JSD Ensaia Mudança de Voz no Coliseu
Por NUNO SÁ LOURENÇO
Segunda-feira, 15 de Julho de 2002
Organização praticou no Coliseu a aproximação ao poder, com a dupla personalidade inevitável de uma adolescência que quer parecer adulta sem o ser ainda completamente
Entre o Coliseu e a discoteca, interligando o governo com os "temas tabus", misturando os sapatos de vela e as gravatas. Foi aí que se situou a Juventude Social-Democrata (JSD) durante o XXIV congresso nacional. Menos barulhentos e mais institucionais, os jovens sociais-democratas transbordaram uma aparente dupla personalidade, durante este fim-de-semana, para quem a consagração do Governo parecia representar a aproximação à maioridade do poder.
Esse mesmo poder que os louvou, pela boca do primeiro-ministro, durante o discurso de abertura, na sexta-feira. "Nós orgulhamo-nos de ter connosco a JSD", dissera Durão Barroso.
Pedro Duarte revelou-se preparado para o desafio. Em conversa com o PÚBLICO, reconheceu o "gesto simpático" do primeiro-ministro e evitou, humildemente, outras conclusões. O discurso institucional vinha ao de cima, como já tinha sido ouvido aliás, na apresentação da moção da Juventude. As primeiras palavras de Pedro Duarte foram uma colagem ao discurso do Governo. Criticou a situação da saúde e segurança social, foi um entre os muitos que prestou "homenagem ao ministro da Educação", terminando o juramento de vassalagem ao afirmar estar "100 por cento ao lado deste governo".
Estava tão ao lado que retirou a sua moção de votação - como fizeram todas as outras - para que a aclamação ao líder fosse total.
Contudo, até este dirigente da JSD não conseguiria evitar a dupla personalidade reinante. Algo desde logo evidente na sua indumentária. O fato e a gravata escuros, que usara no primeiro dia de Coliseu, seriam substituídos, no sábado, por uns mais confortáveis 'jeans' e camisa às riscas.
Essa foi uma característica comum a toda a JSD. Ao lado de jovens de fato e gravata, sentavam-se outros que celebravam o inevitável sapato de vela e pólo 'Lacoste'. Havia até alguém mais "baralhado" que misturava o fato de bom corte com uma radical e 'trotskista' pêra. Mas todos assumiam em pleno o papel mais institucional, menos barulhento e bem comportado no congresso da consagração do poder.
Mas não era só nos trapos do líder que se detectava a mudança de voz da JSD. A "introdução de temas novos" no congresso destoava com o beija-mão a Durão Barroso. A diferença em relação ao partido ficou expressa quando o presidente falou dos "flagelos demasiado graves para que pudéssemos olhar para eles com apatia". Referia-se à sida e toxicodependência, "problemas estruturais" para os quais pediu ao Governo de Durão Barroso "atenção prioritária". Pelo meio, aproveitou para repetir uma das suas bandeiras pessoais, "a imediata extinção do serviço militar", cuja "ridícula obrigatoriedade" contestava.
O quadro tornava-se ainda mais psicadélico, com a noite de sábado. Em vez de ficar no Coliseu, a JSD de Lisboa arrastou os jovens para uma noite de discoteca. A "Cenoura do Rio" recebeu, assim, uns quantos adolescentes que procuravam o divertimento depois de andar o dia a ouvir discursos. E pelo que dissera Pedro Duarte na sexta, tinham razões para festejar. Durante a defesa da moção da organização, o entusiasmo do presidente chegou ao ponto de eleger os seus como a "maior organização partidária de juventude, não só do país, mas também da Europa". Um epíteto grandiloquente que o líder defendeu com a superior "actividade, melhores quadros e maior inovação" da JSD.
Categorias
Entidades
JSD Ensaia Mudança de Voz no Coliseu
Por NUNO SÁ LOURENÇO
Segunda-feira, 15 de Julho de 2002
Organização praticou no Coliseu a aproximação ao poder, com a dupla personalidade inevitável de uma adolescência que quer parecer adulta sem o ser ainda completamente
Entre o Coliseu e a discoteca, interligando o governo com os "temas tabus", misturando os sapatos de vela e as gravatas. Foi aí que se situou a Juventude Social-Democrata (JSD) durante o XXIV congresso nacional. Menos barulhentos e mais institucionais, os jovens sociais-democratas transbordaram uma aparente dupla personalidade, durante este fim-de-semana, para quem a consagração do Governo parecia representar a aproximação à maioridade do poder.
Esse mesmo poder que os louvou, pela boca do primeiro-ministro, durante o discurso de abertura, na sexta-feira. "Nós orgulhamo-nos de ter connosco a JSD", dissera Durão Barroso.
Pedro Duarte revelou-se preparado para o desafio. Em conversa com o PÚBLICO, reconheceu o "gesto simpático" do primeiro-ministro e evitou, humildemente, outras conclusões. O discurso institucional vinha ao de cima, como já tinha sido ouvido aliás, na apresentação da moção da Juventude. As primeiras palavras de Pedro Duarte foram uma colagem ao discurso do Governo. Criticou a situação da saúde e segurança social, foi um entre os muitos que prestou "homenagem ao ministro da Educação", terminando o juramento de vassalagem ao afirmar estar "100 por cento ao lado deste governo".
Estava tão ao lado que retirou a sua moção de votação - como fizeram todas as outras - para que a aclamação ao líder fosse total.
Contudo, até este dirigente da JSD não conseguiria evitar a dupla personalidade reinante. Algo desde logo evidente na sua indumentária. O fato e a gravata escuros, que usara no primeiro dia de Coliseu, seriam substituídos, no sábado, por uns mais confortáveis 'jeans' e camisa às riscas.
Essa foi uma característica comum a toda a JSD. Ao lado de jovens de fato e gravata, sentavam-se outros que celebravam o inevitável sapato de vela e pólo 'Lacoste'. Havia até alguém mais "baralhado" que misturava o fato de bom corte com uma radical e 'trotskista' pêra. Mas todos assumiam em pleno o papel mais institucional, menos barulhento e bem comportado no congresso da consagração do poder.
Mas não era só nos trapos do líder que se detectava a mudança de voz da JSD. A "introdução de temas novos" no congresso destoava com o beija-mão a Durão Barroso. A diferença em relação ao partido ficou expressa quando o presidente falou dos "flagelos demasiado graves para que pudéssemos olhar para eles com apatia". Referia-se à sida e toxicodependência, "problemas estruturais" para os quais pediu ao Governo de Durão Barroso "atenção prioritária". Pelo meio, aproveitou para repetir uma das suas bandeiras pessoais, "a imediata extinção do serviço militar", cuja "ridícula obrigatoriedade" contestava.
O quadro tornava-se ainda mais psicadélico, com a noite de sábado. Em vez de ficar no Coliseu, a JSD de Lisboa arrastou os jovens para uma noite de discoteca. A "Cenoura do Rio" recebeu, assim, uns quantos adolescentes que procuravam o divertimento depois de andar o dia a ouvir discursos. E pelo que dissera Pedro Duarte na sexta, tinham razões para festejar. Durante a defesa da moção da organização, o entusiasmo do presidente chegou ao ponto de eleger os seus como a "maior organização partidária de juventude, não só do país, mas também da Europa". Um epíteto grandiloquente que o líder defendeu com a superior "actividade, melhores quadros e maior inovação" da JSD.