Local Porto

08-12-2002
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Testemunhos

Sexta-feira, 06 de Dezembro de 2002

Fernando Gomes*

Utópico, megalómano, irrealista, excessivamente caro, foram alguns dos adjectivos que qualificaram o projecto que abraçámos em 1990, após a vitória nas eleições autárquicas do Porto. Funcionando como a baixa de uma grande cidade que agrupa os concelhos da Área Metropolitana, o Porto apresentava-se, já em 1989, sem soluções para o congestionamento de tráfego, o que tornava impossível a vida de quem nele trabalha ou habita. Tendo presente que as deslocações para fora do Porto estavam, já então, a aumentar significativamente, era preciso encontrar soluções arrojadas e com futuro para minimizar o problema.

Não admira, por isso, que este tenha sido um tema quente durante a campanha eleitoral de 89.

Quando em 1990 - o ano zero do processo de construção do Metro - avançámos decididamente para o combate com as entidades que detinham a tutela sobre esta área de transportes e se mostravam avessas ao empreendimento, procurando convencê-las da necessidade e urgência deste investimento, prontamente senti que sem o apoio da opinião pública o projecto não avançaria. E aqui tive, desde logo, uma grande surpresa. Uma sondagem que mandámos realizar mostrava que apenas 4 por cento da população acreditava na possibilidade de construção de um metropolitano na região do Porto, embora generalizadamente o sentisse necessário.

Era preciso, por isso, credibilizar o projecto e ser ambicioso, mas aparentar contenção. Estava já em curso o primeiro Quadro Comunitário de Apoio sem incluir qualquer verba para um novo sistema de transportes no Porto, acrescendo que o Governo e a maioria das câmaras do grande Porto não sintonizavam politicamente. Por isso propusemos em 1991, para arranque do projecto, apenas a linha para ligar Gaia ao Porto e a Matosinhos, exactamente a de maior procura segundo estudos realizados.

Em Julho de 1992, a Associação Portuguesa para o Desenvolvimento do Transporte Ferroviário promove na AIP um colóquio tendo por tema o Metro do Porto e em que participaram o Engº Ferreira do Amaral (então Ministro das Obras Públicas e Transportes), o Prof. Vieira de Carvalho e eu próprio. O Governo, que até aí se tinha mostrado reticente e distante do projecto, compromete-se ali publicamente a apoiá-lo com 15 milhões de contos e a disponibilizar a linha de caminho de ferro até à Póvoa do Varzim. Era insignificante o financiamento face ao volume de obra, mas era o assumir de responsabilidades por parte do Governo.

Este foi, sem dúvida, o primeiro grande momento da história deste complexo processo. A credibilidade estava publicamente provada e o projecto crescia com a Maia, Vila do Conde e Póvoa.

Tinha-se dado mais um passo, sendo que, apesar disto, a incredulidade de muitos responsáveis políticos e de algumas instituições continuava, tendo o Metro como arma de combate. Era o "Metro de papel", como lhe chamavam.

Até que em Fevereiro de 1993 surge um segundo grande momento - Ferreira do Amaral inaugura na Av. dos Aliados uma exposição em que são apresentados todos os passos do projecto, o cronograma da construção e se visualizam as primeiras carruagens. O Metro de papel passou, segundo os críticos, a Metro virtual.

Até que em Novembro de 1995, o primeiro-ministro, Engº António Guterres, na sua primeira deslocação após a vitória eleitoral, veio ao Porto reunir comigo e, depois, com todos os membros da Junta Metropolitana, anunciando o financiamento integral do projecto e protagonizando aquele que é, em meu entender, o terceiro grande momento da já longa vida deste emblemático empreendimento.

Segue-se em Dezembro de 1998 a adjudicação do projecto.

O momento que agora vivemos é, para todos, de congratulação e de festa e não de pequenas vaidades. Mas entre as muitas referências que me foram feitas não resisto a transcrever uma que me foi dirigida já em 1993 e publicada nos jornais de então: "O metropolitano de superfície é um 'bluff' político, que apenas serve para o espectáculo público do Dr. Fernando Gomes". Por mim, há muito que lhe perdoei. No mais, esta inauguração vem apenas demonstrar que quando sabemos estar unidos e sabemos querer, podemos.

