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18-10-2002
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Os onze jogadores eleitos foram também homenageados na oitava Gala do PÚBLICO, realizada no dia 1 de Junho de 1999, em Espinho, altura em que cada um deles recebeu uma placa evocativa da autoria do escultor José Rodrigues.

Daí resultou uma selecção única, segundo a táctica que se aplicava melhor aos jogadores mais votados (4-4-2). Haverá um conjunto infinito de outras selecções possíveis, mas esta é excelente. E, talvez porque o futebol se tem desenvolvido em direcção a mais organização e menos individualismo, dos jogadores em actividade só lá está Figo.

Em Dezembro de 1998, o PÚBLICO lançou a um conjunto de personalidades o desafio de escolher a selecção portuguesa do século, aproveitando o pretexto da eleição do melhor jogador da Europa e porque o século XX é também o século do futebol.

O NOSSO JURI

Álvaro Braga

81 anos

Jornalista (reformado)

Táctica: 4x2x4

Equipa: Azevedo; Carlos Alves, Félix, Jorge Vieira, António Pinho; Pedroto e Coluna; Travassos, Eusébio, Pinga e Hernâni Recordei alguns dos olímpicos portugueses, que serão os menos novos nesta formação. Depois aproximei-me mais do presente e assinalei, entre eles, o mais famoso de todos, o ainda vivo Eusébio da Silva Ferreira. Desta formação recordei ainda quatro homens que acabaram no FC Porto: Carlos Alves, o primeiro "Luvas-Pretas" e que foi treinador e jogador do desaparecido Académico do Porto; Pedroto, para mim o maior treinador do futebol português; o madeirense Pinga e o aguedense Hernâni. Figo e Futre podem ser considerados jogadores de grande rendimento, mas não me deixaram uma impressão indelével como outros.

Aurélio Márcio

75 anos

Jornalista

Táctica: 4x4x2

Equipa: Bento; João Pinto, Fernando Couto, Humberto Coelho, Hilário; Figo, Rui Costa, João Pinto, Paulo Futre; Fernando Gomes, Eusébio Não foi fácil aceder ao pedido do PÚBLICO para formar a melhor selecção nacional da história do nosso futebol. Repare-se: quando comecei a fazer jornalismo jogava-se com dois defesas, três médios e cinco avançados; depois apareceu a revolução histórica do “Third Back Sistem” — nem mais, nem menos, o WM, nascido da inspiração genial do Herbert Chapman, “manager” do Arsenal, resultante da alteração da lei do “off-side”, obrigando ao recuo de um médio para a defesa, a fim de evitar o fora-de-jogo; a seguir, o 4x4x2, com a sua variante de 4x3x3.

Para formar uma selecção nacional, há que escolher o sistema, e eu prefiro o 4x4x2, apenas e só porque é o que melhor ocupa a superfície do campo e distribui, digamos igualmente, os esforços para cada jogador.

Finalmente, decidi-me pelos jogadores que vi jogar, nos clubes e nas selecções, em mais de 50 anos de jornalismo, em campeonatos e taças por esse mundo fora.

Ficaram de fora Artur e José Pereira (de que Cândido de Oliveira — a maior figura do futebol português, jogador, técnico, dirigente, árbitro, seleccionador, jornalista — dizia e escrevia que formava com Artur de Sousa “Pinga” o par dos melhores jogadores do futebol português). Não vi jogar o primeiro, mas vi jogar Pinga umas três ou quatro vezes. Tenho dele a ideia como um qualquer rapazito que naqueles tempos podia ir ao futebol sem ser morto ou estropiado.

À parte a selecção que escolhi, sempre digo que se podem formar mais quatro, cinco, seis, sete iguais a esta, com os jogadores que ficaram de fora: João Azevedo, Costa Pereira, Carlos Gomes, José Augusto, Vítor Baptista, Jesus Correia, Peyroteo, Torres, Águas, Matateu, Vicente, Paulo Sousa, Simões, Coluna (a quem um dia apelidei de “o monstro sagrado do futebol português”), Travassos (que poderia muito bem estar nesta selecção), Jordão, Hernâni, Oliveira, Alves, Jaime Pacheco, Sousa, Pietra, Manuel Fernandes, Chalana (onde vou meter este pequeno génio?).

