assim ser.

Eternizaste-a!

A beleza, o desejo, a promessa, a doce carne...

Irene Lisboa

In POESIAS

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A TRIBUNA DOS POETAS 18 A BOCAGE Por Frassino Machado Máximo dom da natureza-mãe Anseia toda a gente recolher Numa busca incessante p’ ra fazer Unir o sentimento que sustem Engendrando com versos da razão Levantados na alma e coração. Muita é a garra q ’urge registar Abarcada no poeta a existência Reforçando a verdade e a diligência Importa agora est’ arte sublimar Até que a fiel justiça ganhe essência. Bocage, que desta arte és timoneiro, Apreende à tua luz o apaixonado Realizando o projecto destinado. Bocage, o teu estro é verdadeiro, Onde a injustiça medra com furor, Sais sempre a defender o desgraçado Acima do que podes com humor. Do combate leal és pregoeiro Unindo o teu sonhar ao mundo inteiro... Bocage tu, qu’ és Vate, és proémio Onde mais mundo houver nesta jornada Cantarão para sempre na alvorada Aqueles poetas d’ alma nobre e génio Gerando, na desgraça, em toda a idade Enérgico sentir de felicidade Frassino Machado In AS MINHAS ANDANÇAS Comentários: (0) Posted by assismachado at 10:38 AM

A TRIBUNA DOS POETAS 17 CURIOSAMENTE Por Von Trina

Ter uma existência fútil

trivial banal

mas claro alegre

parece amenizar

quase tudo

quase todos

e transmitir confiança

serenidade respeitabilidade

e até – pasme-se – seriedade ! Assim

sou moderadamente louco

curiosamente responsável

serenamente radical.

Sério

confesso que só às escondidas

porque não quero incomodar

ser repreensível

criticável. Pensar

só nas catacumbas da vida

nos intervalos da metafísica

no conforto da clandestinidade.

Reflectir

torna-nos

torna-vos

torna-se

dispensável dispensáveis.

Von Trina

In A DÁDIVA ASTUCIOSA DOS DEUSES

Ed. Minerva Comentários: (0) Posted by assismachado at 09:24 AM

ILUSTRES POETISAS 5 - NATÁLIA CORREIA

Natália de Oliveira Correia nasceu na ilha de São Miguel, Açores, em 13/09/1923 e morreu em Lisboa em 16/03/1993. Importante figura da cultura portuguesa da segunda metade do século XX, notabilizou-se como poetisa e como política, tendo sido eleita deputada pelo Partido Socialista. Obras poéticas: Rio de Nuvens (1947), Poemas (1955), Dimensão Encontrada (1957), Passaporte (1958), Comunicação (1959), Cântico do País Imerso (1961), O Vinho e a Lira (1966), Mátria (1968), As Maçãs de Orestes (1970), Mosca Iluminada (1972), O Anjo do Ocidente à Entrada do Ferro (1973), Poemas a Rebate (1975), Epístola aos Iamitas (1976), O Dilúvio e a Pomba (1979), Sonetos Românticos (1990), O Armistício (1985), O Sol das Noites e o Luar nos Dias (1993), Memória da Sombra (1994, com fotos de António Matos). Ficção: Anoiteceu no Bairro (1946), A Madona (1968), A Ilha de Circe (1983). Teatro: O Progresso de Édipo (1957), O Homúnculo (1965), O Encoberto (1969), Erros meus, má fortuna, amor ardente (1981), A Pécora (1983). Ensaio: Poesia de arte e realismo poético (1958), Uma estátua para Herodes (1974). Obras várias: Descobri que era Europeia (1951 – viagens), Não Percas a Rosa (1978 – diário), A questão académica de 1907 (1962), Antologia da Poesia Erótica e Satírica (1966), Cantares Galego-Portugueses (1970), Trovas de D. Dinis (1970), A Mulher (1973), O Surrealismo na Poesia Portuguesa (1973), Antologia da Poesia Portuguesa no Período Barroco (1982), A Ilha de São Nunca (1982). AO AMOR A ilha me perdeu, sou de nenhuma.

Saudade-amor de mim, pedra que móis

Meu trigo que ceifei por outros sóis

Onde o suor não se evapora em bruma. Sou valquíria que escolhe os seus heróis.

Minha paixão sou eu. Não me consuma

Outra paixão, amor. Bebo uma a uma

As gotas do veneno com que dóis. Se as ilhas fossem gente, eu era o Pico,

De coração só feito de mistérios

E os longes das paisagens onde fico. Das arribas do ser, a vida tomba

E os amores do Amor a morte fere-os.

Não libertem por mim nenhuma pomba.

AUTO-RETRATO ALEXANDRINO

Eu nunca fui na vida, eu nunca fui menina:

Impura sim. Eu sou a imaculada impura.

Não vesti tafetás nem chitas de candura

Nem quis vencer jamais esta invencível sina. Foi sã minha poesia, e foi também perjura

Como uma flor-de-lis entre ascos de latrina.

Cantei ainda cedo a loa vespertina.

Se há Deus, vou-Lhe a caminho, e sinto-me segura. Por ódio ou por amor, chamem-me louca ou bela.

Sinto a inveja e o ciúme em modos de homenagem:

Se tenho de aceitá-la, eu não me nego a ela. Fui rainha de mim, de versos e de prosas,

E só a mim também honrei em vassalagem.

Cada espinho que fere é um sinal de rosas. Natália Correia

In DIMENSÃO ENCONTRADA Comentários: (0) Posted by assismachado at 08:34 PM

A TRIBUNA DOS POETAS 16 ORAÇÃO BUCÓLICA Por Ângelo Rodrigues

Possuir

as águas dos regatos,

as flores dos campos...

sublimar a todos os céus

uma oração bucólica. Saborear

incensos e cheiros silvestres,

a luz do sol namorando a manhã,

o gnomo do bosque a sorrir só para mim...

sublimar a todos os céus

uma oração bucólica. Acariciar

os frutos das árvores de ninguém,

a lã das ovelhas de todos os rebanhos do Homem,

as penas dos pássaros que sabem de alguma Liberdade...

sublimar a todos os céus

uma oração bucólica. Quedar-nos-emos

ao bucolismo do mundo.

Queremos reencarnar na matéria desta oração:

no possuir, no saborear, no acariciar.

Ângelo Rodrigues

In UM BAILADO NO CENTRO DA ALMA

Editorial Minerva Comentários: (0) Posted by assismachado at 03:52 PM

A TRIBUNA DOS POETAS 15 O TEU SORRISO Por Júlio Roberto

É a coisa mais linda

que anda no ar! Ele é cascata, é sonho, é luar.

Ele é búzio e semente de flor. Borboleta que voa,

erva de Verão,

fonte de ternura,

cor do teu olhar. Ah, o teu sorriso... Nuvem que passa,

onde eu subo

e atiro serpentinas

para o ar. Rio que vai,

de noite e de dia,

correndo para o mar. Ah, o teu sorriso... É a sabedoria de saber amar! ...

Júlio Roberto

In O JARDIM DO POETA

Edições ITAU Comentários: (0) Posted by assismachado at 03:48 PM

ILUSTRES POETISAS 4 - FLORBELA ESPANCA Florbela de Alma Conceição Espanca (1894-1930) nasceu em Vila Viçosa e faleceu em Matosinhos. Estudou em Évora, onde concluiu em 1917 o curso liceal, matriculando-se na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa. É por essa altura que publica as suas primeiras poesias. Tendo casado várias vezes e tendo sido em todas elas infeliz, começou a consumir estupefacientes. Só depois da sua morte é que a poetisa viria a ser conhecida do grande público, tendo contribuído para isso a publicação de Charneca em Flor (1930) pelo professor italiano Guido Batelli. Das suas obras destacam-se: Livro de Mágoas (1919), Livro de Sóror Saudade (1923), Charneca em Flor (1930), Reliquae (1931), A Máscara do Destino (1931) e Dominó Negro (contos, 1931).

Na Enciclopédia Larousse, esta poetisa é definida como «parnasiana, de intenso acento erótico feminino, sem precedentes na Literatura Portuguesa. A sua obra lírica, iniciada em 1919, com o Livro das Mágoas, antecipa em seu meio a emancipação literária da mulher».

CHARNECA EM FLOR Enche o meu peito, num encanto mago,

O frémito das coisas dolorosas...

Sob as urzes queimadas nascem rosas...

Nos meus olhos as lágrimas apago... Anseio! Asas abertas! O que trago

Em mim? Eu oiço bocas silenciosas

Murmurar-me as palavras misteriosas

Que perturbam meu ser como um afago! E, nesta febre ansiosa que me invade,

Dispo a minha mortalha, o meu bruel,

E já não sou, Amor, Soror Saudade... Olhos a arder em êxtases de amor,

Boca a saber a sol, a fruto, a mel:

Sou a charneca rude a abrir em flor!

LÁGRIMAS OCULTAS Se me ponho a cismar em outras eras

Em que ri e cantei, em que era querida,

Parece-me que foi noutras esferas,

Parece-me que foi numa outra vida... E a minha triste boca dolorida,

Que dantes tinha o rir das primaveras,

Esbate as linhas graves e severas

E cai num abandono de esquecida! E fico, pensativa, olhando o vago...

Toma a brandura plácida dum lago

O meu rosto de monja de marfim... E as lágrimas que choro, branca e calma,

Ninguém as vê brotar dentro da alma!

Ninguém as vê cair dentro de mim!

AMAR Eu quero amar, amar perdidamente!

Amar só por amar: Aqui...além...

Mais Este e Aquele, o Outro e toda a gente...

Amar! Amar! E não amar ninguém! Recordar? Esquecer? Indiferente!...

Prender ou desprender? É mal? É bem?

Quem disser que se pode amar alguém

Durante a vida inteira é porque mente! Há uma Primavera em cada vida:

É preciso cantá-la assim florida,

Pois, se Deus nos deu voz, foi pra cantar! E se um dia hei-de ser pó, cinza e nada

Que seja a minha noite uma alvorada,

Que me saiba perder... pra me encontrar...

Florbela Espanca

In CHARNECA EM FLOR

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A TRIBUNA DOS POETAS 14 MELANCOLIA * Por Luís Gonzaga Tavares Na ventosa noite da minha existência

Tudo é vago e informe, tudo é negro breu.

Só a dor, na fúria da sua própria essência,

Passa à desfilada, rubra de violência,

A uivar na treva que amortalha o céu. Nem a lua brilha, nem a fonte chora,

Só o mar troveja nas imensidões !

