Agitação no PSD para travar sucessão traçada por Barroso

29-06-2004
marcar artigo

Agitação no PSD para Travar Sucessão Traçada por Barroso

Por E.L./H.P./F.F.

Domingo, 27 de Junho de 2004

O ministro dos Assuntos Parlamentares, Luís Marques Mendes, defende a realização, o mais rápida possível, de um congresso extraordinário do PSD, que legitime o futuro líder do partido e primeiro-ministro. Mendes já disse isso mesmo a Durão Barroso, em jeito de aviso para o futuro. A convocação de um congresso, aliás, começa a ser defendida por mais sociais-democratas, em geral vozes discordantes da solução Santana Lopes, enquanto os apoiantes do vice-presidente do PSD entendem que não é necessário.

Para Mendes, convocar eleições seria uma irresponsabilidade, mas é preciso pensar na legitimação do próximo primeiro-ministro, que não poderá correr o risco de ser acusado de ter sido uma "escolha de secretaria". Ou seja, um líder, seja ele qual for - Marques Mendes recusa pronunciar-se sobre nomes concretos - se não tiver o respaldo da escolha num congresso fica sempre com a legitimidade política diminuída e isso será um erro político. Se for eleito em conselho nacional, entende o ministro, terá apenas uma legitimidade formal.

Apesar de defender a realização de um congresso - e que não seja posterior à consumação do novo Governo, para que não seja a mera consagração da situação -, Marques Mendes terá dado garantias a Durão de que não irá envidar esforços nesse sentido (reunindo assinaturas para a sua convocação, por exemplo).

O eurodeputado José Pacheco Pereira também defende um congresso extraordinário do PSD antes da escolha do nome do primeiro-ministro "para não colocar os congressistas sob a chantagem do derrube do Governo do seu próprio partido". No seu blogue Abrupto, Pacheco Pereira exprime a sua indignação, tendo colocado, logo anteontem, uma imagem de uma pintura de uma pessoa dentro de um caixão e a frase "Que triste país o nosso". O ainda eurodeputado explica a frase: "Quero um Governo que pense em Portugal em primeiro lugar, que não se importe de perder as eleições, se estiver convicto que políticas difíceis são vitalmente necessárias. Lá vamos desperdiçar de novo o que penosamente adquirimos. Lá vamos ter que começar tudo de novo."

Mesmo dentro da direcção do PSD, a troca de primeiro-ministro não é pacífica. Há quem anteveja um cenário catastrófico, com mais instabilidade na coligação, um mau resultado nas autárquicas e, posteriormente, nas legislativas, aliado à perda de confiança de Portugal junto dos agentes económicos, numa altura em que o país estava a tentar contrariar a retracção económica.

Do lado dos inconformados, contam-se ainda os cavaquistas, que acham que o Governo ainda não fez tudo o que era preciso para endireitar as finanças e a economia e que Santana vai deitar a perder o pouco que se fez. Muitos viram-se para Marcelo Rebelo de Sousa. Outros olham para o Presidente da República, com a esperança que não aceite o nome de Santana.

Marcelo conversou anteontem com Durão Barroso, que lhe pediu que apoie Santana. O professor de Direito não lhe fez a vontade, mas ficou acordado que Marcelo não se iria opor publicamente a esta sucessão. Nos últimos dois dias, os apelos para que este se pronuncie são muitos, mas Rebelo de Sousa tem resistido. Fonte próxima de Marcelo lembrou que este já avisou no PÚBLICO o que acha, que a saída de Durão é uma acto "suicida" para o PSD e para o país.

"Não há sucessões dinásticas no PSD. Santana Lopes será um entre os candidatos possíveis", diz, por seu lado, o histórico Miguel Veiga, lançando os nomes de Marcelo, Dias Loureiro, Miguel Cadilhe. Este social-democrata, no entanto, não questiona a manutenção da AD, considerando que se trata de um "contrato para a legislatura".

O líder da concelhia PSD-Porto, Francisco Ramos, afirmou ontem ao PÚBLICO que "neste momento não estão salvaguardadas, nem a estabilidade interna nem a partidária". "Terá de se arranjar uma solução com alguma tranquilidade, que seja aceite por larga maioria dos portugueses, porque não podemos correr o risco de o Governo ter falhas a curto e médio prazo, ou de estarmos perante um primeiro-ministro que não tem sustentabilidade", disse.

Carlos Encarnação, presidente do conselho de jurisdição e autarca de Coimbra, disse ontem ao PÚBLICO que Santana devia ser indicado pelo conselho nacional como futuro primeiro-ministro, mas que isto devia ser separado da eleição como líder do PSD. Esta deve ocorrer em congresso mais para o final do ano. "Acho que devia fazer-se o congresso para ficar claro o respaldo do partido", disse.

Os santanistas e barrosistas - que têm claramente maioria nos órgãos de direcção do PSD - querem apenas uma coisa: que o processo decorra o mais rápido possível, que Santana tome posse como primeiro-ministro sem ser preciso congresso extraordinário. O conselho nacional para indicar Santana como líder do PSD e como nome a apresentar a Sampaio para que seja primeiro-ministro ainda não tem data marcada, mas deverá ser no final desta semana. Quanto ao congresso extraordinário, deve realizar-se depois do Verão para aclamar Santana e proceder a ajustamentos na direcção do PSD.

Se anteontem, o PSD tinha sido apanhado de surpresa, ontem estava a refazer-se do choque e a antever uma revolução no Governo, que pode estender-se ao próprio partido. O sentimento é de expectativa para saber até que ponto irá a "limpeza" dos santanistas. Durão parece "mais preocupado com o Governo" do que com o PSD, desabafava ontem um dirigente.