Uns já morreram, outros vão ficar para sempre zangados comigo, e volto ao princípio: grandes jogadores houve sempre no nosso futebol, seleccionadores é que não.

Fico com grandes problemas de consciência e a certeza de que me esqueci de alguns nomes.

Jesus Correia

74 anos

Ex-futebolista

Táctica: WM

Equipa: Azevedo; João Pinto, Félix, Hilário; Figo, Coluna, Rui Costa; Travassos, Gomes, Eusébio, Albano

Mário Wilson

69 anos

Treinador de futebol

Táctica: 4x3x3

Equipa: Azevedo/Bento; Sérgio Conceição, Humberto, Germano, Hilário; Coluna, Travassos, Figo; Matateu, Eusébio, Chalana.

Entristece-me não incluir o João Pinto, mas está tapado pelo Eusébio. Quanto ao Matateu, era outro Eusébio, mas do Belenenses.

Carlos Miranda

66 anos

Jornalista

Táctica: WM

Equipa: Azevedo; Cardoso, Germano, Serafim; Figo, Francisco Ferreira; Jesus Correia, Araújo; Águas, Eusébio, Rogério

Poderá não ser a selecção ideal, mas é a selecção da minha saudade.

Manuel Dias

64 anos

Jornalista e escritor

Táctica: WM

Equipa: Damas; João Pinto, Hilário, Humberto Coelho; Hernâni, Travassos, Oliveira, Pedroto; Fernando Gomes, Eusébio/Pinga, Figo

Qual foi o maior escritor de todos os tempos? E qual foi o melhor pintor? E qual o filme dos filmes? Fernando Pessoa ganha a Camões? E haverá qualquer destes voado mais alto do que Homero ou Rilke? A minha terra é mais bonita do que a tua?

Paradoxo descontado, toda a objectividade, em matéria desta, é subjectiva. No prosaico mundo lusitano da bola, na galeria dos que o arrebatamento acoima de heróis ou génios, descobre-se, rapidamente, que a escolha é difícil. Difícil porque — e congratulemo-nos — o problema básico é a quantidade. Depois, o jogador de futebol, como o homem em si mesmo, é produto do meio e da circunstância. Premissas que não são as mesmas, ontem e hoje. No cadinho da memória onde a nostalgia e mito tendem a sobrepor-se à nitidez do presente, entre o amadorismo e o profissionalismo, o campo careca e o tapete de relva, mais o peso das botas e da bola e as condicionantes evoluções técnico-tácticas, como estabelecer, sem atrevimento ou estultícia, um “ranking” de qualidade?

Soluções, já que uma resposta é pedida: usando, na definição das posições, uma velha terminologia, aqui fica, com veementes desculpas a tantos preteridos, a minha equipa ideal — os doze melhores — na história do futebol português: Doze? E como explicar ao Céu, se o divino Pinga ficasse de fora?

Hélder Pacheco

61 anos

Historiador

Táctica: 4x4x2

Equipa: Barrigana; João Pinto, Virgílio, Guilhar, Carvalho; André, Araújo, Pavão, Oliveira; Pinga, Valdemar Mota

Como diria o meu amigo Melo, eu não sou desportista, sou só portista. Por isso não vejo jogos de futebol, na televisão, excepto os do FC Porto, nem vou a nenhum estádio que não seja o do Porto. As paixões dão estas coisas e cada um tem direito à sua. A minha cor é, portanto, azul e branca, tal como a bandeira constitucional durante o cerco do Porto. Daí a minha selecção ideal, adaptando jogadores às tácticas actuais.

