EXPRESSO: País

31-08-2002
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Os caminhos do PS Longe vão os tempos em que à palavra mágica «diálogo» os mais difíceis obstáculos se desvaneciam perante os governantes socialistas. Cinco anos e várias paixões depois, o PS está à procura do caminho que lhe permita manter-se na senda do poder: mas na encruzilhada entre esquerda e direita, Guterres teima em manter-se ao centro. Embora prometendo «um novo ciclo» Ana Baião O APELO de António Guterres aos 10% de eleitores que têm votado nos partidos à esquerda do PS tem sido mal recebido por alguns sectores socialistas, ao ponto de o secretário-geral do partido ter-se visto «obrigado» a aproveitar a última reunião de divulgação da sua moção ao Congresso para esclarecer: «O PS não tem que virar à esquerda nem tem que virar à direita, tem que manter a sua autonomia estratégica, os seus princípios e os seus valores». O APELO de António Guterres aos 10% de eleitores que têm votado nos partidos à esquerda do PS tem sido mal recebido por alguns sectores socialistas, ao ponto de o secretário-geral do partido ter-se visto «obrigado» a aproveitar a última reunião de divulgação da sua moção ao Congresso para esclarecer: O «erro de leitura» - como é interpretado no círculo mais próximo de Guterres - tem provocado alguma celeuma no interior do PS, aliás visível desde a entrevista de Pina Moura ao «Diário de Notícias» (há um mês). O ministro das Finanças, recorde-se, foi o primeiro a mencionar a predisposição do PS para convidar os 10% de eleitores actualmente representados pelos partidos mais à esquerda do hemiciclo a fazerem parte de uma «solução de governabilidade». O que foi imediatamente interpretado como uma abertura a um entendimento parlamentar com o PCP mereceu o esclarecimento de António Guterres: «Nem eu nem o ministro Pina Moura defendemos uma aliança com o PCP tal como está». O «equívoco», pelos vistos, teima em persistir. Garante uma fonte próxima do líder socialista que «não se trata de uma viragem à esquerda», mas de «um desafio às forças à esquerda para se modernizarem. Se a moção serviu para alguma coisa foi para recentrar o discurso», conclui a mesma fonte. Mas essa leitura não parece ser assim tão óbvia, inclusivamente dentro da direcção do PS. Em entrevista ao EXPRESSO , Edite Estrela não tem dúvidas de que «o PS é um partido de esquerda: tem de conquistar o centro, mas sem descurar o eleitorado de esquerda». A líder da Federação da Área Urbana de Lisboa mostra-se ainda convicta de que é o PS que tem de ter um discurso e uma prática que conquiste os famigerados 10% de eleitorado à sua esquerda, e não o contrário. António Guterres com os militantes do PS/Alentejo: um «erro de leitura» da sua moção obrigou-o a esclarecer que o PS mantém o rumo ao centro, «não vira à esquerda nem à direita» Numa altura em que históricos do partido, como Manuel Alegre, não poupam críticas ao actual estado de «descaracterização ideológica e política» do PS, é significativo que o debate pré-Congresso ameace esgotar-se na avaliação da posição exacta do PS no espectro partidário português. Longe vai o ano de 1995, quando o «diálogo» era a palavra-chave por si só suficiente para distinguir a nova maioria dos autoritários anos de Cavaco Silva. Chegados a 1999, e novamente sem a maioria absoluta que lhes tornaria a governação mais fácil, os socialistas tornaram-se pragmáticos: o primeiro-ministro reeleito anunciou a saúde como «a principal prioridade». Mas um curto ano do novo mandato bastou para demonstrar que só isso não bastava para manter o «élan» dos socialistas perante o eleitorado: e desde a «rentrée» de 2000, quando Guterres anunciou pela primeira vez «um novo ciclo político», que os responsáveis socialistas repetem com regularidade o discurso de reconhecimento dos erros e promessas de correcção. À procura do melhor caminho para chegar aos tais 10%? Numa altura em que históricos do partido, como Manuel Alegre, não poupam críticas ao actual estado dedo PS, é significativo que o debate pré-Congresso ameace esgotar-se na avaliação da posição exacta do PS no espectro partidário português. Longe vai o ano de 1995, quando oera a palavra-chave por si só suficiente para distinguir a nova maioria dos autoritários anos de Cavaco Silva. Chegados a 1999, e novamente sem a maioria absoluta que lhes tornaria a governação mais fácil, os socialistas tornaram-se pragmáticos: o primeiro-ministro reeleito anunciou a saúde como. Mas um curto ano do novo mandato bastou para demonstrar que só isso não bastava para manter o «élan» dos socialistas perante o eleitorado: e desde a «rentrée» de 2000, quando Guterres anunciou pela primeira vez, que os responsáveis socialistas repetem com regularidade o discurso de reconhecimento dos erros e promessas de correcção. À procura do melhor caminho para chegar aos tais 10%? PS cansado de Judas Entretanto, José Luís Judas poderá não ser o candidato do PS em Cascais nas próximas eleições autárquicas. O EXPRESSO apurou que o «folhetim Judas» - como já é qualificado nos bastidores socialistas - voltou a «ressuscitar» na direcção do partido a hipótese de ser dirigido um convite a outra personalidade (e a preferida é João Cravinho) para a candidatura à presidência da autarquia cascalense. A decisão do autarca de cumprir o mandato até ao fim - quando, há cerca de um mês, anunciara precisamente o contrário -, não foi bem recebida pelos socialistas locais, a começar pelo líder da concelhia (e número dois na autarquia), Umberto Pacheco. É nas mãos dele que está, em primeira instância, a escolha do próximo candidato, como confirmou ao EXPRESSO a líder da FAUL: o facto de Judas ter decidido, afinal, manter-se em funções até Dezembro não significa que ele venha a ser o candidato, «tal como se ele tivesse saído não significava que não pudesse vir a sê-lo. Os órgãos próprios ainda não se pronunciaram sobre quem será o candidato», afirma Edite Estrela. Convicta de que «o PS tem condições para manter Cascais, independentemente do candidato», Edite Estrela não nega que a indecisão do actual presidente da Câmara «não tem contribuído para valorizar a imagem do PS em Cascais. Deveria ter sido bem ponderado e só depois anunciado, sem estes ziguezagues», lamenta a responsável pela FAUL, contornando a existência de uma carta onde Judas lhe comunicava a desistência do mandato: «É pouco relevante falar do que ele me disse e se o fez pessoalmente, por carta ou por telefone. Houve vários contactos e eu sempre lhe disse que o mandato era dele e ele é que deveria avaliar se tinha ou não condições para continuar».

