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07-11-2002
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Alberto Frias

Rui Ochôa

Ana Baião

Luiz Carvalho

A hora de Paulo Portas BARROSO, Durão - Chegou a primeiro-ministro depois de ser dado como «morto» por muitos comentadores. A sua resistência, perseverança e combatividade fazem dele um político temível. Nunca desiste. Cometeu vários erros durante a campanha - transmitindo pouca confiança aos portugueses - e não conseguiu criar empatia com largas camadas de votantes. Isto explica que muitos eleitores de direita que votaram Cavaco em 1987 e 91 tenham agora preferido votar no PP. Uma campanha mais segura ter-lhe-ia dado a maioria absoluta. Mas é preciso também não esquecer que a vitória se deve em primeiro lugar a ele, que durante anos carregou o partido às costas. BE - Tornou-se um movimento de «causas» - causas duvidosas, diga-se -, um contrapoder. O seu discurso é hoje mais atractivo para alguma juventude contestatária do que o do PCP. É pouco vulnerável ao voto útil porque os seus eleitores funcionam num registo que tem pouco que ver com a lógica do sistema político. Beneficia com o facto de ser protegido pelos «media», que lhe dão uma cobertura semelhante à que dão ao PSD e ao PS, partidos que têm trinta vezes mais deputados. BE - Tornou-se um movimento de «causas» - causas duvidosas, diga-se -, um contrapoder. O seu discurso é hoje mais atractivo para alguma juventude contestatária do que o do PCP. É pouco vulnerável ao voto útil porque os seus eleitores funcionam num registo que tem pouco que ver com a lógica do sistema político. Beneficia com o facto de ser protegido pelos «media», que lhe dão uma cobertura semelhante à que dão ao PSD e ao PS, partidos que têm trinta vezes mais deputados. CARVALHAS, Carlos - Depois de mais este desastre será difícil manter a liderança do partido por muito mais tempo. As suas evidentes dificuldades oratórias e de dicção são cada vez mais patentes e prejudicam o PCP - que precisaria hoje de um líder que desse ao partido uma imagem forte, segura e moderna. CARVALHAS, Carlos - Depois de mais este desastre será difícil manter a liderança do partido por muito mais tempo. As suas evidentes dificuldades oratórias e de dicção são cada vez mais patentes e prejudicam o PCP - que precisaria hoje de um líder que desse ao partido uma imagem forte, segura e moderna. COLIGAÇÃO PSD-PP - Depois de 16 anos de governos monocolores, Portugal irá ter um Governo de coligação. Foi esse também o sinal claro do eleitorado, ao fazer subir Paulo Portas e ao não oferecer a maioria absoluta a Durão Barroso. COLIGAÇÃO PSD-PP - Depois de 16 anos de governos monocolores, Portugal irá ter um Governo de coligação. Foi esse também o sinal claro do eleitorado, ao fazer subir Paulo Portas e ao não oferecer a maioria absoluta a Durão Barroso. COSTA, António - Foi o mais infeliz dos socialistas na noite eleitoral ao dizer, primeiro, que o PS ainda podia ganhar as eleições quando já era clara a derrota e depois ao descer à sala de imprensa para responder a uma picardia de Santana Lopes. O sólido ministro da Justiça que o país respeitava acabou por manchar a imagem mesmo à beira de deixar o poder. COSTA, António - Foi o mais infeliz dos socialistas na noite eleitoral ao dizer, primeiro, que o PS ainda podia ganhar as eleições quando já era clara a derrota e depois ao descer à sala de imprensa para responder a uma picardia de Santana Lopes. O sólido ministro da Justiça que o país respeitava acabou por manchar a imagem mesmo à beira de deixar o poder. COSTA, Pinto da - Foi o símbolo da mistura entre a política e o futebol, que durante uma semana fez do Euro-2004 o tema mais importante da campanha. Os «estragos» provocados pela polémica do estádio das Antas no eleitorado do PSD foram, porém, menores do que chegou a admitir-se. Acabou por ter oito dias «horribilis», com a derrota eleitoral do PS e... os desaires do FC Porto, que em duas jornadas consecutivas não conseguiu ganhar a dois clubes «pequenos» de Lisboa: o Belenenses e o Alverca. COSTA, Pinto da - Foi o símbolo da mistura entre a política e o futebol, que durante uma semana fez do Euro-2004 o tema mais importante da campanha. Os «estragos» provocados pela polémica do estádio das Antas no eleitorado do PSD foram, porém, menores do que chegou a admitir-se. Acabou por ter oito dias «horribilis», com a derrota eleitoral do PS e... os desaires do FC Porto, que em duas jornadas consecutivas não conseguiu ganhar a dois clubes «pequenos» de Lisboa: o Belenenses e o