Suplemento Pública

17-06-2004
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Hotel Ritz

Domingo, 25 de Abril de 2004

%Cláudia Castelo

O edifício

A entrada é monumental. O Ritz foi projectado com essa ambição. Ser moderno, grandioso e requintado. As palavras que Manuel Queiroz Pereira, um dos fundadores do hotel e pai dos actuais proprietários, profere sobre o hotel no dia da inauguração, em 1959, não deixam espaço para dúvidas: "...Derrame riqueza, proporcione conforto, dignifique a cidade e acima de tudo, que honre o país."

Era este o desejo dos dez empresários que se juntaram em 1953 na SODIM (Sociedade de Investimentos Imobiliários) para responder ao repto que o Presidente do Conselho de Ministros lançou ao banqueiro e mecenas da arte e do património nacional, Ricardo Espírito Santo Silva. Oliveira de Salazar queria que Lisboa tivesse um hotel de gabarito internacional, que pudesse albergar políticos, diplomatas, empresários ou viajantes em busca de um serviço ímpar. O Hotel Aviz apesar de encaixar nesses requisitos possuía apenas 25 quartos que se tornavam insuficientes para uma procura crescente. Era necessário e urgente a construção de um hotel de grandes dimensões e todas as condições estavam criadas: disponibilidade total do governo que queria subir patamares no nível de turismo nacional e um grupo de empresários de peso prontos a investir.

Faltava porém encontrar um lugar que fosse central e ao mesmo tempo interessante em termos de paisagem para instalar o complexo. Junto ao Parque Eduardo VII existia um terreno municipal com dimensão e localização ideal para albergar o projecto. A venda do terreno foi feita em hasta pública à melhor oferta, mas como só a SODIM compareceu à sessão o negócio ficou arrematado por 210$00 o m2. Tudo concorria para o sucesso e brevidade da execução da obra, e não seria a morte de Ricardo Espírito Santo Silva, em 1955, que iria diminuir o entusiasmo dos restantes accionistas que entregariam a direcção do projecto a Manuel Queiroz Pereira.

O Ritz foi então encomendado ao atelier de Porfírio Pardal Monteiro, arquitecto experiente em matéria de obras públicas. Na década de 30, com Duarte Pacheco como ministro das Obras Públicas, o arquitecto tinha assinado edifícios emblemáticos como a sede do Diário de Notícias, o Instituto Superior Técnico ou a Igreja de Nossa Senhora de Fátima.

O hotel

O projecto começava então a tomar forma, fruto de uma grande cumplicidade entre Pardal Monteiro e Manuel Queiroz Pereira que em inúmeras visitas ao estrangeiro se referenciavam nos melhores modelos europeus. O empenho do arquitecto era grande e a fasquia estava alta de forma que Pardal Monteiro impõe como condição para aceitar a obra que a exploração ficasse desde logo entregue a uma empresa hoteleira especializada. Desta forma o arquitecto assegurava que não se desvirtuava um espaço criado de raiz para um fim específico sendo utilizado por profissionais experientes que maximizariam a sua obra. E assim foi.

Georges Marquet, presidente da cadeia Les Grands Hotels Européens, assumiu a direcção do projecto de hotelaria trabalhando desde então em estreita colaboração com Pardal Monteiro. A morte de Marquet, pouco depois da inauguração do hotel, não lhe permitiu porém assistir à evolução de uma obra, em certa medida também sua. O projecto do Hotel Ritz fazia-se passo a passo pela estreita colaboração de uma equipa com gente de saberes diferentes: o arquitecto Pardal Monteiro, o administrador Queiroz Pereira, o engenheiro Camacho Simões e o hoteleiro Georges Marquet.

A resposta de Pardal Monteiro às exigências de um projecto moderno foi um edifício racional, monumental e luxuoso. A paisagem urbana de Lisboa seria para sempre marcada pelo monólito de pedra que ocupa um quarteirão inteiro na margem esquerda do Parque Eduardo VII. Um paralelepípedo assente parcialmente em colunas cuja fachada era definida por uma grelha rectilínea. Eram os sinais do Movimento Moderno que chegavam a Portugal. No interior, um rigor funcional. Pardal Monteiro queria que o hotel funcionasse como uma máquina. A experiência dos Palaces do início do século mostrava que estes espaços se tornavam estruturas demasiado pesadas, pouco operativas que necessitavam de verdadeiros exércitos de empregados para funcionar em pleno. O Ritz pretendia o contrário: convocar técnicas de construção e tecnologias recentes para uma funcionalidade absoluta. Assim, Pardal Monteiro e a sua equipa desenharam áreas principescas, corredores amplos, enormes vãos e verdadeiros salões revestidos a materiais de primeira que hoje, passados quase 50 anos, carregam a patine das coisas que sabem envelhecer.

