O Militante Nº 229 de Julho/Agosto de 1997

14-06-2002
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Algumas palavras sobre

A viagem de Vasco da Gama

Por António Borges Coelho

Historiador

A viagem de Vasco da Gama (1497-1499), Lisboa a Calecut e Calecut a Lisboa, completou a descoberta dos caminhos marítimos para a Índia e inaugurou a Rota do Cabo, a qual passou a unir, pelo percurso das naus, o Ocidente ao Oriente, o Atlântico ao Índico e ao Pacífico. Pode dizer-se que esta viagem, independentemente da consciência dos seus protagonistas, culmina um processo que abre largamente as portas do Mundo Moderno.

A viagem foi possível pelo desenvolvimento tecnológico operado na navegação marítima, em particular a capacidade de situar, em qualquer momento, o navio no alto mar; foi possível pela experiência acumulada de pescadores, marinheiros e navegadores; e também pela determinação política dos dirigentes portugueses da época.

Mas a viagem de Vasco da Gama não foi tão só uma viagem, longa de mares e de anos. Ela passou a ligar em permanência o Ocidente ao Oriente, o Setentrião ao Meio Dia. Essa abertura e permanência assentaram, por um lado, na disponibilidade de capital para financiar a construção das armadas, o pagamento do frete e das cargas e, pelo outro, na construção meteórica do Estado Português da Índia.

Este Estado nasceu da armada anual que cruzava a Rota do Cabo nos dois sentidos, lançou os seus fundamentos nas primeiras fortalezas e estendeu os tentáculos aos principais pontos estratégicos do Índico e da sua ligação com o Pacífico. A tiros de bombarda forçou um controlo que se pretendia total mas sempre limitado do comércio internacional do Índico e do Pacífico, desenvolvido havia séculos pelos muçulmanos.

Um dos construtores desse Estado, o capitão, navegador e cosmógrafo Duarte Pacheco Pereira escrevia por volta de 1505: o rei D. Manuel “conquistou e cada dia conquista os índicos mares e asiáticas ribeiras matando e destruindo os mouros do Cairo e de Arábia e de Meca e outros moradores na mesma Índia e sua frota, que o trato de pedras preciosas, pérolas e especiarias com sua navegação (possuíam os mouros) por longa antiguidade de oitocentos anos e mais” (1). E noutro passo: as naus do rei D. Manuel “lhe trazem cada ano a estes reinos 30 e 40 000 quintais de especiaria e drogaria e muitas pérolas e pedras preciosas com outras cousas de grande riqueza, com que o orbe é abastado” (2).

O Estado Português da Índia que visava garantir o abastecimento das naus lusas em pimenta e outras riquezas orientais começou, pois, com a frágil viagem de quatro navios de que Vasco da Gama era o capitão-mor. Dois deles, a nau S. Grabiel, capitaina, e a S. Rafael, de que era capitão Paulo da Gama, andavam pelos cem tonéis (3), e a nau Bérrio de Nicolau Coelho pouco passava da metade. O quarto navio, comandado por Gonçalo Nunes, transportava mantimentos.

Por diferentes vezes, os navegadores e o seu capitão estiveram em transe de perder a vida e a glória da passagem. A carga que trouxeram foi escassa, e na nau S. Gabriel, que a Bérrio chegou quase vazia e as outras duas naus foram queimadas. Escreveu Duarte Pacheco Pereira: “Fizeram tantas e tão grossas despesas com tão poucas naus que, por não parecerem graves de ouvir e crer, o deixo de dizer por miúdo, das quais o nosso príncipe por então não houve mais utilidade que somente ver descoberta e novamente sabida alguma parte daquela Etiópia sub-Egipto e o princípio da Índia inferior” (4).

Segundo Fernão Lopes de Castanheda, de 148 homens embarcados, teriam chegado 55, ou seja, um terço (5). Morreram com novas doenças depois de navegarem, na escrita épica de João de Barros, três mil e tantas léguas e contenderem com três ou quatro reis tão diferentes em lei, costumes e linguagem (6). Na viagem de regresso, pilotos e marinheiros desesperaram com as calmarias que os afrontaram entre Calecut e Melinde e amotinaram-se mas foram dobrados pela vontade de Vasco da Gama e dos seus capitães.