Alverca. FINANÇAS - Os nomes dos possíveis ministros das Finanças do PSD e do PS foram tema constante da campanha, mostrando duas coisas: que todos sentiam a gravidade da situação económica e financeira do país e que os dois candidatos a primeiros-ministros não davam grandes garantias a esse nível (mais Durão Barroso do que Ferro Rodrigues, que é economista). Barroso chegou a invocar como argumento eleitoral ter com ele economistas de renome como Miguel Cadilhe, António Borges, Ernâni Lopes, etc. FINANÇAS - Os nomes dos possíveis ministros das Finanças do PSD e do PS foram tema constante da campanha, mostrando duas coisas: que todos sentiam a gravidade da situação económica e financeira do país e que os dois candidatos a primeiros-ministros não davam grandes garantias a esse nível (mais Durão Barroso do que Ferro Rodrigues, que é economista). Barroso chegou a invocar como argumento eleitoral ter com ele economistas de renome como Miguel Cadilhe, António Borges, Ernâni Lopes, etc. GOVERNO minoritário - Hipótese defendida por alguns sociais-democratas, pensando poder repetir a experiência de Cavaco em 85. Mas as condições são muito diferentes. Em 85 os deputados do PSD não chegavam para fazer maioria com nenhum outro partido e Durão Barroso não é Cavaco Silva. Se optasse por um Governo minoritário, Durão cairia muito provavelmente dentro de poucos meses e - mais grave do que isso - arriscava-se a continuar a não ter maioria absoluta em novas eleições, tornando-se responsável por uma paragem prolongada na vida política e económica do país. GOVERNO minoritário - Hipótese defendida por alguns sociais-democratas, pensando poder repetir a experiência de Cavaco em 85. Mas as condições são muito diferentes. Em 85 os deputados do PSD não chegavam para fazer maioria com nenhum outro partido e Durão Barroso não é Cavaco Silva. Se optasse por um Governo minoritário, Durão cairia muito provavelmente dentro de poucos meses e - mais grave do que isso - arriscava-se a continuar a não ter maioria absoluta em novas eleições, tornando-se responsável por uma paragem prolongada na vida política e económica do país. GUTERRES, António - Despediu-se «à francesa» da chefia do Governo, como uma vez escrevi, mas comportou-se desde aí de forma irrepreensível. Foi discreto, participou na campanha q.b., apareceu na noite eleitoral para saudar o novo líder. Sai do poder como um senhor, elogiado ainda por cima pelos seus pares europeus. GUTERRES, António - Despediu-se «à francesa» da chefia do Governo, como uma vez escrevi, mas comportou-se desde aí de forma irrepreensível. Foi discreto, participou na campanha q.b., apareceu na noite eleitoral para saudar o novo líder. Sai do poder como um senhor, elogiado ainda por cima pelos seus pares europeus. INDEPENDENTES - Se em 1995 Guterres e o PS usaram os «independentes» como bandeira, querendo com isso significar que o seu projecto extravasava as fronteiras partidárias, agora essa bandeira pertenceu ao PSD. Os nomes dos «independentes» naturalmente mudaram, mas o conceito ficou. E teve algum peso na vitória. Figuras como Freitas do Amaral e Ernâni Lopes deram ao país a ideia de que o «projecto nacional» era agora o do PSD. INDEPENDENTES - Se em 1995 Guterres e o PS usaram os «independentes» como bandeira, querendo com isso significar que o seu projecto extravasava as fronteiras partidárias, agora essa bandeira pertenceu ao PSD. Os nomes dos «independentes» naturalmente mudaram, mas o conceito ficou. E teve algum peso na vitória. Figuras como Freitas do Amaral e Ernâni Lopes deram ao país a ideia de que o «projecto nacional» era agora o do PSD. LOPES, Santana - Atacando Ferro Rodrigues por não ter felicitado Durão Barroso pela vitória, o presidente da Câmara de Lisboa protagonizou o pior momento da noite eleitoral. Os vencedores não se queixam. LOPES, Santana - Atacando Ferro Rodrigues por não ter felicitado Durão Barroso pela vitória, o presidente da Câmara de Lisboa protagonizou o pior momento da noite eleitoral. Os vencedores não se queixam. LOUÇÃ, Francisco - É persuasivo, bem falante, criativo na argumentação. Arquitectou uma campanha muito mediática, escolhendo meia dúzia de temas - como o aborto ou a reforma fiscal - que repetiu à exaustão. Foi irritante para os adversários mas eficaz na conquista do seu eleitorado potencial. LOUÇÃ, Francisco - É persuasivo, bem falante, criativo na argumentação. Arquitectou uma campanha muito mediática, escolhendo meia dúzia de temas - como o aborto ou a reforma fiscal - que repetiu à exaustão. Foi irritante para os adversários mas