A Opinião de Diogo Feio*

09-05-2004
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A Opinião de Diogo Feio*

Domingo, 04 de Abril de 2004

Porto com sentid

Nos últimos meses, tem sido muito discutido e debatido o papel do Porto no espaço nacional. De uma forma simplificada, é possível chegar à conclusão que as várias opiniões expressas se dividem entre um pessimismo generalizado e um optimismo irrealista. Tanto se ouviu que no Porto se vive uma "depressão", com uma total perda de capacidade de intervenção na vida pública, como apareceu quem defendesse que o Porto evolui significativamente para uma situação melhor que a actual.

Como sempre, uma posição que não se encontre em nenhum dos extremos, e talvez a meio do caminho, revela-se como a mais lúcida. Para a desenvolver é essencial que se tracem os objectivos a atingir, os meios para os prosseguir e se identifiquem as causas da situação actual.

Quanto às últimas, são as mais variadas. No plano económico, o Porto sofreu com as nacionalizações, foi privado das mais variadas sedes bancárias e viu os seus empresários - salvo raras excepções, em que se destacam Belmiro de Azevedo e Américo Amorim - perderem influência. Na política, após a morte de Francisco Sá Carneiro, o rumo foi marcado por uma desorientação total. Entre um discurso bairrista - em que se salientava quem mais se pusesse em bicos de pés e reclamasse, de modo provinciano, contra o Terreiro do Paço - e um discurso de bairro - preocupado apenas com os buracos de rua e os pequenos acontecimentos - tem sido difícil encontrar o tom certo. No plano social, o Porto parece conviver com alguma dificuldade com as características próprias de uma segunda cidade em que não se encontra o centro do Estado e consequente pólo de atracção de pessoas. Todas as tentativas de tornar o Porto numa segunda capital correspondem a construções totalmente desadequadas e configuram uma situação contrária à natureza das coisas.

Perante este cenário, as reacções externas tanto são as de uma total ignorância sobre tudo o que se passa no Porto - olhando-se para a cidade como um albergue de gente estranha que vive numa cidade chuvosa - como de uma Portofobia que apenas pretende combater qualquer hipótese de sucesso da segunda cidade do país. Tanto uma reacção como outra encontram a sua origem na falta de identificação de objectivos para a região. Parece, então, ser necessário um roteiro de medidas e atitudes a tomar.

Os planos para a cidade têm de passar por uma afirmação nacional e europeia que não se fique pelo inegável caso de sucesso futebolístico, em que se destaca o Futebol Clube do Porto. A tarefa em causa não se pode reduzir a uma boleia do Estado, razão pela qual de pouco importa o volume de investimento público na região. Se esse continuar a ser o acento tónico caminharemos para uma situação em que inevitavelmente a famosa ponte aérea nacional continuará a ter como destino Lisboa à segunda-feira e o Porto à sexta-feira. O papel do Estado para efeito de afirmação da região do Porto pouco mais é do que simbólico. O elemento essencial vai ter de se centrar no alicerçar de um Porto que, por si só, seja atractivo. Para isso tem de começar por formar e mostrar a sua massa crítica.

É, pois, necessário publicitar a maior universidade do país. Relembrar a necessidade de inserir os seus licenciados e investigadores no mundo empresarial. Sublinhar o relevo que assumem as suas escolas de Engenharia e Arquitectura. Desenvolver a susceptibilidade de atracção dos centros culturais, como Serralves e a Casa da Música. Retomar a posição do Porto como centro de negócios.

Mas tudo isto apenas é possível alcançar com um elemento pessoal muito marcado. Para isso, o Porto não se pode apresentar apenas com as caras do costume. Não sou defensor de conflitos entre gerações, mas também não posso esquecer o papel que, nos últimos anos, tem sido assumido por Paulo Azevedo no mundo empresarial, José Pedro Aguiar Branco nas corporações profissionais, Rui Moreira no associativismo, António Lobo Xavier na participação política, e tantos outros que no mundo cultural e científico agora começam a aparecer e a exercer um papel de grande relevo. Todos estes protagonistas têm de ser incentivados na sua participação pública e devem ser mostrados ao país.