Ribeiro Cristóvão

59 anos

Jornalista

Táctica: 4x3x3

Equipa: Azevedo; Virgílio, Humberto Coelho, Germano, Hilário; Figo, Oliveira, Futre; Matateu, Eusébio, Travassos

Selecção de escolha muito difícil, dada a grande abundância de valores de qualidade. Esta inclui jogadores de características pouco defensivas. Mas, com atacantes destes, quem é que pensa em defender?

Artur Santos Silva

57 anos

Presidente do BPI

Táctica: 4x3x3

Equipa: Azevedo; João Pinto, Germano, Humberto Coelho, Hilário; Hernâni, Coluna, Travassos; Figo, Eusébio, Futre

A minha memória futebolística deste século está muito marcada pelo período de ouro do nosso futebol a nível mundial — os anos 60. É por isso que, embora seja portista, vejo com grande simpatia o Benfica, pelo que fez nesses anos e pelo ambiente de festa contagiante que então rodeava os jogos internacionais da Luz, a que tantas vezes assisti. Estou certo de que teríamos sido campeões do mundo em 1966 com um guarda-redes de categoria (o melhor de então, Américo, ficou esquecido como segundo suplente).

Dos jogadores que escolhi, destaco o que para mim foi de todos o maior, Hernâni, opinião que partilho com o grande escritor e amigo Manuel Alegre, como refere no seu romance “Alma”. Pela sua técnica excepcional que só por si resolvia um “match”, pela inteligência e visão global do jogo que revelava e em especial pelo aproveitamento total que sabia fazer das qualidades dos seus companheiros. Como homem alia um grande carácter a uma extrema simplicidade.

O João Pinto foi um grande lateral moderno e com a sua alma conseguia contagiar tudo e todos, jogadores e público. O Hilário marcava muito bem o adversário e colocava primorosamente a bola no ataque, além de ser correctíssimo. Humberto Coelho e Germano eram grandes centrais e muito eclécticos. A visão e precisão de passe do Germano fazia com que o Benfica pudesse dispensar a linha média da função de construir jogo de ataque. O Coluna teria sido um notável médio de ataque no futebol moderno. O ataque dispensa comentários. Para a baliza escolhi o Azevedo, embora o tenha visto jogar pouco e ainda que, apenas pelo que fez no FC Porto, escolhesse como guarda-redes do século o Vítor Baía (dado que não posso escolher o Mlynarczyk).

Como suplentes, escolho Damas, Artur, Rui Rodrigues, José Águas e Matateu. Neste grupo pensei ainda em Eurico, Carvalho (defesa-esquerdo do FC Porto), Alves, Toni, Artur Jorge, Carlos Duarte e o macaísta Rocha, que, sozinho, muitas vezes no meio de uma equipa modesta, levava a Académica a ganhar aos melhores.

Eusébio

56 anos

Ex-futebolista

Táctica: 4x3x3

Equipa: Carlos Gomes; Virgílio, Germano, Félix, Hilário; Coluna, Hernâni, Travassos; José Águas, Simões, Matateu Tenho que pedir desculpa a todos aqueles de quem possa ter-me esquecido, mas isto é muito difícil. Há muitos jogadores que nunca vi jogar, apesar de ter contactado com alguns e ter lido sobre eles. Por exemplo, o Félix, um central que nunca vi jogar mas de que ouvi muita gente dizer grandes coisas; dos “cinco violinos” tenho muita pena, mas não os vi, dizem-me que o Peyroteo era excepcional...

Numa segunda linha, como suplentes, digamos assim, escolheria o Azevedo, o Vicente, o Rocha, o Carlos Duarte, o Chalana, o Peyroteo, o Pinga. E, desta juventude, o Figo, o João Pinto, o Rui Costa, o Vítor Baía. Há muita rapaziada nova de valor que, para mais, defende o nome de Portugal no estrangeiro.

Mas o que me preocupa é que me vou esquecer de alguns. Há muitos outros que estão sempre comigo. Desculpem-me qualquer lapso.

