Intervenção da Deputada Luísa Mesquita

04-06-2003
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Debate sectorial sobre Educação

Intervenção da Deputada Luísa Mesquita

23 de Janeiro 2003

Senhor Presidente

Senhor Ministro da Educação

Senhoras Deputadas

Senhores Deputados

A educação é para este governo e particularmente para o Senhor Ministro e a sua equipa uma despesa e não um investimento.

A política tem sido a do atropelo à Constituição e aos direitos consagrados.

A estratégia é a da redução dos recursos.

E as consequências no sistema educativo irão ser a reprodução das desigualdades e a agudização da selectividade.

Senhor Ministro esta é a resposta à promessa da qualificação dos portugueses?

A educação e a formação, componentes sociais da evolução social, são, para este governo, meros índices económicos de funcionamento de mercado.

É a maior ofensiva, pós 25 de Abril, à escola pública universal e democrática.

E por isso o governo furta-se à discussão e à negociação com os parceiros.

A estratégia agora é outra.

Em primeiro lugar comunicam-se as orientações e as decisões à imprensa e depois aguardam-se as reacções.

Se o cidadão ousar ter opinião diversa relativamente à res pública-educação, lança-se um segundo ataque: culpabilizam-se os profissionais, prepara-se o julgamento em praça pública e quando a fogueira estiver suficientemente ateada, retomam-se as medidas, reafirmando-as de forma prepotente e autoritária como soluções únicas e sacrossantas

Nada mais retrógrado.

Para este governo irremediavelmente e fielmente devoto da lei do mais forte - o mercado – é imprescindível fazer das escolas empresas, impor-lhes um patrão simpatizante do código laboral, transformar os professores em preparadores de produtos para os clientes e exigir aos pais e encarregados de educação que paguem a transformação da matéria prima.

E o país no que à educação diz respeito é algo que não preocupa o governo.

Segundo o último censo o analfabetismo atinge ainda 10% da população portuguesa.

Que medidas foram tomadas para iniciar este combate?

Quase 50% das crianças chegam ao segundo ciclo com pelo menos uma reprovação.

Existem duas leis, aprovadas nesta Assembleia, propostas assinadas pelo então deputado David Justino que, regulamentadas e cumpridas melhorariam a qualidade das aprendizagens.

Porque não foi dado início à concretização das medidas propostas?

Cerca de 45% dos jovens entre os 18 e os 24 anos não finalizam o ensino secundário, o que nos coloca no último lugar entre os países na União Europeia.

Considera o Senhor Ministro que este flagelo se combate com maior selectividade, introduzindo exames no 9º ano de escolaridade?

Considera que a diminuição de 50% dos professores para as áreas de Projecto e de Estudo Acompanhado em todo o 3º ciclo ou o não desdobramento das turmas de Educação Tecnológica são as medidas necessárias à melhoria da qualidade das aprendizagens?

Considera ou não o Senhor Ministro que a educação e a formação na escola pública, única que garante a universalidade da frequência e níveis elevados de qualidade, são indispensáveis ao desenvolvimento do país?

Na última década o sistema educativo perdeu milhares de alunos.

A tendência ir-se-á manter nos próximos 5 anos.

Prevê-se que até 2006 o sistema possa perder ainda mais 70.000 alunos.

Considera ou não o Senhor Ministro que, perante as maiores taxas de analfabetismo e de abandono escolar da União Europeia e num quadro claro de diminuição de alunos, o governo deveria conjugar todos os esforços para optimizar a qualidade do ensino prestado, investindo na requalificação pedagógica, na remodelação das infra-estruturas, na melhoria das condições de trabalho dos alunos e dos professores e na estabilidade do corpo docente.

O Senhor Ministro tem vindo a afirmar a sua inesgotável vontade de aprofundar a municipalização da educação e de desresponsabilizar o governo das suas obrigações constitucionais.

Afirmando que “se damos mais competências às autarquias, temos que lhes dar alguma coisa em troca”” até porque o problema na sua opinião “é que temos professores a gerir professores, tal como temos médicos a gerir médicos…” e acrescenta “não queremos que seja assim”.

O Senhor Ministro é então fiel devoto do loby que prefere especialistas da indústria naval, das cimenteiras e das petrolíferas a gerir a educação e a saúde.

