QUE ALGUMA COISA MUDE

28-10-2002
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QUE ALGUMA COISA MUDE! MAS DE RAIZ!

“Aqui, nestas terras do norte, raiz do meu próprio país. Aqui, Entre Douro e Minho, Portugal portucalense. Aqui, pátria antiga, permanecente, onde meu país é mais raiz...”.

De facto, há momentos em que não apetece escrever por escrever, dizer por dizer, proclamando um pensamento que não se sente, como disso têm usado, e abusado, os demagogos profissionais da nossa praça, esses sacristães que perderam o sentido dos gestos e prostituíram a palavra. Às vezes, vale mais descobrir o silêncio do que vir a saber que não há paraíso. E redescobrir que, em nome da autenticidade, não pode haver palavra sem “praxis”, para que possamos viver como pensamos, se ousarmos viver com os teres que temos e o ser que somos.

A tragédia de Castelo de Paiva, esse brutal murro no deserto de convicções que marca a nossa consciência adormecida, fez-nos descobrir a nudez forte da verdade, para além das chitas da fantasia com que nos recobrimos. Afinal o rei colectivo vai nu, isto é, continuamos portugueses bem pequeninos, onde os mais minúsculos de nós todos persistem doentiamente em embebedar-se na mania das grandezas.

Neste chão que resta para a república dos portugueses, e para o sonho de nação, a “interioridade” está, afinal, a pouco mais de 25 quilómetros da capital europeia da cultura, demonstrando como, neste nosso século XXI, continua por cumprir o plano de Fontes Pereira de Melo para a modernização do Portugal Velho pela construção das “acessibilidades”, enquanto os socialistas e sociais-democratas, passíveis de ministerialização, são ridiculamente iguais à inevitável “fusão” de históricos e regeneradores, desses que não percebem que apenas continuam o tal cabralismo que odeia a “santa liberdade”. Apesar dessa política de “imagem” e “sacanagem” que nos droga com o “oásis” dos “bons alunos” e as alucinações da Expo 98 e do Euro 2004, ainda temos traseiros circulatórios apenas propícios para carros de bois.

Estou farto dessas carpideiras que nos pedem o voto, dos que vão dizendo que, com Cavaco, era melhor; que, no tempo do PREC, melhor ainda; ou que, com Salazar, uma maravilha. Todo esse chorrilho de linguagem de justificação e de “guerrazinhas de homenzinhos”. Uma ponte ainda há pouco mais de um mês caiu em Montemor do Mondego, e o episódio, porque não foi afectado pela necessidade da tragédia, continua esquecido no acaso dos “rostos ocultos” do “mistério” da reforma do estado.

Tal como os russos no drama do Kursk, continuamos a não poder cuidar dos vivos e a não poder dar terra aos mortos, com “putines” de verniz democrático a recobrirem o cadáver adiado do concentracionarismo. Apesar do ministério da internet que já fingimos ter, e do ministério da ética republicana, ou da virtude taliban, que ainda nos falta, o aparelhismo do centro estadual, que não sabe onde está o titular de 20% da rede viária nacional, tem 19 técnicos especializados para que se assegure a fiscalização e se promova a conservação de 3500 pontes e similares, num ano que continua a ter apenas menos que duas centenas e meia de dias úteis, com o São Pedro a despejar sobre nós não sei quantos Alquevas por semana, conforme têm clamado ambientalistas sérios. É de bom senso desviar para a profiláctica o que gastamos em tinta cartesiana de terapêuticas verbais, mobilizando os bons discípulos de Edgar Cardoso para além das empresas de consultadoria, das cátedras e dos relatórios da comissão de avaliação das universidades.

Continuamos totalmente incompetentes quanto à “organização do trabalho nacional”, como dizia Ezequiel de Campos, porque, por erro da teoria, não temos capacidade para lidar com o fenómeno político superior, fazendo relacionar mais de três centenas e meia de autarquias locais com os gabinetes do Terreiro do Paço, onde os autarcas se dirigem semanalmente pressionando a cunha ou berrando o desespero da partidarite.