CRISTINA FIGUEIREDO

Novembro 1995 - «O diálogo tem como objectivo permitir clarificar as opções a tomar. Mas não impede que a decisão ponha em causa interesses estabelecidos» Novembro 1999 - «A saúde será agora a principal prioridade, dado que entraram em velocidade de cruzeiro as três prioridades do mandato anterior: educação, emprego, combate à pobreza»

Setembro 2000 - «Este ano parlamentar marca da parte do Governo e do PS um novo ciclo político, capaz de corresponder ao novo ciclo económico e social» Fevereiro 2001 - «Temos de ser capazes de concretizar uma ruptura em relação aos interesses instalados e aos esquemas corporativos»

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Os caminhos do PS Longe vão os tempos em que à palavra mágica «diálogo» os mais difíceis obstáculos se desvaneciam perante os governantes socialistas. Cinco anos e várias paixões depois, o PS está à procura do caminho que lhe permita manter-se na senda do poder: mas na encruzilhada entre esquerda e direita, Guterres teima em manter-se ao centro. Embora prometendo «um novo ciclo» Ana Baião O APELO de António Guterres aos 10% de eleitores que têm votado nos partidos à esquerda do PS tem sido mal recebido por alguns sectores socialistas, ao ponto de o secretário-geral do partido ter-se visto «obrigado» a aproveitar a última reunião de divulgação da sua moção ao Congresso para esclarecer: «O PS não tem que virar à esquerda nem tem que virar à direita, tem que manter a sua autonomia estratégica, os seus princípios e os seus valores». O APELO de António Guterres aos 10% de eleitores que têm votado nos partidos à esquerda do PS tem sido mal recebido por alguns sectores socialistas, ao ponto de o secretário-geral do partido ter-se visto «obrigado» a aproveitar a última reunião de divulgação da sua moção ao Congresso para esclarecer: O «erro de leitura» - como é interpretado no círculo mais próximo de Guterres - tem provocado alguma celeuma no interior do PS, aliás visível desde a entrevista de Pina Moura ao «Diário de Notícias» (há um mês). O ministro das Finanças, recorde-se, foi o primeiro a mencionar a predisposição do PS para convidar os 10% de eleitores actualmente representados pelos partidos mais à esquerda do hemiciclo a fazerem parte de uma «solução de governabilidade». O que foi imediatamente interpretado como uma abertura a um entendimento parlamentar com o PCP mereceu o esclarecimento de António Guterres: «Nem eu nem o ministro Pina Moura defendemos uma aliança com o PCP tal como está». O «equívoco», pelos vistos, teima em persistir. Garante uma fonte próxima do líder socialista que «não se trata de uma viragem à esquerda», mas de «um desafio às forças à esquerda para se modernizarem. Se a moção serviu para alguma coisa foi para recentrar o discurso», conclui a mesma fonte. Mas essa leitura não parece ser assim tão óbvia, inclusivamente dentro da direcção do PS. Em entrevista ao EXPRESSO , Edite Estrela não tem dúvidas de que «o PS é um partido de esquerda: tem de conquistar o centro, mas sem descurar o eleitorado de esquerda». A líder da Federação da Área Urbana de Lisboa mostra-se ainda convicta de que é o PS que tem de ter um discurso e uma prática que conquiste os famigerados 10% de eleitorado à sua esquerda, e não o contrário. António Guterres com os militantes do PS/Alentejo: um «erro de leitura» da sua moção obrigou-o a esclarecer que o PS mantém o rumo ao centro, «não vira à esquerda nem à direita» Numa altura em que históricos do partido, como Manuel Alegre, não poupam críticas ao actual estado de «descaracterização ideológica e política» do PS, é significativo que o debate pré-Congresso ameace esgotar-se na avaliação da posição exacta do PS no espectro partidário português. Longe vai o ano de 1995, quando o «diálogo» era a palavra-chave por si só suficiente para distinguir a nova maioria dos autoritários anos de Cavaco Silva. Chegados a 1999, e novamente sem a maioria absoluta que lhes