João Lagos

54 anos

Empresário

Táctica: 4x3x3

Equipa: Damas; Artur, Germano, Humberto, Hilário; Oliveira, Coluna, Figo; Travassos, Peyroteo, Eusébio

João Braga

53 anos

Fadista

Táctica: 4x4x2

Equipa: Damas; João Pinto, Humberto, Germano, Hilário; Vicente, Rogério, Figo, Simão Sabrosa; Travassos, Eusébio

É uma escolha difícil. Há muitos outros bons jogadores: Vítor Baía, Coluna, José Augusto, Paulo Sousa, Gomes, Simões, Virgílio, Frasco, Jaime Pacheco, Peyroteo, Matateu, etc.

Arons de Carvalho

50 anos

Secretário de Estado da Comunicação Social

Táctica: 4x4x2

Equipa: Bento; João Pinto, Germano, Humberto, Hilário; Figo, João Vieira Pinto, Rui Costa, Chalana; Eusébio, Futre Pede-se-me quase o impossível: comparar jogadores de várias gerações, sujeitos a preparações e sistemas tácticos muito diversos. E não cometer a injustiça de esquecer alguém. Para simplificar, excluí jogadores que se distinguiram antes dos anos 60, que nunca vi jogar. Para um benfiquista confesso, a decisão nem é difícil, mas de fora ficam Travassos e os outros violinos. Depois trata-se de colocar os escolhidos num vago 4-4-2. O resultado é uma selecção desequilibradamente ofensiva, mas Portugal tem tido muitos e bons médios ofensivos. Mesmo assim, ficam de fora uma enorme quantidade de vedetas: Vítor Baía, Damas, Costa Pereira, Artur, Paulo Sousa, Coluna, Vicente, Diamantino, Oliveira, Alves, Simões, Carlos Manuel, Jordão, Jaime Pacheco e muitos outros.

Suzete Abreu

50 anos

Marketing e publicidade

Táctica: 4x4x2

Equipa: Bento; Pietra, Humberto, Vicente, Hilário; Jaime Graça, Coluna, João Vieira Pinto, Futre; Eusébio, Jordão Existem seis imprescindíveis — Coluna, Pietra, Futre, João Vieira Pinto, Jaime Graça, Humberto — para além de um óbvio: Eusébio. Na baliza, hesitei entre o Bento e o Damas; como ponta-de-lança entre o Jordão e o Artur Jorge. Para o lugar de defesa central, ao lado de Humberto, e para lateral-esquerdo não foi tão fácil encontrar nomes. Ficam de fora, num hipotético “banco”: Simões, Chalana, Nené, Diamantino, Carlos Manuel, Paulo Sousa, Rui Costa e Santana.

Eduardo Barroso

49 anos

Médico

Táctica: 4x4x2

Equipa: Carlos Gomes; Artur, Germano/Vicente, Humberto, Hilário; Figo/José Augusto, Fernando Mendes, Coluna, Simões; Eusébio, Travassos/Hernâni Não coloco o Azevedo a guarda-redes porque não o vi jogar.

João Botelho

49 anos

Realizador de cinema

Táctica: 4x4x2

Equipa: Azevedo; João Pinto, Germano, Humberto, Alberto; Figo, Pedroto, Chalana, Hernâni; Eusébio, Travassos

Esta é, não a minha selecção nacional do século, mas do último meio século.

Miguel Sousa Tavares

48 anos

Jornalista

Táctica: 4x3x3

Equipa: Américo; Artur, Humberto, Alexandre Baptista, Hilário; Alves, Hernâni, Oliveira; Jordão, Eusébio, Futre

Leonor Pinhão

41 anos

Jornalista

Táctica: 4x3x3

Equipa: Bento; Malta da Silva, Humberto Coelho, Vicente, Adolfo; Coluna, Figo, Oliveira; Jesus Correia, Chalana, Eusébio Esta é, não a selecção nacional do século, mas do último quarto de século.