O Ritz de certa forma encerrava em si algumas contradições que possivelmente o tornam um local tão especial. Se por um lado era uma obra apadrinhada por um Estado austero e fechado aos ventos de progresso, o edifício desenhava-se proclamando uma atitude modernista de construir e fazer cidade. Ao mesmo tempo, ostentava um luxo e monumentalidade que o remetiam para uma atitude palaciana, tradicionalista. Na construção do hotel foram usadas cerca de 15 mil toneladas de mármore.

A obra não era de todo ao gosto de Oliveira Salazar, que teria preferido uma opção mais tradicional. O Presidente do Conselho de Ministros poucas vezes honrou o Ritz com a sua presença (mas nunca faltaram nomes de famosos no livro de registos, desde Ava Gardner, o rei Hassan II de Marrocos à princesa Grace do Mónaco). Seria porém a determinação com que Manuel Queiroz Pereira defendeu a obra do arquitecto que permitiu a ambos fazerem aquilo a que se tinham proposto, sem concessões. A morte prematura de Pardal Monteiro (1897-1957), que não assistiria à inauguração do hotel, e de Diamantino Tojal, empreiteiro da obra, foram motivo de rumores de velhos do Restelo que desconfiavam da solidez da obra.

Mas a prova de fogo era dada anos mais tarde, quando a estrutura se manteve intacta no sismo que abalou Lisboa em 1969.

A colecção

O Ritz não deixa ninguém indiferente, seja pela presença grandiosa, seja pela sua silhueta em néon azul que define a paisagem nocturna de Lisboa. Menos conhecida do que o edifício mas não menos interessante será no entanto a colecção de arte que faz parte da casa. Se a construção do edifício obedeceu a critérios rigorosos de qualidade e excelência, o projecto de acabamento e de interiores, entregue ao arquitecto Leonardo Castro Freira, correspondeu a uma política de aquisição e encomenda de obras de arte aos mais conceituados artistas da altura. Se o Ritz pretendia ser um espaço de referência, era-o também pela colecção de arte que exibia.

Logo na entrada, os acabamentos exteriores exibem um conjunto escultórico em bronze de António Duarte, e no terraço ao nível do lobby seria instalado o mural em pedra de Barata Feyo. No interior conservam-se as relíquias. Uma delas, o ex-líbris da casa, é a parede e coluna em mármore preta esculpida e preenchida a folha de ouro de Almada Negreiros. A peça, entre o lobby e o restaurante Varanda, é acompanhada por três fabulosas tapeçarias do mesmo autor encomendadas à Fábrica das Tapeçarias de Portalegre. A sala, inevitavelmente, foi apelidada de Almada Negreiros. Também Sarah Afonso ou Helena Vieira da Silva integram a colecção de tapeçarias ao lado de Pedro Leitão. As suas tapeçarias "A Noite" e "O Dia" dominam as duas paredes extremas do salão nobre. E também de Pedro Leitão é o revestimento da parede da escadaria de acesso ao salão, em madeira e madrepérola. A descrição podia continuar e incluía nomes como Noronha da Costa, Jorge Vieira ou Querubim Lapa.

Se a família Queiroz Pereira sempre chamou a si essa vocação de dotar o Ritz de um espólio de arte moderna portuguesa, também o legado e a memória de Ricardo Espírito Santo estão presentes na política de interiores do Ritz. As principais suites, incluindo a presidencial, são reconstruções de ambientes palacianos do século XVIII, decoradas com réplicas de peças de mobiliário e artes decorativas da melhor tradição portuguesa.