tornaria a governação mais fácil, os socialistas tornaram-se pragmáticos: o primeiro-ministro reeleito anunciou a saúde como «a principal prioridade». Mas um curto ano do novo mandato bastou para demonstrar que só isso não bastava para manter o «élan» dos socialistas perante o eleitorado: e desde a «rentrée» de 2000, quando Guterres anunciou pela primeira vez «um novo ciclo político», que os responsáveis socialistas repetem com regularidade o discurso de reconhecimento dos erros e promessas de correcção. À procura do melhor caminho para chegar aos tais 10%? Numa altura em que históricos do partido, como Manuel Alegre, não poupam críticas ao actual estado dedo PS, é significativo que o debate pré-Congresso ameace esgotar-se na avaliação da posição exacta do PS no espectro partidário português. Longe vai o ano de 1995, quando oera a palavra-chave por si só suficiente para distinguir a nova maioria dos autoritários anos de Cavaco Silva. Chegados a 1999, e novamente sem a maioria absoluta que lhes tornaria a governação mais fácil, os socialistas tornaram-se pragmáticos: o primeiro-ministro reeleito anunciou a saúde como. Mas um curto ano do novo mandato bastou para demonstrar que só isso não bastava para manter o «élan» dos socialistas perante o eleitorado: e desde a «rentrée» de 2000, quando Guterres anunciou pela primeira vez, que os responsáveis socialistas repetem com regularidade o discurso de reconhecimento dos erros e promessas de correcção. À procura do melhor caminho para chegar aos tais 10%? PS cansado de Judas Entretanto, José Luís Judas poderá não ser o candidato do PS em Cascais nas próximas eleições autárquicas. O EXPRESSO apurou que o «folhetim Judas» - como já é qualificado nos bastidores socialistas - voltou a «ressuscitar» na direcção do partido a hipótese de ser dirigido um convite a outra personalidade (e a preferida é João Cravinho) para a candidatura à presidência da autarquia cascalense. A decisão do autarca de cumprir o mandato até ao fim - quando, há cerca de um mês, anunciara precisamente o contrário -, não foi bem recebida pelos socialistas locais, a começar pelo líder da concelhia (e número dois na autarquia), Umberto Pacheco. É nas mãos dele que está, em primeira instância, a escolha do próximo candidato, como confirmou ao EXPRESSO a líder da FAUL: o facto de Judas ter decidido, afinal, manter-se em funções até Dezembro não significa que ele venha a ser o candidato, «tal como se ele tivesse saído não significava que não pudesse vir a sê-lo. Os órgãos próprios ainda não se pronunciaram sobre quem será o candidato», afirma Edite Estrela. Convicta de que «o PS tem condições para manter Cascais, independentemente do candidato», Edite Estrela não nega que a indecisão do actual presidente da Câmara «não tem contribuído para valorizar a imagem do PS em Cascais. Deveria ter sido bem ponderado e só depois anunciado, sem estes ziguezagues», lamenta a responsável pela FAUL, contornando a existência de uma carta onde Judas lhe comunicava a desistência do mandato: «É pouco relevante falar do que ele me disse e se o fez pessoalmente, por carta ou por telefone. Houve vários contactos e eu sempre lhe disse que o mandato era dele e ele é que deveria avaliar se tinha ou não condições para continuar».

CRISTINA FIGUEIREDO

Novembro 1995 - «O diálogo tem como objectivo permitir clarificar as opções a tomar. Mas não impede que a decisão ponha em causa interesses estabelecidos» Novembro 1999 - «A saúde será agora a principal prioridade, dado que entraram em velocidade de cruzeiro as três prioridades do mandato anterior: educação, emprego, combate à pobreza»

Setembro 2000 - «Este ano parlamentar marca da parte do Governo e do PS um novo ciclo político, capaz de corresponder ao novo ciclo económico e social» Fevereiro 2001 - «Temos de ser capazes de concretizar uma ruptura em relação aos interesses instalados e aos esquemas corporativos»

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