Nuno Mendes, o bolseiro

07-11-2003
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Nuno Mendes, o Bolseiro

Segunda-feira, 03 de Novembro de 2003

Nuno Mendes faz uma pausa, respira fundo e depois responde de chofre: "Não gosto de falar da minha vida privada, mas orgulho-me daquilo que vou dizer. Venho de uma família de baixos recursos e no 12º ano estudei à noite e trabalhei de dia. Fiz os anos de faculdade com dificuldades e como eu há de certeza milhares de estudantes. Não tenho a mínima dúvida de que para muitos este aumento de propinas é completamente insuportável."

Nuno Mendes assumiu a direcção da Federação Académica do Porto (FAP) no início de 2002. Sabia que iria "prejudicar" a conclusão do curso de Direito mas aceitou a parada. De então para cá, fez quatro cadeiras e por isso perdeu o apoio dos serviços de acção social. "Cortaram-me a bolsa porque reprovei mais vezes do que as que são permitidas", explica, com um encolher de ombros. Para ajudar à festa, agora pedem-lhe que pague uma propina de 600 euros. "Vai haver três meses em que terei que despender 200 euros para pagar as propinas, o que é pouco menos de metade do ordenado que entra em minha casa."

"O Governo está a elitizar o ensino superior. Estas medidas são completamente inaceitáveis, num país que tem nove por cento da sua população formada, contra uma média europeia de 23 por cento", sustenta Nuno Mendes, que lamenta que os dirigentes estudantis tenham que "armar festival" para chamar a atenção. "Eu por mim não fazia manifestações. Neste momento, a menina dos meus olhos é a acção que interpusemos no Tribunal Administrativo [para averiguar da legalidade dos despachos de fixação de propinas que saíram de cada um dos conselhos directivos das 14 faculdades da Universidade do Porto]. Mas quem é que liga a isto?"

Nuno Mendes nasceu em Gaia há 25 anos e tem ainda pela frente cerca de dois e meses e meio ao leme da FAP. Sai no final do mandato, porque já cumpriu a sua "missão". "A FAP foi uma escola de vida única mas não é ela que me vai dar sustento. Faltam-me seis cadeiras para acabar o curso e tenho uma mãe em casa que janta muitas vezes sozinha. Antes, tinha uma mãe e uma namorada; agora tenho duas pessoas que vejo de vez em quando."

Aos 18 anos, Nuno Mendes "lia autores russos e pensava que era anarquista". Depois assentou ideias, mas ainda não conseguiu definir a sua "matriz ideológica". "Já votei branco, já votei Bloco de Esquerda e já votei PSD", faz questão de dizer. Quando encerrar o capítulo FAP, promete investir a sério na sua "ocupação predilecta", o escutismo, e "observar um período de nojo". "Pelo menos durante algum tempo, ninguém vai ouvir falar de mim". Palavra de escuteiro.

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Nuno Mendes, o Bolseiro

Segunda-feira, 03 de Novembro de 2003

Nuno Mendes faz uma pausa, respira fundo e depois responde de chofre: "Não gosto de falar da minha vida privada, mas orgulho-me daquilo que vou dizer. Venho de uma família de baixos recursos e no 12º ano estudei à noite e trabalhei de dia. Fiz os anos de faculdade com dificuldades e como eu há de certeza milhares de estudantes. Não tenho a mínima dúvida de que para muitos este aumento de propinas é completamente insuportável."

Nuno Mendes assumiu a direcção da Federação Académica do Porto (FAP) no início de 2002. Sabia que iria "prejudicar" a conclusão do curso de Direito mas aceitou a parada. De então para cá, fez quatro cadeiras e por isso perdeu o apoio dos serviços de acção social. "Cortaram-me a bolsa porque reprovei mais vezes do que as que são permitidas", explica, com um encolher de ombros. Para ajudar à festa, agora pedem-lhe que pague uma propina de 600 euros. "Vai haver três meses em que terei que despender 200 euros para pagar as propinas, o que é pouco menos de metade do ordenado que entra em minha casa."

"O Governo está a elitizar o ensino superior. Estas medidas são completamente inaceitáveis, num país que tem nove por cento da sua população formada, contra uma média europeia de 23 por cento", sustenta Nuno Mendes, que lamenta que os dirigentes estudantis tenham que "armar festival" para chamar a atenção. "Eu por mim não fazia manifestações. Neste momento, a menina dos meus olhos é a acção que interpusemos no Tribunal Administrativo [para averiguar da legalidade dos despachos de fixação de propinas que saíram de cada um dos conselhos directivos das 14 faculdades da Universidade do Porto]. Mas quem é que liga a isto?"

Nuno Mendes nasceu em Gaia há 25 anos e tem ainda pela frente cerca de dois e meses e meio ao leme da FAP. Sai no final do mandato, porque já cumpriu a sua "missão". "A FAP foi uma escola de vida única mas não é ela que me vai dar sustento. Faltam-me seis cadeiras para acabar o curso e tenho uma mãe em casa que janta muitas vezes sozinha. Antes, tinha uma mãe e uma namorada; agora tenho duas pessoas que vejo de vez em quando."

Aos 18 anos, Nuno Mendes "lia autores russos e pensava que era anarquista". Depois assentou ideias, mas ainda não conseguiu definir a sua "matriz ideológica". "Já votei branco, já votei Bloco de Esquerda e já votei PSD", faz questão de dizer. Quando encerrar o capítulo FAP, promete investir a sério na sua "ocupação predilecta", o escutismo, e "observar um período de nojo". "Pelo menos durante algum tempo, ninguém vai ouvir falar de mim". Palavra de escuteiro.

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