$Entre o "histórico" e o "normal"

21-02-2004
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Por LUÍS MIGUEL VIANA

Sábado, 24 de Janeiro de 2004 As estruturas sindicais da UGT e da CGTP que convocaram para ontem a greve nacional da Função Pública foram unânimes ao apontarem uma "adesão histórica" à paralisação, avançando com números próximos dos 90 por cento - superiores portanto à paralisação de 14 de Novembro de 2002, a qual, segundo as contas dos sindicatos, já teria rondado os 85 por cento. No pólo oposto, a recolha de dados feita pela Direcção-Geral da Administração Pública (DGAP) apontava para números entre os 25 e os 30 por cento de adesão. Perante estes números, enquanto a Frente Comum considerava que esta "foi a maior greve da Administração Pública alguma vez realizada em Portugal", e o Sindicato dos Quadros Técnicos do Estado (STE) e a Federação Sindical da Administração Pública (FESAP) já davam ao Governo "um mês para reflectir e avançar com novas respostas", a secretária de Estado da Administração Pública, Suzana Toscano, dizia simplesmente "ter indicações" de que a paralisação decorria "de forma semelhante às anteriores". Até a hora de fecho desta edição a DGAP não avançou com as suas taxas de adesão, confirmando a intenção do Governo fugir a uma guerra de números que descredibiliza todas as partes. Bettencourt Picanço, presidente do STE, e Nobre dos Santos, coordenador da Fesap, anunciaram ontem que, dentro de 30 dias, farão um balanço dos avanços ou dos recuos que o Governo fizer nas matéria em conflito - com a questão salarial à cabeça. Se o balanço for de sinal negativo, "os trabalhadores e suas organizações não deixarão de perspectivar novas respostas", ameaçaram, mostrando uma grande abertura dos sindicatos filiados na UGT para estabelecerem alianças com as estruturas da CGTP-In, "embora os aspectos organizativos não estejam ainda conversados". Manuel Carvalho da Silva, secretário-geral da CGTP, considerou por seu lado que as paralisações e as manifestações de ontem foram "um ponto de partida para as grandes mudanças de que o país precisa". Saúde e Educação lideraram Os sectores da Saúde e da Educação pareceram liderar as taxas máximas de paralisação, já que em ambos a falta de uma classe profissional limita - e, por vezes, inviabiliza - o funcionamento de todos os serviços. Foi por exemplo o que acontece nas escolas em relação aos funcionários dos serviços auxiliares, cuja ausência inviabiliza a abertura de muitos estabelecimentos. Nos hospitais, a falta de alguns técnicos, por exemplo para a realização de operações, também não permite que se abram os blocos operatórios. Os sindicatos do sector garantiram que a adesão dos enfermeiros foi muito elevada, o mesmo acontecendo com vários serviços de medicina. Mais de oito mil pessoas desfilaram pelas ruas de Lisboa numa "Marcha pela Educação" considerada por Paulo Sucena, secretário-geral da Federação Nacional dos Professores, uma das maiores "senão a maior" marcha em defesa de um sistema educativo democrático e de uma escola pública de qualidade. "Não seremos cidadãos plenos, não haverá uma evolução na nossa estrutura económico-produtiva, se não houver uma aposta séria na educação", disse Carvalho da Silva, um dos oradores no comício que se fez frente à Assembleia da República, acrescentando que as políticas do actual governo condenam Portugal a uma regressão civilizacional. O ministro da Educação, David Justino, considerou por seu turno que as razões da greve pouco têm a ver com o sector e não revelam críticas directas à política educativa. "As causas são relativamente vagas e têm mais a ver com a Função Pública e menos com os professores", disse o ministro. "Não vi da parte dos aderentes à greve uma crítica directa à política educativa". Quanto aos agentes da PSP, não fizeram greve, uma vez que o seu estatuto os impede. Mas cerca de 200 elementos da PSP organizaram um cordão humano em redor do edifício do Ministério da Administração Interna, na baixa de Lisboa, para "chamar a atenção do poder político e da sociedade civil para os problemas com que se debatem os polícias, tais como a falta de meios materiais, de efectivos e de regulamento disciplinar modernizado", declarou ontem António Ramos, presidente do Sindicato dos Profissionais de Polícia. O Sindicato dos Trabalhadores Consulares (STCDE) apontaram uma adesão na ordem dos 50 por cento dos funcionários consulares à greve, a primeira em 25 anos de história daquela estrutura sindical. Apesar do Ministério dos Negócios Estrangeiros alegar que adesão não superou os 34 por cento, o secretário- geral do STCDE, Jorge Veludo, declarou que "a adesão dos funcionários dos consulados à paralisação superou as expectativas do sindicato, com adesões surpreendentes na Ásia e muito fortes na Europa". (Insert:) $Carris com três greves em Fevereiro Os representantes dos trabalhadores da Carris marcaram ontem três greves para Fevereiro - embora admitam desconvocá-las se a administração voltar atrás em medidas que tomou relativas à reestruturação da empresa. As paralisações foram marcadas para os seguintes períodos: dia 17 entre as 11h00 e as 14h00; dia 19 entre as 14h00 e as 17h00; e dia 26 entre as 17h00 e as 20h00. OUTROS TÍTULOS EM DESTAQUE $Entre o "histórico" e o "normal"