No lugar da esperança um suspiro mora,

Jamais o sol rompe nas franjas da aurora,

Cai a neve em flocos de desilusões !

Luís Gonzaga Tavares

In SERENATA À CHUVA * 1º Prémio de poesia livre nos Jogos Florais

da Academia de Santo Amaro, de Lisboa. Comentários: (0) Posted by assismachado at 07:05 PM

A TRIBUNA DOS POETAS 13 NADA SOBROU ... Por Isabel Ribeiro

Mataste todos os meus sentimentos.

Mataste toda a minha sensibilidade.

Tu, nunca me mataste !

Foi apenas paixão

O que sentiste por mim !

Retalhaste o meu coração,

Com o teu condão,

De homem leviano !

E um dia,

Quando olhares para trás ...

Verás a minha sombra

Perdida na bruma,

No nevoeiro

Do teu triste cativeiro

Que não te largará jamais !

E, se acaso voltares

Numa outra vida ...

Ficarei aguardando a tua volta ! Isabel Ribeiro

In FARRAPOS ... SÓ FARRAPOS Comentários: (0) Posted by assismachado at 06:47 PM

ILUSTRES POETISAS 3 - SOROR VIOLANTE DO CÉU Soror Violante do Céu (1602-1693) era uma freira dominicana que na vida secular se chamou Violante Montesino. Professou no Convento de Nossa Senhora do Rosário da Ordem de S. Domingos em 1630. Foi uma das poetisas mais consideradas do seu tempo, sendo conhecida pelos meios culturais da época como Décima Musa e Fénix dos Engenhos Lusitanos. É hoje um dos máximos expoentes da poesia barroca em Portugal. Aos 17 anos celebrizou-se ao compor uma comédia para ser representada durante a visita de Filipe II a Lisboa. Além do volume Rimas publicado em Ruão em 1646 e do Parnaso Lusitano de Divinos e Humanos Versos, publicado em Lisboa em 1733 em dois volumes, tem várias composições poéticas na Fénix Renascida.

Se apartada do corpo a doce vida,

Domina em seu lugar a dura morte,

De que nasce tardar-me tanto a morte

Se ausente da alma estou, que me dá vida?

Não quero sem Silvano já ter vida,

Pois tudo sem Silvano é viva morte,

Já que se foi Silvano, venha a morte,

Perca-se por Silvano a minha vida.

Ah! suspirado ausente, se esta morte

Não te obriga querer vir dar-me vida,

Como não ma vem dar a mesma morte?

Mas se na alma consiste a própria vida,

Bem sei que se me tarda tanto a morte,

Que é porque sinta a morte de tal vida.

Será brando o rigor, firme a mudança,

Humilde a presunção, vária a firmeza,

Fraco o valor, cobarde a fortaleza,

Triste o prazer, discreta a confiança;

Terá a ingratidão firme lembrança,

Será rude o saber, sábia a rudeza,

Lhana a ficção, sofística a lhaneza,

Áspero o a mor, benigna a esquivança;

Será merecimento a indignidade,

Defeito a perfeição, culpa a defensa,

Intrépito o temor, dura a piedade,

Delito a obrigação, favor a ofensa,

Verdadeira a traição, falsa a verdade,

Antes que vosso amor meu peito vença.

Que suspensão, que enleio, que cuidado

É este meu, tirano deus Cupido?

Pois tirando-me enfim todo o sentido

Me deixa o sentimento duplicado.

Absorta no rigor de um duro fado,

Tanto de meus sentidos me divido,

Que tenho só de vida o bem sentido

E tenho já de morte o mal logrado.

Enlevo-me no dano que me ofende,

Suspendo-me na causa de meu pranto

Mas meu mal (ai de mim!) não se suspende.

Ó cesse, cesse, amor, tão raro encanto

Que para quem de ti não se defende

Basta menos rigor, não rigor tanto.

Soror Violante do Céu In PARNASO LUSITANO Comentários: (1) Posted by assismachado at 12:44 PM

A TRIBUNA DOS POETAS 12 OS SEIS ANOS DO ARAUTO Por Armando David A os seis anos, quem diria R azão que o tempo perdura, A divulgar poesia U m “Arauto” de cultura. T ens, por toda a criatura O sentido e galhardia, D e dar azo a ter figura E a todos, alegria. B em hajas, p’ lo tempo fora, O teu desígnio se implora C om dinamismo divino. A mensagem que anuncias, G oze leais simpatias E m prol de Elmano Sadino. Armando David Acróstico comemorativo, Teatro de D. Maria II Comentários: (0) Posted by assismachado at 11:21 AM

TRIBUNA DOS POETAS 11 PENOSA CONDIÇÃO Por Eloy do Amaral

Meu doce Amor, agora, amargurado,

Por minha triste ausência tão forçada,

Eu sonho-te, Marília idolatrada,

Num Mundo bem cruel desencantado. Que me serviu viver e ter amado

Com fervor e paixão tão exaltada,

Se a alma, insofrida e perturbada,

Sente, profunda, a dor de abandonado. Que hórrida existência sem ventura

Daquele que só ama quem desama

E transforma o Amar em desventura. Penosa condição a de quem ama

Sentindo bem na alma essa tristura

Que tira a luz da vida e sua chama.

F. Eloy do Amaral Comentários: (0) Posted by assismachado at 11:12 AM

ILUSTRES POETISAS 2 - SOROR MARIA DO CÉU

Soror Maria do Céu (1658-1753), tendo professado numa ordem religiosa, foi uma poetiza barroca de sabor quinhentista que cantou a efemeridade da vida. Mendes dos Remédios, em Escritoras de Outros Tempos (Coimbra, 1914), elaborou um pequeno estudo sobre esta autora. Obras: A Preciosa, Alegoria Moral(Lisboa, 1731-1733), publicada sob o criptónimo de Marina Clemência; Enganos do Bosque, Desenganos do Rio, em que a Alma Entra Perdida e Sai Desenganada (Lisboa, 1736); Aves Ilustradas em Avisos para as Religiosas Servirem os Ofícios dos seus Mosteiros, Lisboa, 1734). CIDRA, CIÚME

É ciúmes a Cidra,

E indo a dizer ciúmes disse Hidra,

Que o ciúme é serpente,

Que espedaca seu louco padecente,

Dá-Ihe um cento de amor o apelido,

Que o ciúme é amor, mas mal sofrido,

Vé-se cheia de espinhos e amarela,

Que piques e desvelos vão por ela,

Já do forno no lume,

Cidra que foi zelo, se não foi ciúme,

Troquem, pois, os amantes e haja poucos,

Pelo zelo de Deus, ciúmes loucos.

MORTAL DOENÇA

Na febre do amor-próprio estou ardendo,

No frio da tibieza tiritando,

No fastio ao bem desfalecendo,

Na sezão do meu mal delirando,

Na fraqueza do ser, vou falecendo,

Na inchação da soberba arrebentado,

Já morro, já feneço, já termino,

Vão-me chamar o Médico Divino.

Na dureza do peito atormentada,

Na sede dos alívios consumida,

No sono da preguiça amadornada,

No desmaio à razão amortecida,

Nos temores da morte trespassada,

No soluço do pranto esmorecida,

Já morro, já feneço, já termino,

Vão-me chamar o Médico Divino.

Na dor de ver-me assim, vou desfazendo,

Nos sintomas do mal descoroçoando,

Na sezão de meu dano estou tremendo

No ris como da doença imaginando,

No fervor de querer-me enardecendo,

Na tristeza de ver-me sufocando,

Já morro, já feneço, já termino,

Vão-me chamar o Médico Divino.

Vou ao pasmo do mal emudecendo,

À sombra da vontade vou cegando,

Aos gritos do delito emouquecendo,

No tempo sobre tempo caducando,

Nos erros do caminho entorpecendo,

Na maligna da culpa agonizando,

Já morro, já feneço, já termino,

Vão-me chamar o Médico Divino.

Soror Maria do Céu

In ESCRITORAS DE OUTROS TEMPOS Comentários: (1) Posted by assismachado at 12:06 AM

A TRIBUNA DOS POETAS - 10 VOAREMOS JUNTOS Por Humberto de Castro

Voaremos juntos por esse mundo fora

com as asas do nosso desejo

e chegaremos a uma terra distante

onde nenhum ser humano chegou antes. Tudo florirá só para nós,

e as aves e os riachos só para nós cantarão. Aí nascerão os nossos filhos

longe deste “nosso” mundo de podridão,

de mentiras e de egoísmos,

de misérias e de guerras! E aí esqueceremos tudo

vivendo só para o futuro

esse futuro de paz

que nós construiremos! Voaremos juntos por esse mundo fora

com as asas do nosso encantamento !

Humberto de Castro

In POEMAS DESCALÇOS Comentários: (0) Posted by assismachado at 12:17 PM

A TRIBUNA DOS POETAS - 9 BOCAGE II Por Félix Heleno

Mas nem a cova fria e bem concreta

O conseguiu calar perpetuamente,

Não há terra que devore o transcendente,

Nem há vermes que devorem o poeta. Não há fim num horizonte em linha recta,

No futuro, no passado e no presente;

Há-de haver sempre um Bocage irreverente

Enquanto houver no mundo uma caneta. Enquanto o sol nascer no horizonte,

Enquanto houver um nome de Malhoa,

Enquanto Deus nos der alento e voz. Há-de ser Camões em verso a nossa fonte

E enquanto houver um nome de Pessoa

Haverá sempre um Bocage em todos nós.

Félix Heleno

In GRÃO DE PÓ EM SONHO ETERNO Comentários: (0) Posted by assismachado at 12:14 PM

ILUSTRES POETISAS 1 - MARQUESA DE ALORNA D. Leonor de Almeida Portugal Lorena e Lencastre, Marquesa de Alorna (1750-1839) nasceu em Lisboa. Tendo o seu pai sido preso, acusado de participar no atentado ao rei D. José, Leonor, de oito anos, entrou com sua irmã para o convento de Chelas, vindo somente a sair após a morte do Marquês de Pombal. Casou com o Conde de Oeynhausen e viajou por Viena, Berlim e Londres. Enviuvou aos 43 anos de idade, vivendo com algumas dificuldades económicas, dificuldades estas que não a impediram de se dedicar à literatura. Adoptou na Arcádia o nome de Alcipe. Traduziu a Arte Poética de Horácio e o Ensaio sobre a Crítica de Pope. É considerada uma poetisa pré-romântica. As suas obras foram publicadas em 1844 em seis volumes com o título genérico de Obras Poéticas. ALCIPE DA NOVA ARCÁDIA Eu cantarei um dia da tristeza

por uns termos tão ternos e saudosos,

que deixem aos alegres invejosos

de chorarem o mal que lhes não pesa. Abrandarei das penhas a dureza,

exalando suspiros tão queixosos,

que jamais os rochedos cavernosos

os repitam da mesma natureza. Serras, penhascos, troncos, arvoredos,

ave, ponte, montanha, flor, corrente,

comigo hão-de chorar de amor enredos. Mas ah! que adoro uma alma que não sente!

