Em contraciclo com o ocorrido no resto da União europeia
Emprego "High Tech" Perde Peso em Portugal
Segunda-feira, 23 de Dezembro de 2002
Percentagem da mão-de-obra empregue nas empresas industriais de alta e média intensidade tecnológica e de serviços conhecimento-intensivo está em baixa. Alteração da tendência passa pela informação sobre oportunidades de financiamentos comunitários, formação de recursos humanos e captação de Investimento estrangeiro de ponta.
Artur Neves
Portugal está menos "high tech", de acordo com cálculos do PÚBLICO a partir de dados do Eurostat - o organismo estatístico da União Europeia (UE). Em 1996, 5,81 por cento dos trabalhadores portugueses estavam empregues em indústrias de alta e média intensidade tecnológica. Em 2001, eram só cinco por cento. Em 1996, 21,84 por cento dos trabalhadores portugueses estavam empregues em empresas de serviços conhecimento-intensivos. Em 2001, passaram para 19,14 por cento. Esta evolução negativa no espaço de seis anos de um importante indicador do grau de inovação de uma economia ocorreu em contraciclo com o verificado em todos os restantes países da UE, com a excepção da Bélgica no sector transformador. Neste, Portugal continua a ocupar o antepenúltimo lugar entre os Quinze. No sector dos serviços, para além do aumento da divergência face à média comunitária, Portugal foi relegado pela Grécia para o último lugar.
Para o gestor da agência governamental Unidade de Missão Inovação e Conhecimento (UMIC), Diogo Vasconcelos, estes dados "muito preocupantes" revelam, para o período em análise, as dificuldades do país na captação de investimentos de empresas de tecnologia avançada, intimamente ligada à "patente falta de profissionais qualificados nos domínios tecnológicos".
Como causa do retrocesso verificado, o responsável aponta também o facto de o país não ter vindo a aproveitar bem os recursos que a UE coloca à sua disposição. E citou o exemplo do Programa Quadro de Ciência, Tecnologia e Inovação de Bruxelas: no quinto Programa Quadro do IST (Tecnologias para a Sociedade da Informação) Portugal teve cinco vezes menos projectos aprovados do que a Grécia. Ambos países contribuem com 1,4 por cento para o orçamento comunitário, mas enquanto a Grécia obteve sete por cento do orçamento do IST, Portugal ficou-se por 1,2 por cento. Ou seja, "Portugal andou a financiar os países mais ricos da UE numa área de enorme importância estratégica como é a da inovação".
Por trás deste subaproveitamento está "uma falta de informação por parte das empresas, por sua vez em grande parte resultante de uma ausência de uma estratégia de venda destas oportunidades de financiamentos comunitários aos seus potenciais beneficiadores". É para colmatar esta falha que é considerado "indispensável um esforço voluntarista para aumentar a participação e a visibilidade de empresas portuguesas nos projectos daquele Programa Quadro". Algo que passa pela promoção, no curto prazo, de sessões de divulgações, um guia do candidato e "task forces" capazes de identificar potenciais parceiros ou consórcios interessados em acolher instituições portuguesas, dar apoio técnico e burocrático às empresas que queiram liderar, integrar, ou criar consórcios para projectos integrados ou redes de excelência e assegurar o seguimento desses projectos no seio da Comissão Europeia.
No fundo, trata-se de "completar os mecanismos de difusão já existentes dos programas comunitários com uma 'equipa de venda' qualificada, capaz de vender essa participação a empresas portuguesas-alvo, capaz de as ajudar a seleccionar projectos e entrar em parcerias, capaz de as apoiar na construção das candidaturas e capaz de fazer arbitragem internacional em parcerias com instituições do sistema científico e tecnológico nacional e comunitário".
A estratégia para a inversão da tendência negativa evidenciada pelos números do Eurostat passa ainda, de acordo com Diogo de Vasconcelos, por mais dois pilares. Por um lado, "o Governo deve incentivar a formação avançada de portugueses, quer no território nacional quer no estrangeiro, em várias áreas intensivas em conhecimento". Por outro, "a captação de investimento directo estrangeiro (IDE) em áreas tecnologicamente avançadas revela-se essencial, uma vez que este revela um forte efeito de alavancagem, quer na indústria quer nos serviços". Neste sentido, a recente criação da Agência Portuguesa para o Investimento (API) desempenhará, para o gestor da UMIC, um papel importante. Bem como, no capítulo da formação, o lançamento pela UE do Programa Operacional da Sociedade da Informação (POSI) em Junho deste ano, através do qual é possível a obtenção de bolsas para aquisição de competências nas tecnologias da informação e comunicação.