Os onze jogadores eleitos foram também homenageados na oitava Gala do PÚBLICO, realizada no dia 1 de Junho de 1999, em Espinho, altura em que cada um deles recebeu uma placa evocativa da autoria do escultor José Rodrigues.

Daí resultou uma selecção única, segundo a táctica que se aplicava melhor aos jogadores mais votados (4-4-2). Haverá um conjunto infinito de outras selecções possíveis, mas esta é excelente. E, talvez porque o futebol se tem desenvolvido em direcção a mais organização e menos individualismo, dos jogadores em actividade só lá está Figo.

Em Dezembro de 1998, o PÚBLICO lançou a um conjunto de personalidades o desafio de escolher a selecção portuguesa do século, aproveitando o pretexto da eleição do melhor jogador da Europa e porque o século XX é também o século do futebol.

O NOSSO JURI

Álvaro Braga

81 anos

Jornalista (reformado)

Táctica: 4x2x4

Equipa: Azevedo; Carlos Alves, Félix, Jorge Vieira, António Pinho; Pedroto e Coluna; Travassos, Eusébio, Pinga e Hernâni Recordei alguns dos olímpicos portugueses, que serão os menos novos nesta formação. Depois aproximei-me mais do presente e assinalei, entre eles, o mais famoso de todos, o ainda vivo Eusébio da Silva Ferreira. Desta formação recordei ainda quatro homens que acabaram no FC Porto: Carlos Alves, o primeiro "Luvas-Pretas" e que foi treinador e jogador do desaparecido Académico do Porto; Pedroto, para mim o maior treinador do futebol português; o madeirense Pinga e o aguedense Hernâni. Figo e Futre podem ser considerados jogadores de grande rendimento, mas não me deixaram uma impressão indelével como outros.

Aurélio Márcio

75 anos

Jornalista

Táctica: 4x4x2

Equipa: Bento; João Pinto, Fernando Couto, Humberto Coelho, Hilário; Figo, Rui Costa, João Pinto, Paulo Futre; Fernando Gomes, Eusébio Não foi fácil aceder ao pedido do PÚBLICO para formar a melhor selecção nacional da história do nosso futebol. Repare-se: quando comecei a fazer jornalismo jogava-se com dois defesas, três médios e cinco avançados; depois apareceu a revolução histórica do “Third Back Sistem” — nem mais, nem menos, o WM, nascido da inspiração genial do Herbert Chapman, “manager” do Arsenal, resultante da alteração da lei do “off-side”, obrigando ao recuo de um médio para a defesa, a fim de evitar o fora-de-jogo; a seguir, o 4x4x2, com a sua variante de 4x3x3.

Para formar uma selecção nacional, há que escolher o sistema, e eu prefiro o 4x4x2, apenas e só porque é o que melhor ocupa a superfície do campo e distribui, digamos igualmente, os esforços para cada jogador.

Finalmente, decidi-me pelos jogadores que vi jogar, nos clubes e nas selecções, em mais de 50 anos de jornalismo, em campeonatos e taças por esse mundo fora.

Ficaram de fora Artur e José Pereira (de que Cândido de Oliveira — a maior figura do futebol português, jogador, técnico, dirigente, árbitro, seleccionador, jornalista — dizia e escrevia que formava com Artur de Sousa “Pinga” o par dos melhores jogadores do futebol português). Não vi jogar o primeiro, mas vi jogar Pinga umas três ou quatro vezes. Tenho dele a ideia como um qualquer rapazito que naqueles tempos podia ir ao futebol sem ser morto ou estropiado.

À parte a selecção que escolhi, sempre digo que se podem formar mais quatro, cinco, seis, sete iguais a esta, com os jogadores que ficaram de fora: João Azevedo, Costa Pereira, Carlos Gomes, José Augusto, Vítor Baptista, Jesus Correia, Peyroteo, Torres, Águas, Matateu, Vicente, Paulo Sousa, Simões, Coluna (a quem um dia apelidei de “o monstro sagrado do futebol português”), Travassos (que poderia muito bem estar nesta selecção), Jordão, Hernâni, Oliveira, Alves, Jaime Pacheco, Sousa, Pietra, Manuel Fernandes, Chalana (onde vou meter este pequeno génio?).