eficaz na conquista do seu eleitorado potencial. MAIORIA de direita - Significa que o PSD e o PP juntos têm a maioria parlamentar, podendo formar um Executivo maioritário (que é a primeira coligação de direita a governar o país desde 1983). Refira-se que a expressão simétrica - maioria de esquerda - não tem conteúdo útil visto que, com este PCP, dificilmente o PS poderá algum dia formar Governo. MAIORIA de direita - Significa que o PSD e o PP juntos têm a maioria parlamentar, podendo formar um Executivo maioritário (que é a primeira coligação de direita a governar o país desde 1983). Refira-se que a expressão simétrica - maioria de esquerda - não tem conteúdo útil visto que, com este PCP, dificilmente o PS poderá algum dia formar Governo. PCP - A situação do partido, perdendo votos de eleição para eleição, começa a ser penosa. Os comunistas enterram cada vez mais a cabeça na areia para não verem. Acusam os «inimigos internos», acusam a imprensa, acusam os comentadores (que estão ao «serviço da burguesia» e os querem prejudicar), acusam o povo, que votou mal. As imagens da sede do PCP transmitidas pelas televisões na noite eleitoral eram patéticas. Os planos televisivos de Álvaro Cunhal, cego, a ser conduzido à mesa de voto por um militante, ganharam um simbolismo terrível. O Partido Comunista vai continuar a ser comido à esquerda pelo BE e à direita pelo PS. PCP - A situação do partido, perdendo votos de eleição para eleição, começa a ser penosa. Os comunistas enterram cada vez mais a cabeça na areia para não verem. Acusam os «inimigos internos», acusam a imprensa, acusam os comentadores (que estão ao «serviço da burguesia» e os querem prejudicar), acusam o povo, que votou mal. As imagens da sede do PCP transmitidas pelas televisões na noite eleitoral eram patéticas. Os planos televisivos de Álvaro Cunhal, cego, a ser conduzido à mesa de voto por um militante, ganharam um simbolismo terrível. O Partido Comunista vai continuar a ser comido à esquerda pelo BE e à direita pelo PS. PORTAS, Paulo - Um D. Quixote que impôs o seu partido como indispensável à formação de um Governo, que se impôs aos comentadores e que de certa forma se impôs ao país. Cometeu a proeza de vencer quase sozinho o outrora poderoso Partido Comunista Português e o seu temível «colectivo». Quem, há vinte anos, se atreveria a prevê-lo? Não receou defender valores abertamente de direita, foi ridicularizado, resistiu e acabou por ganhar com isso. Conquistou por direito próprio um lugar no próximo Executivo. Vejamos se se torna um aliado estável e leal. E está por provar que o seu talento como governante equivalha ao que revelou como agitador. PORTAS, Paulo - Um D. Quixote que impôs o seu partido como indispensável à formação de um Governo, que se impôs aos comentadores e que de certa forma se impôs ao país. Cometeu a proeza de vencer quase sozinho o outrora poderoso Partido Comunista Português e o seu temível «colectivo». Quem, há vinte anos, se atreveria a prevê-lo? Não receou defender valores abertamente de direita, foi ridicularizado, resistiu e acabou por ganhar com isso. Conquistou por direito próprio um lugar no próximo Executivo. Vejamos se se torna um aliado estável e leal. E está por provar que o seu talento como governante equivalha ao que revelou como agitador. PS - Sai muito maltratado de mais uma passagem pelo poder, deixando a imagem de que colocou muitas vezes o interesse do partido à frente do interesse nacional. PS - Sai muito maltratado de mais uma passagem pelo poder, deixando a imagem de que colocou muitas vezes o interesse do partido à frente do interesse nacional. PSD - Fez bem em concorrer sozinho às eleições. O país aceita bem uma coligação pós-eleitoral mas teria entendido mal uma aliança pré-eleitoral com o PP. PSD - Fez bem em concorrer sozinho às eleições. O país aceita bem uma coligação pós-eleitoral mas teria entendido mal uma aliança pré-eleitoral com o PP. RIO, Rui - Foi uma fonte de preocupações para Durão Barroso, fez tremer o PSD quando este parecia encaminhado para a maioria absoluta, mas constituiu um exemplo de coragem. Não se pode criticar os políticos por não cortarem a direito e simultaneamente criticá-los quando cortam a direito. RIO, Rui - Foi uma fonte de preocupações para Durão Barroso, fez tremer o PSD quando este parecia encaminhado para a maioria absoluta, mas constituiu um exemplo de coragem. Não se pode criticar os políticos por não cortarem a direito e simultaneamente criticá-los quando cortam a direito. RODRIGUES, Ferro - Teve a grande virtude de restabelecer a