O rei D. Manuel recebeu os descobridores com festas de touros, canas e momos mas não faltaram murmúrios, principalmente das mães e das viúvas dos que ficaram sepultados no Mar Oceano. Vasco da Gama, tornado almirante e mais tarde conde da Vidigueira, ascendeu à mais alta nobreza do reino. E a ideia do Estado da Índia subiu imediatamente aos títulos e às bandeiras pois o rei passou a intitular-se: “senhor da navegação, conquista e comércio da Etiópia, Arábia, Pérsia e Índia”.

Este Estado, constituído formalmente em 1505, definido no principal da sua geografia entre 1509 e 1515, haveria de reunir sob a cabeça da cidade de Goa três corpos fundamentais: um corpo de terra firme com os seus pólos em Goa, Damão, Baçaim e Ceilão; um segundo constituído pela rede de fortalezas que se espalhavam da costa oriental de África, de Sofala ao Golfo Pérsico, à costa ocidental da Índia, a Malaca, a Ternate, Amboíno e ilha das Flores na Indonésia; e um terceiro corpo móvel, o do senhorio de rendosas viagens, de Goa e de Malaca para a costa oriental da Índia, para os portos da Birmânia, da Tailândia e do Cambodja, para a China e as viagens do Japão, de Macaçar, de Sunda, Bornéu, ilha das Flores e Timor.

Nas zonas onde domina o capital mercantil, este explora a diferença entre os preços de produção dos diferentes países e estabelece um sistema (de comércio desigual) e de pilhagem. Desde a Antiguidade que os povos comerciantes estão ligados à pilhagem pela violência, à pirataria, ao rapto de escravos, à submissão das colónias. Foi assim em Cartago, em Roma e mais tarde entre os Venezianos, os Portugueses e os Holandeses (7). Estas cruas palavras de Marx correspondem em boa parte às guerras e confrontos da época moderna, particularmente às travadas nos mares e terras dos outros continentes. Aliás, sobre o comércio desigual, João de Barros esclarece exemplarmente: os 80 000 réis que Vasco da Gama podia anualmente aplicar em mercadorias da Índia multiplicavam-se 35 vezes e rendiam em Lisboa 2 800 000 réis (8). A multiplicação, escreve noutro passo, poderia elevar-se a 50 vezes.

A generalidade dos autores têm apoucado o capital português envolvi-do nesta empresa secular. Se houve capital europeu a circular na Rota do Cabo, não faltou capital português, não só o da Coroa, mas o capital de financeiros portugueses, particularmente dos cristãos-novos.

A construção do Estado da Índia envolveu, desde o começo, uma longa e mortífera guerra comercial marítima luso-muçulmana no Índico e no Pacífico. As fortalezas foram amassadas com muito sangue português e dos povos africanos e asiáticos. Roubadores do mar, homens da nação barbada que espiam a terra como mercadores e a salteiam depois como ladrões, escreverá Fernão Mendes Pinto na Peregrinação. O primeiro e principal inimigo foi Calecut. Naquela cidade do Malabar se concentrou a resistência dos mercadores muçulmanos e dos reis indianos perante a ameaça que constituía a chegada ao Oriente dos portugueses e dos cristãos ocidentais. Contaram com o apoio do rei de Cambaia, o auxílio do sultão do Egipto e a participação discreta de Veneza.

Anualmente as naus recém-chegadas de Lisboa descarregavam a sua artilharia sobre Calecut e roubavam e incendiavam as naus fundeadas no seu porto. Armadas daquela cidade foram destruídas por João da Nova em 1501 e o porto e os navios queimados por Vasco da Gama em 1502, por Lopo Soares de Albergaria em 1504 e nova frota destruída em 1505, em Coulão, por Lourenço de Almeida.

Em 1509, nas paragens do porto guzerate de Diu, a armada portuguesa, capitaniada pelo primeiro vice-rei da Índia, Francisco de Almeida, vai ao encontro da armada do Egipto, enxameada de guerreiros turcos, e das armadas de Calecut e de Diu. A feroz batalha naval que deu a vitória aos portugueses durou quase um dia e tornou clara a supremacia das armadas cristãs no Índico.