Guarda, Amor, os teus pérfidos segredos,

que eu derramo os meus ais inutilmente. NO LIMIAR DO ROMANTISMO Sozinha no bosque

com meus pensamentos.

calei as saudades,

fiz trégua aos tormentos. Olhei para a Lua,

que as sombras rasgava,

nas trémulas águas

seus raios soltava. Naquela torrente

que vai despedida,

encontro, assustada,

a imagem da vida. Do peito, em que as dores

já iam cessar,

revoa a tristeza,

e torno a pensar.

Marquesa de Alorna

In OBRAS POÉTICAS Comentários: (0) Posted by assismachado at 11:41 AM

PEDAGOGIA DA ARTE POÉTICA - I ARCADISMO LITERÁRIO Arcadismo em Portugal (1756-1825) Com a fundação da Arcádia Lusitana, em 1756, iniciou-se uma nova etapa literária em Portugal, caracterizada pela rebeldia contra o Barroco. Sua divisa - inutilia truncar - atestava o desejo de repúdio às coisas inúteis, característica marcante da poesia barroca.

A palavra arcádia, que dá origem a Arcadismo, é grega e designa uma sociedade literária típica da última fase do Classicismo, cujos membros adotam nomes poéticos pastoris, em homenagem à vida simples dos pastores, em comunhão com a natureza

Na Itália essa influência assumiu feição particular. Conhecida como Arcadismo, inspirava-se na lendária região da Grécia antiga. Segundo a lenda, a Arcádia era dominada pelo deus Pari e habitada por pastores que, vivendo de modo simples e espontâneo, se divertiam cantando, fazendo disputas poéticas e celebrando o amor e o prazer Simplicidade da arte renascentista A Arcádia Lusitana teve por base a Arcádia Romana, fundada na Itália em 1690, cuja tentativa foi restabelecer a simplicidade da arte renascentista e antiga. A Arcádia Lusitana estiveram ligados, entre outros, os poetas Antônio Dinis da Cruz e Silva (um de seus fundadores), Pedro Antônio Correia Garção, também doutrinador do movimento

.

NOVA ARCÁDIA Em 1790, foi fundada a Academia de Belas Artes, logo após denominada Nova Arcádia que, três anos mais tarde, publicava algumas obras poéticas de seus sócios, sob o título Almanaque das Musas. Os membros mais importantes dessa associação foram o brasileiro Domingos Caldas Barbosa, famoso nos ambientes aristocráticos por sua obra lírica, o poeta satírico Padre Agostinho de Macedo e o poeta lírico e satírico Manuel Maria Barbosa du Bocage. Arcadismo - A linguagem árcade A linguagem árcade é a expressão das idéias e dos sentimentos do artista do século XVIII. Seus temas e sua construção procuram adequar-se à nova realidade social vivida pela classe que a produzia e a consumia: a burguesia. Arcadismo - Características Além das características da linguagem árcade estudadas, outras merecem destaque:

- fugere urbem (fuga da cidade): influenciados pelo poeta latino Horácio, os árcades defendiam o bucolismo como ideal de vida, isto é, uma vida simples e natural, junto ao campo, distante dos centros urbanos. Tal princípio era reforçado pelo pensamento do filósofo francês Jean Jacques Rousseau, segundo o qual a civilização corrompe os costumes do homem, que nasce naturalmente bom.

- aurea mediocritas (vida medíocre materialmente mas rica em realizações espirituais): outro traço presente advindo da poesia horaciana é a idealização de uma vida pobre e feliz no campo, em oposição à vida luxuosa e triste na cidade

- idéias iluministas: como expressão artística da burguesia, o Arcadismo veicula também certos ideais políticos e ideológicos dessa classe, no caso, idéias do Iluminismo. Os iluministas foram pensadores que defenderam o uso da razão, em contraposição à fé cristã, e combateram o Absolutismo. Embora não sejam a preocupação central da maioria dos poetas árcades, idéias de liberdade, justiça e igualdade social estão presentes em alguns textos da época.

- convencionalismo amoroso: na poesia árcade, as situações são artificiais; não é o próprio poeta quem fala de si e de seus reais sentimentos. No plano amoroso, por exemplo, quase sempre é um pastor que confessa o seu amor por uma pastora e a convida para aproveitar a vida junto à natureza. Porém, ao se lerem vários poemas, de poetas árcades diferentes, tem-se a impressão de que se trata sempre de um mesmo homem, de uma mesma mulher e de um mesmo tipo de amor. Não há variações emocionais. Isso ocorre devido ao convencionalismo amoroso, que impede a livre expressão dos sentimentos, levando o poeta a racionalizá-los. Ou seja, o que mais importava ao poeta árcade era seguir a convenção, fazer poemas de amor como faziam os poetas clássicos, e não expressar os sentimentos. Além disso mantém-se o distanciamento amoroso entre os amantes, que já se verificava na poesia clássica. A mulher é vista como um ser superior, inalcançável e imaterial.

- carpe diem: o desejo de aproveitar o dia e a vida enquanto é possível tema já bastante explorado pelo Barroco - é retomado pelos árcades e faz parte do convite amoroso.

Pesquisa e organização de

Assis Machado Comentários: (0) Posted by assismachado at 06:31 PM

A TRIBUNA DOS POETAS - 8 DOCE CONTEMPLAR Por Eugénia Chaveiro Olhando as estrelas

Fui-lhes perguntar

Coisas que não entendo

Se estando tão alto

Conseguem ajudar

O mundo a entendê-las

Subindo um planalto

A terra vão vendo

Que em toda a claridade

Há uma imensidão

Para ser entendida

E que só há felicidade

Quando esta é vivida

Com a alegria do coração !

Eugénia Chaveiro

In DEGRAU PARA UM HORIZONTE Comentários: (0) Posted by assismachado at 06:09 PM

A TRIBUNA DOS POETAS - 7 A SAUDADE Por Mª de Lourdes Agapito Atravesso uma parede

Encontro a noite,

Afago a Saudade,

Fecho a porta

E ficou aqui !

Mª de Lourdes Agapito Comentários: (0) Posted by assismachado at 06:06 PM

A AVENTURA DA NOVA ARCÁDIA A Academia literária Nova Arcádia foi fundada no ano de 1790 e logo que a fama de improvisador de Bocage lhe chegou ao conhecimento, a Academia convidou-o para sócio. As sessões, presididas pelo padre mulato Domingos Caldas Barbosa ( o "Lereno" ), cantor de lânguidas modinhas brasileiras acompanhadas à guitarra ou à viola, muito em voga nos salões da época, realizavam-se em casa do Conde de Pombeiro ( o "fofo conde", segundo a irónica expressão de Bocage ) ou do Conde de Vimioso, outro aristocrático mecenas.

Eram essas as famosas "quartas feiras de Lereno", preenchidas com chá, torradas e bolinhos, canto, recitação e doses maciças de elogio mútuo, no meio de muita mesquinhez e artifício. Bocage, que adoptara o sobrenome poético de Elmano Sadino, retratou essas reuniões insípidas com a ironia e a graça de que tão bem conhecia o segredo e foi implacável nos seus ataques aos sócios da Arcádia. Um soneto contra ela, sobretudo, agita-a internamente, fazendo rir os botequins: Preside o neto da rainha Ginga

A corja vil, aduladora insana;

Traz sujo moço amostras de chanfana;

Em copos desiguais se esgota a pinga. Vem pão, manteiga e chá, tudo à catinga,

Massa, farinha e turba americana

E o orangotango a corda à banza abana,

Com gestos e vibagens de mendiga. Um bando de comparsas logo acode,

Do fofo Conde ao novo Talaveiras;

Improvisa, berrando, o rouco bode. Aplaudem de contínuo as frioleiras

Belmiro em ditirambo, o ex-frade em ode

- Eis aqui do Lereno as quartas-feiras. Tal sátira explodiu como uma bomba e muitas se lhe seguiram atingindo contundentemente alguns dos membros da Arcádia entre eles o Padre Caldas, Curvo Semedo, o abade de Almoster e outros que também não o poupam às mais violentas críticas.

José Agostinho de Macedo dirige-lhe versos de grande combate atingindo o seu modo de vida e a sua fama de boémio. Tu és vadio, és magro, és pobre, és feio,

E nada disto em ti reprovo ou noto;

Mas posso emudecer quando comtemplo

Que queres ser um déspoto em poesia? Membro desta associação durante três anos, Elmano acabou por se saturar daquela atmosfera de mediocridade e devido às suas sátiras mordazes aos membros da Arcádia, acabou por dela ser expulso. A guerra verbal, de enorme violência, continuou impiedosa por algum tempo, para grande gáudio do público, ávido de sensacionalismo. Entretanto a Arcádia, coberta de ridículo e de sarcasmo acabou por sucumbir, enquanto por seu lado, Bocage publicava em 1791 o 1º volume das suas Rimas.

Pesquisa de

Assis Machado Comentários: (0) Posted by assismachado at 05:44 PM

BOCAGE UMA HISTÓRIA SOFREDORA 2 A pena Satírica de Bocage não atacou apenas os membros e as regras estilísticas da Nova Arcádia. Somam-se a essa lista os poderes da Inquisição, o despotismo da Monarquia portuguesa e o fanatismo religioso.

O pensamento irreverente e liberal de Bocage, que se traduzia em versos aplaudidos e repetidos pelo povo, faz com que o poeta seja preso após a divulgação da "Epístola a Marília" ou "Pavorosa Ilusão da Eternidade" e de um soneto dedicado a Napoleão, obras essas, consideradas uma ameaça à segurança do Estado e da Igreja. Bocage é conduzido, em 1797, à prisão do Limoeiro. Nesse mesmo ano é transferido para o Hospício de Nossa Senhora das Necessidades onde o Frei Joaquim de Foios está incumbido de doutrinar o poeta.