Pizzas, hambúrgueres e comida chinesa

No lado oposto à entrada principal, e dez anos depois da abertura com toda a pompa do hotel, inaugurava em Maio de 1969 o snack-bar Monumental nas Galerias Ritz, ou como ainda hoje é conhecido, o snack do Ritz. Se o hotel projectou Lisboa para as capas das revistas internacionais, foi capa da LIFE Magazine em 1962, também o snack foi motivo de orgulho pela novidade que trouxe à cidade. O conceito de snack-bar não tinha atravessado o Atlântico e o snack do Ritz era um dos pioneiros do género. Serviu as primeiras pizzas, hambúrgueres e os primeiros pratos de comida chinesa. Em versão chique também, Ritz portanto, mas em modo fast, conceito que ainda se dava mal com os hábitos dos portugueses. Os habitués do snack eram figuras da política, empresários, gente da cultura, boémios inveterados e, por proximidade, os estudantes do Liceu Maria Amália. Os clientes eram assistidos por empregados do snack que ficavam fora do balcão, e garantiam que o serviço fosse mesmo rápido entre: põe a ementa, tira o pedido, aligeira quem está à conversa e traz a conta. Tudo em grande estilo, claro. Isto porque os 140 empregados que serviam as cerca de 180 pessoas (na lotação máxima) tinham que honrar um serviço rápido, irrepreensível e requintado. O espaço é também ele especial. Três pisos com atmosferas muito diferente. Se o piso intermédio, com um balcão em pente, se prestava a uma maior convivialidade por permitir que se vejam frente-a-frente os demais comensais, o piso de baixo, de tecto menos alto e balcões em forma de ferradura davam mais espaço à intimidade. Mas, pelo menos até à revolução de 74, com todo o pudor. É que a função dos empregados que estavam fora do balcão era também a de refrear os ânimos de algum cavalheiro mais atrevido. A casa era de respeito e tais liberdade não eram permitidas. Francisco Tomás, o gerente, recorda com saudade os primeiros tempos de snack: o tapete rolante de cozinhar os hambúrgueres, o requinte dos gelados caseiros, os rapazes encostados ao bar, perto das escadas, a ver subir as miúdas de mini-saia ou os grupos que vinham depois da ópera e ficavam até às tantas. Mas também exibe com vaidade o estado impecável da casa, 35 anos passados: os mesmos balcões, as mesmas cadeiras, alcatifas, sinalética e todo o equipamento de cozinha. Há sítios assim, que apuram com o tempo.

Nota:Ao contrário do afirmado na reportagem sobre o Hotel Avenida Palace, da varanda do hotel não se

assistiu aos assassinatos do rei D. Carlos e do presidente Sidónio Pais, mas sim às consequências de

ambos os actos pela proximidade com o hotel. Estes aconteceram, respectivamente, no Terreiro do Paço e no

interior da Estação do Rossio.

Hotel Ritz

Domingo, 25 de Abril de 2004

%Cláudia Castelo

O edifício

A entrada é monumental. O Ritz foi projectado com essa ambição. Ser moderno, grandioso e requintado. As palavras que Manuel Queiroz Pereira, um dos fundadores do hotel e pai dos actuais proprietários, profere sobre o hotel no dia da inauguração, em 1959, não deixam espaço para dúvidas: "...Derrame riqueza, proporcione conforto, dignifique a cidade e acima de tudo, que honre o país."

Era este o desejo dos dez empresários que se juntaram em 1953 na SODIM (Sociedade de Investimentos Imobiliários) para responder ao repto que o Presidente do Conselho de Ministros lançou ao banqueiro e mecenas da arte e do património nacional, Ricardo Espírito Santo Silva. Oliveira de Salazar queria que Lisboa tivesse um hotel de gabarito internacional, que pudesse albergar políticos, diplomatas, empresários ou viajantes em busca de um serviço ímpar. O Hotel Aviz apesar de encaixar nesses requisitos possuía apenas 25 quartos que se tornavam insuficientes para uma procura crescente. Era necessário e urgente a construção de um hotel de grandes dimensões e todas as condições estavam criadas: disponibilidade total do governo que queria subir patamares no nível de turismo nacional e um grupo de empresários de peso prontos a investir.

Faltava porém encontrar um lugar que fosse central e ao mesmo tempo interessante em termos de paisagem para instalar o complexo. Junto ao Parque Eduardo VII existia um terreno municipal com dimensão e localização ideal para albergar o projecto. A venda do terreno foi feita em hasta pública à melhor oferta, mas como só a SODIM compareceu à sessão o negócio ficou arrematado por 210$00 o m2. Tudo concorria para o sucesso e brevidade da execução da obra, e não seria a morte de Ricardo Espírito Santo Silva, em 1955, que iria diminuir o entusiasmo dos restantes accionistas que entregariam a direcção do projecto a Manuel Queiroz Pereira.

O Ritz foi então encomendado ao atelier de Porfírio Pardal Monteiro, arquitecto experiente em matéria de obras públicas. Na década de 30, com Duarte Pacheco como ministro das Obras Públicas, o arquitecto tinha assinado edifícios emblemáticos como a sede do Diário de Notícias, o Instituto Superior Técnico ou a Igreja de Nossa Senhora de Fátima.