Uns já morreram, outros vão ficar para sempre zangados comigo, e volto ao princípio: grandes jogadores houve sempre no nosso futebol, seleccionadores é que não.

Fico com grandes problemas de consciência e a certeza de que me esqueci de alguns nomes.

Jesus Correia

74 anos

Ex-futebolista

Táctica: WM

Equipa: Azevedo; João Pinto, Félix, Hilário; Figo, Coluna, Rui Costa; Travassos, Gomes, Eusébio, Albano

Mário Wilson

69 anos

Treinador de futebol

Táctica: 4x3x3

Equipa: Azevedo/Bento; Sérgio Conceição, Humberto, Germano, Hilário; Coluna, Travassos, Figo; Matateu, Eusébio, Chalana.

Entristece-me não incluir o João Pinto, mas está tapado pelo Eusébio. Quanto ao Matateu, era outro Eusébio, mas do Belenenses.

Carlos Miranda

66 anos

Jornalista

Táctica: WM

Equipa: Azevedo; Cardoso, Germano, Serafim; Figo, Francisco Ferreira; Jesus Correia, Araújo; Águas, Eusébio, Rogério

Poderá não ser a selecção ideal, mas é a selecção da minha saudade.

Manuel Dias

64 anos

Jornalista e escritor

Táctica: WM

Equipa: Damas; João Pinto, Hilário, Humberto Coelho; Hernâni, Travassos, Oliveira, Pedroto; Fernando Gomes, Eusébio/Pinga, Figo

Qual foi o maior escritor de todos os tempos? E qual foi o melhor pintor? E qual o filme dos filmes? Fernando Pessoa ganha a Camões? E haverá qualquer destes voado mais alto do que Homero ou Rilke? A minha terra é mais bonita do que a tua?

Paradoxo descontado, toda a objectividade, em matéria desta, é subjectiva. No prosaico mundo lusitano da bola, na galeria dos que o arrebatamento acoima de heróis ou génios, descobre-se, rapidamente, que a escolha é difícil. Difícil porque — e congratulemo-nos — o problema básico é a quantidade. Depois, o jogador de futebol, como o homem em si mesmo, é produto do meio e da circunstância. Premissas que não são as mesmas, ontem e hoje. No cadinho da memória onde a nostalgia e mito tendem a sobrepor-se à nitidez do presente, entre o amadorismo e o profissionalismo, o campo careca e o tapete de relva, mais o peso das botas e da bola e as condicionantes evoluções técnico-tácticas, como estabelecer, sem atrevimento ou estultícia, um “ranking” de qualidade?

Soluções, já que uma resposta é pedida: usando, na definição das posições, uma velha terminologia, aqui fica, com veementes desculpas a tantos preteridos, a minha equipa ideal — os doze melhores — na história do futebol português: Doze? E como explicar ao Céu, se o divino Pinga ficasse de fora?

Hélder Pacheco

61 anos

Historiador

Táctica: 4x4x2

Equipa: Barrigana; João Pinto, Virgílio, Guilhar, Carvalho; André, Araújo, Pavão, Oliveira; Pinga, Valdemar Mota

Como diria o meu amigo Melo, eu não sou desportista, sou só portista. Por isso não vejo jogos de futebol, na televisão, excepto os do FC Porto, nem vou a nenhum estádio que não seja o do Porto. As paixões dão estas coisas e cada um tem direito à sua. A minha cor é, portanto, azul e branca, tal como a bandeira constitucional durante o cerco do Porto. Daí a minha selecção ideal, adaptando jogadores às tácticas actuais.

