Mamografia e terapia hormonal

07-11-2003
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Mamografia e Terapia Hormonal

Por RISCOS NÃO SÃO COMUNICADOS ÀS DOENTES

Segunda-feira, 03 de Novembro de 2003

O cancro da mama não é apenas mais uma doença, nem sequer apenas uma forma de cancro: esta doença quase exclusivamente feminina serve para ilustrar os problemas de comunicação entre os médicos e os doentes. A polémica em torno das mamografias e da terapia de substituição hormonal pós-menopausa são casos exemplares de como os médicos não envolvem os pacientes nas decisões sobre os riscos que correm.

A polémica sobre se as mamografias salvam vidas ou tornam miseráveis um grande número de vidas tem-se espalhado pelas revistas científicas e pela comunicação social.

Aparentemente, não há nada de mal em prevenir, até porque o auto-exame, que implica a palpação da mama, deixou de ser uma recomendação obrigatória - porque, na grande maioria dos casos, as mulheres não o conseguem fazer bem.

Mas o que tem vindo a lume é que os estudos que comparam a eficácia das mamografias na despistagem do cancro da mama e na diminuição das mortes não são fiáveis. E quando os médicos remetem as mulheres para fazer mamografias também não as informam sobre as vantagens ou desvantagens de as fazer.

Para evitar uma morte devido ao cancro da mama, é preciso que 1224 mulheres, com idades entre os 40 e os 74 anos, façam mamografias regularmente ao longo de 14 anos, concluíram cientistas encarregues pelo Governo britânico de avaliar os prós e contras das mamografias. A equipa, composta por Hazel Thornton, Adrian Edwards e Michael Baum publicou os resultados em Julho, na revista "British Medical Journal", e exemplifica os problemas com os carcinomas ductais "in-situ".

Trata-se de uma lesão pré-cancerosa, que se restringe aos ductos ou canais por onde o leite passa, a caminho dos mamilos, é de crescimento lento e não costuma espalhar-se para o resto do corpo. Há três décadas, perfaziam apenas seis por cento dos tumores da mama detectados. Hoje, são 20 por cento e o tratamento normal é a excisão, seguida de radioterapia - o que pode ser considerado um tratamento demasiado agressivo, quando é um tipo de tumor que, antes das técnicas de imagiologia terem chegado ao ponto actual, podia nunca ser detectado e não levar a sua portadora à morte.

Este tipo de questões não são discutidas pelo médico com as mulheres, tal como não se fala na melhoria das formas de detecção, relacionado-a com o aumento da incidência do cancro da mama nas últimas décadas, sublinham os autores do artigo no "British Medical Journal". Ou seja: a forma de comunicar o risco potencial está inquinada desde o princípio, defendem, e as mulheres são tratadas de uma forma paternalista.

Aliás, a comunicação do risco está na origem de outras polémicas, como a das terapias de substituição hormonal.

Durante anos, foi apresentada como uma espécie de elixir da juventude, e não apenas como um tratamento contra sintomas desconfortáveis da menopausa e como prevenção da osteoporose. Ao longo dos anos, vários estudos lançaram dúvidas sobre a generalização dos tratamentos hormonais prolongados, mas sem grande efeito.

Em Julho de 2002, um estudo foi interrompido nos EUA porque se considerou que o aumento do risco de vir a sofrer de cancro da mama nas mulheres que faziam a terapia hormonal era intolerável, quando comparado com as que a não faziam, para que um dos grupos de mulheres do ensaio continuasse a tomá-lo.

Estes dados causaram grande pânico, mas se os benefícios da terapia de substituição hormonal foram apresentados de forma errada durante anos, os riscos de a tomar também foram algo exagerados. Não foi sublinhado, por exemplo, que as mulheres do estudo tinham uma idade muito avançada e, por isso, não correspondiam ao perfil normal das mulheres que fazem o tratamento. Não deve ser tomado durante mais de dois anos, para minorar afrontamentos e prevenir a osteoporose. Por outro lado, o cancro da mama é uma doença associada ao envelhecimento, pelo que quanto mais idosas as mulheres, mais provável era que desenvolvessem a doença.

Mas o imbróglio continua, até porque respostas definitivas não há e o estrogénio, sabe-se bem, está implicado no crescimento e desenvolvimento da mama e dos tumores.