corrente de afecto entre os socialistas e o seu líder. Com Guterres essa corrente tinha diminuído: os militantes votavam nele por razões pragmáticas, porque ganhava eleições, e não por razões afectivas. Com Ferro, a corrente restabeleceu-se. Teve ainda a vantagem de separar as águas, definindo o PS como um partido de esquerda. Não perdeu votos com isso e o sistema político ganhou em clarificação. Fez uma campanha segura, sem grandes rasgos mas projectando uma imagem de solidez e seriedade que ultrapassou as fronteiras do partido. RODRIGUES, Ferro - Teve a grande virtude de restabelecer a corrente de afecto entre os socialistas e o seu líder. Com Guterres essa corrente tinha diminuído: os militantes votavam nele por razões pragmáticas, porque ganhava eleições, e não por razões afectivas. Com Ferro, a corrente restabeleceu-se. Teve ainda a vantagem de separar as águas, definindo o PS como um partido de esquerda. Não perdeu votos com isso e o sistema político ganhou em clarificação. Fez uma campanha segura, sem grandes rasgos mas projectando uma imagem de solidez e seriedade que ultrapassou as fronteiras do partido. SOARES, Mário - Ao pedir a maioria absoluta para Ferro Rodrigues, o ex-Presidente tornou-se o político mais criativo a arranjar teorias de acordo com as circunstâncias. Já defendeu que os portugueses não gostam de pôr todos os ovos no mesmo cesto mas apoiou a presença simultânea de Sampaio e Guterres no poder. Já se manifestou contra os Governos de maioria absoluta mas considerou que uma maioria absoluta de Ferro seria benéfica. Já se afirmou adepto da alternância no poder mas sustentou que ao Governo socialista devia suceder... um Governo socialista. O facto de ser fundador do PS fala, por vezes, mais alto do que as teorias. SOARES, Mário - Ao pedir a maioria absoluta para Ferro Rodrigues, o ex-Presidente tornou-se o político mais criativo a arranjar teorias de acordo com as circunstâncias. Já defendeu que os portugueses não gostam de pôr todos os ovos no mesmo cesto mas apoiou a presença simultânea de Sampaio e Guterres no poder. Já se manifestou contra os Governos de maioria absoluta mas considerou que uma maioria absoluta de Ferro seria benéfica. Já se afirmou adepto da alternância no poder mas sustentou que ao Governo socialista devia suceder... um Governo socialista. O facto de ser fundador do PS fala, por vezes, mais alto do que as teorias. SÓCRATES, José - Ganhou em Castelo Branco contra Maria Elisa e em Souselas e no Outão contra os adversários da co-incineração, deixando o poder como um vencedor. SÓCRATES, José - Ganhou em Castelo Branco contra Maria Elisa e em Souselas e no Outão contra os adversários da co-incineração, deixando o poder como um vencedor. SONDAGENS - As sondagens desta vez acertaram razoavelmente nos resultados, com destaque para a do EXPRESSO, que previu uma diferença de 2,1% entre o PSD e o PS que acabou por ser de 2,2. Depois da hecatombe verificada nas autárquicas, esta recuperação do crédito das sondagens merece registo. SONDAGENS - As sondagens desta vez acertaram razoavelmente nos resultados, com destaque para a do EXPRESSO, que previu uma diferença de 2,1% entre o PSD e o PS que acabou por ser de 2,2. Depois da hecatombe verificada nas autárquicas, esta recuperação do crédito das sondagens merece registo. VENCEDORES e vencidos - O PSD ganhou e o PS perdeu as eleições - é isto o que ficará para a História. Se a vitória foi por muitos ou por poucos não é muito relevante. Al Gore também perdeu por muito poucos votos e hoje ninguém fala nele: o palco pertence por inteiro a Bush. VENCEDORES e vencidos - O PSD ganhou e o PS perdeu as eleições - é isto o que ficará para a História. Se a vitória foi por muitos ou por poucos não é muito relevante. Al Gore também perdeu por muito poucos votos e hoje ninguém fala nele: o palco pertence por inteiro a Bush. VILARINHO, Manuel - Foi um bico-de-obra para o PSD, dando todo o sentido à frase «com amigos destes não precisamos de inimigos». As posições políticas que assumiu com muita inabilidade fragilizaram-no internamente, sendo obrigado a invocar como desculpa as suas dificuldades de expressão. Foi pouco dignificante. VILARINHO, Manuel - Foi um bico-de-obra para o PSD, dando todo o sentido à frase «com amigos destes não precisamos de inimigos». As posições políticas que assumiu com muita inabilidade fragilizaram-no internamente, sendo obrigado a invocar como desculpa as suas dificuldades de expressão. Foi pouco dignificante. E-mail: jsaraiva@mail.expresso.pt E-mail: jsaraiva@mail.expresso.pt José António Saraiva

