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05-05-2002
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PSD lidera sondagens

Guerra entre socialistas abre caminho à direita em Famalicão

Por Celeste Pereira / PÚBLICO

Quinta-feira, 22 de Novembro de 2001 O município de Vila Nova de Famalicão vive dias agitados. A família socialista está espartilhada entre o apoio a Agostinho Fernandes e a Fernando Moniz, e assim quem parece ficar a ganhar é Armindo Costa, o candidato independente da coligação PSD/CDS-PP à Câmara de Famalicão. Aliás, todas as sondagens publicadas até ao momento dão à candidatura deste empresário do calçado a vitória na corrida à presidência de câmara. É neste cenário conturbado que decorre a pré-campanha eleitoral neste município do Vale do Ave. Armindo Costa anda eufórico e mais confiante do que nunca. Há longos meses que o candidato PSD/PP batalha no terreno para conseguir finalmente concretizar o seu grande sonho: ser presidente de câmara.

O empresário nada em dinheiro. Há quatro anos, após obter a licenciatura em Arquitectura pela Universidade Lusíada, cujo pólo de Vila Nova de Famalicão ajudou a instalar, concorreu à presidência da câmara famalicense. Perdeu por escassos 4000 votos. Isto apesar de ter gasto do seu bolso mais de 100 mil contos na sua campanha eleitoral, a acreditar no rumor que circulou no município de Famalicão e que o próprio nunca desmentiu.

Agora diz-se que é o financiador da revista "Famalicão 2001". Desde Janeiro que esta revista mensal de distribuição gratuita, que contém publicidade a empresas ligadas a Armindo Costa, relata ao pormenor todos os passos do candidato e tece as maiores críticas a tudo o que envolve os seus adversários. Os responsáveis da revista desmentem a ligação ao empresário, mas a colagem à sua candidatura é flagrante.

O PÚBLICO acompanhou a pré-campanha eleitoral em Famalicão no fim-de-semana de 17 e 18 de Novembro. Armindo Costa, que desta vez optou por uma campanha mais política e menos espalhafatosa, estava já a fazer a segunda volta às freguesias do concelho.

No sábado, o candidato PSD/PP almoçou com as mulheres famalicenses. Com 1900 senhoras bem penteadas e bem vestidas com carros de alta cilindrada à porta. O mega-almoço foi transmitido via "on line" - a aposta nas novas tecnologias é, aliás, uma faceta desta candidatura, que tem um elaborado "site" na Internet - e contou com uma figura de destaque do PSD, Manuela Ferreira Leite.

O ambiente foi de euforia. Diversas mulheres evidenciaram as suas veias poéticas para dispararem os mais rasgados elogios ao candidato.

A líder parlamentar do PSD fez um discurso a puxar ao feminismo e Armindo Costa dirigiu-se ao coração das suas "queridas mulheres famalicences". "Estou aqui para aprender convosco, a partilhar, a ouvir, a seguir o exemplo da mãe que nunca usa dois pesos e duas medidas, mas quer sempre o melhor para os seus filhos", disse, prometendo acabar com as "ainda existentes" escolas em contentores e prefabricados, olhar pelos idosos e dotar o concelho de infra-estruturas básicas e de mais habitação social. As senhoras gostaram e reagiram em histeria colectiva. PS fragilizado com disputas internas À mesma hora, estava o candidato do PS num megacomício com Jorge Coelho, um acontecimento que não ficou nada atrás do almoço da coligação PSD/PP em número de participantes. O ambiente estava contudo bem mais pesado e inflamado. Todos os discursos entroncavam num mesmo ponto: na guerrilha Fernando Moniz "versus" Agostinho Fernandes.

Aliás, foi em vão que, na sua breve passagem por Famalicão, Jorge Coelho sublinhou que todos os problemas ocorridos neste percurso às eleições autárquicas famalicenses estão "resolvidos" e que as outras candidaturas devem ser tratadas como "meras adversárias". É que Coelho ainda mal tinha acabado de abandonar o comício, e já Ricardo Gonçalves, deputado parlamentar e dirigente distrital do PS, num discurso a tocar a histeria, disparava sobre o adversário independente. Agostinho Fernandes, disse, é um "traidor", "não liga ao partido", "não tem projecto", "é um homem só", "utiliza as crianças e os mais idosos para chegar ao coração".

