Bagão Félix, o "ministro dos patrões"

10-08-2002
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Nove em cada dez inquiridos consideram o seu desempenho "bom" ou "excelente"

Bagão Félix, o "Ministro dos Patrões"

Por ARTUR NEVES

Segunda-feira, 29 de Julho de 2002

Os inquiridos pelo Observatório Forum de Administradores de Empresas-PÚBLICO aplaudem o pacote laboral e a consolidação orçamental, mas temem que desencadeiem um clima de elevada contestação social por alturas da "rentrée" política.

Bem pode ter declarado recentemente que não era nem ministro dos patrões nem dos trabalhadores, que era apenas ministro do Trabalho. As reacções dos sindicatos à sua revisão da Lei de Bases da Segurança Social e ao seu anteprojecto de Código do Trabalho contrastam completamente com a avaliação que os membros do Observatório Fórum de Administradores de Empresas (FAE) - PÚBLICO fazem do seu desempenho. Para 90,2 por cento dos inquiridos, o desempenho de Bagão Félix nos últimos três meses foi considerado, nada mais nada menos, como "bom" ou "excelente", eclipsando o dos restantes membros do Governo.

Além de aplaudir a política de Bagão Félix, a elite empresarial também acena afirmativamente à nova orientação governamental, no sentido de reduzir o défice orçamental para "próximo de zero" em 2004, e não para o défice nulo. As medidas visando reduzir a despesa pública e aumentar a produtividade e o crescimento da economia são, no entanto, susceptíveis de desencadearem um clima de elevada contestação social por alturas da "rentrée" política. Sessenta por cento dos inquiridos manifestam-se já antecipadamente preocupados com as acções reivindicativas a empreender pelos sindicatos, enquanto que os restantes vão de férias descansados quanto a esta matéria.

Supostamente articulado com as propostas dos Ministérios do Trabalho e das Finanças está o Programa para a Produtividade e Crescimento da Economia (PPCE), apresentado no início de Junho pelo ministro Carlos Tavares. Dele fazem parte a reestruturação do ICEP, com a integração de vários dos seus serviços na rede de embaixadas portuguesas e a passagem de algumas das suas competências para novos organismos. A retirada de competências ao ICEP nas áreas do investimento (para a Agência Portuguesa de Investimento - API) e do turismo (para o Instituto de Financiamento e Apoio ao Turismo) merece o apoio de 47,2 por cento dos inquiridos. Polémica foi a escolha do Porto para sede da API, com a argumentação de que o Norte é a principal região exportadora do país. Metade do Observatório considera positiva a opção governamental, mas deve ser destacada a oposição de 36,8 por cento dos sondados.

Outra das medidas do PPCE é a alteração do artigo 35º do Código das Sociedades Comerciais, com o intuito de acelerar a extinção das empresas descapitalizadas. Mais de três quartos dos inquiridos não derramarão uma lágrima pelas cerca de 13 mil empresas que, de acordo com cálculos do PÚBLICO, ficaram com a sua existência ameaçada com a mudança no articulado.

O PPCE é composto por quatro dezenas de medidas mas, quase quatro em cada cinco dos gestores das empresas de topo portuguesas duvidam da sua concretização. Aliás, no novo Executivo, Carlos Tavares está longe de atingir o brilho dos seus colegas das Finanças, da Defesa ou da Saúde - Bagão Félix está inalcançável noutra galáxia. Mordendo os calcanhares do ministro da Economia, estão os responsáveis pela Justiça e pelas Obras Públicas.

Dólar barato é bom

Para uma clara maioria dos inquiridos (62,1 por cento), a depreciação do dólar, que se regista há já vários meses, é boa para Portugal. No seu pensamento poderão estar os seus efeitos anti-inflacionistas (embaratecimento das importações denominadas em dólares - como as de petróleo - e noutras divisas ligadas à moeda norte-americana), que darão uma ajuda à nossa competitividade externa, ao reduzirem o actual diferencial entre a inflação portuguesa e a sua congénere da União Europeia (UE). Há, no entanto, uma minoria (22,1 por cento) que vê a depreciação do bilhete verde como negativa, existindo também argumentos que sustentam esta posição. Apesar de apenas uma pequena parte das nossa exportações se dirigirem para os EUA, uma grande parte delas enfrenta na zona euro a concorrência de produtos oriundos de países com moedas que acompanham de perto as flutuações do dólar - basta pensar nos têxteis e calçado de alguns países asiáticos.