Ribeiro Cristóvão

59 anos

Jornalista

Táctica: 4x3x3

Equipa: Azevedo; Virgílio, Humberto Coelho, Germano, Hilário; Figo, Oliveira, Futre; Matateu, Eusébio, Travassos

Selecção de escolha muito difícil, dada a grande abundância de valores de qualidade. Esta inclui jogadores de características pouco defensivas. Mas, com atacantes destes, quem é que pensa em defender?

Artur Santos Silva

57 anos

Presidente do BPI

Táctica: 4x3x3

Equipa: Azevedo; João Pinto, Germano, Humberto Coelho, Hilário; Hernâni, Coluna, Travassos; Figo, Eusébio, Futre

A minha memória futebolística deste século está muito marcada pelo período de ouro do nosso futebol a nível mundial — os anos 60. É por isso que, embora seja portista, vejo com grande simpatia o Benfica, pelo que fez nesses anos e pelo ambiente de festa contagiante que então rodeava os jogos internacionais da Luz, a que tantas vezes assisti. Estou certo de que teríamos sido campeões do mundo em 1966 com um guarda-redes de categoria (o melhor de então, Américo, ficou esquecido como segundo suplente).

Dos jogadores que escolhi, destaco o que para mim foi de todos o maior, Hernâni, opinião que partilho com o grande escritor e amigo Manuel Alegre, como refere no seu romance “Alma”. Pela sua técnica excepcional que só por si resolvia um “match”, pela inteligência e visão global do jogo que revelava e em especial pelo aproveitamento total que sabia fazer das qualidades dos seus companheiros. Como homem alia um grande carácter a uma extrema simplicidade.

O João Pinto foi um grande lateral moderno e com a sua alma conseguia contagiar tudo e todos, jogadores e público. O Hilário marcava muito bem o adversário e colocava primorosamente a bola no ataque, além de ser correctíssimo. Humberto Coelho e Germano eram grandes centrais e muito eclécticos. A visão e precisão de passe do Germano fazia com que o Benfica pudesse dispensar a linha média da função de construir jogo de ataque. O Coluna teria sido um notável médio de ataque no futebol moderno. O ataque dispensa comentários. Para a baliza escolhi o Azevedo, embora o tenha visto jogar pouco e ainda que, apenas pelo que fez no FC Porto, escolhesse como guarda-redes do século o Vítor Baía (dado que não posso escolher o Mlynarczyk).

Como suplentes, escolho Damas, Artur, Rui Rodrigues, José Águas e Matateu. Neste grupo pensei ainda em Eurico, Carvalho (defesa-esquerdo do FC Porto), Alves, Toni, Artur Jorge, Carlos Duarte e o macaísta Rocha, que, sozinho, muitas vezes no meio de uma equipa modesta, levava a Académica a ganhar aos melhores.

Eusébio

56 anos

Ex-futebolista

Táctica: 4x3x3

Equipa: Carlos Gomes; Virgílio, Germano, Félix, Hilário; Coluna, Hernâni, Travassos; José Águas, Simões, Matateu Tenho que pedir desculpa a todos aqueles de quem possa ter-me esquecido, mas isto é muito difícil. Há muitos jogadores que nunca vi jogar, apesar de ter contactado com alguns e ter lido sobre eles. Por exemplo, o Félix, um central que nunca vi jogar mas de que ouvi muita gente dizer grandes coisas; dos “cinco violinos” tenho muita pena, mas não os vi, dizem-me que o Peyroteo era excepcional...

Numa segunda linha, como suplentes, digamos assim, escolheria o Azevedo, o Vicente, o Rocha, o Carlos Duarte, o Chalana, o Peyroteo, o Pinga. E, desta juventude, o Figo, o João Pinto, o Rui Costa, o Vítor Baía. Há muita rapaziada nova de valor que, para mais, defende o nome de Portugal no estrangeiro.

Mas o que me preocupa é que me vou esquecer de alguns. Há muitos outros que estão sempre comigo. Desculpem-me qualquer lapso.