* Ex-presidente da Câmara do Porto

Testemunhos

Sexta-feira, 06 de Dezembro de 2002

Fernando Gomes*

Utópico, megalómano, irrealista, excessivamente caro, foram alguns dos adjectivos que qualificaram o projecto que abraçámos em 1990, após a vitória nas eleições autárquicas do Porto. Funcionando como a baixa de uma grande cidade que agrupa os concelhos da Área Metropolitana, o Porto apresentava-se, já em 1989, sem soluções para o congestionamento de tráfego, o que tornava impossível a vida de quem nele trabalha ou habita. Tendo presente que as deslocações para fora do Porto estavam, já então, a aumentar significativamente, era preciso encontrar soluções arrojadas e com futuro para minimizar o problema.

Não admira, por isso, que este tenha sido um tema quente durante a campanha eleitoral de 89.

Quando em 1990 - o ano zero do processo de construção do Metro - avançámos decididamente para o combate com as entidades que detinham a tutela sobre esta área de transportes e se mostravam avessas ao empreendimento, procurando convencê-las da necessidade e urgência deste investimento, prontamente senti que sem o apoio da opinião pública o projecto não avançaria. E aqui tive, desde logo, uma grande surpresa. Uma sondagem que mandámos realizar mostrava que apenas 4 por cento da população acreditava na possibilidade de construção de um metropolitano na região do Porto, embora generalizadamente o sentisse necessário.

Era preciso, por isso, credibilizar o projecto e ser ambicioso, mas aparentar contenção. Estava já em curso o primeiro Quadro Comunitário de Apoio sem incluir qualquer verba para um novo sistema de transportes no Porto, acrescendo que o Governo e a maioria das câmaras do grande Porto não sintonizavam politicamente. Por isso propusemos em 1991, para arranque do projecto, apenas a linha para ligar Gaia ao Porto e a Matosinhos, exactamente a de maior procura segundo estudos realizados.

Em Julho de 1992, a Associação Portuguesa para o Desenvolvimento do Transporte Ferroviário promove na AIP um colóquio tendo por tema o Metro do Porto e em que participaram o Engº Ferreira do Amaral (então Ministro das Obras Públicas e Transportes), o Prof. Vieira de Carvalho e eu próprio. O Governo, que até aí se tinha mostrado reticente e distante do projecto, compromete-se ali publicamente a apoiá-lo com 15 milhões de contos e a disponibilizar a linha de caminho de ferro até à Póvoa do Varzim. Era insignificante o financiamento face ao volume de obra, mas era o assumir de responsabilidades por parte do Governo.

Este foi, sem dúvida, o primeiro grande momento da história deste complexo processo. A credibilidade estava publicamente provada e o projecto crescia com a Maia, Vila do Conde e Póvoa.

Tinha-se dado mais um passo, sendo que, apesar disto, a incredulidade de muitos responsáveis políticos e de algumas instituições continuava, tendo o Metro como arma de combate. Era o "Metro de papel", como lhe chamavam.

Até que em Fevereiro de 1993 surge um segundo grande momento - Ferreira do Amaral inaugura na Av. dos Aliados uma exposição em que são apresentados todos os passos do projecto, o cronograma da construção e se visualizam as primeiras carruagens. O Metro de papel passou, segundo os críticos, a Metro virtual.

Até que em Novembro de 1995, o primeiro-ministro, Engº António Guterres, na sua primeira deslocação após a vitória eleitoral, veio ao Porto reunir comigo e, depois, com todos os membros da Junta Metropolitana, anunciando o financiamento integral do projecto e protagonizando aquele que é, em meu entender, o terceiro grande momento da já longa vida deste emblemático empreendimento.

Segue-se em Dezembro de 1998 a adjudicação do projecto.

O momento que agora vivemos é, para todos, de congratulação e de festa e não de pequenas vaidades. Mas entre as muitas referências que me foram feitas não resisto a transcrever uma que me foi dirigida já em 1993 e publicada nos jornais de então: "O metropolitano de superfície é um 'bluff' político, que apenas serve para o espectáculo público do Dr. Fernando Gomes". Por mim, há muito que lhe perdoei. No mais, esta inauguração vem apenas demonstrar que quando sabemos estar unidos e sabemos querer, podemos.

* Ex-presidente da Câmara do Porto

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