Wal-Mart alvo de críticas por maus tratos aos trabalhadores

14-03-2004
marcar artigo

Maior cadeia norte-americana de supermercados enfrenta problemas laborais

Wal-Mart Alvo de Críticas por Maus Tratos Aos Trabalhadores

Segunda-feira, 01 de Março de 2004

O gigante dos supermercados norte-americanos é o maior empregador privado do mundo, mas é acusado de explorar a imigração ilegal, o trabalho barato na China e de não pagar horas extraordinárias

Pedro Ribeiro, Nova Iorque

Um tribunal do Oregon (Noroeste dos EUA) decidiu no final do mês passado que o gigante dos supermercados Wal-Mart terá de dar uma compensação a 83 dos seus trabalhadores por horas extraordinárias não pagas. Há dúzias de outros processos de empregados por casos de horas extraordinárias "voluntárias" na Wal-Mart.

Ao mesmo tempo, correm nos tribunais americanos processos contra o Wal-Mart por discriminação sexual - milhares de funcionárias queixam-se que as promoções são vedadas a mulheres. E as autoridades federais dos EUA conduzem uma investigação à contratação de imigrantes ilegais pela firma fundada por Sam Walton - um raide do FBI a dezenas de lojas da empresa descobriu mais de 200 trabalhadores sem documentos.

A Wal-Mart cresceu tanto nos últimos anos que se tornou no líder absoluto do sector retalhista nos EUA. Os seus principais competidores, K-Mart e Target, para além de uma série de cadeias regionais de supermercados, estão muito longe do seu poderio.

A Wal-Mart é hoje em dia o maior empregador privado do mundo - só nos EUA tem 1,3 milhões de funcionários. E há muitas queixas quanto à forma como a firma trata os seus trabalhadores.

O raide aos imigrantes ilegais recebeu grande atenção mediática nos EUA. Há suspeitas de que a Wal-Mart contrata sistematicamente imigrantes ilegais, a quem paga salários reduzidos sem ter de lhes oferecer quaisquer benefícios de saúde ou segurança social. Os processos sobre as horas extraordinárias não pagas e outras práticas laborais ilegais reforçaram o coro de críticas.

A Wal-Mart tem como política não permitir a sindicalização dos seus trabalhadores. Isso permitiu-lhe atravessar incólume uma prolongada greve de vários meses na Califórnia no ano passado, que fechou as portas de três outras cadeias de retalhistas naquele estado, o mais populoso dos EUA. Há casos de trabalhadores que se queixam de ter sido perseguidos por tentar sindicalizar os seus colegas dentro da Wal-Mart.

Há também uma preocupação de que a expansão da Wal-Mart (que já tem mais de 3500 lojas nos EUA) estrangule os pequenos e médios retalhistas. Algumas comunidades organizaram movimentos para impedir que a Wal-Mart abra um dos seus "Supercenters" (grandes hipermercados) nas suas cidades, lutas que normalmente acabam em tribunal.

O Wal-Mart tem uma posição tão importante em tantos sectores para lá dos produtos alimentares que afecta toda a venda a retalho nos EUA. Quando a cadeia de lojas de discos Tower Records abriu falência no mês passado, a concorrência da Wal-Mart foi um dos factores citados.

Operação de imagem

A história da Wal-Mart é tipicamente americana. A firma começou como uma pequena loja numa cidade do interior. A partir de um mini-mercado na cidadezinha de Bentonville, no Arkansas (Sul dos EUA), Sam Walton construiu um colossal império de lojas, impondo o seu lema ("Sempre os preços mais baixos!") com um fervor religioso.

Os números da Wal-Mart (ver caixa) são impressionantes. Os cinco herdeiros de Sam Walton estão entre os dez maiores milionários dos EUA (as suas fortunas reunidas são superiores às do líder da lista, o fundador da Microsoft Bill Gates).

As suas receitas atingem 254 mil milhões de dólares (210 mil milhões de euros) anuais. Os seus lucros atingiram um valor de quase sete mil milhões de dólares no ano passado, o que fez as suas acções disparar na bolsa de Nova Iorque. Mas, embora o quadro financeiro da Wal-Mart seja bom, a empresa tem um problema de imagem.

Os processos por questões laborais e a ubiquidade das suas lojas deram má reputação à Wal-Mart. A empresa é regularmente citada como um mau exemplo por críticos do mundo empresarial americano. Um dos casos que deu mais brado foi o da chamada "política do camponês morto".

A Wal-Mart comprou seguros de vida para vários dos seus funcionários. Se estes funcionários morressem, a empresa recebia até cem mil dólares de compensação - a família do morto não recebia nada. Quanto a "política do camponês morto" chegou à imprensa, a Wal-Mart deixou de comprar apólices.

Mas a empresa continua na berlinda. Há nos EUA um grande debate sobre o subemprego e o défice comercial americano. A Wal-Mart, que paga pouco à maioria dos seus trabalhadores e compra grande parte dos seus produtos à China, é um dos exemplos mais falados.

A Wal-Mart reagiu com uma campanha de relações públicas. Foram colocados no ar anúncios televisivos em que trabalhadores da Wal-Mart elogiam a sua empresa. Ao mesmo tempo, a empresa está a reforçar as suas contribuições a campanhas políticas.

Segundo dados da organização Center for Responsive Politics, a Wal-Mart foi o segundo maior doador empresarial a campanhas nos EUA em 2003, oferecendo um milhão de dólares (o maior foi o banco de investimentos Goldman Sachs, com 1,6 milhões). Em 2002, a Wal-Mart fora apenas 71ª na lista dos doadores.