Agitação no PSD para Travar Sucessão Traçada por Barroso

Por E.L./H.P./F.F.

Domingo, 27 de Junho de 2004

O ministro dos Assuntos Parlamentares, Luís Marques Mendes, defende a realização, o mais rápida possível, de um congresso extraordinário do PSD, que legitime o futuro líder do partido e primeiro-ministro. Mendes já disse isso mesmo a Durão Barroso, em jeito de aviso para o futuro. A convocação de um congresso, aliás, começa a ser defendida por mais sociais-democratas, em geral vozes discordantes da solução Santana Lopes, enquanto os apoiantes do vice-presidente do PSD entendem que não é necessário.

Para Mendes, convocar eleições seria uma irresponsabilidade, mas é preciso pensar na legitimação do próximo primeiro-ministro, que não poderá correr o risco de ser acusado de ter sido uma "escolha de secretaria". Ou seja, um líder, seja ele qual for - Marques Mendes recusa pronunciar-se sobre nomes concretos - se não tiver o respaldo da escolha num congresso fica sempre com a legitimidade política diminuída e isso será um erro político. Se for eleito em conselho nacional, entende o ministro, terá apenas uma legitimidade formal.

Apesar de defender a realização de um congresso - e que não seja posterior à consumação do novo Governo, para que não seja a mera consagração da situação -, Marques Mendes terá dado garantias a Durão de que não irá envidar esforços nesse sentido (reunindo assinaturas para a sua convocação, por exemplo).

O eurodeputado José Pacheco Pereira também defende um congresso extraordinário do PSD antes da escolha do nome do primeiro-ministro "para não colocar os congressistas sob a chantagem do derrube do Governo do seu próprio partido". No seu blogue Abrupto, Pacheco Pereira exprime a sua indignação, tendo colocado, logo anteontem, uma imagem de uma pintura de uma pessoa dentro de um caixão e a frase "Que triste país o nosso". O ainda eurodeputado explica a frase: "Quero um Governo que pense em Portugal em primeiro lugar, que não se importe de perder as eleições, se estiver convicto que políticas difíceis são vitalmente necessárias. Lá vamos desperdiçar de novo o que penosamente adquirimos. Lá vamos ter que começar tudo de novo."

Mesmo dentro da direcção do PSD, a troca de primeiro-ministro não é pacífica. Há quem anteveja um cenário catastrófico, com mais instabilidade na coligação, um mau resultado nas autárquicas e, posteriormente, nas legislativas, aliado à perda de confiança de Portugal junto dos agentes económicos, numa altura em que o país estava a tentar contrariar a retracção económica.

Do lado dos inconformados, contam-se ainda os cavaquistas, que acham que o Governo ainda não fez tudo o que era preciso para endireitar as finanças e a economia e que Santana vai deitar a perder o pouco que se fez. Muitos viram-se para Marcelo Rebelo de Sousa. Outros olham para o Presidente da República, com a esperança que não aceite o nome de Santana.

Marcelo conversou anteontem com Durão Barroso, que lhe pediu que apoie Santana. O professor de Direito não lhe fez a vontade, mas ficou acordado que Marcelo não se iria opor publicamente a esta sucessão. Nos últimos dois dias, os apelos para que este se pronuncie são muitos, mas Rebelo de Sousa tem resistido. Fonte próxima de Marcelo lembrou que este já avisou no PÚBLICO o que acha, que a saída de Durão é uma acto "suicida" para o PSD e para o país.

"Não há sucessões dinásticas no PSD. Santana Lopes será um entre os candidatos possíveis", diz, por seu lado, o histórico Miguel Veiga, lançando os nomes de Marcelo, Dias Loureiro, Miguel Cadilhe. Este social-democrata, no entanto, não questiona a manutenção da AD, considerando que se trata de um "contrato para a legislatura".

O líder da concelhia PSD-Porto, Francisco Ramos, afirmou ontem ao PÚBLICO que "neste momento não estão salvaguardadas, nem a estabilidade interna nem a partidária". "Terá de se arranjar uma solução com alguma tranquilidade, que seja aceite por larga maioria dos portugueses, porque não podemos correr o risco de o Governo ter falhas a curto e médio prazo, ou de estarmos perante um primeiro-ministro que não tem sustentabilidade", disse.

Carlos Encarnação, presidente do conselho de jurisdição e autarca de Coimbra, disse ontem ao PÚBLICO que Santana devia ser indicado pelo conselho nacional como futuro primeiro-ministro, mas que isto devia ser separado da eleição como líder do PSD. Esta deve ocorrer em congresso mais para o final do ano. "Acho que devia fazer-se o congresso para ficar claro o respaldo do partido", disse.

Os santanistas e barrosistas - que têm claramente maioria nos órgãos de direcção do PSD - querem apenas uma coisa: que o processo decorra o mais rápido possível, que Santana tome posse como primeiro-ministro sem ser preciso congresso extraordinário. O conselho nacional para indicar Santana como líder do PSD e como nome a apresentar a Sampaio para que seja primeiro-ministro ainda não tem data marcada, mas deverá ser no final desta semana. Quanto ao congresso extraordinário, deve realizar-se depois do Verão para aclamar Santana e proceder a ajustamentos na direcção do PSD.

Se anteontem, o PSD tinha sido apanhado de surpresa, ontem estava a refazer-se do choque e a antever uma revolução no Governo, que pode estender-se ao próprio partido. O sentimento é de expectativa para saber até que ponto irá a "limpeza" dos santanistas. Durão parece "mais preocupado com o Governo" do que com o PSD, desabafava ontem um dirigente.

marcar artigo