Os cenários de guerra prolongavam-se da costa oriental de África ao Mar Vermelho, ao Golfo Pérsico, a toda a costa ocidental da Índia e a partir de 1511 aos mares de Malaca e ao Pacífico das ilhas Molucas, das ilhas de Banda e de Amboíno. João de Barros caracterizou muito bem esta guerra permanente ao pintar os portugueses da Índia, “uma mão em o morrão aceso sobre a escorva da bombarda e a lança na outra”. Para completar o quadro, falta pintar as costas derreadas com o peso da pimenta ou das cadeiras douradas, furtadas no saque do palácio do Samorim. A banda sonora lança no ar o grito de “Santiago” ou então o de “Senhor Deus, misericórdia!”

A terra desfez há muito os corpos dos contendores. No encontro-confronto eles misturaram o sangue, trocaram conhecimentos, plantas, animais e técnicas, partilharam e ofenderam crenças e ideias. E no apagar das vozes, caíam as barreiras históricas que ocultavam as diferentes civilizações e ganhávamos pouco a pouco a consciência, não só de que todos, usando a linguagem da época, podemos alcançar a salvação, mas a consciência de que os homens partilham uma casa comum que é preciso amar e defender, a Terra, donde todos viemos e para onde todos vamos.

(1) Duarte Pacheco Pereira, Esmeraldo de Situ Orbis, Sociedade de Geografia, 1975, 154.

(2) Ibidem, 155. (3) Ibidem, 153. (4) Ibidem. (5) Fernão Lopes de Castanheda, História da Conquista da Índia, Porto, Lello & Irmão, 1979, 73. (6) João de Barros, Primeira Década da Ásia, 170. (7) Karl Marx, Le Capital, vol. III, Paris, Éditions Sociales, 1976, 313. (8) João de Barros, ob. cit., 164.

«O Militante» Nº 229 de Julho/Agosto de 1997

Algumas palavras sobre

A viagem de Vasco da Gama

Por António Borges Coelho

Historiador

A viagem de Vasco da Gama (1497-1499), Lisboa a Calecut e Calecut a Lisboa, completou a descoberta dos caminhos marítimos para a Índia e inaugurou a Rota do Cabo, a qual passou a unir, pelo percurso das naus, o Ocidente ao Oriente, o Atlântico ao Índico e ao Pacífico. Pode dizer-se que esta viagem, independentemente da consciência dos seus protagonistas, culmina um processo que abre largamente as portas do Mundo Moderno.

A viagem foi possível pelo desenvolvimento tecnológico operado na navegação marítima, em particular a capacidade de situar, em qualquer momento, o navio no alto mar; foi possível pela experiência acumulada de pescadores, marinheiros e navegadores; e também pela determinação política dos dirigentes portugueses da época.

Mas a viagem de Vasco da Gama não foi tão só uma viagem, longa de mares e de anos. Ela passou a ligar em permanência o Ocidente ao Oriente, o Setentrião ao Meio Dia. Essa abertura e permanência assentaram, por um lado, na disponibilidade de capital para financiar a construção das armadas, o pagamento do frete e das cargas e, pelo outro, na construção meteórica do Estado Português da Índia.

Este Estado nasceu da armada anual que cruzava a Rota do Cabo nos dois sentidos, lançou os seus fundamentos nas primeiras fortalezas e estendeu os tentáculos aos principais pontos estratégicos do Índico e da sua ligação com o Pacífico. A tiros de bombarda forçou um controlo que se pretendia total mas sempre limitado do comércio internacional do Índico e do Pacífico, desenvolvido havia séculos pelos muçulmanos.