Portugueses antigos, de futuro, os “de antes quebrar que torcer”, que “homens da Corte não podem ser”, provincianos de Portugal, uni-vos! O aparelho de Estado é, ao mesmo tempo, grande demais para as pequenas coisas que os poderes locais podem gerir e pequeno demais para as grandes coisas que nem o telemóvel do Primeiro Ministro pode resolver.

Se “alguma coisa há que mudar”, que se extinga a mentalidade do comunismo burocrático que tanto reside no Terreiro do Paço como em certos autarcas-sombras e que continua a não ser capaz de estabelecer uma boa relação entre os “técnicos” e os “políticos”. Sampaio, Guterres e Coelho somos nós todos, porque, neste domínio, eles são exactamente iguais a Soares, Cavaco e Ferreira do Amaral, tal como estes sucederam a Carmona, Salazar, Duarte Pacheco..

Temos liberdade de imprensa e liberdade de expressão de pensamento. Mas todas as denúncias caem em saco roto, porque a palavra perdeu o sentido. Porque raros pensam como dizem pensar. E muitos cultivam o desenrascanço, o improviso, o “enquanto o pau vai e vem, folgam as costas”.

Descalcetámos as fundações, não reprimimos as clandestinidades areeiras, os branqueamentos dos financiamentos partidários e o tráfego de influências dos patos bravos. Continuamos sem compreender que a verdadeira liberdade assenta na memória do sofrimento. Em vez de preferirmos os arquitectos paisagistas da cenografia dos interiores que expomos aos outros, deveríamos retomar a senda dos engenheiros das coisas firmes. Das que nos sustentam pelos séculos dos séculos, das tais que não se vêem, mas nos dão a fundura de convicções. Esses preceitos dos que sonham os longos prazos dos contratos de geração fazedores das nações, de acordo com o princípio da continuidade histórica das instituições. Dessas que, como a democracia, precisam de ideias de obra, de manifestações de comunhão entre os seus membros e de regras jogo, processuais, que todos devem cumprir, com uma dupla ética, de convicção e de responsabilidade. Tenham vergonha, prostituidores da palavra! Tenham coragem, construtores!. Será que não podemos continuar a visitar as amendoeiras em flor?

“A água brava rompeu as pedras; nessa serena mistura de prados verdes e fria sombra, nessa vegetal, aquícola paisagem, feita de húmus e bruma”.

BEM COMUM DA SEMANA

Contra a esquerda da intelectualidade “lumpen”!

Saudemos o facto da secção portuguesa da Amnistia Internacional se ter descartado de um ex-candidato à presidência da república, porque descobriu que este publicamente defendeu a pena de morte para algumas pessoas, a propósito de um episódio turbulento do nosso processo político ocorrido em 28 de Setembro de 1974. Afinal o nosso maoísta de estimação apenas queria “fuzilar os pides” sem a chatice dos julgamentos do TPI. Melhor: queria incluir, nessa categoria abstracta, todos os contra-revolucionários confessos ou suspeitos, isto é, tudo o que cheirasse a direita, a social-fascismo e a capitalismo. Por outras palavras: todos os adeptos da democracia constitucional pluralista e do Estado de Direito!

MAL COMUM DA SEMANA

Pela esquerda enraizadamente res publicana!

As públicas denúncias da geração do Maio 68, com actuais ministros da locomotiva europeia esquecidos que alinharam com o terrorismo, bem como com símbolos da “revolução” que a confundiram com pedofilia, não causaram mossa num país onde os principais fazedores de opinião são todos nostálgicos “rosas” da tradução em calão dessa frustração. Continuo a preferir a outra esquerda, expressa por Baptista Bastos, que, ainda recentemente, invocava proféticas palavras do Professor Oliveira Marques: “Portugal está condenado como nação, porque perdeu valores colectivos que definem um povo, uma sociedade, uma moral, uma política”.

