António Costa recorda ao PS demissões de Coelho e Vitorino

27-10-2003
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António Costa Recorda ao PS Demissões de Coelho e Vitorino

Por SÃO JOSÉ ALMEIDA

Sexta-feira, 24 de Outubro de 2003 O líder parlamentar do PS, António Costa, garantiu ontem ao PÚBLICO que não teve nenhuma intenção de apelar à demissão do secretário-geral do PS, Eduardo Ferro Rodrigues, e que a sua frase, "Se eu fosse o partido sei o que faria", se referia apenas e só à necessidade de o partido intervir politicamente e sair da situação que se encontra de apenas reagir à evolução das notícias do caso Casa Pia. E que a solidariedade com Ferro Rodrigues nunca esteve em causa. Mas o que é facto é que os deputados não entenderam assim a intervenção de António Costa e ontem à tarde a iminência da demissão de Ferro Rodrigues era dada como adquirida e mesmo admitida por dirigentes próximos do secretário-geral. Pelo menos até cerca das cinco da tarde, momento em que circulou a informação de que António Costa tinha feito uma declaração à Lusa em que se afirmava solidário com Ferro Rodrigues. De repente, os corredores perto da sala da liderança parlamentar do PS esvaziaram-se e os deputados deixaram de se multiplicar em conversas. O clima no grupo parlamentar era tal que até a estratégia de apoio ao líder desenvolvida por Almeida Santos, Vera Jardim, Alberto Martins e Jorge Lacão, que estava em curso desde quarta-feira e que consistiu na elaboração de um documento de apoio a Ferro para aprovar na comissão política que se realizou ontem à noite, foi invertida a meio da tarde. E entre as quatro e as cinco da tarde a iniciativa foi suspensa, para depois regressar, após a declaração de Costa à Lusa. A tensão, contudo, mantinha-se e era grande a expectativa sobre o que se passaria na reunião da Comissão Política que decorreu ontem à noite na sede nacional do PS, em Lisboa. Uma reunião onde se anunciavam críticas pelo menos de Manuel Maria Carrilho que ontem publicou no "Diário e Notícias" um artigo exigindo o congresso antecipado, assim como era esperado que João Soares também levantasse dúvidas e manifestasse o seu desacordo à forma como a direcção socialista tem agido face ao caso Casa Pia. Outra intervenção critica aguardada com expectativa era a de José Lamego. Já de apoio a Ferro anunciavam-se intervenções de figura de peso no seio do partido como José Sócrates e Jorge Lacão. Antes da reunião, Sócrates fez saber que ia defender que num momento em que o líder do PS está debaixo de ataque cerrado e violento o único caminho é o da solidariedade. Já Coelho deveria afastar a hipótese da demissão e apelar à intervenção política e de combate contra o Governo. Todavia, ao início da reunião, dirigentes próximos de Ferro Rodrigues garantiram ao PÚBLICO que Ferro não se demitiria. Mais, segundo socialistas próximos de Ferro, o secretário-geral não está disposto a antecipar o congresso que, pela estratégia da direcção, será o ordinário, previsto para 2004 - e que só se realizará após as eleições europeias e as eleições regionais, isto é depois de Outubro de 2004. De acordo com as informações recolhidas pelo PÚBLICO a reunião do grupo parlamentar foi dominada pela intervenção de António Costa, mas também pelas intervenções de Augusto Santos Silva e de Ana Benavente, intervenções estas que, aliás, surgiram em diálogo umas com as outras. E, pela primeira vez abertamente no grupo parlamentar, ouviram-se críticas à actuação de Ana Gomes - com deputados a afirmar que a dirigente devia ficar no Vietname, país onde terá viajado, bem como críticas a Paulo Pedroso pelo seu comportamento após sair da prisão preventiva, nomeadamente por se ter desdobrado em entrevistas. Santos Silva ameaça abandonar a política Augusto Santos Silva fez uma intervenção classificada ao PÚBLICO por alguns deputados como doutrinária, defendendo que o PS deve lutar pela qualidade da democracia, pela defesa da democracia. Só que, na opinião de Santos Silva, a qualidade da democracia inclui a eleição como tema de combate político pelo PS das questões que se relacionam com a forma como os socialistas têm sido atacados no caso Casa Pia, incluindo questionando a legitimidade das escutas. Sustentou, assim, que a defesa do Estado de direito deve acompanhar a defesa de um projecto para o país e a não a cedência ao populismo. E jurou que caso o PS não siga este caminho, não acompanhará outra estratégia e está disposto a abandonar todos os cargos que ocupa. Na sua intervenção, Santos Silva não deixou de considerar que no dia 21 de Maio, os dirigentes do PS foram ingénuos nas suas conversas telefónicas. E pediu mesmo a António Costa que relatasse o que se passou naquele dia. Outra intervenção marcante na reunião foi a de Ana Benavente que tratou de atacar a atitude de Manuel Maria Carrilho, afirmando-se "chocada" com o facto de o deputado escrever primeiro nos jornais e só depois falar nos órgãos partidários e que a solidariedade obriga a que as opiniões e a responsabilização seja assumida no seio do colectivo. Benavente considerou ainda que "Berlusconi está a tomar conta da política" e que "se a SIC demitiu dois ministros, a TVI quer demitir um secretário-geral." A deputada afirmou ainda que se vive uma "experiência inédita" com o caso Casa Pia, mas que o PS deve levar esta discussão a fundo, admitir que a "liderança está fragilizada", mas unir-se e adoptar uma estratégia de combate político e de alternativa ao Governo, e não ceder à pressão do caso Casa Pia, pois isso "é dar uma vitória ao inimigo". E foi precisamente dos apelos à unidade e à coesão do partido lançados por Ana Benavente que António Costa discordou, considerando-os mais emotivos do que racionais. Defendeu mesmo que a política é uma coisa "desumana" e não emocional, sustentando que todos devem dizer o que pensam, sem pôr em causa a solidariedade com o líder do PS e com a direcção nem a estratégia do PS para o país. Mais à frente lembrou momentos passados da vida do PS, precisamente para demonstrar a desumanidade da política. E, mostrando que essa desumanidade atinge aqueles que não têm culpa do que acontece, citou o caso de um ministro que se demitiu por não ter pago impostos e um outro que se demitiu porque caiu uma ponte, numa clara alusão às demissões António Vitorino e Jorge Coelho. Ora foi depois disto que proferiu a frase: "Se eu fosse o partido sei o que faria." Deixando a maioria dos deputados perplexos com o que entenderam ser uma descolagem de Ferro Rodrigues. OUTROS TÍTULOS EM DESTAQUE Comissão Política decide continuação de Ferro