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Alberto Frias

Rui Ochôa

Ana Baião

Luiz Carvalho

A hora de Paulo Portas BARROSO, Durão - Chegou a primeiro-ministro depois de ser dado como «morto» por muitos comentadores. A sua resistência, perseverança e combatividade fazem dele um político temível. Nunca desiste. Cometeu vários erros durante a campanha - transmitindo pouca confiança aos portugueses - e não conseguiu criar empatia com largas camadas de votantes. Isto explica que muitos eleitores de direita que votaram Cavaco em 1987 e 91 tenham agora preferido votar no PP. Uma campanha mais segura ter-lhe-ia dado a maioria absoluta. Mas é preciso também não esquecer que a vitória se deve em primeiro lugar a ele, que durante anos carregou o partido às costas. BE - Tornou-se um movimento de «causas» - causas duvidosas, diga-se -, um contrapoder. O seu discurso é hoje mais atractivo para alguma juventude contestatária do que o do PCP. É pouco vulnerável ao voto útil porque os seus eleitores funcionam num registo que tem pouco que ver com a lógica do sistema político. Beneficia com o facto de ser protegido pelos «media», que lhe dão uma cobertura semelhante à que dão ao PSD e ao PS, partidos que têm trinta vezes mais deputados. BE - Tornou-se um movimento de «causas» - causas duvidosas, diga-se -, um contrapoder. O seu discurso é hoje mais atractivo para alguma juventude contestatária do que o do PCP. É pouco vulnerável ao voto útil porque os seus eleitores funcionam num registo que tem pouco que ver com a lógica do sistema político. Beneficia com o facto de ser protegido pelos «media», que lhe dão uma cobertura semelhante à que dão ao PSD e ao PS, partidos que têm trinta vezes mais deputados. CARVALHAS, Carlos - Depois de mais este desastre será difícil manter a liderança do partido por muito mais tempo. As suas evidentes dificuldades oratórias e de dicção são cada vez mais patentes e prejudicam o PCP - que precisaria hoje de um líder que desse ao partido uma imagem forte, segura e moderna. CARVALHAS, Carlos - Depois de mais este desastre será difícil manter a liderança do partido por muito mais tempo. As suas evidentes dificuldades oratórias e de dicção são cada vez mais patentes e prejudicam o PCP - que precisaria hoje de um líder que desse ao partido uma imagem forte, segura e moderna. COLIGAÇÃO PSD-PP - Depois de 16 anos de governos monocolores, Portugal irá ter um Governo de coligação. Foi esse também o sinal claro do eleitorado, ao fazer subir Paulo Portas e ao não oferecer a maioria absoluta a Durão Barroso. COLIGAÇÃO PSD-PP - Depois de 16 anos de governos monocolores, Portugal irá ter um Governo de coligação. Foi esse também o sinal claro do eleitorado, ao fazer subir Paulo Portas e ao não oferecer a maioria absoluta a Durão Barroso. COSTA, António - Foi o mais infeliz dos socialistas na noite eleitoral ao dizer, primeiro, que o PS ainda podia ganhar as eleições quando já era clara a derrota e depois ao descer à sala de imprensa para responder a uma picardia de Santana Lopes. O sólido ministro da Justiça que o país respeitava acabou por manchar a imagem mesmo à beira de deixar o poder. COSTA, António - Foi o mais infeliz dos socialistas na noite eleitoral ao dizer, primeiro, que o PS ainda podia ganhar as eleições quando já era clara a derrota e depois ao descer à sala de imprensa para responder a uma picardia de Santana Lopes. O sólido ministro da Justiça que o país respeitava acabou por manchar a imagem mesmo à beira de deixar o poder. COSTA, Pinto da - Foi o símbolo da mistura entre a política e o futebol, que durante uma semana fez do Euro-2004 o tema mais importante da campanha. Os «estragos» provocados pela polémica do estádio das Antas no eleitorado do PSD foram, porém, menores do que chegou a admitir-se. Acabou por ter oito dias «horribilis», com a derrota eleitoral do PS e... os desaires do FC Porto, que em duas jornadas consecutivas não conseguiu ganhar a dois clubes «pequenos» de Lisboa: o Belenenses e o Alverca. COSTA, Pinto da - Foi o símbolo da mistura entre a política e o futebol, que durante uma semana fez do Euro-2004 o tema mais importante da campanha. Os «estragos» provocados pela polémica do estádio das Antas no eleitorado do PSD foram, porém, menores do que chegou a admitir-se. Acabou por ter oito dias «horribilis», com a derrota eleitoral do PS e... os desaires do FC Porto, que em duas jornadas consecutivas não conseguiu ganhar a dois clubes «pequenos» de Lisboa: o Belenenses e o Alverca. FINANÇAS - Os nomes dos possíveis ministros das Finanças