António Vigário, a cara da luta

07-11-2003
marcar artigo

António Vigário, a Cara da Luta

Segunda-feira, 03 de Novembro de 2003

Ainda lhe brilham os olhos quando se lembra da sensação de ver milhares de estudantes de Coimbra a desembarcar em Santa Apolónia. "Foram momentos únicos, indescritíveis. Ainda o comboio não tinha parado e já se viam as capas de fora e as vozes a gritar 'Académica, Académica'. Era uma coisa emocionante", desfia António Vigário, presidente da Associação Académica de Coimbra (AAC) de 1992 a 1994.

Por ter sido eleito contra a corrente - a sua lista, a E, derrotou outra próxima da JSD -, António Vigário, natural de Gaia, então no 5º ano de Direito, tornou-se rapidamente o rosto da luta anti-propinas. "Fomos a primeira lista, em muitos anos, a ser eleita em Coimbra sem o apoio de nenhum partido e por isso rompemos com a tradição que vigorava no movimento estudantil. À nossa volta, era só JSD", recorda Vigário, que em 1991 dera um voto de confiança a Cavaco Silva. "Arrependi-me amargamente. Cavaco Silva promovia a qualidade e o rigor, mas depois esses valores descambaram num certo autoritarismo", diz. Já depois de abandonar as lides académicas, o ex-presidente da AAC participou nos Estados Gerais do PS.

Ter sido eleito para a direcção da AAC "foi um acaso", mas hoje, aos 34 anos, tem a certeza de que foi um privilegiado por ter liderado a academia naquele período. "Tenho muito boas recordações dessa época. No início, toda a gente dizia que Coimbra estava isolada nas posições que defendia, o que fez com que as coisas não fossem fáceis de gerir. Mas em 93 já tínhamos muita gente do nosso lado e a contestação subiu de tom", conta.

Durante esses dois mandatos lutou afincadamente contra o aumento das propinas. "Nós queríamos que a discussão das propinas fosse enquadrada num âmbito mais vasto e não era para aí que o Governo estava a caminhar", recorda que várias vezes teve que "refrear" os ânimos dos estudantes mais exaltados. "Lembro-me de, numa Assembleia Magna, ter aparecido uma proposta que visava escaqueirar Boliqueime [terra natal de Cavaco Silva]."

Para este advogado reputado, "as reinvindicações dos estudantes que agora se manifestam são mais do que razoáveis". "Estamos a entrar num modelo em que os mais desfavorecidos não vão ter acesso ao ensino superior", diz. Bolseiro dos serviços de acção social, esteve alojado numa residência universitária e viveu também na república Ay-ó-Linda, Vigário teme que "a progressão leve a que os estudantes tenham que pagar a totalidade do custo da sua educação".

António Vigário, a Cara da Luta

Segunda-feira, 03 de Novembro de 2003

Ainda lhe brilham os olhos quando se lembra da sensação de ver milhares de estudantes de Coimbra a desembarcar em Santa Apolónia. "Foram momentos únicos, indescritíveis. Ainda o comboio não tinha parado e já se viam as capas de fora e as vozes a gritar 'Académica, Académica'. Era uma coisa emocionante", desfia António Vigário, presidente da Associação Académica de Coimbra (AAC) de 1992 a 1994.

Por ter sido eleito contra a corrente - a sua lista, a E, derrotou outra próxima da JSD -, António Vigário, natural de Gaia, então no 5º ano de Direito, tornou-se rapidamente o rosto da luta anti-propinas. "Fomos a primeira lista, em muitos anos, a ser eleita em Coimbra sem o apoio de nenhum partido e por isso rompemos com a tradição que vigorava no movimento estudantil. À nossa volta, era só JSD", recorda Vigário, que em 1991 dera um voto de confiança a Cavaco Silva. "Arrependi-me amargamente. Cavaco Silva promovia a qualidade e o rigor, mas depois esses valores descambaram num certo autoritarismo", diz. Já depois de abandonar as lides académicas, o ex-presidente da AAC participou nos Estados Gerais do PS.

Ter sido eleito para a direcção da AAC "foi um acaso", mas hoje, aos 34 anos, tem a certeza de que foi um privilegiado por ter liderado a academia naquele período. "Tenho muito boas recordações dessa época. No início, toda a gente dizia que Coimbra estava isolada nas posições que defendia, o que fez com que as coisas não fossem fáceis de gerir. Mas em 93 já tínhamos muita gente do nosso lado e a contestação subiu de tom", conta.

Durante esses dois mandatos lutou afincadamente contra o aumento das propinas. "Nós queríamos que a discussão das propinas fosse enquadrada num âmbito mais vasto e não era para aí que o Governo estava a caminhar", recorda que várias vezes teve que "refrear" os ânimos dos estudantes mais exaltados. "Lembro-me de, numa Assembleia Magna, ter aparecido uma proposta que visava escaqueirar Boliqueime [terra natal de Cavaco Silva]."

Para este advogado reputado, "as reinvindicações dos estudantes que agora se manifestam são mais do que razoáveis". "Estamos a entrar num modelo em que os mais desfavorecidos não vão ter acesso ao ensino superior", diz. Bolseiro dos serviços de acção social, esteve alojado numa residência universitária e viveu também na república Ay-ó-Linda, Vigário teme que "a progressão leve a que os estudantes tenham que pagar a totalidade do custo da sua educação".

marcar artigo