Sócrates quer passar imagem do

27-10-2004
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Sócrates Quer Passar Imagem do

Segunda-feira, 04 de Outubro de 2004 "líder nascido em combate" Banda sonora do filme "Gladiador", teleponto para os discursos do líder e entrada em cena das "socranetes" e "alegretes". O XIV Congresso do PS anunciou uma nova política de comunicação na liderança socialista. Por Maria José Oliveira e Nuno Sá Lourenço Para além dos discursos, das votações e das negociações de bastidores, o XIV Congresso do PS teve novidades na forma como o novo secretário-geral se estreou na liderança do maior partido da oposição. A banda sonora foi uma das surpresas que chegaram com José Sócrates. Depois da opção guterrista por Vangelis, do filme "1642", e da escolha ferrista pela "Canção do Mar", o "hino socrático" é um dos temas musicais do "Gladiador", protagonizado por Russell Crowe."É a banda sonora do líder nascido em combate", explica Marcos Perestrelo, um dos "operacionais" de Sócrates. Perestrelo faz parte de um exclusivo núcleo de conselheiros para a imagem do líder socialista, juntamente com Pedro Silva Pereira e assessora Maria Rui. A última reunião do grupo serviu para escolher o azul celeste que serviu de cenário ao discurso de encerramento. É Sócrates quem tem a última palavra, mas não só. Perestrelo disse mesmo que foi o secretário-geral quem se lembrou de recorrer ao teleponto e ao "slogan" "Novas Fronteiras". A frase-chave surgiu no ecrã a meio do discurso de encerramento, sem que o novo líder se esquecesse de lembrar que a expressão vinha do discurso de Jonh F. Kennedy na "aceitação da nomeação pelo Partido Democrata às eleições presidenciais norte-americanas". Para além da associação ao antigo presidente dos EUA, Sócrates comparava, assim, o congresso socialista e o processo eleitoral interno que o precedeu às primárias norte-americanas. O recurso ao teleponto foi outra das surpresas de Guimarães. Foi a primeira vez a ser utilizado num congresso partidário, devido ao pedido expresso do próprio secretário-geral. Que o testou na tarde de sexta-feira, horas antes do início do encontro do PS. A estreia do teleponto no primeiro discurso do líder passou despercebida à maior parte dos delegados que julgaram que José Sócrates falava sem papéis e de improviso. O sistema, dissimulado com dois televisores colocados no chão atrás de dois vasos de plantas e dois ecrans de plasma reflectores, suspensos em tripés, foi utilizado com mestria pelo líder, que não se coibia de se dirigir para todo pavilhão, olhando constantemente em redor. A razão para a renovação de imagem foi resumida por Perestrelo: "O secretário-geral do PS é candidato a primeiro-ministro. Quando fala é para todos os portugueses. Procuramos melhorar essa comunicação" Houve, contudo, novidades não premeditadas que resultaram da intensidade do debate. Uma delas foi a introdução da expressão "socranetes" no ideário socialista. A responsável foi a ex-secretária-nacional, Ana Gomes, que, no sábado à noite, reconheceu a sua incapacidade para se perfilar nesse grupo: "Não tenho características físicas e muito menos mentais para ser uma 'socranete'." Questionada pelo PÚBLICO sobre a tradução do termo, a socialista explicou que as vê como um "decalque das 'santanetes', aquelas loiras que estão sempre a fazer assim [repete o gesto de abanar a cabeça num movimento de sim]". A expressão foi recebida como uma provocação por parte de algumas mulheres socialistas - "disseram-me que algumas camaradas ficaram muito zangadas, ainda vai haver um levantamento de rancho", ironizou Ana Gomes - e refutada pela deputada Celeste Correia, que, na mesma noite, subiu ao palco para dizer: "Não me chamo nem sou 'socranete'." Mereceu aplausos por isso. Ao PÚBLICO afirmou depois ter considerado o termo "altamente ofensivo", admitindo temer que o "jargão pode pegar e ficar". Também Edite Estrela não gostou da designação. "Vindo de quem vem é lamentável", comentou ao PÚBLICO antes de contra-atacar: "Também não gostava que dissessem que ela é 'alegrete'." Celeste Correia e Edite Estrela não escondem que a preocupação assumida por Sócrates em relação à sua imagem não pode ser entendida como vaidade. "Muitos dos que criticam a sua imagem gostariam de a ter", assegura Celeste Correia. Edite Estrela lamenta a existência de "preconceitos" na esquerda relativamente a este aspecto, sublinhando que, em seu entender, "a estética rima com ética". Esta apoiante de José Sócrates acrescenta que o novo líder é a personificação da "sintonia entre essência e aparência". Estrela, agora eurodeputada e uma poainte de primeira hora de Sócrates, não considera que a estética ilustre necessariamente o belo. Sócrates, porém, parece não pensar assim. Na sobrecitada entrevista dada ao "Expresso", no início do Verão, o novo secretário-geral, respondendo à pergunta "Beleza para si é fundamental?", afirmou: "Eu sou um esteta." E citou Vinicius de Moraes: "As feias que perdoem, mas a beleza é fundamental." OUTROS TÍTULOS EM DESTAQUE "O PS está de volta"

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