$Ministério da Educação pede identificação dos grevistas

Lisboa: cidade mais calma

Sector da saúde do Porto muito afectado pela greve

Saúde e ensino afectados no Algarve

Consultas adiadas em Coimbra

Transportes não funcionaram em Aveiro

Governo Civil, Escolas e Finanças encerradas em Viseu

Diversos serviços fechados em Braga e Guimarães

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Por LUÍS MIGUEL VIANA

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Perante estes números, enquanto a Frente Comum considerava que esta "foi a maior greve da Administração Pública alguma vez realizada em Portugal", e o Sindicato dos Quadros Técnicos do Estado (STE) e a Federação Sindical da Administração Pública (FESAP) já davam ao Governo "um mês para reflectir e avançar com novas respostas", a secretária de Estado da Administração Pública, Suzana Toscano, dizia simplesmente "ter indicações" de que a paralisação decorria "de forma semelhante às anteriores". Até a hora de fecho desta edição a DGAP não avançou com as suas taxas de adesão, confirmando a intenção do Governo fugir a uma guerra de números que descredibiliza todas as partes. Bettencourt Picanço, presidente do STE, e Nobre dos Santos, coordenador da Fesap, anunciaram ontem que, dentro de 30 dias, farão um balanço dos avanços ou dos recuos que o Governo fizer nas matéria em conflito - com a questão salarial à cabeça. Se o balanço for de sinal negativo, "os trabalhadores e suas organizações não deixarão de perspectivar novas respostas", ameaçaram, mostrando uma grande abertura dos sindicatos filiados na UGT para estabelecerem alianças com as estruturas da CGTP-In, "embora os aspectos organizativos não estejam ainda conversados". Manuel Carvalho da Silva, secretário-geral da CGTP, considerou por seu lado que as paralisações e as manifestações de ontem foram "um ponto de partida para as grandes mudanças de que o país precisa". Saúde e Educação lideraram Os sectores da Saúde e da Educação pareceram liderar as taxas máximas de paralisação, já que em ambos a falta de uma classe profissional limita - e, por vezes, inviabiliza - o funcionamento de todos os serviços. Foi por exemplo o que acontece nas escolas em relação aos funcionários dos serviços auxiliares, cuja ausência inviabiliza a abertura de muitos estabelecimentos. Nos hospitais, a falta de alguns técnicos, por exemplo para a realização de operações, também não permite que se abram os blocos operatórios. Os sindicatos do sector garantiram que a adesão dos enfermeiros foi muito elevada, o mesmo acontecendo com vários serviços de medicina. Mais de oito mil pessoas desfilaram pelas ruas de Lisboa numa "Marcha pela Educação" considerada por Paulo Sucena, secretário-geral da Federação Nacional dos Professores, uma das maiores "senão a maior" marcha em defesa de um sistema educativo democrático e de uma escola pública de qualidade. "Não seremos cidadãos plenos, não haverá uma evolução na nossa estrutura económico-produtiva, se não houver uma aposta séria na educação", disse Carvalho da Silva, um dos oradores no comício que se fez frente à Assembleia da República, acrescentando que as políticas do actual governo condenam Portugal a uma regressão civilizacional. O ministro da Educação, David Justino, considerou por seu turno que as razões da greve pouco têm a ver com o sector e não revelam críticas directas à política educativa. "As causas são relativamente vagas e têm mais a ver com a Função Pública e menos com os professores", disse o ministro. "Não vi da parte dos aderentes à greve uma crítica directa à política educativa". Quanto aos agentes da PSP, não fizeram greve, uma vez que o seu estatuto os impede. Mas cerca de 200 elementos da PSP organizaram um cordão humano em redor do edifício do Ministério da Administração Interna, na baixa de Lisboa, para "chamar a atenção do poder político e da sociedade civil para os problemas com que se debatem os polícias, tais como a falta de meios materiais, de efectivos e de regulamento disciplinar modernizado", declarou ontem António Ramos, presidente do Sindicato dos Profissionais de Polícia. O Sindicato dos Trabalhadores Consulares (STCDE) apontaram uma adesão na ordem dos 50 por cento dos funcionários consulares à greve, a primeira em 25 anos de história daquela estrutura sindical. Apesar do Ministério dos Negócios Estrangeiros alegar que adesão não superou os 34 por cento, o secretário- geral do STCDE, Jorge Veludo, declarou que "a adesão dos funcionários dos consulados à paralisação superou as expectativas do sindicato, com adesões surpreendentes na Ásia e muito fortes na Europa". (Insert:) $Carris com três greves em Fevereiro Os representantes dos trabalhadores da Carris marcaram ontem três greves para Fevereiro - embora admitam desconvocá-las se a administração voltar atrás em medidas que tomou relativas à reestruturação da empresa. As paralisações foram marcadas para os seguintes períodos: dia 17 entre as 11h00 e as 14h00; dia 19 entre as 14h00 e as 17h00; e dia 26 entre as 17h00 e as 20h00. OUTROS TÍTULOS EM DESTAQUE $Entre o "histórico" e o "normal"

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