do PSD e do PS foram tema constante da campanha, mostrando duas coisas: que todos sentiam a gravidade da situação económica e financeira do país e que os dois candidatos a primeiros-ministros não davam grandes garantias a esse nível (mais Durão Barroso do que Ferro Rodrigues, que é economista). Barroso chegou a invocar como argumento eleitoral ter com ele economistas de renome como Miguel Cadilhe, António Borges, Ernâni Lopes, etc. FINANÇAS - Os nomes dos possíveis ministros das Finanças do PSD e do PS foram tema constante da campanha, mostrando duas coisas: que todos sentiam a gravidade da situação económica e financeira do país e que os dois candidatos a primeiros-ministros não davam grandes garantias a esse nível (mais Durão Barroso do que Ferro Rodrigues, que é economista). Barroso chegou a invocar como argumento eleitoral ter com ele economistas de renome como Miguel Cadilhe, António Borges, Ernâni Lopes, etc. GOVERNO minoritário - Hipótese defendida por alguns sociais-democratas, pensando poder repetir a experiência de Cavaco em 85. Mas as condições são muito diferentes. Em 85 os deputados do PSD não chegavam para fazer maioria com nenhum outro partido e Durão Barroso não é Cavaco Silva. Se optasse por um Governo minoritário, Durão cairia muito provavelmente dentro de poucos meses e - mais grave do que isso - arriscava-se a continuar a não ter maioria absoluta em novas eleições, tornando-se responsável por uma paragem prolongada na vida política e económica do país. GOVERNO minoritário - Hipótese defendida por alguns sociais-democratas, pensando poder repetir a experiência de Cavaco em 85. Mas as condições são muito diferentes. Em 85 os deputados do PSD não chegavam para fazer maioria com nenhum outro partido e Durão Barroso não é Cavaco Silva. Se optasse por um Governo minoritário, Durão cairia muito provavelmente dentro de poucos meses e - mais grave do que isso - arriscava-se a continuar a não ter maioria absoluta em novas eleições, tornando-se responsável por uma paragem prolongada na vida política e económica do país. GUTERRES, António - Despediu-se «à francesa» da chefia do Governo, como uma vez escrevi, mas comportou-se desde aí de forma irrepreensível. Foi discreto, participou na campanha q.b., apareceu na noite eleitoral para saudar o novo líder. Sai do poder como um senhor, elogiado ainda por cima pelos seus pares europeus. GUTERRES, António - Despediu-se «à francesa» da chefia do Governo, como uma vez escrevi, mas comportou-se desde aí de forma irrepreensível. Foi discreto, participou na campanha q.b., apareceu na noite eleitoral para saudar o novo líder. Sai do poder como um senhor, elogiado ainda por cima pelos seus pares europeus. INDEPENDENTES - Se em 1995 Guterres e o PS usaram os «independentes» como bandeira, querendo com isso significar que o seu projecto extravasava as fronteiras partidárias, agora essa bandeira pertenceu ao PSD. Os nomes dos «independentes» naturalmente mudaram, mas o conceito ficou. E teve algum peso na vitória. Figuras como Freitas do Amaral e Ernâni Lopes deram ao país a ideia de que o «projecto nacional» era agora o do PSD. INDEPENDENTES - Se em 1995 Guterres e o PS usaram os «independentes» como bandeira, querendo com isso significar que o seu projecto extravasava as fronteiras partidárias, agora essa bandeira pertenceu ao PSD. Os nomes dos «independentes» naturalmente mudaram, mas o conceito ficou. E teve algum peso na vitória. Figuras como Freitas do Amaral e Ernâni Lopes deram ao país a ideia de que o «projecto nacional» era agora o do PSD. LOPES, Santana - Atacando Ferro Rodrigues por não ter felicitado Durão Barroso pela vitória, o presidente da Câmara de Lisboa protagonizou o pior momento da noite eleitoral. Os vencedores não se queixam. LOPES, Santana - Atacando Ferro Rodrigues por não ter felicitado Durão Barroso pela vitória, o presidente da Câmara de Lisboa protagonizou o pior momento da noite eleitoral. Os vencedores não se queixam. LOUÇÃ, Francisco - É persuasivo, bem falante, criativo na argumentação. Arquitectou uma campanha muito mediática, escolhendo meia dúzia de temas - como o aborto ou a reforma fiscal - que repetiu à exaustão. Foi irritante para os adversários mas eficaz na conquista do seu eleitorado potencial. LOUÇÃ, Francisco - É persuasivo, bem falante, criativo na argumentação. Arquitectou uma campanha muito mediática, escolhendo meia dúzia de temas - como o aborto ou a reforma fiscal - que repetiu à exaustão. Foi irritante para os adversários mas eficaz na conquista do seu eleitorado potencial. MAIORIA