Um dos construtores desse Estado, o capitão, navegador e cosmógrafo Duarte Pacheco Pereira escrevia por volta de 1505: o rei D. Manuel “conquistou e cada dia conquista os índicos mares e asiáticas ribeiras matando e destruindo os mouros do Cairo e de Arábia e de Meca e outros moradores na mesma Índia e sua frota, que o trato de pedras preciosas, pérolas e especiarias com sua navegação (possuíam os mouros) por longa antiguidade de oitocentos anos e mais” (1). E noutro passo: as naus do rei D. Manuel “lhe trazem cada ano a estes reinos 30 e 40 000 quintais de especiaria e drogaria e muitas pérolas e pedras preciosas com outras cousas de grande riqueza, com que o orbe é abastado” (2).

O Estado Português da Índia que visava garantir o abastecimento das naus lusas em pimenta e outras riquezas orientais começou, pois, com a frágil viagem de quatro navios de que Vasco da Gama era o capitão-mor. Dois deles, a nau S. Grabiel, capitaina, e a S. Rafael, de que era capitão Paulo da Gama, andavam pelos cem tonéis (3), e a nau Bérrio de Nicolau Coelho pouco passava da metade. O quarto navio, comandado por Gonçalo Nunes, transportava mantimentos.

Por diferentes vezes, os navegadores e o seu capitão estiveram em transe de perder a vida e a glória da passagem. A carga que trouxeram foi escassa, e na nau S. Gabriel, que a Bérrio chegou quase vazia e as outras duas naus foram queimadas. Escreveu Duarte Pacheco Pereira: “Fizeram tantas e tão grossas despesas com tão poucas naus que, por não parecerem graves de ouvir e crer, o deixo de dizer por miúdo, das quais o nosso príncipe por então não houve mais utilidade que somente ver descoberta e novamente sabida alguma parte daquela Etiópia sub-Egipto e o princípio da Índia inferior” (4).

Segundo Fernão Lopes de Castanheda, de 148 homens embarcados, teriam chegado 55, ou seja, um terço (5). Morreram com novas doenças depois de navegarem, na escrita épica de João de Barros, três mil e tantas léguas e contenderem com três ou quatro reis tão diferentes em lei, costumes e linguagem (6). Na viagem de regresso, pilotos e marinheiros desesperaram com as calmarias que os afrontaram entre Calecut e Melinde e amotinaram-se mas foram dobrados pela vontade de Vasco da Gama e dos seus capitães.

O rei D. Manuel recebeu os descobridores com festas de touros, canas e momos mas não faltaram murmúrios, principalmente das mães e das viúvas dos que ficaram sepultados no Mar Oceano. Vasco da Gama, tornado almirante e mais tarde conde da Vidigueira, ascendeu à mais alta nobreza do reino. E a ideia do Estado da Índia subiu imediatamente aos títulos e às bandeiras pois o rei passou a intitular-se: “senhor da navegação, conquista e comércio da Etiópia, Arábia, Pérsia e Índia”.

Este Estado, constituído formalmente em 1505, definido no principal da sua geografia entre 1509 e 1515, haveria de reunir sob a cabeça da cidade de Goa três corpos fundamentais: um corpo de terra firme com os seus pólos em Goa, Damão, Baçaim e Ceilão; um segundo constituído pela rede de fortalezas que se espalhavam da costa oriental de África, de Sofala ao Golfo Pérsico, à costa ocidental da Índia, a Malaca, a Ternate, Amboíno e ilha das Flores na Indonésia; e um terceiro corpo móvel, o do senhorio de rendosas viagens, de Goa e de Malaca para a costa oriental da Índia, para os portos da Birmânia, da Tailândia e do Cambodja, para a China e as viagens do Japão, de Macaçar, de Sunda, Bornéu, ilha das Flores e Timor.

Nas zonas onde domina o capital mercantil, este explora a diferença entre os preços de produção dos diferentes países e estabelece um sistema (de comércio desigual) e de pilhagem. Desde a Antiguidade que os povos comerciantes estão ligados à pilhagem pela violência, à pirataria, ao rapto de escravos, à submissão das colónias. Foi assim em Cartago, em Roma e mais tarde entre os Venezianos, os Portugueses e os Holandeses (7). Estas cruas palavras de Marx correspondem em boa parte às guerras e confrontos da época moderna, particularmente às travadas nos mares e terras dos outros continentes. Aliás, sobre o comércio desigual, João de Barros esclarece exemplarmente: os 80 000 réis que Vasco da Gama podia anualmente aplicar em mercadorias da Índia multiplicavam-se 35 vezes e rendiam em Lisboa 2 800 000 réis (8). A multiplicação, escreve noutro passo, poderia elevar-se a 50 vezes.