O hotel

O projecto começava então a tomar forma, fruto de uma grande cumplicidade entre Pardal Monteiro e Manuel Queiroz Pereira que em inúmeras visitas ao estrangeiro se referenciavam nos melhores modelos europeus. O empenho do arquitecto era grande e a fasquia estava alta de forma que Pardal Monteiro impõe como condição para aceitar a obra que a exploração ficasse desde logo entregue a uma empresa hoteleira especializada. Desta forma o arquitecto assegurava que não se desvirtuava um espaço criado de raiz para um fim específico sendo utilizado por profissionais experientes que maximizariam a sua obra. E assim foi.

Georges Marquet, presidente da cadeia Les Grands Hotels Européens, assumiu a direcção do projecto de hotelaria trabalhando desde então em estreita colaboração com Pardal Monteiro. A morte de Marquet, pouco depois da inauguração do hotel, não lhe permitiu porém assistir à evolução de uma obra, em certa medida também sua. O projecto do Hotel Ritz fazia-se passo a passo pela estreita colaboração de uma equipa com gente de saberes diferentes: o arquitecto Pardal Monteiro, o administrador Queiroz Pereira, o engenheiro Camacho Simões e o hoteleiro Georges Marquet.

A resposta de Pardal Monteiro às exigências de um projecto moderno foi um edifício racional, monumental e luxuoso. A paisagem urbana de Lisboa seria para sempre marcada pelo monólito de pedra que ocupa um quarteirão inteiro na margem esquerda do Parque Eduardo VII. Um paralelepípedo assente parcialmente em colunas cuja fachada era definida por uma grelha rectilínea. Eram os sinais do Movimento Moderno que chegavam a Portugal. No interior, um rigor funcional. Pardal Monteiro queria que o hotel funcionasse como uma máquina. A experiência dos Palaces do início do século mostrava que estes espaços se tornavam estruturas demasiado pesadas, pouco operativas que necessitavam de verdadeiros exércitos de empregados para funcionar em pleno. O Ritz pretendia o contrário: convocar técnicas de construção e tecnologias recentes para uma funcionalidade absoluta. Assim, Pardal Monteiro e a sua equipa desenharam áreas principescas, corredores amplos, enormes vãos e verdadeiros salões revestidos a materiais de primeira que hoje, passados quase 50 anos, carregam a patine das coisas que sabem envelhecer.

O Ritz de certa forma encerrava em si algumas contradições que possivelmente o tornam um local tão especial. Se por um lado era uma obra apadrinhada por um Estado austero e fechado aos ventos de progresso, o edifício desenhava-se proclamando uma atitude modernista de construir e fazer cidade. Ao mesmo tempo, ostentava um luxo e monumentalidade que o remetiam para uma atitude palaciana, tradicionalista. Na construção do hotel foram usadas cerca de 15 mil toneladas de mármore.

A obra não era de todo ao gosto de Oliveira Salazar, que teria preferido uma opção mais tradicional. O Presidente do Conselho de Ministros poucas vezes honrou o Ritz com a sua presença (mas nunca faltaram nomes de famosos no livro de registos, desde Ava Gardner, o rei Hassan II de Marrocos à princesa Grace do Mónaco). Seria porém a determinação com que Manuel Queiroz Pereira defendeu a obra do arquitecto que permitiu a ambos fazerem aquilo a que se tinham proposto, sem concessões. A morte prematura de Pardal Monteiro (1897-1957), que não assistiria à inauguração do hotel, e de Diamantino Tojal, empreiteiro da obra, foram motivo de rumores de velhos do Restelo que desconfiavam da solidez da obra.

Mas a prova de fogo era dada anos mais tarde, quando a estrutura se manteve intacta no sismo que abalou Lisboa em 1969.

A colecção

O Ritz não deixa ninguém indiferente, seja pela presença grandiosa, seja pela sua silhueta em néon azul que define a paisagem nocturna de Lisboa. Menos conhecida do que o edifício mas não menos interessante será no entanto a colecção de arte que faz parte da casa. Se a construção do edifício obedeceu a critérios rigorosos de qualidade e excelência, o projecto de acabamento e de interiores, entregue ao arquitecto Leonardo Castro Freira, correspondeu a uma política de aquisição e encomenda de obras de arte aos mais conceituados artistas da altura. Se o Ritz pretendia ser um espaço de referência, era-o também pela colecção de arte que exibia.