"Há pessoas que são piores do que os cães, que nem conhecem o dono que lhes deu de comer ao longo de 22 anos", lançava logo a seguir Joaquim Loureiro, um histórico do PS local que se candidata à presidência da assembleia municipal. Mais comedido, Fernando Moniz optou por sublinhar a "força" do PS em Famalicão, fazendo eco da estratégia socialista que passa por pôr a marca do partido à frente do candidato. Agostinho Fernandes sem tempo para campanhas No meio de tudo isto, quem parece não ter tempo para campanhas eleitorais é Agostinho Fernandes. Vive os fins-de-semana numa verdadeira azáfama, em que o objectivo é mostrar-se publicamente, mas... como presidente de câmara. Anda a mostrar obra e a fazer inaugurações. O jornal "Vila Nova", o órgão "oficial" do PS - agora leia-se Movimento Agostinho Fernandes/Por Famalicão, as siglas da candidatura independente -, dá conta disso mesmo, ao publicar 14 fotografias de inaugurações e acções públicas em que o candidato participou só no anterior fim-de-semana.

Nesse sábado, Agostinho Fernandes começou o dia com a inauguração de uma biblioteca e daí seguiu com outras acções públicas, entre elas a participação num magusto. O dia seguinte foi semelhante, teve mais uma inauguração, mais um magusto e outras aparições públicas.

Quanto à campanha eleitoral, ficou-se por umas meras inaugurações de sedes de candidaturas. "Temos que dar a maior visibilidade possível a Agostinho Fernandes nesta altura", confessava ao PÚBLICO Mário Martins, assessor de Fernandes na Câmara de Famalicão, número dois da lista independente e o homem-forte desta candidatura.

Agostinho Fernandes terá, então, que valer-se dos atributos que ele próprio tem sublinhado até à exaustão nos últimos dias. É um "homem do povo", um homem que "todos conhecem", que tem as "mãos limpas" e que frequenta a "escola da simplicidade e da humildade". Talvez aquela que faz perceber que o ainda militante do PS se sente também um homem só e pouco seguro da sua vitória no próximo dia 16 de Dezembro.

PSD lidera sondagens

Guerra entre socialistas abre caminho à direita em Famalicão

Por Celeste Pereira / PÚBLICO

Quinta-feira, 22 de Novembro de 2001 O município de Vila Nova de Famalicão vive dias agitados. A família socialista está espartilhada entre o apoio a Agostinho Fernandes e a Fernando Moniz, e assim quem parece ficar a ganhar é Armindo Costa, o candidato independente da coligação PSD/CDS-PP à Câmara de Famalicão. Aliás, todas as sondagens publicadas até ao momento dão à candidatura deste empresário do calçado a vitória na corrida à presidência de câmara. É neste cenário conturbado que decorre a pré-campanha eleitoral neste município do Vale do Ave. Armindo Costa anda eufórico e mais confiante do que nunca. Há longos meses que o candidato PSD/PP batalha no terreno para conseguir finalmente concretizar o seu grande sonho: ser presidente de câmara.

O empresário nada em dinheiro. Há quatro anos, após obter a licenciatura em Arquitectura pela Universidade Lusíada, cujo pólo de Vila Nova de Famalicão ajudou a instalar, concorreu à presidência da câmara famalicense. Perdeu por escassos 4000 votos. Isto apesar de ter gasto do seu bolso mais de 100 mil contos na sua campanha eleitoral, a acreditar no rumor que circulou no município de Famalicão e que o próprio nunca desmentiu.

Agora diz-se que é o financiador da revista "Famalicão 2001". Desde Janeiro que esta revista mensal de distribuição gratuita, que contém publicidade a empresas ligadas a Armindo Costa, relata ao pormenor todos os passos do candidato e tece as maiores críticas a tudo o que envolve os seus adversários. Os responsáveis da revista desmentem a ligação ao empresário, mas a colagem à sua candidatura é flagrante.

O PÚBLICO acompanhou a pré-campanha eleitoral em Famalicão no fim-de-semana de 17 e 18 de Novembro. Armindo Costa, que desta vez optou por uma campanha mais política e menos espalhafatosa, estava já a fazer a segunda volta às freguesias do concelho.