António Costa recorda ao PS demissões de Coelho e Vitorino

Carrilho sem apoios expressos na bancada

Apoiantes de Henrique Neto pedem à direcção do PS para "sair de cena"

Sampaio exprime gesto público de confiança em Souto Moura

Strecht defende que testemunho de prostitutos não fragiliza acusação

Recurso da prisão preventiva de Carlos Cruz aguarda decisão da Tribunal da Relação

Supremo reconhece legitimidade do MP para investigar abuso sexual de menores mesmo quando não há queixa

Conselheiros recusam inconstitucionalidade na diversidade de requisitos para as relações hetero e homossexuais de adultos com menores

Moita Flores processa Ferro Rodrigues

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Por SÃO JOSÉ ALMEIDA

Sexta-feira, 24 de Outubro de 2003 O líder parlamentar do PS, António Costa, garantiu ontem ao PÚBLICO que não teve nenhuma intenção de apelar à demissão do secretário-geral do PS, Eduardo Ferro Rodrigues, e que a sua frase, "Se eu fosse o partido sei o que faria", se referia apenas e só à necessidade de o partido intervir politicamente e sair da situação que se encontra de apenas reagir à evolução das notícias do caso Casa Pia. E que a solidariedade com Ferro Rodrigues nunca esteve em causa. Mas o que é facto é que os deputados não entenderam assim a intervenção de António Costa e ontem à tarde a iminência da demissão de Ferro Rodrigues era dada como adquirida e mesmo admitida por dirigentes próximos do secretário-geral. Pelo menos até cerca das cinco da tarde, momento em que circulou a informação de que António Costa tinha feito uma declaração à Lusa em que se afirmava solidário com Ferro Rodrigues. De repente, os corredores perto da sala da liderança parlamentar do PS esvaziaram-se e os deputados deixaram de se multiplicar em conversas. O clima no grupo parlamentar era tal que até a estratégia de apoio ao líder desenvolvida por Almeida Santos, Vera Jardim, Alberto Martins e Jorge Lacão, que estava em curso desde quarta-feira e que consistiu na elaboração de um documento de apoio a Ferro para aprovar na comissão política que se realizou ontem à noite, foi invertida a meio da tarde. E entre as quatro e as cinco da tarde a iniciativa foi suspensa, para depois regressar, após a declaração de Costa à Lusa. A tensão, contudo, mantinha-se e era grande a expectativa sobre o que se passaria na reunião da Comissão Política que decorreu ontem à noite na sede nacional do PS, em Lisboa. Uma reunião onde se anunciavam críticas pelo menos de Manuel Maria Carrilho que ontem publicou no "Diário e Notícias" um artigo exigindo o congresso antecipado, assim como era esperado que João Soares também levantasse dúvidas e manifestasse o seu desacordo à forma como a direcção socialista tem agido face ao caso Casa Pia. Outra intervenção critica aguardada com expectativa era a de José Lamego. Já de apoio a Ferro anunciavam-se intervenções de figura de peso no seio do partido como José Sócrates e Jorge Lacão. Antes da reunião, Sócrates fez saber que ia defender que num momento em que o líder do PS está debaixo de ataque cerrado e violento o único caminho é o da solidariedade. Já Coelho deveria afastar a hipótese da demissão e apelar à intervenção política e de combate contra o Governo. Todavia, ao início da reunião, dirigentes próximos de Ferro Rodrigues garantiram ao PÚBLICO que Ferro não se demitiria. Mais, segundo socialistas próximos de Ferro, o secretário-geral não está disposto a antecipar o congresso que, pela estratégia da direcção, será o ordinário, previsto para 2004 - e que só se realizará após as eleições europeias e as