Assim foi o fim do primeiro Bocage. No entanto, após a prisão nos cárceres da Inquisição, surge um outro Bocage que agora está reconciliado com os princípios religiosos e com os companheiros da Nova Arcádia, a quem ironizou. Esse novo Bocage é considerado por muitos estudiosos como um poeta menor que o primeiro. Isso se dá porque o Bocage que ficou na memória do povo é o poeta boémio, satírico e erótico que frequentava, principalmente, o bar do Nicola, que fazia uma poesia, que rompia com os padrões neoclássicos e que popularizou-se de tal modo que chegou ao Brasil e ainda permanece vivo em um imenso anedotário, de bom e mau gosto, que lhe é atribuído.

Depois de libertado, Bocage, para sustentar sua irmã, Maria Francisca, que está desamparada, passa a exercer atividades de tradutor e tarefas similares. "Já Bocage não sou!... À cova escura

Meu estro foi parar desfeito em vento...

(...)

Outro Aretino fui... A santidade manchei!...

Oh! se me creste, gente ímpia,

Rasga meus versos, crê na eternidade" Cabe aqui uma pergunta: Será que o poeta, após cumprir sua pena, realmente arrependeu-se?

Alguns de seus sonetos nos mostram que sim. No entanto, seus hábitos boémios, que ao longo dos anos debilitaram a saúde e que o levam a morte, vitíma de um aneurisma, em 21 de dezembro de 1805, não mudaram totalmente e isso nos dá a entender que não.

Arrependido ou não, Bocage, devido à perspectiva de morte que se aproximava, torna-se emotivo, sensível, e mergulha sua poesia em um profundo subjectivismo. Dessa forma, Bocage despe-se totalmente do fingimento Neoclássico e prepara o terreno para o advento do Romantismo. "Pavorosa ilusão da Eternidade,

Terror dos vivos, cárcere dos mortos;

D'almas vãs sonho vão, chamado Inferno,

Sistema da política opressora

Freio que a mão dos déspotas, dos bonzos,

Forjou para boçal credulidade;

Dogma funesto, que o remorso arreigas

Nos ternos corações, e paz lhe arrancas;

Dogma funesto, detestável crença,

Que envenenas delícias inocentes

Tais como aquelas que no céu se fingem!

Fúrias, Cerastes, Dragos Centimanos

Perpétua escuridão, perpétua chama

Incompatíveis produções do engano,

Do sempiterno horror terrível quadro,

(Só terrível aos olhos da ignorância):

Não, não me assombram tuas negras cores;

Dos homens o pincel e a mão conheço.

Trema de ouvir sacrílego ameaço

Quem dum Deus, quando quer, faz um tirano;

Trema a superstição; lágrimas, preces,

Votos, suspiros arquejando espalhe,

Cosa as faces co'a terra, os peitos fira,

Vergonhosa piedade, inútil vénia

Espere às plantas do impostor sagrado,

Que ora os infernos abre, ora os ferrolha...."

Pesquisa de

Assis Machado

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A TRIBUNA DOS POETAS - 6 FONTE INESGOTÁVEL Por Graciett Vaz

Alentejo, doce fonte inesgotável,

Onde a minha musa vai beber

Quando ganha asas de vento afável

Refresca-se no condão do teu saber. Quase sempre, à tarde, ao escurecer

Embevecida no teu cântico adorável

Em teus braços costumam adormecer,

E julga-se num campo invejável. Sonhando, imagina-se criança,

Então, solta os cabelos ao vento,

Salta, salta e ganha confiança. P´la manhã, quando o sol desponta

E nas silvas a toutinegra já canta

Acorda feliz e saceia a garganta.

Graciett Vaz Comentários: (0) Posted by assismachado at 12:07 PM

BOCAGE UMA HISTÓRIA SOFREDORA 1 A 15 de 0utubro de 1765, nasce em Setúbal o poeta Manuel Maria Barbosa du Bocage. Ele é o quarto dos seis filhos do advogado José Luís Soares Barbosa e de Maria Joaquina Lestof du Bocage.

Desde cedo Bocage entra em contato com as letras. Aos oito anos escreve e lê com certa desenvoltura e logo surgem as primeiras composições, que superam os dotes artísticos do pai, que também versejava. "Das faixas infantis despido apenas,

Sentia o sacro fogo arder na mente;

Meu terno coração inda inocente

Iam ganhando as plácidas Camenas." Depois da morte da mãe, quando o poeta tinha apenas dez anos, Bocage é mandado estudar com D. João de Medina, com quem aprende Latim, língua essa que lhe seria muito útil nas posteriores atividades como tradutor. Bocage aprende ainda francês com o pai e italiano sendo, nessa língua, segundo alguns biógrafos, autodidacta.

Por volta de 1781 Bocage foge de casa e assenta praça, como soldado, no regimento de Setúbal. Dois anos depois ingressa no corpo da Marinha Real e vai para Lisboa onde entra em contato com a boémia e a vida intelectual desse lugar. O Bocage dessa época é um poeta atraído pelos clássicos gregos e também pelos clássicos da sua terra, como por exemplo: Camões, que era, como o próprio nos mostra no fragmento do soneto abaixo, o seu modelo. "Camões, grande Camões, quão semelhante

Acho teu fado ao meu, quando os cotejo!

Igual causa nos fez perdendo o Tejo

Arrostar co sacrílego gigante: Modelo meu tu és... Mas, oh tristeza!...

Se te imito nos transes da ventura,

Não te imito nos dons da Natureza." Os versos de Bocage, nessa fase, estão presos aos valores literários da época. Eles são corretíssimos, ou seja, perfeitos na rima e na métrica, porém, de pouca originalidade e espontaneadade. O próprio Bocage criticou, anos mais tarde, a sua falta de criatividade, como pode ser observado no fragmento do soneto abaixo: "Incultas produções da mocidade

Exponho a vossos olhos, ó leitores:

Vede-as com mágoa, vede-as com piedade,

Que elas buscam piedade, e não louvores:

(...)

E se entre versos mil de sentimento

Encontrardes alguns, cuja aparência

Indique festival contentamento, Crede, ó mortais, que foram com violência

Escritos pela mão do Fingimento,

Cantados pela voz da Dependência." Ainda nesse período, sua poesia está repleta de Marílias, Fílis, Nises e tantas outras ninfas que se transformam em pastoras e vivem sob o clima pastoril que caracterizou as produções Árcades.

A ninfa de maior destaque é Gertrúria, devido a quantidade de versos a ela dedicados, acredita-se que ela tenha sido o maior dos amores do poeta. ( Continua ) Pesquisa de

Assis Machado Comentários: (0) Posted by assismachado at 11:07 AM

A TRIBUNA DOS POETAS - 5 O FOGO DA PAIXÃO

Por Maria Celeste Reis

Vive o mundo desesperado

Sem encontrar explicação

Porque terá de passar

Pelo fogo da Paixão. Ninguém a ele escapa,

Nem às suas emoções,

Tanto nos mostra o céu,

Como a lava dos vulcões. De que vale ser controlado

Para que serve a precaução?

Um coração apaixonado

É corrente de alta tensão... Nesta impetuosa corrente

Quem lhe pensa resistir ?

Arrasta com ela toda a gente

Do Altar o Santo faz cair... Tantas são as subtilezas

Ao redor das sensações,

Só se conhecem certezas

Ao escorregar nas traições... Bem poucas são as venturas

Comparadas às labaredas,

Quanto maiores são as alturas

Maiores são as nossas quedas... Mas... quem controla a paixão ?

Se ela surge, quem resiste ?

Despedaça qualquer coração

Mas... desistir, quem desiste ? Se nos recusamos guiar

P’ la luz da nossa candeia,

teremos sempre de escutar

o gargalhar da sereia. E essa voz cativante

Faz-se ouvir a cada instante

Pois jamais ela emudece...

Mas... se à nossa frente aparece

Não há outra solução,

Ou se cai ou se enlouquece

Ou se morre de paixão. Maria Celeste Reis Comentários: (0) Posted by assismachado at 04:42 PM

A TRIBUNA DOS POETAS - 4 MAGIA DA SAUDADE

Por Lurdes Ferreira

Não quero perder a esperança, de te ter,

Na sombra de uma gruta, na aragem do mar,

No céu, na lua, no horizonte eu viver,

Pois nunca deixarei de te amar. Não quero perder a esperança, de sentir,

Tua alma, junto à minha solidão,

No silêncio eu procuro, redimir,

O sabor, que eu sinto, da paixão ... Quero ser como as nuvens fugidias,

A seguirem seu caminho, devagar,

Queria também ter asas luzidias,

Ter o infinito e te abraçar... Ser anjo, e descobrir o Universo,

No silêncio total da Eternidade,

Nessa distância louca, me disperso,

Vivendo, na magia da saudade !

Lurdes Ferreira Comentários: (0) Posted by assismachado at 04:38 PM

A LENDA BOCAGEANA NA TRADIÇÃO POPULAR « TRADIÇÃO E MENTALIDADE, UMA ESTÓRIA REAL » Se Camões foi o poeta dos intelectuais, Bocage foi adoptado pelo povo português como porta-voz das suas expectativas, ambições e reivindicações.

Ao longo do século XIX e da primeira metade do século XX, foi-se sedimentando um anedotário que tinha o escritor como principal interveniente. Por outro lado, as transgressões aos valores instituídos também eram de imediato identificadas com o nome de Bocage. Deste modo, foi-se tecendo uma lenda que continua ainda a ser alimentada.

A personalidade e a obra do poeta foram retratadas em dezenas de biografias, em oito peças de teatro, canções, múltiplos poemas, bem como em dois filmes - um português, dirigido por Leitão de Barros, em 1936, e um brasileiro, de Djalma Limongi, em 1998. Os artistas plásticos também têm querido homenagear a figura deste poeta setubalense. Entre aqueles que contribuíram com óleos, desenhos, gravuras ou caricaturas para o imortalizar, contam-se Júlio Pomar, Lima de Freitas, Vasco, Fernando Santos, Júlio Gil e Luciano Santos.