Ainda na esfera do nosso enquadramento externo, o recente impedimento da entrada em território espanhol de deputados portugueses que se deslocavam a Sevilha para participar numa manifestação autorizada, paralela à realização da Cimeira com que terminou a presidência espanhola da UE, levantou a questão da justificação da suspensão dos acordos de Schengen em ocasiões deste tipo. Trata-se de algo que divide o Observatório quase em duas metades iguais, com uma ligeiríssima supremacia dos que consideram não prejudicar o processo de construção europeia o levantamento temporário de barreiras à livre circulação dos cidadãos comunitários.

Durão Barroso cai menos que Ferro Rodrigues

Já se trata de uma ideia repetida por vários analistas políticos. Este Governo poderá ter bons ministros em determinadas áreas mas falta-lhe um sentido de rumo e um projecto que mobilize o país, sob pena de as suas várias medidas avulsas aparecerem ao eleitorado como arbitrárias, produto das idiossincrasias dos responsáveis pelas várias pastas. Esta falta de liderança tem sido atribuída às debilidades do primeiro-ministro, que vê no espaço de três meses cair de 83,9 para 62 por cento o número dos que classificam o seu desempenho com pelo menos um "suficiente". Como consolo, Durão Barroso tem apenas o facto de o principal líder da oposição ainda não se ter manifestamente adaptado ao seu novo papel. No mesmo período de tempo, Ferro Rodrigues viu o número dos que avaliavam o seu comportamento com pelo menos um "suficiente" tombar de 84,2 para somente 29,3 por cento, sendo ultrapassado por Francisco Louçã. A avaliação do mandato de Jorge Sampaio manteve-se estável.

Nove em cada dez inquiridos consideram o seu desempenho "bom" ou "excelente"

Bagão Félix, o "Ministro dos Patrões"

Por ARTUR NEVES

Segunda-feira, 29 de Julho de 2002

Os inquiridos pelo Observatório Forum de Administradores de Empresas-PÚBLICO aplaudem o pacote laboral e a consolidação orçamental, mas temem que desencadeiem um clima de elevada contestação social por alturas da "rentrée" política.

Bem pode ter declarado recentemente que não era nem ministro dos patrões nem dos trabalhadores, que era apenas ministro do Trabalho. As reacções dos sindicatos à sua revisão da Lei de Bases da Segurança Social e ao seu anteprojecto de Código do Trabalho contrastam completamente com a avaliação que os membros do Observatório Fórum de Administradores de Empresas (FAE) - PÚBLICO fazem do seu desempenho. Para 90,2 por cento dos inquiridos, o desempenho de Bagão Félix nos últimos três meses foi considerado, nada mais nada menos, como "bom" ou "excelente", eclipsando o dos restantes membros do Governo.

Além de aplaudir a política de Bagão Félix, a elite empresarial também acena afirmativamente à nova orientação governamental, no sentido de reduzir o défice orçamental para "próximo de zero" em 2004, e não para o défice nulo. As medidas visando reduzir a despesa pública e aumentar a produtividade e o crescimento da economia são, no entanto, susceptíveis de desencadearem um clima de elevada contestação social por alturas da "rentrée" política. Sessenta por cento dos inquiridos manifestam-se já antecipadamente preocupados com as acções reivindicativas a empreender pelos sindicatos, enquanto que os restantes vão de férias descansados quanto a esta matéria.