eleições regionais, isto é depois de Outubro de 2004. De acordo com as informações recolhidas pelo PÚBLICO a reunião do grupo parlamentar foi dominada pela intervenção de António Costa, mas também pelas intervenções de Augusto Santos Silva e de Ana Benavente, intervenções estas que, aliás, surgiram em diálogo umas com as outras. E, pela primeira vez abertamente no grupo parlamentar, ouviram-se críticas à actuação de Ana Gomes - com deputados a afirmar que a dirigente devia ficar no Vietname, país onde terá viajado, bem como críticas a Paulo Pedroso pelo seu comportamento após sair da prisão preventiva, nomeadamente por se ter desdobrado em entrevistas. Santos Silva ameaça abandonar a política Augusto Santos Silva fez uma intervenção classificada ao PÚBLICO por alguns deputados como doutrinária, defendendo que o PS deve lutar pela qualidade da democracia, pela defesa da democracia. Só que, na opinião de Santos Silva, a qualidade da democracia inclui a eleição como tema de combate político pelo PS das questões que se relacionam com a forma como os socialistas têm sido atacados no caso Casa Pia, incluindo questionando a legitimidade das escutas. Sustentou, assim, que a defesa do Estado de direito deve acompanhar a defesa de um projecto para o país e a não a cedência ao populismo. E jurou que caso o PS não siga este caminho, não acompanhará outra estratégia e está disposto a abandonar todos os cargos que ocupa. Na sua intervenção, Santos Silva não deixou de considerar que no dia 21 de Maio, os dirigentes do PS foram ingénuos nas suas conversas telefónicas. E pediu mesmo a António Costa que relatasse o que se passou naquele dia. Outra intervenção marcante na reunião foi a de Ana Benavente que tratou de atacar a atitude de Manuel Maria Carrilho, afirmando-se "chocada" com o facto de o deputado escrever primeiro nos jornais e só depois falar nos órgãos partidários e que a solidariedade obriga a que as opiniões e a responsabilização seja assumida no seio do colectivo. Benavente considerou ainda que "Berlusconi está a tomar conta da política" e que "se a SIC demitiu dois ministros, a TVI quer demitir um secretário-geral." A deputada afirmou ainda que se vive uma "experiência inédita" com o caso Casa Pia, mas que o PS deve levar esta discussão a fundo, admitir que a "liderança está fragilizada", mas unir-se e adoptar uma estratégia de combate político e de alternativa ao Governo, e não ceder à pressão do caso Casa Pia, pois isso "é dar uma vitória ao inimigo". E foi precisamente dos apelos à unidade e à coesão do partido lançados por Ana Benavente que António Costa discordou, considerando-os mais emotivos do que racionais. Defendeu mesmo que a política é uma coisa "desumana" e não emocional, sustentando que todos devem dizer o que pensam, sem pôr em causa a solidariedade com o líder do PS e com a direcção nem a estratégia do PS para o país. Mais à frente lembrou momentos passados da vida do PS, precisamente para demonstrar a desumanidade da política. E, mostrando que essa desumanidade atinge aqueles que não têm culpa do que acontece, citou o caso de um ministro que se demitiu por não ter pago impostos e um outro que se demitiu porque caiu uma ponte, numa clara alusão às demissões António Vitorino e Jorge Coelho. Ora foi depois disto que proferiu a frase: "Se eu fosse o partido sei o que faria." Deixando a maioria dos deputados perplexos com o que entenderam ser uma descolagem de Ferro Rodrigues. 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Carrilho sem apoios expressos na bancada

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