Em 1998, foi fundado, em Setúbal, o Centro de Estudos Bocageanos, que tem como escopo divulgar a obra e dinamizar a investigação acerca de Bocage. Foram realizadas por esta associação várias sessões de poesia, tendo ainda sido publicados uma colecção de postais, que reconstitui a prisão do escritor, e um livro que inclui as traduções de fábulas, bem como as de La Fontaine, por si escrupulosamente traduzidas. A CIGARRA E A FORMIGA Adaptação das Fábulas de Fontaine, por Bocage

Tendo a cigarra em cantigas

passado todo o Verão

achou-se em extrema penúria

na tormentosa estação. Não lhe restando migalha

que trincasse, a tagarela

foi valer-se da formiga,

que morava perto dela. Rogou-lhe que lhe emprestasse,

pois tinha riqueza e brio,

algum grão com que manter-se

Até voltar o aceso estio. - Amiga, diz a cigarra,

prometo, à fé d’ animal,

pagar-vos antes d’ Agosto

os juros e o principal. A formiga nunca empresta,

nunca dá, por isso ajunta.

- No Verão, em que lidavas ?

à pedinte ela pergunta. Responde a outra: - eu cantava,

noite e dia e a toda a hora !

- Ah, bravo! responde a formiga,

- Cantavas ? Pois dança agora !

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ANEDOTÁRIO BOCAGEANO O ANEDOTÁRIO ATRIBUÍDO A BOCAGE Domingos Caldas, brasileiro famoso pelas modinhas que tangia à viola e ainda pelos seus versos, escreveu uma quadra pouco abonatória para Elmano : "De todos diz mal

O ímpio Manuel Maria

E se de Deus não disse

Foi porque o não conhecia" Acusação gravosa esta para a época, que podia significar um processo inquisitorial. Bocage não se fez rogado e respondeu literalmente: "Dizem que o Caldas glutão

Em Bocage aferra o dente

Ora é forte admiração

Ver um cão morder na gente!" É bem conhecido o carácter irreverente de Bocage. Com efeito, da sua pena contundente saíram sátiras impiedosas, críticas ao modelo de sociedade, ao governo, aos poderosos de uma maneira geral. O novo-riquismo, a mediocridade, as convenções sociais, o clero, os médicos, os avarentos e os literatos, entre outros, também foram objecto da sua observação rigorosa e da sua crítica corrosiva.

Recorde-se que a anemia e a estagnação que caracterizavam a sociedade portuguesa de finais do século XVIII eram um espartilho para uma personalidade que estava muito para além da mentalidade da época. Co-existiam em Bocage a sensibilidade extrema, a ousadia aberta, a percepção aguda da realidade, a emotividade exuberante e o imenso talento. Estes atributos, aliados a um repentismo fulminante e à sua permanente insatisfação relativamente aos valores dominantes e a determinados tabus, fizeram com que entrasse em rota de colisão com o poder, tendo sido preso por crime de lesa majestade e, pouco depois, entregue às malhas mutiladoras da Inquisição. O objectivo era a sua "reeducação". Ao fim de poucos meses, foi libertado pois o perigo de converter alguns frades aos seus ideais era cada vez mais real...

Poder-se-á defender a tese de que Bocage incarnou o inconsciente colectivo do povo português. Ele consubstanciou a voz do povo oprimido mas crítico que compensava com o riso, com a caricatura e com o ridículo a sua legítima insatisfação. A filosofia de vida de Bocage - crítico, ousado, irreverente, boémio, popular, espontâneo - propiciou- lhe uma auréola notável e consequentemente uma legião de admiradores. Comprova-o o facto de a sua personalidade ter sido incensada em mais de cem poemas da autoria de contemporâneos que tiveram o privilégio de com ele conviver.

Em contraponto e como corolário da sua frontalidade, registe-se que, obviamente, não foram poucos os seus detractores que acintosamente o atacaram em sátiras e polémicas que Bocage ia também ciosa e apaixonadamente alimentando.

Tendo em consideração que o povo português encarou Bocage como se de filho seu se tratasse, houve a tendência natural para lhe atribuir a participação activa em ocorrências cómicas, satíricas ou brejeiras. Dir-se-ia que o seu aval tornaria as situações mais credíveis e humorísticas.

Os livros de anedotas cuja autoria é atribuída a Bocage pouco terão a ver com o poeta. Pelo menos nada há escrito do seu punho de carácter anedótico. A tradição oral encarregou-se de ir perpetuando todo este acervo, como se fosse da sua autoria. Resta-nos apenas a filosofia subjacente a muitos destes livros, essa sim Bocageana, como muitos dos seus amigos – Pato Moniz, D. Gastão da Câmara Coutinho, Bingre, entre outros – testemunharam.

É bem verdade que Bocage foi a consciência crítica do povo, como já foi referido. Mas não é menos verdade que houve editores que, para ganharem dinheiro facilmente, instrumentalizaram o seu nome, optando pelo primarismo e pela obscenidade. Confundiram talvez conscientemente erotismo com pornografia, sensualidade com boçalidade, ironia subtil com sarcasmo.

O primeiro livro de anedotas atribuídas a Bocage de que há notícia remonta ao princípio do presente século e está directamente relacionado com a liberalizarão da sociedade portuguesa e com a comemoração do centenário do falecimento do escritor em 1905. A partir desta data, inúmeras edições foram vindo a lume.

De extrema relevância é o facto de a auréola bocageana se ter propagado exuberantemente ao Brasil. Com efeito, actualmente, o poeta tem mais livros à venda naquele país do que em Portugal e está amplamente representado na literatura de cordel brasileira, sendo o herói de aventuras tropicais e mirabolantes que ele não poderia ter protagonizado certamente na sua breve estada na Rua das Violas, no Rio de Janeiro, em 1786, a caminho de Goa.

Com o Vinte Cinco de Abril, Bocage, poeta da Liberdade e do inconformismo, foi sendo cada vez menos o protagonista do anedotário popular. A liberdade de expressão, finalmente readquirida, deslocou o "epicentro" das anedotas para outros intervenientes do nosso quotidiano. Com ampla vantagem para o Bocage sonetista emérito, tradutor rigoroso, sátiro impiedoso, polemista incansável e arauto de uma sociedade em sintonia com os valores mais nobres da natureza humana.

Pesquisa de

Assis Machado

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A TRIBUNA DOS POETAS - 3 QUANDO A SAUDADE FALA

Por Perpétua Matias

A roseira singela,

Rodeada de mil flores,

Vivia num canteiro

Com seus rebentos, seus amores.

Um deles, mudou para outro canteiro,

Mais soalheiro,

Nunca mais aquele jardim visitou.

A roseira singela estava desgostosa,

Esmoreceu, deixou cair a última rosa.

Pediu ao vento e ao luar,

Às estrelas do céu, para a ajudar.

Então por magia lá estava,

Do outro lado do jardim,

E era assim,

Que as saudades matava.

Só por carregar no botão do rebento,

Que não via há tempo,

A roseira singela tinha esperança,

Estava à espera,

Que o seu rebento a visitasse na Primavera.

Numa noite de relento,

Era de prata o luar,

Vieram as ninfas do mar,

Porque voltou o rebento.

Todo o jardim floriu,

De lindas flores, tão belas,

A roseira singela, sorriu,

E revestiu-se de rosas amarelas.

Perpétua Matias

In VOAR LIVREMENTE

Edição da Autora Comentários: (0) Posted by assismachado at 10:38 PM

TRIBUNA DOS POETAS - 2

SOLIDÃO

Por Amélia Marques

A vida só é bela

quando a vida o brilho tem

deixa de ser bela a vida

quando não se te ninguém.

Vida é ter o sol que aquece

e luz que nos ilumine

vida é ter abrigo e afecto

de alguém que nos estime.

Ficam as lágrimas e a saudade

quando parte o nosso amor

e quanto mais tempo passa

maior é a nossa dor.

No meu canto solitário

ao meu pranto eu dou largas

me sinto aliviada

vertendo as minhas lágrimas.

A minha janela eu abro

para entrar um raio de luz

olho o azul do firmamento

peço as graças a Jesus.

Ai, solidão, solidão,

és tão grande e não te vejo!

Mas te sinto a toda a hora.

Ai, solidão, solidão,

quem dera partir agira.

Amélia Marques

In FLORES DO CAMPO

Editorial Minerva Comentários: (0) Posted by assismachado at 10:17 PM

BIOGRAFIA DO GRANDE POETA BOCAGE Poeta lírico neoclássico português, que tinha pretensão a vir a ser um segundo Camões, mas que dissipou suas energias numa vida agitada. Nasceu em Setúbal, em 15/09/1765 e morreu em Lisboa (21/12/1805), aos 40 anos de idade, vítima de um aneurisma. Nos últimos anos o poeta vivia com uma irmã e uma sobrinha, sustentando-as com traduções de livros didácticos. Para viver seus últimos dias, inclusive, teve de valer-se de um amigo (José Pedro da Silva) que vendia, nas ruas de Lisboa, suas derradeiras composições: Improvisos de Bocage na Sua Mui Perigosa Enfermidade e Colecção dos Novos Improvisos de Bocage na Sua Moléstia.

Filho de um advogado, fugiu de casa aos 14 anos para juntar-se ao exército. Foi transferido para a Armada dois anos depois. Como integrante da Academia da Armada Real, em Lisboa, dedicou seu tempo a casos amorosos, poesia e boémia.

Em 1786 foi enviado, tal qual seu herói Camões, para a Índia (Goa e Damão) e, também como Camões, desiludiu-se com o Oriente. Depois, por vontade própria e à revelia de seus superiores, dirigiu-se a Macau, voltando a Portugal em 1790. Ingressou então na Nova Arcádia — uma academia literária com vagas vocações igualitárias e libertárias —, usando o pseudónimo de Elmano Sadino. Contudo, de temperamento forte e violento, desentendeu-se com seus pares, e suas sátiras a respeito deles levou à sua expulsão do grupo. Seguiu-se uma longa guerra de versos que envolveu a maior parte dos poetas lisboetas.

Em 1797, acusado de heresia, dissolução dos costumes e ideias republicanas, foi implacavelmente perseguido, julgado e condenado, sendo sucessivamente encarcerado em várias prisões portuguesas. Ali realizou traduções de Virgílio, Ovídio, Tasso, Rousseau, Racine e Voltaire, que o ajudaram a sobreviver seus anos seguintes, como homem livre.

Ao recuperar a liberdade, graças à influência de amigos, e com a promessa de criar juízo, o poeta, envelhecido, parece ter abandonado a boémia e zelado até seus últimos momentos por impor aos seus contemporâneos uma imagem nova: a de homem arrependido, digno e chefe de família exemplar. Sua passagem pelo Convento dos Oratorianos (onde é doutrinado, logo após sua saída da cadeia) parece ter contribuído para tal.