Logo na entrada, os acabamentos exteriores exibem um conjunto escultórico em bronze de António Duarte, e no terraço ao nível do lobby seria instalado o mural em pedra de Barata Feyo. No interior conservam-se as relíquias. Uma delas, o ex-líbris da casa, é a parede e coluna em mármore preta esculpida e preenchida a folha de ouro de Almada Negreiros. A peça, entre o lobby e o restaurante Varanda, é acompanhada por três fabulosas tapeçarias do mesmo autor encomendadas à Fábrica das Tapeçarias de Portalegre. A sala, inevitavelmente, foi apelidada de Almada Negreiros. Também Sarah Afonso ou Helena Vieira da Silva integram a colecção de tapeçarias ao lado de Pedro Leitão. As suas tapeçarias "A Noite" e "O Dia" dominam as duas paredes extremas do salão nobre. E também de Pedro Leitão é o revestimento da parede da escadaria de acesso ao salão, em madeira e madrepérola. A descrição podia continuar e incluía nomes como Noronha da Costa, Jorge Vieira ou Querubim Lapa.

Se a família Queiroz Pereira sempre chamou a si essa vocação de dotar o Ritz de um espólio de arte moderna portuguesa, também o legado e a memória de Ricardo Espírito Santo estão presentes na política de interiores do Ritz. As principais suites, incluindo a presidencial, são reconstruções de ambientes palacianos do século XVIII, decoradas com réplicas de peças de mobiliário e artes decorativas da melhor tradição portuguesa.

Pizzas, hambúrgueres e comida chinesa

No lado oposto à entrada principal, e dez anos depois da abertura com toda a pompa do hotel, inaugurava em Maio de 1969 o snack-bar Monumental nas Galerias Ritz, ou como ainda hoje é conhecido, o snack do Ritz. Se o hotel projectou Lisboa para as capas das revistas internacionais, foi capa da LIFE Magazine em 1962, também o snack foi motivo de orgulho pela novidade que trouxe à cidade. O conceito de snack-bar não tinha atravessado o Atlântico e o snack do Ritz era um dos pioneiros do género. Serviu as primeiras pizzas, hambúrgueres e os primeiros pratos de comida chinesa. Em versão chique também, Ritz portanto, mas em modo fast, conceito que ainda se dava mal com os hábitos dos portugueses. Os habitués do snack eram figuras da política, empresários, gente da cultura, boémios inveterados e, por proximidade, os estudantes do Liceu Maria Amália. Os clientes eram assistidos por empregados do snack que ficavam fora do balcão, e garantiam que o serviço fosse mesmo rápido entre: põe a ementa, tira o pedido, aligeira quem está à conversa e traz a conta. Tudo em grande estilo, claro. Isto porque os 140 empregados que serviam as cerca de 180 pessoas (na lotação máxima) tinham que honrar um serviço rápido, irrepreensível e requintado. O espaço é também ele especial. Três pisos com atmosferas muito diferente. Se o piso intermédio, com um balcão em pente, se prestava a uma maior convivialidade por permitir que se vejam frente-a-frente os demais comensais, o piso de baixo, de tecto menos alto e balcões em forma de ferradura davam mais espaço à intimidade. Mas, pelo menos até à revolução de 74, com todo o pudor. É que a função dos empregados que estavam fora do balcão era também a de refrear os ânimos de algum cavalheiro mais atrevido. A casa era de respeito e tais liberdade não eram permitidas. Francisco Tomás, o gerente, recorda com saudade os primeiros tempos de snack: o tapete rolante de cozinhar os hambúrgueres, o requinte dos gelados caseiros, os rapazes encostados ao bar, perto das escadas, a ver subir as miúdas de mini-saia ou os grupos que vinham depois da ópera e ficavam até às tantas. Mas também exibe com vaidade o estado impecável da casa, 35 anos passados: os mesmos balcões, as mesmas cadeiras, alcatifas, sinalética e todo o equipamento de cozinha. Há sítios assim, que apuram com o tempo.

Nota:Ao contrário do afirmado na reportagem sobre o Hotel Avenida Palace, da varanda do hotel não se

assistiu aos assassinatos do rei D. Carlos e do presidente Sidónio Pais, mas sim às consequências de

ambos os actos pela proximidade com o hotel. Estes aconteceram, respectivamente, no Terreiro do Paço e no

interior da Estação do Rossio.

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