Supostamente articulado com as propostas dos Ministérios do Trabalho e das Finanças está o Programa para a Produtividade e Crescimento da Economia (PPCE), apresentado no início de Junho pelo ministro Carlos Tavares. Dele fazem parte a reestruturação do ICEP, com a integração de vários dos seus serviços na rede de embaixadas portuguesas e a passagem de algumas das suas competências para novos organismos. A retirada de competências ao ICEP nas áreas do investimento (para a Agência Portuguesa de Investimento - API) e do turismo (para o Instituto de Financiamento e Apoio ao Turismo) merece o apoio de 47,2 por cento dos inquiridos. Polémica foi a escolha do Porto para sede da API, com a argumentação de que o Norte é a principal região exportadora do país. Metade do Observatório considera positiva a opção governamental, mas deve ser destacada a oposição de 36,8 por cento dos sondados.

Outra das medidas do PPCE é a alteração do artigo 35º do Código das Sociedades Comerciais, com o intuito de acelerar a extinção das empresas descapitalizadas. Mais de três quartos dos inquiridos não derramarão uma lágrima pelas cerca de 13 mil empresas que, de acordo com cálculos do PÚBLICO, ficaram com a sua existência ameaçada com a mudança no articulado.

O PPCE é composto por quatro dezenas de medidas mas, quase quatro em cada cinco dos gestores das empresas de topo portuguesas duvidam da sua concretização. Aliás, no novo Executivo, Carlos Tavares está longe de atingir o brilho dos seus colegas das Finanças, da Defesa ou da Saúde - Bagão Félix está inalcançável noutra galáxia. Mordendo os calcanhares do ministro da Economia, estão os responsáveis pela Justiça e pelas Obras Públicas.

Dólar barato é bom

Para uma clara maioria dos inquiridos (62,1 por cento), a depreciação do dólar, que se regista há já vários meses, é boa para Portugal. No seu pensamento poderão estar os seus efeitos anti-inflacionistas (embaratecimento das importações denominadas em dólares - como as de petróleo - e noutras divisas ligadas à moeda norte-americana), que darão uma ajuda à nossa competitividade externa, ao reduzirem o actual diferencial entre a inflação portuguesa e a sua congénere da União Europeia (UE). Há, no entanto, uma minoria (22,1 por cento) que vê a depreciação do bilhete verde como negativa, existindo também argumentos que sustentam esta posição. Apesar de apenas uma pequena parte das nossa exportações se dirigirem para os EUA, uma grande parte delas enfrenta na zona euro a concorrência de produtos oriundos de países com moedas que acompanham de perto as flutuações do dólar - basta pensar nos têxteis e calçado de alguns países asiáticos.

Ainda na esfera do nosso enquadramento externo, o recente impedimento da entrada em território espanhol de deputados portugueses que se deslocavam a Sevilha para participar numa manifestação autorizada, paralela à realização da Cimeira com que terminou a presidência espanhola da UE, levantou a questão da justificação da suspensão dos acordos de Schengen em ocasiões deste tipo. Trata-se de algo que divide o Observatório quase em duas metades iguais, com uma ligeiríssima supremacia dos que consideram não prejudicar o processo de construção europeia o levantamento temporário de barreiras à livre circulação dos cidadãos comunitários.

Durão Barroso cai menos que Ferro Rodrigues

Já se trata de uma ideia repetida por vários analistas políticos. Este Governo poderá ter bons ministros em determinadas áreas mas falta-lhe um sentido de rumo e um projecto que mobilize o país, sob pena de as suas várias medidas avulsas aparecerem ao eleitorado como arbitrárias, produto das idiossincrasias dos responsáveis pelas várias pastas. Esta falta de liderança tem sido atribuída às debilidades do primeiro-ministro, que vê no espaço de três meses cair de 83,9 para 62 por cento o número dos que classificam o seu desempenho com pelo menos um "suficiente". Como consolo, Durão Barroso tem apenas o facto de o principal líder da oposição ainda não se ter manifestamente adaptado ao seu novo papel. No mesmo período de tempo, Ferro Rodrigues viu o número dos que avaliavam o seu comportamento com pelo menos um "suficiente" tombar de 84,2 para somente 29,3 por cento, sendo ultrapassado por Francisco Louçã. A avaliação do mandato de Jorge Sampaio manteve-se estável.

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