QUE ALGUMA COISA MUDE! MAS DE RAIZ!

“Aqui, nestas terras do norte, raiz do meu próprio país. Aqui, Entre Douro e Minho, Portugal portucalense. Aqui, pátria antiga, permanecente, onde meu país é mais raiz...”.

De facto, há momentos em que não apetece escrever por escrever, dizer por dizer, proclamando um pensamento que não se sente, como disso têm usado, e abusado, os demagogos profissionais da nossa praça, esses sacristães que perderam o sentido dos gestos e prostituíram a palavra. Às vezes, vale mais descobrir o silêncio do que vir a saber que não há paraíso. E redescobrir que, em nome da autenticidade, não pode haver palavra sem “praxis”, para que possamos viver como pensamos, se ousarmos viver com os teres que temos e o ser que somos.

A tragédia de Castelo de Paiva, esse brutal murro no deserto de convicções que marca a nossa consciência adormecida, fez-nos descobrir a nudez forte da verdade, para além das chitas da fantasia com que nos recobrimos. Afinal o rei colectivo vai nu, isto é, continuamos portugueses bem pequeninos, onde os mais minúsculos de nós todos persistem doentiamente em embebedar-se na mania das grandezas.

Neste chão que resta para a república dos portugueses, e para o sonho de nação, a “interioridade” está, afinal, a pouco mais de 25 quilómetros da capital europeia da cultura, demonstrando como, neste nosso século XXI, continua por cumprir o plano de Fontes Pereira de Melo para a modernização do Portugal Velho pela construção das “acessibilidades”, enquanto os socialistas e sociais-democratas, passíveis de ministerialização, são ridiculamente iguais à inevitável “fusão” de históricos e regeneradores, desses que não percebem que apenas continuam o tal cabralismo que odeia a “santa liberdade”. Apesar dessa política de “imagem” e “sacanagem” que nos droga com o “oásis” dos “bons alunos” e as alucinações da Expo 98 e do Euro 2004, ainda temos traseiros circulatórios apenas propícios para carros de bois.

Estou farto dessas carpideiras que nos pedem o voto, dos que vão dizendo que, com Cavaco, era melhor; que, no tempo do PREC, melhor ainda; ou que, com Salazar, uma maravilha. Todo esse chorrilho de linguagem de justificação e de “guerrazinhas de homenzinhos”. Uma ponte ainda há pouco mais de um mês caiu em Montemor do Mondego, e o episódio, porque não foi afectado pela necessidade da tragédia, continua esquecido no acaso dos “rostos ocultos” do “mistério” da reforma do estado.

Tal como os russos no drama do Kursk, continuamos a não poder cuidar dos vivos e a não poder dar terra aos mortos, com “putines” de verniz democrático a recobrirem o cadáver adiado do concentracionarismo. Apesar do ministério da internet que já fingimos ter, e do ministério da ética republicana, ou da virtude taliban, que ainda nos falta, o aparelhismo do centro estadual, que não sabe onde está o titular de 20% da rede viária nacional, tem 19 técnicos especializados para que se assegure a fiscalização e se promova a conservação de 3500 pontes e similares, num ano que continua a ter apenas menos que duas centenas e meia de dias úteis, com o São Pedro a despejar sobre nós não sei quantos Alquevas por semana, conforme têm clamado ambientalistas sérios. É de bom senso desviar para a profiláctica o que gastamos em tinta cartesiana de terapêuticas verbais, mobilizando os bons discípulos de Edgar Cardoso para além das empresas de consultadoria, das cátedras e dos relatórios da comissão de avaliação das universidades.

Continuamos totalmente incompetentes quanto à “organização do trabalho nacional”, como dizia Ezequiel de Campos, porque, por erro da teoria, não temos capacidade para lidar com o fenómeno político superior, fazendo relacionar mais de três centenas e meia de autarquias locais com os gabinetes do Terreiro do Paço, onde os autarcas se dirigem semanalmente pressionando a cunha ou berrando o desespero da partidarite.