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Em contraciclo com o ocorrido no resto da União europeia
Emprego "High Tech" Perde Peso em Portugal
Segunda-feira, 23 de Dezembro de 2002
Percentagem da mão-de-obra empregue nas empresas industriais de alta e média intensidade tecnológica e de serviços conhecimento-intensivo está em baixa. Alteração da tendência passa pela informação sobre oportunidades de financiamentos comunitários, formação de recursos humanos e captação de Investimento estrangeiro de ponta.
Artur Neves
Portugal está menos "high tech", de acordo com cálculos do PÚBLICO a partir de dados do Eurostat - o organismo estatístico da União Europeia (UE). Em 1996, 5,81 por cento dos trabalhadores portugueses estavam empregues em indústrias de alta e média intensidade tecnológica. Em 2001, eram só cinco por cento. Em 1996, 21,84 por cento dos trabalhadores portugueses estavam empregues em empresas de serviços conhecimento-intensivos. Em 2001, passaram para 19,14 por cento. Esta evolução negativa no espaço de seis anos de um importante indicador do grau de inovação de uma economia ocorreu em contraciclo com o verificado em todos os restantes países da UE, com a excepção da Bélgica no sector transformador. Neste, Portugal continua a ocupar o antepenúltimo lugar entre os Quinze. No sector dos serviços, para além do aumento da divergência face à média comunitária, Portugal foi relegado pela Grécia para o último lugar.
Para o gestor da agência governamental Unidade de Missão Inovação e Conhecimento (UMIC), Diogo Vasconcelos, estes dados "muito preocupantes" revelam, para o período em análise, as dificuldades do país na captação de investimentos de empresas de tecnologia avançada, intimamente ligada à "patente falta de profissionais qualificados nos domínios tecnológicos".
Como causa do retrocesso verificado, o responsável aponta também o facto de o país não ter vindo a aproveitar bem os recursos que a UE coloca à sua disposição. E citou o exemplo do Programa Quadro de Ciência, Tecnologia e Inovação de Bruxelas: no quinto Programa Quadro do IST (Tecnologias para a Sociedade da Informação) Portugal teve cinco vezes menos projectos aprovados do que a Grécia. Ambos países contribuem com 1,4 por cento para o orçamento comunitário, mas enquanto a Grécia obteve sete por cento do orçamento do IST, Portugal ficou-se por 1,2 por cento. Ou seja, "Portugal andou a financiar os países mais ricos da UE numa área de enorme importância estratégica como é a da inovação".
Por trás deste subaproveitamento está "uma falta de informação por parte das empresas, por sua vez em grande parte resultante de uma ausência de uma estratégia de venda destas oportunidades de financiamentos comunitários aos seus potenciais beneficiadores". É para colmatar esta falha que é considerado "indispensável um esforço voluntarista para aumentar a participação e a visibilidade de empresas portuguesas nos projectos daquele Programa Quadro". Algo que passa pela promoção, no curto prazo, de sessões de divulgações, um guia do candidato e "task forces" capazes de identificar potenciais parceiros ou consórcios interessados em acolher instituições portuguesas, dar apoio técnico e burocrático às empresas que queiram liderar, integrar, ou criar consórcios para projectos integrados ou redes de excelência e assegurar o seguimento desses projectos no seio da Comissão Europeia.
No fundo, trata-se de "completar os mecanismos de difusão já existentes dos programas comunitários com uma 'equipa de venda' qualificada, capaz de vender essa participação a empresas portuguesas-alvo, capaz de as ajudar a seleccionar projectos e entrar em parcerias, capaz de as apoiar na construção das candidaturas e capaz de fazer arbitragem internacional em parcerias com instituições do sistema científico e tecnológico nacional e comunitário".
A estratégia para a inversão da tendência negativa evidenciada pelos números do Eurostat passa ainda, de acordo com Diogo de Vasconcelos, por mais dois pilares. Por um lado, "o Governo deve incentivar a formação avançada de portugueses, quer no território nacional quer no estrangeiro, em várias áreas intensivas em conhecimento". Por outro, "a captação de investimento directo estrangeiro (IDE) em áreas tecnologicamente avançadas revela-se essencial, uma vez que este revela um forte efeito de alavancagem, quer na indústria quer nos serviços". Neste sentido, a recente criação da Agência Portuguesa para o Investimento (API) desempenhará, para o gestor da UMIC, um papel importante. Bem como, no capítulo da formação, o lançamento pela UE do Programa Operacional da Sociedade da Informação (POSI) em Junho deste ano, através do qual é possível a obtenção de bolsas para aquisição de competências nas tecnologias da informação e comunicação.