A generalidade dos autores têm apoucado o capital português envolvi-do nesta empresa secular. Se houve capital europeu a circular na Rota do Cabo, não faltou capital português, não só o da Coroa, mas o capital de financeiros portugueses, particularmente dos cristãos-novos.

A construção do Estado da Índia envolveu, desde o começo, uma longa e mortífera guerra comercial marítima luso-muçulmana no Índico e no Pacífico. As fortalezas foram amassadas com muito sangue português e dos povos africanos e asiáticos. Roubadores do mar, homens da nação barbada que espiam a terra como mercadores e a salteiam depois como ladrões, escreverá Fernão Mendes Pinto na Peregrinação. O primeiro e principal inimigo foi Calecut. Naquela cidade do Malabar se concentrou a resistência dos mercadores muçulmanos e dos reis indianos perante a ameaça que constituía a chegada ao Oriente dos portugueses e dos cristãos ocidentais. Contaram com o apoio do rei de Cambaia, o auxílio do sultão do Egipto e a participação discreta de Veneza.

Anualmente as naus recém-chegadas de Lisboa descarregavam a sua artilharia sobre Calecut e roubavam e incendiavam as naus fundeadas no seu porto. Armadas daquela cidade foram destruídas por João da Nova em 1501 e o porto e os navios queimados por Vasco da Gama em 1502, por Lopo Soares de Albergaria em 1504 e nova frota destruída em 1505, em Coulão, por Lourenço de Almeida.

Em 1509, nas paragens do porto guzerate de Diu, a armada portuguesa, capitaniada pelo primeiro vice-rei da Índia, Francisco de Almeida, vai ao encontro da armada do Egipto, enxameada de guerreiros turcos, e das armadas de Calecut e de Diu. A feroz batalha naval que deu a vitória aos portugueses durou quase um dia e tornou clara a supremacia das armadas cristãs no Índico.

Os cenários de guerra prolongavam-se da costa oriental de África ao Mar Vermelho, ao Golfo Pérsico, a toda a costa ocidental da Índia e a partir de 1511 aos mares de Malaca e ao Pacífico das ilhas Molucas, das ilhas de Banda e de Amboíno. João de Barros caracterizou muito bem esta guerra permanente ao pintar os portugueses da Índia, “uma mão em o morrão aceso sobre a escorva da bombarda e a lança na outra”. Para completar o quadro, falta pintar as costas derreadas com o peso da pimenta ou das cadeiras douradas, furtadas no saque do palácio do Samorim. A banda sonora lança no ar o grito de “Santiago” ou então o de “Senhor Deus, misericórdia!”

A terra desfez há muito os corpos dos contendores. No encontro-confronto eles misturaram o sangue, trocaram conhecimentos, plantas, animais e técnicas, partilharam e ofenderam crenças e ideias. E no apagar das vozes, caíam as barreiras históricas que ocultavam as diferentes civilizações e ganhávamos pouco a pouco a consciência, não só de que todos, usando a linguagem da época, podemos alcançar a salvação, mas a consciência de que os homens partilham uma casa comum que é preciso amar e defender, a Terra, donde todos viemos e para onde todos vamos.

(1) Duarte Pacheco Pereira, Esmeraldo de Situ Orbis, Sociedade de Geografia, 1975, 154.

(2) Ibidem, 155. (3) Ibidem, 153. (4) Ibidem. (5) Fernão Lopes de Castanheda, História da Conquista da Índia, Porto, Lello & Irmão, 1979, 73. (6) João de Barros, Primeira Década da Ásia, 170. (7) Karl Marx, Le Capital, vol. III, Paris, Éditions Sociales, 1976, 313. (8) João de Barros, ob. cit., 164.

«O Militante» Nº 229 de Julho/Agosto de 1997

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