Portugal, na época de Bocage, era um império em ruínas, imerso no atraso, na decadência económica e na libertinagem cortesã, feita às custas da miséria de servos e operários, perpetuando o pantanal cinzento do absolutismo e das atitudes inquisitoriais, da Real Mesa Censória e dos calabouços destinados aos maçons e descontentes.

Ninguém encarnou melhor o espírito da classe dirigente lusitana do fim do século XVIII do que Pina Manique. Ex-policial e ex-juiz, conquistou a confiança dos poderosos, tornando-se o grande senhor do reinado de D. Maria I (só oficialmente reconhecida como louca em 1795), reprimindo com grande ferocidade tudo o que pudesse lembrar as "abomináveis ideias francesas". Graças a ele, inúmeros sábios, cientistas e artistas conheceram o caminho do exílio.

Bocage usou vários tipos de versos, mas fez o melhor no Soneto. Não obstante a estrutura neoclássica de sua obra poética, seu intenso tom pessoal, a frequente violência na expressão e a auto-dramatizada obsessão face ao destino e à morte, anteciparam o Romantismo.

Suas poesias, Rimas, foram publicadas em três volumes (1791, 1799 e 1804). O último deles foi dedicado à Marquesa de Alorna, que passou a protegê-lo.

Os poemas não censurados do autor são geralmente convencionais e bajulatórios, copiando a lição dos mestres neoclássicos e abusando da mitologia, uma espécie de poesia académica feita por e para iniciados. Outra parcela de sua obra é considerada pré-romântica, trazendo para poesia o mundo pessoal e subjectivo da paixão amorosa, do sofrimento e da morte.

Já sua poesia censurada surgiu da necessidade de agradar ao público que pagava: com admirável precisão, o poeta punha o dedo acusador nas chagas sociais de um país de aristocracia decadente, aliada a um clero corrupto, comprometidos ambos com uma política interna e externa anacrónica para aquele momento. Também está presente ali a exaltação do amor físico que, inspirado no modelo natural, varre longe todo o platonismo fictício de uma sociedade que via pecado e imoralidade em tudo o que não fosse convenientemente escondido. Pesquisa e adaptação

de Assis Machado

Comentários: (1) Posted by assismachado at 11:09 PM

A TRIBUNA DOS POETAS - 1 O MEU PALCO

Meu palco o lugar de magia

onde minh’alma flutua

e o meu corpo se delicia

sendo inteiramente tua. Quando meus pés te pisam

toda a dor desaparece

os versos se eternizam

no calor da minha prece. Palco, mar das minhas emoções

és a voz do coração

e o expressar das paixões

na cratera dum vulcão. Palco, vida da minha vida

amarra onde me abraço

já nem sequer sinto a ferida

na teia onde me enlaço. Palco, irmão da poesia

lenitivo para a dor

és a grande sinfonía

nas mãos do compositor. Eu te amo palco amado

que a arte fazes viver

és o refúgio sagrado

onde afogo o meu sofrer.

Ao pisar-te meu palco,

sinto-me renascer.

América Miranda Comentários: (0) Posted by assismachado at 10:51 PM

TERTÚLIA POÉTICA - HIERARQUIA CRONOLÓGICA Presidente e Fundadora : Poetisa AMÉRICA MIRANDA QUADRO DOS COLABORADORES DA TERTÚLIA América Miranda *

Lídia Susana Alves *

Celeste Reis *

Armando David *

Perpétua Matias *

Mª de Lourdes Agapito *

Félix Heleno *

Manuel dos Santos *

F. Heloy do Amaral *

António Carvalho *

Isabel Ribeiro *

Graciett Vaz *

Domingos Vaz *

Lourdes Ferreira *

Lopes Victor *

Júlio Roberto *

Amélia Marques *

L. Gonzaga Tavares *

Humberto de Castro *

Ângelo Rodrigues

Von Trina

Cristina Estrompa

Pedro Mulder

Ruy de Carvalho

João de Carvalho

Victor de Sousa

Orlando Lizardo

António Sala

Frassino Machado *

Euclides Cavaco

( * ) - Membros efectivos da Tertúlia

Contactos Úteis : Correio Electrónico ( E – MAIL ) : americamiranda@sapo.pt

E – MAIL Alternativo : assismachado@sapo.pt ( Webmaster ) Comentários: (0) Posted by assismachado at 02:26 PM

TERTÚLIA POÉTICA - CONTACTOS ÚTEIS Presidente e Fundadora : Poetisa AMÉRICA MIRANDA

Residência : Rua Prior do Crato, nº 86 – 1º Esq.

1350 – 262 LISBOA

Fax.: 21 397 64 81

Telm.: 93 423 66 12

Correio Electrónico ( E – MAIL ) : americamiranda@sapo.pt

E – MAIL Alternativo : assismachado@sapo.pt ( Webmaster ) Comentários: (1) Posted by assismachado at 12:18 PM

PABLO NERUDA - POETA CARISMÁTICO DO SEC. XX

O Arauto dos oprimidos, amante da vida nas mais diversas facetas, diplomata de profissão, faria, se fosse vivo, esta semana cem anos - nasceu em 12 de Julho de 1904, em Santiago do Chile. Deixou-nos peças líricas e odes inesquecíveis, reunidas em Colectâneas como :

Residencia en la Tierra ; Canto General ; Veinte poemas de Amor y una Cancion Desesperada, entre outras Obras, valeram-lhe o Nobel de Literatura em 1971 LA CAMPESINA Entre los surcos tu cuerpo moreno

es un racimo que a la tierra llega.

Torna los ojos, mírate los senos,

son dos semillas ácidas y ciegas.

Tu carne es tierra que será madura

cuando el otoño te tienda las manos,

y el surco que será tu sepultura

temblará, temblará, como un humano

al recibir tus carnes y tus huesos

-rosas de pulpa con rosas de cal:

rosas que en el primero de los besos

vibraron como un vaso de cristal-.

La palabra de qué concepto pleno

será tu cuerpo? No lo he de saber!

Torna los ojos, mírate los senos,

tal vez no alcanzarás a florecer.

AUSENCIA

Apenas te he dejado,

vas en mí, cristalina

o temblorosa,

o inquieta, herida por mí mismo

o colmada de amor, como cuando tus ojos

se cierran sobre el don de la vida

que sin cesar te entrego.

Amor mío,

nos hemos encontrado

sedientos y nos hemos

bebido toda el agua y la sangre,

nos encontramos

con hambre

y nos mordimos

como el fuego muerde,

dejándonos heridas.

Pero espérame,

guárdame tu dulzura.

Yo te daré también

una rosa.

Pablo Neruda

In CANTO GENERAL

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AMÉRICA - A POETISA MISSIONÁRIA DE BOCAGE « Coração amarrotado

por tanta hipocrisia

traz meu eu atormentado

nesta vaga de poesia ».

América Miranda Sete anos América serviu

Bocage e a Tertúlia com fervor,

a divulgar Elmano, com amor,

a quem por tanto amor sempre seguiu. Melhor do que ninguém ela sentiu

a beleza do verso inspirador

a revelar doçura, imensa dor

e a paixão, que Elmano, dividiu. Sete anos América aturou

os bons tertulianos com poesia

que, por bem, tantas vezes recitou. Sete anos sentindo idolatria

por Bocage, que ama e sempre amou,

e sempre amará em Fantasia.

Eloy do Amaral Teatro Nacional D. Maria II

17-01-2004 ( Homenagem pelo VII Aniversário da

Tertúlia Poética “Ao encontro de Bocage” )

Comentários: (0) Posted by assismachado at 03:57 PM

A POETISA SOPHIA POR ELA MESMO

A POETISA SOPHIA POR ELA MESMA

Tive amigos que morriam, amigos que partiam,

Outros quebravam o seu rosto contra o tempo,

Odiei o que era fácil,

Procurei-me na luz, no mar, no vento ...

.....................

Este é o tempo

da selva mais obscura

Até o azul se tornou grades

e a luz do sol se tornou impura

Esta é a noite densa de chacais

pesada de amargura

Este é o tempo

em que os homens renunciam.

......................

É preciso que eu deixe

o poema dizer-se ...

.............................

Não se perdeu nenhuma coisa em mim.

Continuam as noites e os poentes

Que escorreram na casa e no jardim,

Continuam as vozes diferentes

Que intactas no meu ser estão suspensas.

Trago o terror e trago a claridade,

E através de todas as presenças

Caminho para a única unidade.

.............................. Comentários: (0) Posted by assismachado at 10:27 PM

PRÓXIMAS TERTÚLIAS A REALIZAR TODOS À TERTÚLIA ! TODOS À TERTÚLIA ! Dia 17 de Julho, às 15 Horas, na Biblioteca Municipal Camões, Largo do Calhariz Dia 31 de Julho, às 15 Horas, No Instituto de Naturalogia, R. Do Alecrim, 38 – 3º ............... ( FÉRIAS ) ................ Dia 11 de Setembro, às 17 Horas, « HOMENAGEM AO GRANDE POETA BOCAGE » No Auditório Carlos Paredes, Avenida Gomes Pereira, 17 Participação de todos os Tertulianos e de alguns Actores do Teatro Português O Programa integra : Declamações de Poesias, Fados e Canções - Música Variada TODOS À TERTÚLIA ! Comentários: (0) Posted by assismachado at 09:53 PM

IMPERATRIZ SOPHIA 1 IMPERATRIZ SOFIA

Sofia de todos nós

de poesia moldada

és entre todos fadada,

desde ancestrais avós.

De poesia criada

gritos largos sem voz

és a saudade atroz

duma pena encantada.

Andrade, Jorge e Pessoa

com uma Sofia feliz

fizestes bela Lisboa.

E cada um de aprendiz

compôs poesia boa

como a grande Imperatriz.