Mamografia e Terapia Hormonal

Por RISCOS NÃO SÃO COMUNICADOS ÀS DOENTES

Segunda-feira, 03 de Novembro de 2003

O cancro da mama não é apenas mais uma doença, nem sequer apenas uma forma de cancro: esta doença quase exclusivamente feminina serve para ilustrar os problemas de comunicação entre os médicos e os doentes. A polémica em torno das mamografias e da terapia de substituição hormonal pós-menopausa são casos exemplares de como os médicos não envolvem os pacientes nas decisões sobre os riscos que correm.

A polémica sobre se as mamografias salvam vidas ou tornam miseráveis um grande número de vidas tem-se espalhado pelas revistas científicas e pela comunicação social.

Aparentemente, não há nada de mal em prevenir, até porque o auto-exame, que implica a palpação da mama, deixou de ser uma recomendação obrigatória - porque, na grande maioria dos casos, as mulheres não o conseguem fazer bem.

Mas o que tem vindo a lume é que os estudos que comparam a eficácia das mamografias na despistagem do cancro da mama e na diminuição das mortes não são fiáveis. E quando os médicos remetem as mulheres para fazer mamografias também não as informam sobre as vantagens ou desvantagens de as fazer.

Para evitar uma morte devido ao cancro da mama, é preciso que 1224 mulheres, com idades entre os 40 e os 74 anos, façam mamografias regularmente ao longo de 14 anos, concluíram cientistas encarregues pelo Governo britânico de avaliar os prós e contras das mamografias. A equipa, composta por Hazel Thornton, Adrian Edwards e Michael Baum publicou os resultados em Julho, na revista "British Medical Journal", e exemplifica os problemas com os carcinomas ductais "in-situ".

Trata-se de uma lesão pré-cancerosa, que se restringe aos ductos ou canais por onde o leite passa, a caminho dos mamilos, é de crescimento lento e não costuma espalhar-se para o resto do corpo. Há três décadas, perfaziam apenas seis por cento dos tumores da mama detectados. Hoje, são 20 por cento e o tratamento normal é a excisão, seguida de radioterapia - o que pode ser considerado um tratamento demasiado agressivo, quando é um tipo de tumor que, antes das técnicas de imagiologia terem chegado ao ponto actual, podia nunca ser detectado e não levar a sua portadora à morte.

Este tipo de questões não são discutidas pelo médico com as mulheres, tal como não se fala na melhoria das formas de detecção, relacionado-a com o aumento da incidência do cancro da mama nas últimas décadas, sublinham os autores do artigo no "British Medical Journal". Ou seja: a forma de comunicar o risco potencial está inquinada desde o princípio, defendem, e as mulheres são tratadas de uma forma paternalista.

Aliás, a comunicação do risco está na origem de outras polémicas, como a das terapias de substituição hormonal.

Durante anos, foi apresentada como uma espécie de elixir da juventude, e não apenas como um tratamento contra sintomas desconfortáveis da menopausa e como prevenção da osteoporose. Ao longo dos anos, vários estudos lançaram dúvidas sobre a generalização dos tratamentos hormonais prolongados, mas sem grande efeito.

Em Julho de 2002, um estudo foi interrompido nos EUA porque se considerou que o aumento do risco de vir a sofrer de cancro da mama nas mulheres que faziam a terapia hormonal era intolerável, quando comparado com as que a não faziam, para que um dos grupos de mulheres do ensaio continuasse a tomá-lo.

Estes dados causaram grande pânico, mas se os benefícios da terapia de substituição hormonal foram apresentados de forma errada durante anos, os riscos de a tomar também foram algo exagerados. Não foi sublinhado, por exemplo, que as mulheres do estudo tinham uma idade muito avançada e, por isso, não correspondiam ao perfil normal das mulheres que fazem o tratamento. Não deve ser tomado durante mais de dois anos, para minorar afrontamentos e prevenir a osteoporose. Por outro lado, o cancro da mama é uma doença associada ao envelhecimento, pelo que quanto mais idosas as mulheres, mais provável era que desenvolvessem a doença.

Mas o imbróglio continua, até porque respostas definitivas não há e o estrogénio, sabe-se bem, está implicado no crescimento e desenvolvimento da mama e dos tumores.

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