Maior cadeia norte-americana de supermercados enfrenta problemas laborais

Wal-Mart Alvo de Críticas por Maus Tratos Aos Trabalhadores

Segunda-feira, 01 de Março de 2004

O gigante dos supermercados norte-americanos é o maior empregador privado do mundo, mas é acusado de explorar a imigração ilegal, o trabalho barato na China e de não pagar horas extraordinárias

Pedro Ribeiro, Nova Iorque

Um tribunal do Oregon (Noroeste dos EUA) decidiu no final do mês passado que o gigante dos supermercados Wal-Mart terá de dar uma compensação a 83 dos seus trabalhadores por horas extraordinárias não pagas. Há dúzias de outros processos de empregados por casos de horas extraordinárias "voluntárias" na Wal-Mart.

Ao mesmo tempo, correm nos tribunais americanos processos contra o Wal-Mart por discriminação sexual - milhares de funcionárias queixam-se que as promoções são vedadas a mulheres. E as autoridades federais dos EUA conduzem uma investigação à contratação de imigrantes ilegais pela firma fundada por Sam Walton - um raide do FBI a dezenas de lojas da empresa descobriu mais de 200 trabalhadores sem documentos.

A Wal-Mart cresceu tanto nos últimos anos que se tornou no líder absoluto do sector retalhista nos EUA. Os seus principais competidores, K-Mart e Target, para além de uma série de cadeias regionais de supermercados, estão muito longe do seu poderio.

A Wal-Mart é hoje em dia o maior empregador privado do mundo - só nos EUA tem 1,3 milhões de funcionários. E há muitas queixas quanto à forma como a firma trata os seus trabalhadores.

O raide aos imigrantes ilegais recebeu grande atenção mediática nos EUA. Há suspeitas de que a Wal-Mart contrata sistematicamente imigrantes ilegais, a quem paga salários reduzidos sem ter de lhes oferecer quaisquer benefícios de saúde ou segurança social. Os processos sobre as horas extraordinárias não pagas e outras práticas laborais ilegais reforçaram o coro de críticas.

A Wal-Mart tem como política não permitir a sindicalização dos seus trabalhadores. Isso permitiu-lhe atravessar incólume uma prolongada greve de vários meses na Califórnia no ano passado, que fechou as portas de três outras cadeias de retalhistas naquele estado, o mais populoso dos EUA. Há casos de trabalhadores que se queixam de ter sido perseguidos por tentar sindicalizar os seus colegas dentro da Wal-Mart.

Há também uma preocupação de que a expansão da Wal-Mart (que já tem mais de 3500 lojas nos EUA) estrangule os pequenos e médios retalhistas. Algumas comunidades organizaram movimentos para impedir que a Wal-Mart abra um dos seus "Supercenters" (grandes hipermercados) nas suas cidades, lutas que normalmente acabam em tribunal.

O Wal-Mart tem uma posição tão importante em tantos sectores para lá dos produtos alimentares que afecta toda a venda a retalho nos EUA. Quando a cadeia de lojas de discos Tower Records abriu falência no mês passado, a concorrência da Wal-Mart foi um dos factores citados.

Operação de imagem

A história da Wal-Mart é tipicamente americana. A firma começou como uma pequena loja numa cidade do interior. A partir de um mini-mercado na cidadezinha de Bentonville, no Arkansas (Sul dos EUA), Sam Walton construiu um colossal império de lojas, impondo o seu lema ("Sempre os preços mais baixos!") com um fervor religioso.

Os números da Wal-Mart (ver caixa) são impressionantes. Os cinco herdeiros de Sam Walton estão entre os dez maiores milionários dos EUA (as suas fortunas reunidas são superiores às do líder da lista, o fundador da Microsoft Bill Gates).

As suas receitas atingem 254 mil milhões de dólares (210 mil milhões de euros) anuais. Os seus lucros atingiram um valor de quase sete mil milhões de dólares no ano passado, o que fez as suas acções disparar na bolsa de Nova Iorque. Mas, embora o quadro financeiro da Wal-Mart seja bom, a empresa tem um problema de imagem.

Os processos por questões laborais e a ubiquidade das suas lojas deram má reputação à Wal-Mart. A empresa é regularmente citada como um mau exemplo por críticos do mundo empresarial americano. Um dos casos que deu mais brado foi o da chamada "política do camponês morto".

A Wal-Mart comprou seguros de vida para vários dos seus funcionários. Se estes funcionários morressem, a empresa recebia até cem mil dólares de compensação - a família do morto não recebia nada. Quanto a "política do camponês morto" chegou à imprensa, a Wal-Mart deixou de comprar apólices.

Mas a empresa continua na berlinda. Há nos EUA um grande debate sobre o subemprego e o défice comercial americano. A Wal-Mart, que paga pouco à maioria dos seus trabalhadores e compra grande parte dos seus produtos à China, é um dos exemplos mais falados.

A Wal-Mart reagiu com uma campanha de relações públicas. Foram colocados no ar anúncios televisivos em que trabalhadores da Wal-Mart elogiam a sua empresa. Ao mesmo tempo, a empresa está a reforçar as suas contribuições a campanhas políticas.

Segundo dados da organização Center for Responsive Politics, a Wal-Mart foi o segundo maior doador empresarial a campanhas nos EUA em 2003, oferecendo um milhão de dólares (o maior foi o banco de investimentos Goldman Sachs, com 1,6 milhões). Em 2002, a Wal-Mart fora apenas 71ª na lista dos doadores.

marcar artigo