O Senhor Ministro é daqueles que considera que o trabalhador, professor, médico ou qualquer outro, é entidade suspeita e por isso vigiada, controlada por outros acima de qualquer suspeição – os gestores.

Nos últimos dias, o Senhor Ministro deu a conhecer as linhas orientadoras da Reforma do Ensino Secundário.

Os mais desatentos estavam convencidos que o governo tinha optado pela suspensão da reforma do partido socialista, porque pretendia reflectir acerca deste nível de ensino e encontrar as respostas que o PSD havia colocado ao PS, através do então deputado David Justino.

Nada menos verdadeiro.

A grande novidade é a produção do fato moldado à medida da visão economicista e neo-liberal do governo e não das necessidades do País.

Não há uma única palavra que sustente as poucas medidas anunciadas.

Que perfil de aluno se pretende com o Ensino Secundário?

Porquê estes cursos e não outros? Foi realizada alguma avaliação que permita estas opções?

Como funciona a permeabilidade e a articulação entre as diferentes vias já anunciadas.

Como se articula o ensino secundário com o básico e o superior.

E retomo ainda as perguntas do então Deputado David Justino.

Para quê esta reforma?

Há uma avaliação objectiva da reforma anterior, com uma matriz de análise devidamente estruturada e quantificada para detectar os pontos fracos e fortes?

Quais são as vítimas desta reforma?

Tal como há dois anos – as escolas, os professores e os alunos.

Entretanto informa-se os interessados que o novo episódio segue dentro de 3 meses.

Finalmente, Senhor Ministro explique-nos como nos aproximaremos dos nossos parceiros europeus com uma educação moderna e de qualidade, objectivos do Programa de Estabilidade e Crescimento, aprovado recentemente nesta casa com os votos do PSD, do PS e do CDS/PP e com a preciosa ajuda das sete medidas de realização de poupanças aí enunciadas,

Como o Senhor Ministro sabe propõe-se, por exemplo, a redução de docentes, o encerramento de escolas, a alienação do património e a determinação do financiamento de acordo com os rankings.

Disse.

Debate sectorial sobre Educação

Intervenção da Deputada Luísa Mesquita

23 de Janeiro 2003

Senhor Presidente

Senhor Ministro da Educação

Senhoras Deputadas

Senhores Deputados

A educação é para este governo e particularmente para o Senhor Ministro e a sua equipa uma despesa e não um investimento.

A política tem sido a do atropelo à Constituição e aos direitos consagrados.

A estratégia é a da redução dos recursos.

E as consequências no sistema educativo irão ser a reprodução das desigualdades e a agudização da selectividade.

Senhor Ministro esta é a resposta à promessa da qualificação dos portugueses?

A educação e a formação, componentes sociais da evolução social, são, para este governo, meros índices económicos de funcionamento de mercado.

É a maior ofensiva, pós 25 de Abril, à escola pública universal e democrática.

E por isso o governo furta-se à discussão e à negociação com os parceiros.

A estratégia agora é outra.

Em primeiro lugar comunicam-se as orientações e as decisões à imprensa e depois aguardam-se as reacções.

Se o cidadão ousar ter opinião diversa relativamente à res pública-educação, lança-se um segundo ataque: culpabilizam-se os profissionais, prepara-se o julgamento em praça pública e quando a fogueira estiver suficientemente ateada, retomam-se as medidas, reafirmando-as de forma prepotente e autoritária como soluções únicas e sacrossantas

Nada mais retrógrado.

Para este governo irremediavelmente e fielmente devoto da lei do mais forte - o mercado – é imprescindível fazer das escolas empresas, impor-lhes um patrão simpatizante do código laboral, transformar os professores em preparadores de produtos para os clientes e exigir aos pais e encarregados de educação que paguem a transformação da matéria prima.

E o país no que à educação diz respeito é algo que não preocupa o governo.

Segundo o último censo o analfabetismo atinge ainda 10% da população portuguesa.

Que medidas foram tomadas para iniciar este combate?

Quase 50% das crianças chegam ao segundo ciclo com pelo menos uma reprovação.