No sábado, o candidato PSD/PP almoçou com as mulheres famalicenses. Com 1900 senhoras bem penteadas e bem vestidas com carros de alta cilindrada à porta. O mega-almoço foi transmitido via "on line" - a aposta nas novas tecnologias é, aliás, uma faceta desta candidatura, que tem um elaborado "site" na Internet - e contou com uma figura de destaque do PSD, Manuela Ferreira Leite.

O ambiente foi de euforia. Diversas mulheres evidenciaram as suas veias poéticas para dispararem os mais rasgados elogios ao candidato.

A líder parlamentar do PSD fez um discurso a puxar ao feminismo e Armindo Costa dirigiu-se ao coração das suas "queridas mulheres famalicences". "Estou aqui para aprender convosco, a partilhar, a ouvir, a seguir o exemplo da mãe que nunca usa dois pesos e duas medidas, mas quer sempre o melhor para os seus filhos", disse, prometendo acabar com as "ainda existentes" escolas em contentores e prefabricados, olhar pelos idosos e dotar o concelho de infra-estruturas básicas e de mais habitação social. As senhoras gostaram e reagiram em histeria colectiva. PS fragilizado com disputas internas À mesma hora, estava o candidato do PS num megacomício com Jorge Coelho, um acontecimento que não ficou nada atrás do almoço da coligação PSD/PP em número de participantes. O ambiente estava contudo bem mais pesado e inflamado. Todos os discursos entroncavam num mesmo ponto: na guerrilha Fernando Moniz "versus" Agostinho Fernandes.

Aliás, foi em vão que, na sua breve passagem por Famalicão, Jorge Coelho sublinhou que todos os problemas ocorridos neste percurso às eleições autárquicas famalicenses estão "resolvidos" e que as outras candidaturas devem ser tratadas como "meras adversárias". É que Coelho ainda mal tinha acabado de abandonar o comício, e já Ricardo Gonçalves, deputado parlamentar e dirigente distrital do PS, num discurso a tocar a histeria, disparava sobre o adversário independente. Agostinho Fernandes, disse, é um "traidor", "não liga ao partido", "não tem projecto", "é um homem só", "utiliza as crianças e os mais idosos para chegar ao coração".

"Há pessoas que são piores do que os cães, que nem conhecem o dono que lhes deu de comer ao longo de 22 anos", lançava logo a seguir Joaquim Loureiro, um histórico do PS local que se candidata à presidência da assembleia municipal. Mais comedido, Fernando Moniz optou por sublinhar a "força" do PS em Famalicão, fazendo eco da estratégia socialista que passa por pôr a marca do partido à frente do candidato. Agostinho Fernandes sem tempo para campanhas No meio de tudo isto, quem parece não ter tempo para campanhas eleitorais é Agostinho Fernandes. Vive os fins-de-semana numa verdadeira azáfama, em que o objectivo é mostrar-se publicamente, mas... como presidente de câmara. Anda a mostrar obra e a fazer inaugurações. O jornal "Vila Nova", o órgão "oficial" do PS - agora leia-se Movimento Agostinho Fernandes/Por Famalicão, as siglas da candidatura independente -, dá conta disso mesmo, ao publicar 14 fotografias de inaugurações e acções públicas em que o candidato participou só no anterior fim-de-semana.

Nesse sábado, Agostinho Fernandes começou o dia com a inauguração de uma biblioteca e daí seguiu com outras acções públicas, entre elas a participação num magusto. O dia seguinte foi semelhante, teve mais uma inauguração, mais um magusto e outras aparições públicas.

Quanto à campanha eleitoral, ficou-se por umas meras inaugurações de sedes de candidaturas. "Temos que dar a maior visibilidade possível a Agostinho Fernandes nesta altura", confessava ao PÚBLICO Mário Martins, assessor de Fernandes na Câmara de Famalicão, número dois da lista independente e o homem-forte desta candidatura.

Agostinho Fernandes terá, então, que valer-se dos atributos que ele próprio tem sublinhado até à exaustão nos últimos dias. É um "homem do povo", um homem que "todos conhecem", que tem as "mãos limpas" e que frequenta a "escola da simplicidade e da humildade". Talvez aquela que faz perceber que o ainda militante do PS se sente também um homem só e pouco seguro da sua vitória no próximo dia 16 de Dezembro.

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