de direita - Significa que o PSD e o PP juntos têm a maioria parlamentar, podendo formar um Executivo maioritário (que é a primeira coligação de direita a governar o país desde 1983). Refira-se que a expressão simétrica - maioria de esquerda - não tem conteúdo útil visto que, com este PCP, dificilmente o PS poderá algum dia formar Governo. MAIORIA de direita - Significa que o PSD e o PP juntos têm a maioria parlamentar, podendo formar um Executivo maioritário (que é a primeira coligação de direita a governar o país desde 1983). Refira-se que a expressão simétrica - maioria de esquerda - não tem conteúdo útil visto que, com este PCP, dificilmente o PS poderá algum dia formar Governo. PCP - A situação do partido, perdendo votos de eleição para eleição, começa a ser penosa. Os comunistas enterram cada vez mais a cabeça na areia para não verem. Acusam os «inimigos internos», acusam a imprensa, acusam os comentadores (que estão ao «serviço da burguesia» e os querem prejudicar), acusam o povo, que votou mal. As imagens da sede do PCP transmitidas pelas televisões na noite eleitoral eram patéticas. Os planos televisivos de Álvaro Cunhal, cego, a ser conduzido à mesa de voto por um militante, ganharam um simbolismo terrível. O Partido Comunista vai continuar a ser comido à esquerda pelo BE e à direita pelo PS. PCP - A situação do partido, perdendo votos de eleição para eleição, começa a ser penosa. Os comunistas enterram cada vez mais a cabeça na areia para não verem. Acusam os «inimigos internos», acusam a imprensa, acusam os comentadores (que estão ao «serviço da burguesia» e os querem prejudicar), acusam o povo, que votou mal. As imagens da sede do PCP transmitidas pelas televisões na noite eleitoral eram patéticas. Os planos televisivos de Álvaro Cunhal, cego, a ser conduzido à mesa de voto por um militante, ganharam um simbolismo terrível. O Partido Comunista vai continuar a ser comido à esquerda pelo BE e à direita pelo PS. PORTAS, Paulo - Um D. Quixote que impôs o seu partido como indispensável à formação de um Governo, que se impôs aos comentadores e que de certa forma se impôs ao país. Cometeu a proeza de vencer quase sozinho o outrora poderoso Partido Comunista Português e o seu temível «colectivo». Quem, há vinte anos, se atreveria a prevê-lo? Não receou defender valores abertamente de direita, foi ridicularizado, resistiu e acabou por ganhar com isso. Conquistou por direito próprio um lugar no próximo Executivo. Vejamos se se torna um aliado estável e leal. E está por provar que o seu talento como governante equivalha ao que revelou como agitador. PORTAS, Paulo - Um D. Quixote que impôs o seu partido como indispensável à formação de um Governo, que se impôs aos comentadores e que de certa forma se impôs ao país. Cometeu a proeza de vencer quase sozinho o outrora poderoso Partido Comunista Português e o seu temível «colectivo». Quem, há vinte anos, se atreveria a prevê-lo? Não receou defender valores abertamente de direita, foi ridicularizado, resistiu e acabou por ganhar com isso. Conquistou por direito próprio um lugar no próximo Executivo. Vejamos se se torna um aliado estável e leal. E está por provar que o seu talento como governante equivalha ao que revelou como agitador. PS - Sai muito maltratado de mais uma passagem pelo poder, deixando a imagem de que colocou muitas vezes o interesse do partido à frente do interesse nacional. PS - Sai muito maltratado de mais uma passagem pelo poder, deixando a imagem de que colocou muitas vezes o interesse do partido à frente do interesse nacional. PSD - Fez bem em concorrer sozinho às eleições. O país aceita bem uma coligação pós-eleitoral mas teria entendido mal uma aliança pré-eleitoral com o PP. PSD - Fez bem em concorrer sozinho às eleições. O país aceita bem uma coligação pós-eleitoral mas teria entendido mal uma aliança pré-eleitoral com o PP. RIO, Rui - Foi uma fonte de preocupações para Durão Barroso, fez tremer o PSD quando este parecia encaminhado para a maioria absoluta, mas constituiu um exemplo de coragem. Não se pode criticar os políticos por não cortarem a direito e simultaneamente criticá-los quando cortam a direito. RIO, Rui - Foi uma fonte de preocupações para Durão Barroso, fez tremer o PSD quando este parecia encaminhado para a maioria absoluta, mas constituiu um exemplo de coragem. Não se pode criticar os políticos por não cortarem a direito e simultaneamente criticá-los quando cortam a direito. RODRIGUES, Ferro - Teve a grande virtude de restabelecer a corrente de afecto entre os socialistas e o seu líder. Com