Existem duas leis, aprovadas nesta Assembleia, propostas assinadas pelo então deputado David Justino que, regulamentadas e cumpridas melhorariam a qualidade das aprendizagens.

Porque não foi dado início à concretização das medidas propostas?

Cerca de 45% dos jovens entre os 18 e os 24 anos não finalizam o ensino secundário, o que nos coloca no último lugar entre os países na União Europeia.

Considera o Senhor Ministro que este flagelo se combate com maior selectividade, introduzindo exames no 9º ano de escolaridade?

Considera que a diminuição de 50% dos professores para as áreas de Projecto e de Estudo Acompanhado em todo o 3º ciclo ou o não desdobramento das turmas de Educação Tecnológica são as medidas necessárias à melhoria da qualidade das aprendizagens?

Considera ou não o Senhor Ministro que a educação e a formação na escola pública, única que garante a universalidade da frequência e níveis elevados de qualidade, são indispensáveis ao desenvolvimento do país?

Na última década o sistema educativo perdeu milhares de alunos.

A tendência ir-se-á manter nos próximos 5 anos.

Prevê-se que até 2006 o sistema possa perder ainda mais 70.000 alunos.

Considera ou não o Senhor Ministro que, perante as maiores taxas de analfabetismo e de abandono escolar da União Europeia e num quadro claro de diminuição de alunos, o governo deveria conjugar todos os esforços para optimizar a qualidade do ensino prestado, investindo na requalificação pedagógica, na remodelação das infra-estruturas, na melhoria das condições de trabalho dos alunos e dos professores e na estabilidade do corpo docente.

O Senhor Ministro tem vindo a afirmar a sua inesgotável vontade de aprofundar a municipalização da educação e de desresponsabilizar o governo das suas obrigações constitucionais.

Afirmando que “se damos mais competências às autarquias, temos que lhes dar alguma coisa em troca”” até porque o problema na sua opinião “é que temos professores a gerir professores, tal como temos médicos a gerir médicos…” e acrescenta “não queremos que seja assim”.

O Senhor Ministro é então fiel devoto do loby que prefere especialistas da indústria naval, das cimenteiras e das petrolíferas a gerir a educação e a saúde.

O Senhor Ministro é daqueles que considera que o trabalhador, professor, médico ou qualquer outro, é entidade suspeita e por isso vigiada, controlada por outros acima de qualquer suspeição – os gestores.

Nos últimos dias, o Senhor Ministro deu a conhecer as linhas orientadoras da Reforma do Ensino Secundário.

Os mais desatentos estavam convencidos que o governo tinha optado pela suspensão da reforma do partido socialista, porque pretendia reflectir acerca deste nível de ensino e encontrar as respostas que o PSD havia colocado ao PS, através do então deputado David Justino.

Nada menos verdadeiro.

A grande novidade é a produção do fato moldado à medida da visão economicista e neo-liberal do governo e não das necessidades do País.

Não há uma única palavra que sustente as poucas medidas anunciadas.

Que perfil de aluno se pretende com o Ensino Secundário?

Porquê estes cursos e não outros? Foi realizada alguma avaliação que permita estas opções?

Como funciona a permeabilidade e a articulação entre as diferentes vias já anunciadas.

Como se articula o ensino secundário com o básico e o superior.

E retomo ainda as perguntas do então Deputado David Justino.

Para quê esta reforma?

Há uma avaliação objectiva da reforma anterior, com uma matriz de análise devidamente estruturada e quantificada para detectar os pontos fracos e fortes?

Quais são as vítimas desta reforma?

Tal como há dois anos – as escolas, os professores e os alunos.

Entretanto informa-se os interessados que o novo episódio segue dentro de 3 meses.

Finalmente, Senhor Ministro explique-nos como nos aproximaremos dos nossos parceiros europeus com uma educação moderna e de qualidade, objectivos do Programa de Estabilidade e Crescimento, aprovado recentemente nesta casa com os votos do PSD, do PS e do CDS/PP e com a preciosa ajuda das sete medidas de realização de poupanças aí enunciadas,

Como o Senhor Ministro sabe propõe-se, por exemplo, a redução de docentes, o encerramento de escolas, a alienação do património e a determinação do financiamento de acordo com os rankings.

Disse.

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