Frassino Machado

In FILHOS DA ESPERANÇA Comentários: (0) Posted by assismachado at 06:49 PM

A NOSSA HOMENAGEM À POETISA SOPHIA DE MELLO ANDRESEN RUMOS DE UMA VIDA EXEMPLAR 1919 – Nasce a 6 de Novembro no Porto, onde passou a infância. Aos 3 anos, tem o primeiro contacto com a poesia, quando uma criada lhe recita A Nau Catrineta, que aprenderia de cor. Mesmo antes de aprender a ler, o avô ensinou-a a recitar Camões e Antero. «Recordo-me de descobrir que num poema era preciso que cada palavra fosse necessária, as palavras não podem ser decorativas, não podiam servir só para ganhar tempo até ao fim do decassílabo, as palavras tinham que estar ali porque eram absolutamente indispensáveis. Isso foi uma descoberta» (JL 468, de 25/6/91) 1926 – Frequenta o Colégio do Sagrado Coração de Maria, no Porto, até aos 17 anos. Primeiro semi-interna, depois externa. Tem professores marcantes, como a D. Carolina (de Português). E, apesar da pouca estima por disciplinas como Matemática e Química, nunca chumbou. Aos doze anos escreve os primeiros poemas. Entre os 16 e os 23 tem uma fase excepcionalmente fértil na sua produção poética 1936 – Estuda Filologia Clássica, na Faculdade de Letras de Lisboa, mas não leva a licenciatura até ao fim. Três anos depois, regressa ao Porto, onde vive até casar com Francisco Sousa Tavares, altura em que se muda definitivamente para Lisboa. Tem cinco filhos 1944 – Publica o primeiro livro, Poesia, uma edição de autor de 300 exemplares, paga pelo pai, que sairia em Coimbra por diligência de um amigo: Fernando Vale. Em 1975 seria reeditado pela Ática. Este livro é uma escolha, que integra alguns poemas escritos com 14 anos. E o início de um fulgurante percurso poético e não só. Publicaria também ficção, literatura para crianças e traduziu, nomeadamente, Dante e Shakespeare 1947 – O Dia do Mar, Ática 1950 – Coral, Livraria Simões Lopes 1954 – No Tempo Dividido, Guimarães 1956 – O Rapaz de Bronze (literatura infantil), Minotauro 1958 – Mar Novo, Guimarães; A Menina do Mar (infantil), Figueirinhas; A Fada Oriana (infantil), Figueirinhas. Escreve um ensaio sobre Cecília Meireles na «Cidade Nova» 1960 – Noite de Natal (infantil), Ática. Publica o ensaio Poesia e Realidade, na «Colóquio 8» 1961 – O Cristo Cigano, Minotauro 1962 – Livro Sexto, Salamandra, distinguido com o Grande Prémio de Poesia da Sociedade Portuguesa de Escritores, em 1964; Contos Exemplares (ficção), Figueirinhas 1964 – O Cavaleiro da Dinamarca (infantil), Figueirinhas 1967 – Geografia, Ática 1968 – A Floresta (infantil), Figueirinhas; Antologia, Portugália, cuja 5ª edição (1985 – Figueirinhas) é prefaciada por Eduardo Lourenço 1970 – Grades, D. Quixote 1972 – Dual, Moraes 1975 – Publica o ensaio O Nu na Antiguidade Clássica, integrado em O Nu e a Arte, uma edição dos Estúdios Cor. Deputada pelo Partido Socialista à Assembleia Constituinte. A sua actividade político-partidária, não foi longa, mas ao longo da sua vida sempre foi uma lutadora empenhada pelas causas da liberdade e justiça. Antes do 25 de Abril, pertence mesmo à Comissão Nacional de Apoio aos Presos Políticos «A poesia é das raras actividades humanas que, no tempo actual, tentam salvar uma certa espiritualidade. A poesia não é uma espécie de religião, mas não há poeta, crente ou descrente, que não escreva para a salvação da sua alma – quer a essa alma se chame amor, liberdade, dignidade ou beleza» (JL 709, de 17/12/97) 1977 – O Nome das Coisas, Moraes, distinguido com o Prémio Teixeira de Pascoaes 1983 – Navegações (IN-CM), recebe o Prémio da Crítica do Centro Português da Associação de Críticos Literários 1984 – Histórias da Terra e do Mar (ficção), Salamandra 1985 – Árvore (infantil), Figueirinhas 1989 – Ilhas, Texto, distinguido com os Prémios D. Dinis, da Fundação Casa de Mateus e Inasset-INAPA (1990) 1990 – Reúne toda a sua obra em três Volumes, Obra Poética, com a chancela da Editorial Caminho; é distinguida com o Grande Prémio de Poesia Pen Clube 1992 – Grande Prémio Calouste Gulbenkian de Literatura para Crianças 1994 – Musa, Caminho. Recebe Prémio Vida Literária da Associação Portuguesa de Escritores. Publica Signo, um livro/disco com poemas lidos por Luís Miguel Sintra, uma edição Presença/Casa Fernando Pessoa 1995 – Placa de Honra do Prémio Petrarca, atribuída em Itália 1996 – Homenageada do Carrefour des Littératures, na IV Primavera Portuguesa de Bordéus e da Aquitânia 1998 – O Búzio de Cós, Caminho, distinguido com o Prémio da Fundação Luís Míguel Nava 1999 – Prémio Camões Sophia de Mello Breyner Andresen morreu a 2 de Julho de 2004 Comentários: (0) Posted by assismachado at 06:19 PM RUMOS DE UMA VIDA EXEMPLAR 1919 – Nasce a 6 de Novembro no Porto, onde passou a infância. Aos 3 anos, tem o primeiro contacto com a poesia, quando uma criada lhe recita A Nau Catrineta, que aprenderia de cor. Mesmo antes de aprender a ler, o avô ensinou-a a recitar Camões e Antero. «Recordo-me de descobrir que num poema era preciso que cada palavra fosse necessária, as palavras não podem ser decorativas, não podiam servir só para ganhar tempo até ao fim do decassílabo, as palavras tinham que estar ali porque eram absolutamente indispensáveis. Isso foi uma descoberta» (JL 468, de 25/6/91) 1926 – Frequenta o Colégio do Sagrado Coração de Maria, no Porto, até aos 17 anos. Primeiro semi-interna, depois externa. Tem professores marcantes, como a D. Carolina (de Português). E, apesar da pouca estima por disciplinas como Matemática e Química, nunca chumbou. Aos doze anos escreve os primeiros poemas. Entre os 16 e os 23 tem uma fase excepcionalmente fértil na sua produção poética 1936 – Estuda Filologia Clássica, na Faculdade de Letras de Lisboa, mas não leva a licenciatura até ao fim. Três anos depois, regressa ao Porto, onde vive até casar com Francisco Sousa Tavares, altura em que se muda definitivamente para Lisboa. Tem cinco filhos 1944 – Publica o primeiro livro, Poesia, uma edição de autor de 300 exemplares, paga pelo pai, que sairia em Coimbra por diligência de um amigo: Fernando Vale. Em 1975 seria reeditado pela Ática. Este livro é uma escolha, que integra alguns poemas escritos com 14 anos. E o início de um fulgurante percurso poético e não só. Publicaria também ficção, literatura para crianças e traduziu, nomeadamente, Dante e Shakespeare 1947 – O Dia do Mar, Ática 1950 – Coral, Livraria Simões Lopes 1954 – No Tempo Dividido, Guimarães 1956 – O Rapaz de Bronze (literatura infantil), Minotauro 1958 – Mar Novo, Guimarães; A Menina do Mar (infantil), Figueirinhas; A Fada Oriana (infantil), Figueirinhas. Escreve um ensaio sobre Cecília Meireles na «Cidade Nova» 1960 – Noite de Natal (infantil), Ática. Publica o ensaio Poesia e Realidade, na «Colóquio 8» 1961 – O Cristo Cigano, Minotauro 1962 – Livro Sexto, Salamandra, distinguido com o Grande Prémio de Poesia da Sociedade Portuguesa de Escritores, em 1964; Contos Exemplares (ficção), Figueirinhas 1964 – O Cavaleiro da Dinamarca (infantil), Figueirinhas 1967 – Geografia, Ática 1968 – A Floresta (infantil), Figueirinhas; Antologia, Portugália, cuja 5ª edição (1985 – Figueirinhas) é prefaciada por Eduardo Lourenço 1970 – Grades, D. Quixote 1972 – Dual, Moraes 1975 – Publica o ensaio O Nu na Antiguidade Clássica, integrado em O Nu e a Arte, uma edição dos Estúdios Cor. Deputada pelo Partido Socialista à Assembleia Constituinte. A sua actividade político-partidária, não foi longa, mas ao longo da sua vida sempre foi uma lutadora empenhada pelas causas da liberdade e justiça. Antes do 25 de Abril, pertence mesmo à Comissão Nacional de Apoio aos Presos Políticos «A poesia é das raras actividades humanas que, no tempo actual, tentam salvar uma certa espiritualidade. A poesia não é uma espécie de religião, mas não há poeta, crente ou descrente, que não escreva para a salvação da sua alma – quer a essa alma se chame amor, liberdade, dignidade ou beleza» (JL 709, de 17/12/97) 1977 – O Nome das Coisas, Moraes, distinguido com o Prémio Teixeira de Pascoaes 1983 – Navegações (IN-CM), recebe o Prémio da Crítica do Centro Português da Associação de Críticos Literários 1984 – Histórias da Terra e do Mar (ficção), Salamandra 1985 – Árvore (infantil), Figueirinhas 1989 – Ilhas, Texto, distinguido com os Prémios D. Dinis, da Fundação Casa de Mateus e Inasset-INAPA (1990) 1990 – Reúne toda a sua obra em três Volumes, Obra Poética, com a chancela da Editorial Caminho; é distinguida com o Grande Prémio de Poesia Pen Clube 1992 – Grande Prémio Calouste Gulbenkian de Literatura para Crianças 1994 – Musa, Caminho. Recebe Prémio Vida Literária da Associação Portuguesa de Escritores. Publica Signo, um livro/disco com poemas lidos por Luís Miguel Sintra, uma edição Presença/Casa Fernando Pessoa 1995 – Placa de Honra do Prémio Petrarca, atribuída em Itália 1996 – Homenageada do Carrefour des Littératures, na IV Primavera Portuguesa de Bordéus e da Aquitânia 1998 – O Búzio de Cós, Caminho, distinguido com o Prémio da Fundação Luís Míguel Nava 1999 – Prémio Camões Sophia de Mello Breyner Andresen morreu a 2 de Julho de 2004

TERTÚLIA POÉTICA « AO ENCONTRO DE BOCAGE » Ó meu Vate Sadino tão amado, Nossa Tertúlia te rende homenagem... E para que o teu nome seja louvado, Não perderemos nunca a coragem. Teu rosto nas estrelas está gravado, Teus poemas murmurados pela aragem... Teu mérito em nossas almas está marcado, Nós somos os poetas da viragem!... Vivemos em poesia e sofrimentos, Gritamos a todo o mundo teus lamentos E queremos exaltar os teus amores E, enquanto esta assembleia existir, Continuaremos sempre a resistir Àqueles que não amam teus valores!... América Miranda in VENDAVAL DE EMOÇÕES Comentários: (0) Posted by assismachado at 10:49 AM

FRASEOLOGIA CURIOSA E DIGNIFICANTE DE ALGUNS AUTORES SOBRE BOCAGE

“Lendo os teus versos, numeroso Elmano,

e o não vulgar conceito e a feliz frase,

disse entre mim: - Depõe, Filinto, a lira

já velha, já cansada;

que este mancebo vem tomar-te os loiros,

galnados com teu canto na aurea quadra

em que ao bom Coridon, a Elpino, a Alfeno,

aplaudia Ulisseia”. Filinto Elísio

“... Elmano... Oh, nome! Oh, nome!