Portugueses antigos, de futuro, os “de antes quebrar que torcer”, que “homens da Corte não podem ser”, provincianos de Portugal, uni-vos! O aparelho de Estado é, ao mesmo tempo, grande demais para as pequenas coisas que os poderes locais podem gerir e pequeno demais para as grandes coisas que nem o telemóvel do Primeiro Ministro pode resolver.

Se “alguma coisa há que mudar”, que se extinga a mentalidade do comunismo burocrático que tanto reside no Terreiro do Paço como em certos autarcas-sombras e que continua a não ser capaz de estabelecer uma boa relação entre os “técnicos” e os “políticos”. Sampaio, Guterres e Coelho somos nós todos, porque, neste domínio, eles são exactamente iguais a Soares, Cavaco e Ferreira do Amaral, tal como estes sucederam a Carmona, Salazar, Duarte Pacheco..

Temos liberdade de imprensa e liberdade de expressão de pensamento. Mas todas as denúncias caem em saco roto, porque a palavra perdeu o sentido. Porque raros pensam como dizem pensar. E muitos cultivam o desenrascanço, o improviso, o “enquanto o pau vai e vem, folgam as costas”.

Descalcetámos as fundações, não reprimimos as clandestinidades areeiras, os branqueamentos dos financiamentos partidários e o tráfego de influências dos patos bravos. Continuamos sem compreender que a verdadeira liberdade assenta na memória do sofrimento. Em vez de preferirmos os arquitectos paisagistas da cenografia dos interiores que expomos aos outros, deveríamos retomar a senda dos engenheiros das coisas firmes. Das que nos sustentam pelos séculos dos séculos, das tais que não se vêem, mas nos dão a fundura de convicções. Esses preceitos dos que sonham os longos prazos dos contratos de geração fazedores das nações, de acordo com o princípio da continuidade histórica das instituições. Dessas que, como a democracia, precisam de ideias de obra, de manifestações de comunhão entre os seus membros e de regras jogo, processuais, que todos devem cumprir, com uma dupla ética, de convicção e de responsabilidade. Tenham vergonha, prostituidores da palavra! Tenham coragem, construtores!. Será que não podemos continuar a visitar as amendoeiras em flor?

“A água brava rompeu as pedras; nessa serena mistura de prados verdes e fria sombra, nessa vegetal, aquícola paisagem, feita de húmus e bruma”.

BEM COMUM DA SEMANA

Contra a esquerda da intelectualidade “lumpen”!

Saudemos o facto da secção portuguesa da Amnistia Internacional se ter descartado de um ex-candidato à presidência da república, porque descobriu que este publicamente defendeu a pena de morte para algumas pessoas, a propósito de um episódio turbulento do nosso processo político ocorrido em 28 de Setembro de 1974. Afinal o nosso maoísta de estimação apenas queria “fuzilar os pides” sem a chatice dos julgamentos do TPI. Melhor: queria incluir, nessa categoria abstracta, todos os contra-revolucionários confessos ou suspeitos, isto é, tudo o que cheirasse a direita, a social-fascismo e a capitalismo. Por outras palavras: todos os adeptos da democracia constitucional pluralista e do Estado de Direito!

MAL COMUM DA SEMANA

Pela esquerda enraizadamente res publicana!

As públicas denúncias da geração do Maio 68, com actuais ministros da locomotiva europeia esquecidos que alinharam com o terrorismo, bem como com símbolos da “revolução” que a confundiram com pedofilia, não causaram mossa num país onde os principais fazedores de opinião são todos nostálgicos “rosas” da tradução em calão dessa frustração. Continuo a preferir a outra esquerda, expressa por Baptista Bastos, que, ainda recentemente, invocava proféticas palavras do Professor Oliveira Marques: “Portugal está condenado como nação, porque perdeu valores colectivos que definem um povo, uma sociedade, uma moral, uma política”.

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