Guterres essa corrente tinha diminuído: os militantes votavam nele por razões pragmáticas, porque ganhava eleições, e não por razões afectivas. Com Ferro, a corrente restabeleceu-se. Teve ainda a vantagem de separar as águas, definindo o PS como um partido de esquerda. Não perdeu votos com isso e o sistema político ganhou em clarificação. Fez uma campanha segura, sem grandes rasgos mas projectando uma imagem de solidez e seriedade que ultrapassou as fronteiras do partido. RODRIGUES, Ferro - Teve a grande virtude de restabelecer a corrente de afecto entre os socialistas e o seu líder. Com Guterres essa corrente tinha diminuído: os militantes votavam nele por razões pragmáticas, porque ganhava eleições, e não por razões afectivas. Com Ferro, a corrente restabeleceu-se. Teve ainda a vantagem de separar as águas, definindo o PS como um partido de esquerda. Não perdeu votos com isso e o sistema político ganhou em clarificação. Fez uma campanha segura, sem grandes rasgos mas projectando uma imagem de solidez e seriedade que ultrapassou as fronteiras do partido. SOARES, Mário - Ao pedir a maioria absoluta para Ferro Rodrigues, o ex-Presidente tornou-se o político mais criativo a arranjar teorias de acordo com as circunstâncias. Já defendeu que os portugueses não gostam de pôr todos os ovos no mesmo cesto mas apoiou a presença simultânea de Sampaio e Guterres no poder. Já se manifestou contra os Governos de maioria absoluta mas considerou que uma maioria absoluta de Ferro seria benéfica. Já se afirmou adepto da alternância no poder mas sustentou que ao Governo socialista devia suceder... um Governo socialista. O facto de ser fundador do PS fala, por vezes, mais alto do que as teorias. SOARES, Mário - Ao pedir a maioria absoluta para Ferro Rodrigues, o ex-Presidente tornou-se o político mais criativo a arranjar teorias de acordo com as circunstâncias. Já defendeu que os portugueses não gostam de pôr todos os ovos no mesmo cesto mas apoiou a presença simultânea de Sampaio e Guterres no poder. Já se manifestou contra os Governos de maioria absoluta mas considerou que uma maioria absoluta de Ferro seria benéfica. Já se afirmou adepto da alternância no poder mas sustentou que ao Governo socialista devia suceder... um Governo socialista. O facto de ser fundador do PS fala, por vezes, mais alto do que as teorias. SÓCRATES, José - Ganhou em Castelo Branco contra Maria Elisa e em Souselas e no Outão contra os adversários da co-incineração, deixando o poder como um vencedor. SÓCRATES, José - Ganhou em Castelo Branco contra Maria Elisa e em Souselas e no Outão contra os adversários da co-incineração, deixando o poder como um vencedor. SONDAGENS - As sondagens desta vez acertaram razoavelmente nos resultados, com destaque para a do EXPRESSO, que previu uma diferença de 2,1% entre o PSD e o PS que acabou por ser de 2,2. Depois da hecatombe verificada nas autárquicas, esta recuperação do crédito das sondagens merece registo. SONDAGENS - As sondagens desta vez acertaram razoavelmente nos resultados, com destaque para a do EXPRESSO, que previu uma diferença de 2,1% entre o PSD e o PS que acabou por ser de 2,2. Depois da hecatombe verificada nas autárquicas, esta recuperação do crédito das sondagens merece registo. VENCEDORES e vencidos - O PSD ganhou e o PS perdeu as eleições - é isto o que ficará para a História. Se a vitória foi por muitos ou por poucos não é muito relevante. Al Gore também perdeu por muito poucos votos e hoje ninguém fala nele: o palco pertence por inteiro a Bush. VENCEDORES e vencidos - O PSD ganhou e o PS perdeu as eleições - é isto o que ficará para a História. Se a vitória foi por muitos ou por poucos não é muito relevante. Al Gore também perdeu por muito poucos votos e hoje ninguém fala nele: o palco pertence por inteiro a Bush. VILARINHO, Manuel - Foi um bico-de-obra para o PSD, dando todo o sentido à frase «com amigos destes não precisamos de inimigos». As posições políticas que assumiu com muita inabilidade fragilizaram-no internamente, sendo obrigado a invocar como desculpa as suas dificuldades de expressão. Foi pouco dignificante. VILARINHO, Manuel - Foi um bico-de-obra para o PSD, dando todo o sentido à frase «com amigos destes não precisamos de inimigos». As posições políticas que assumiu com muita inabilidade fragilizaram-no internamente, sendo obrigado a invocar como desculpa as suas dificuldades de expressão. Foi pouco dignificante. E-mail: jsaraiva@mail.expresso.pt E-mail: jsaraiva@mail.expresso.pt José António Saraiva

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