E será com estas e outras individualidades, com publicidade, inovação, visão estratégica e objectivos claramente demarcados para cada fase que o Porto poderá gradualmente mudar de estatuto. Quem não perceber isto rapidamente poderá vir a ser acusado de atrasar o inevitável

vice-presidente do Grupo Parlamentar do CDS

A Opinião de Diogo Feio*

Domingo, 04 de Abril de 2004

Porto com sentid

Nos últimos meses, tem sido muito discutido e debatido o papel do Porto no espaço nacional. De uma forma simplificada, é possível chegar à conclusão que as várias opiniões expressas se dividem entre um pessimismo generalizado e um optimismo irrealista. Tanto se ouviu que no Porto se vive uma "depressão", com uma total perda de capacidade de intervenção na vida pública, como apareceu quem defendesse que o Porto evolui significativamente para uma situação melhor que a actual.

Como sempre, uma posição que não se encontre em nenhum dos extremos, e talvez a meio do caminho, revela-se como a mais lúcida. Para a desenvolver é essencial que se tracem os objectivos a atingir, os meios para os prosseguir e se identifiquem as causas da situação actual.

Quanto às últimas, são as mais variadas. No plano económico, o Porto sofreu com as nacionalizações, foi privado das mais variadas sedes bancárias e viu os seus empresários - salvo raras excepções, em que se destacam Belmiro de Azevedo e Américo Amorim - perderem influência. Na política, após a morte de Francisco Sá Carneiro, o rumo foi marcado por uma desorientação total. Entre um discurso bairrista - em que se salientava quem mais se pusesse em bicos de pés e reclamasse, de modo provinciano, contra o Terreiro do Paço - e um discurso de bairro - preocupado apenas com os buracos de rua e os pequenos acontecimentos - tem sido difícil encontrar o tom certo. No plano social, o Porto parece conviver com alguma dificuldade com as características próprias de uma segunda cidade em que não se encontra o centro do Estado e consequente pólo de atracção de pessoas. Todas as tentativas de tornar o Porto numa segunda capital correspondem a construções totalmente desadequadas e configuram uma situação contrária à natureza das coisas.

Perante este cenário, as reacções externas tanto são as de uma total ignorância sobre tudo o que se passa no Porto - olhando-se para a cidade como um albergue de gente estranha que vive numa cidade chuvosa - como de uma Portofobia que apenas pretende combater qualquer hipótese de sucesso da segunda cidade do país. Tanto uma reacção como outra encontram a sua origem na falta de identificação de objectivos para a região. Parece, então, ser necessário um roteiro de medidas e atitudes a tomar.

Os planos para a cidade têm de passar por uma afirmação nacional e europeia que não se fique pelo inegável caso de sucesso futebolístico, em que se destaca o Futebol Clube do Porto. A tarefa em causa não se pode reduzir a uma boleia do Estado, razão pela qual de pouco importa o volume de investimento público na região. Se esse continuar a ser o acento tónico caminharemos para uma situação em que inevitavelmente a famosa ponte aérea nacional continuará a ter como destino Lisboa à segunda-feira e o Porto à sexta-feira. O papel do Estado para efeito de afirmação da região do Porto pouco mais é do que simbólico. O elemento essencial vai ter de se centrar no alicerçar de um Porto que, por si só, seja atractivo. Para isso tem de começar por formar e mostrar a sua massa crítica.

É, pois, necessário publicitar a maior universidade do país. Relembrar a necessidade de inserir os seus licenciados e investigadores no mundo empresarial. Sublinhar o relevo que assumem as suas escolas de Engenharia e Arquitectura. Desenvolver a susceptibilidade de atracção dos centros culturais, como Serralves e a Casa da Música. Retomar a posição do Porto como centro de negócios.

Mas tudo isto apenas é possível alcançar com um elemento pessoal muito marcado. Para isso, o Porto não se pode apresentar apenas com as caras do costume. Não sou defensor de conflitos entre gerações, mas também não posso esquecer o papel que, nos últimos anos, tem sido assumido por Paulo Azevedo no mundo empresarial, José Pedro Aguiar Branco nas corporações profissionais, Rui Moreira no associativismo, António Lobo Xavier na participação política, e tantos outros que no mundo cultural e científico agora começam a aparecer e a exercer um papel de grande relevo. Todos estes protagonistas têm de ser incentivados na sua participação pública e devem ser mostrados ao país.

E será com estas e outras individualidades, com publicidade, inovação, visão estratégica e objectivos claramente demarcados para cada fase que o Porto poderá gradualmente mudar de estatuto. Quem não perceber isto rapidamente poderá vir a ser acusado de atrasar o inevitável

vice-presidente do Grupo Parlamentar do CDS

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