João Lagos

54 anos

Empresário

Táctica: 4x3x3

Equipa: Damas; Artur, Germano, Humberto, Hilário; Oliveira, Coluna, Figo; Travassos, Peyroteo, Eusébio

João Braga

53 anos

Fadista

Táctica: 4x4x2

Equipa: Damas; João Pinto, Humberto, Germano, Hilário; Vicente, Rogério, Figo, Simão Sabrosa; Travassos, Eusébio

É uma escolha difícil. Há muitos outros bons jogadores: Vítor Baía, Coluna, José Augusto, Paulo Sousa, Gomes, Simões, Virgílio, Frasco, Jaime Pacheco, Peyroteo, Matateu, etc.

Arons de Carvalho

50 anos

Secretário de Estado da Comunicação Social

Táctica: 4x4x2

Equipa: Bento; João Pinto, Germano, Humberto, Hilário; Figo, João Vieira Pinto, Rui Costa, Chalana; Eusébio, Futre Pede-se-me quase o impossível: comparar jogadores de várias gerações, sujeitos a preparações e sistemas tácticos muito diversos. E não cometer a injustiça de esquecer alguém. Para simplificar, excluí jogadores que se distinguiram antes dos anos 60, que nunca vi jogar. Para um benfiquista confesso, a decisão nem é difícil, mas de fora ficam Travassos e os outros violinos. Depois trata-se de colocar os escolhidos num vago 4-4-2. O resultado é uma selecção desequilibradamente ofensiva, mas Portugal tem tido muitos e bons médios ofensivos. Mesmo assim, ficam de fora uma enorme quantidade de vedetas: Vítor Baía, Damas, Costa Pereira, Artur, Paulo Sousa, Coluna, Vicente, Diamantino, Oliveira, Alves, Simões, Carlos Manuel, Jordão, Jaime Pacheco e muitos outros.

Suzete Abreu

50 anos

Marketing e publicidade

Táctica: 4x4x2

Equipa: Bento; Pietra, Humberto, Vicente, Hilário; Jaime Graça, Coluna, João Vieira Pinto, Futre; Eusébio, Jordão Existem seis imprescindíveis — Coluna, Pietra, Futre, João Vieira Pinto, Jaime Graça, Humberto — para além de um óbvio: Eusébio. Na baliza, hesitei entre o Bento e o Damas; como ponta-de-lança entre o Jordão e o Artur Jorge. Para o lugar de defesa central, ao lado de Humberto, e para lateral-esquerdo não foi tão fácil encontrar nomes. Ficam de fora, num hipotético “banco”: Simões, Chalana, Nené, Diamantino, Carlos Manuel, Paulo Sousa, Rui Costa e Santana.

Eduardo Barroso

49 anos

Médico

Táctica: 4x4x2

Equipa: Carlos Gomes; Artur, Germano/Vicente, Humberto, Hilário; Figo/José Augusto, Fernando Mendes, Coluna, Simões; Eusébio, Travassos/Hernâni Não coloco o Azevedo a guarda-redes porque não o vi jogar.

João Botelho

49 anos

Realizador de cinema

Táctica: 4x4x2

Equipa: Azevedo; João Pinto, Germano, Humberto, Alberto; Figo, Pedroto, Chalana, Hernâni; Eusébio, Travassos

Esta é, não a minha selecção nacional do século, mas do último meio século.

Miguel Sousa Tavares

48 anos

Jornalista

Táctica: 4x3x3

Equipa: Américo; Artur, Humberto, Alexandre Baptista, Hilário; Alves, Hernâni, Oliveira; Jordão, Eusébio, Futre

Leonor Pinhão

41 anos

Jornalista

Táctica: 4x3x3

Equipa: Bento; Malta da Silva, Humberto Coelho, Vicente, Adolfo; Coluna, Figo, Oliveira; Jesus Correia, Chalana, Eusébio Esta é, não a selecção nacional do século, mas do último quarto de século.

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