Um prodígio tu és! Prodígios fazes ...” Tomás e Silva PELO 1º CENTENÁRIO DA MORTE DE BOCAGE Lindo amor que nasceu à cabeceira

Do teu leito de lágrimas e dores,

E foi contigo até à derradeira

Hora de angústia, amor dos teus amores. Até esse perdido. A vez primeira

Que o céu te quis mostrar os seus fulgores

E apagavam-te a estrela, feiticeiro,

E desfolhavam-te as mais puras flores... O génio do amor tudo ilumina

E o teu verso, oh Elmano, d’oiro ardente

Tem lágrimas no fundo e a amar ensina. Poeta, foste a flor n’uma torrente,

Mas sempre a tua voz, clara e divina,

Se ouve entre as ondas – canta eternamente. Júlio Brandão

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HINO DA TERTÚLIA BOCAGE SONHADOR

Letra : Armando David

Música: Francisco de Assis

Refrão:

Bocage sonhador,

poeta trovador,

Lisboa é sem favor,

terra dos teus amores.

E nós na capital,

tertúlia a ti leal,

te damos sem igual

louvores e mais louvores !

1. Terra de pescadores

Setúbal tem valores

a quem nos esplendores

viage.

Possui almas dilectas,

em linhas bem directas,

o maior dos poetas

Bocage.

2. Foi audaz marinheiro,

leal e verdadeiro,

herói aventureiro

real.

Satírico, amoroso,

poeta valoroso,

o seu estro não tem

rival.

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CONTRASTE ENTRE A VIDA CAMPESTRE E A DAS CIDADES Nos campos o vilão sem sustos passa,

inquieto na corte o nobre mora;

o que é ser infeliz aquela ignora,

este encontra nas pompas a desgraça: Aquele canta e ri; não se embaraça

com essas cousas vãs que o mundo adora:

este ( ó cega ambição ) mil vezes chora,

porque não acha bem que o satisfaça: Aquele dorme em paz no chão deitado,

este no ebúrneo leito precioso

nutre, exaspera velador cuidado: Triste, sai do palácio magestoso;

se hás-de ser cortesão, mas desgraçado,

antes ser camponês, e venturoso !

Barbosa du Bocage Comentários: (0) Posted by assismachado at 02:11 PM

EDITORIAIS BOCAGIANOS - 01 ... EM LOUVOR DE BOCAGE ! Comentários: (0) Posted by assismachado at 07:37 PM View image EDITORIAIS BOCAGIANOS – 01 Por América Miranda ( * ) Bocage foi um desses clarões que fulguram rubros acima de todo o horizonte para que toda a gente os veja e admire. Inquieto ou submisso, piedoso ou sarcástico, simples ou eloquente, inconsequente ou sentencioso, era um jovem insatisfeito, vivendo com a lira e à maneira do cantor de OS LUSÍADAS enaltecia o Olimpo e adorava o Céu. Manuel Maria era um romântico por natureza e na poesia um lírico que nasceu numa época de transição literária, na qual a literatura de Portugal emergia do marasmo do pseudo-classicismo, ainda dominante no século XVIII para o doce período do Romantismo. Desviando-se dos moldes clássicos, demasiado rígidos o nosso Vate pendeu para a escola que seria a de António Feliciano de Castilho. Embora o seu forte fosse o Soneto, onde foi mestre, compôs vários géneros de poesia, entre os quais odes satíricas e anacreônticas. A sua índole buliçosa por vezes custou-lhe amargos dias, sobretudo naquele período de vero despotismo governamental e religioso. Por toda a sua grandeza rendo as minhas homenagens ao Egrégio Poeta que foi Manuel Maria L’Hedois de Barbosa du Bocage. América Miranda ( * ) - “O Arauto de Bocage” - Ano VII - Nºs. 73 / 74

SESSÃO TERTULIANA NO AUDITÓRIO CARLOS PAREDES Teve lugar ontem, dia 10 de Julho, no Auditório Carlos Paredes, da Junta de Freguesia de Benfica, pelas 18 horas, mais uma Sessão da Tertúlia Poética “Ao encontro de Bocage”. O Programa foi bastante animado e concorrido com a apresentação da Poetisa América Miranda – Presidente e fundadora desta mesma Tertúlia. A sequência evoluiu da seguinte forma : Abertura – Cantou-se o Hino da Tertúlia, com letra de Armando David e música de Francisco de Assis - Francisco de Assis, com duas Canções - Mário Rodrigues, dois Fados - Domingos Vaz, dois Poemas - Celeste Reis, dois Poemas - Armando David, duas Histórias Poemáticas - Humberto de Castro, duas Canções - João de Carvalho, Actor, alguns episódios humoristas e dois Poemas - Amélia Marques, dois Poemas - Graciete Vaz, dois Poemas - América Miranda, dois Poemas - Dois convidados da Tertúlia presentes, cada um seu Poema - Lopes Victor, dois Poemas - Manuel dos Santos, dois Poemas - Francisco de Assis, dois Poemas - Humberto de Castro, duas Canções - Félix Heleno e América Miranda, Poemas conjuntos Durante a Sessão foram homenageados escritores e artistas já falecidos, nomeadamente: Manuel da Fonseca, Zeca Afonso, Sophia Andresen, Henrique Mendes e Lurdes Pintassilgo. Todas as intervenções foram efusivamente aplaudidas. Marcaram-se novas Sessões para os próximos dias 17 e 31 deste mês, a saber: - Dia 17, às 15 horas, na Biblioteca Camões - Dia 31, às 15 horas, no Instituto de Naturalogia O cronista presente: Assis Machado Comentários: (0) Posted by assismachado at 07:05 PM Teve lugar ontem, dia 10 de Julho, no Auditório Carlos Paredes, da Junta de Freguesia de Benfica, pelas 18 horas, mais uma Sessão da Tertúlia Poética “Ao encontro de Bocage”. O Programa foi bastante animado e concorrido com a apresentação da Poetisa América Miranda – Presidente e fundadora desta mesma Tertúlia. A sequência evoluiu da seguinte forma : Abertura – Cantou-se o Hino da Tertúlia, com letra de Armando David e música de Francisco de Assis - Francisco de Assis, com duas Canções - Mário Rodrigues, dois Fados - Domingos Vaz, dois Poemas - Celeste Reis, dois Poemas - Armando David, duas Histórias Poemáticas - Humberto de Castro, duas Canções - João de Carvalho, Actor, alguns episódios humoristas e dois Poemas - Amélia Marques, dois Poemas - Graciete Vaz, dois Poemas - América Miranda, dois Poemas - Dois convidados da Tertúlia presentes, cada um seu Poema - Lopes Victor, dois Poemas - Manuel dos Santos, dois Poemas - Francisco de Assis, dois Poemas - Humberto de Castro, duas Canções - Félix Heleno e América Miranda, Poemas conjuntos Durante a Sessão foram homenageados escritores e artistas já falecidos, nomeadamente: Manuel da Fonseca, Zeca Afonso, Sophia Andresen, Henrique Mendes e Lurdes Pintassilgo. Todas as intervenções foram efusivamente aplaudidas. Marcaram-se novas Sessões para os próximos dias 17 e 31 deste mês, a saber: - Dia 17, às 15 horas, na Biblioteca Camões - Dia 31, às 15 horas, no Instituto de Naturalogia O cronista presente: Assis Machado

TERTÚLIA POÉTICA « AO ENCONTRO DE BOCAGE » MENSAGEM DE BOAS VINDAS PELA PRESIDENTE E FUNDADORA A POETISA AMÉRICA MIRANDA A todos os Poetas e Poetisas, filiados ou não nesta TERTÚLIA, quero saudar com grande amizade, reconhecimento e admiração e desejar que, ao visitarem este nosso espaço de Poesia e de convivência cultural, se sintam como se deles fosse e desejar que connosco partilhem as suas experiências através de comentários, críticas, sugestões e colaborações e que, se o desejarem, possam a partir daqui divulgar o conhecimento da obra literária do grande poeta e patrono da Tertúlia, Manuel Maria Barbosa du Bocage, bem assim dar a conhecer de igual modo os seus próprios poemas pessoais, os quais teremos muito gosto em publicar. América Miranda Comentários: (0) Posted by assismachado at 11:27 PM MENSAGEM DE BOAS VINDAS PELA PRESIDENTE E FUNDADORA A POETISA AMÉRICA MIRANDA A todos os Poetas e Poetisas, filiados ou não nesta TERTÚLIA, quero saudar com grande amizade, reconhecimento e admiração e desejar que, ao visitarem este nosso espaço de Poesia e de convivência cultural, se sintam como se deles fosse e desejar que connosco partilhem as suas experiências através de comentários, críticas, sugestões e colaborações e que, se o desejarem, possam a partir daqui divulgar o conhecimento da obra literária do grande poeta e patrono da Tertúlia, Manuel Maria Barbosa du Bocage, bem assim dar a conhecer de igual modo os seus próprios poemas pessoais, os quais teremos muito gosto em publicar. América Miranda

" O ARAUTO DE BOCAGE " Comentários: (0) Posted by assismachado at 03:12 PM View image Leia e divulgue o " O ARAUTO DE BOCAGE " ! MENSÁRIO DE EXPANSÃO CULTURAL Fundado em Janeiro de 1998 Fundadora e Directora : América Miranda " O ARAUTO DE BOCAGE " é publicado bimestralmente e tem uma tiragem média de 400 exemplares. Registado como Publicação Periódica SOB O Nº 122327, no Instituto de Comunicação Social.

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