"Óptimas ideias... se fossem realistas"

22-04-2004
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Miguel Beleza, professor universitário

"Óptimas Ideias... Se Fossem Realistas"

Segunda-feira, 01 de Março de 2004

As medidas propostas no "Compromisso Portugal" são desejáveis, apesar de extremamente complicadas, considera o ex-ministro das Finanças que dá como exemplo a redução do peso da despesa pública para 40 por cento do PIB

L.M.V.

"Eu daria uma nota um pouco melhor ao Governo", começa por dizer Miguel Beleza, membro do painel PÚBLICO/Ideias & Negócios e professor de economia na Universidade Nova de Lisboa. Mas, se lamenta a sovinice com que classificaram o Executivo de Durão Barroso, já ironiza com o "10" que o painel atribui à conjuntura económica: "Eu penso que, apesar de estar a melhorar, ela ainda é negativa". Em todo o caso não atribui o sentimento positivo dos empresários, financeiros e académicos aos insistentes anúncios da chegada da retoma: "Não acredito muito nos discursos como factor de mudança. Penso que isto traduz, de facto, alguma melhoria da conjuntura".

Quanto ao facto das medidas saídas da conferência "Compromisso Portugal" terem sido esmagadoramente votadas pelos inquiridos isso, ao professor, não o surpreende. "As medidas propostas são desejáveis, apesar de extremamente complicadas. Era certamente uma excelente ideia reduzir o peso da despesa pública para 40 por cento do PIB. Era... se fosse realista". Miguel Beleza, com a autoridade de quem já foi ministro das Finanças, considera muito pouco provável que num espaço de tempo tão curto se consiga esse objectivo. E suspeita que os membros do painel pensam o mesmo: "É capaz de ser um bocado por isso que as pessoas, na última pergunta, respondem que a iniciativa não terá grande efeito". A iniciativa é meritória, prossegue, "mas boa parte dos diagnósticos não são propriamente novos".

Quanto ao enorme apoio da eliminação do sigilo bancário para efeitos fisco, admite que isso signifique que "a amostra é constuituída por pessoas que se consideram bons pagadores de impostos". Para ele, todavia, que nada tem contra esse instrumento, falta-lhe "a certeza que resolva as questões face a regime que existe actualmente". Quanto à redução do número de votos quando se pergunta por um orgão de cúpula para o mundo empresarial, diz "perceber um bocadinho o cepticismo".

As restantes questões reflectem, a seu ver, coisas óbvias: as leis do trabalho são pouco flexíveis e as empresas de capital público necessitam de bons modelos de "governance". Faz só um alerta, a concluir: "Atenção à representatividade desta amostra: nem todos são empresários, apesar de estarem em maioria".

Miguel Beleza, professor universitário

"Óptimas Ideias... Se Fossem Realistas"

Segunda-feira, 01 de Março de 2004

As medidas propostas no "Compromisso Portugal" são desejáveis, apesar de extremamente complicadas, considera o ex-ministro das Finanças que dá como exemplo a redução do peso da despesa pública para 40 por cento do PIB

L.M.V.

"Eu daria uma nota um pouco melhor ao Governo", começa por dizer Miguel Beleza, membro do painel PÚBLICO/Ideias & Negócios e professor de economia na Universidade Nova de Lisboa. Mas, se lamenta a sovinice com que classificaram o Executivo de Durão Barroso, já ironiza com o "10" que o painel atribui à conjuntura económica: "Eu penso que, apesar de estar a melhorar, ela ainda é negativa". Em todo o caso não atribui o sentimento positivo dos empresários, financeiros e académicos aos insistentes anúncios da chegada da retoma: "Não acredito muito nos discursos como factor de mudança. Penso que isto traduz, de facto, alguma melhoria da conjuntura".

Quanto ao facto das medidas saídas da conferência "Compromisso Portugal" terem sido esmagadoramente votadas pelos inquiridos isso, ao professor, não o surpreende. "As medidas propostas são desejáveis, apesar de extremamente complicadas. Era certamente uma excelente ideia reduzir o peso da despesa pública para 40 por cento do PIB. Era... se fosse realista". Miguel Beleza, com a autoridade de quem já foi ministro das Finanças, considera muito pouco provável que num espaço de tempo tão curto se consiga esse objectivo. E suspeita que os membros do painel pensam o mesmo: "É capaz de ser um bocado por isso que as pessoas, na última pergunta, respondem que a iniciativa não terá grande efeito". A iniciativa é meritória, prossegue, "mas boa parte dos diagnósticos não são propriamente novos".

Quanto ao enorme apoio da eliminação do sigilo bancário para efeitos fisco, admite que isso signifique que "a amostra é constuituída por pessoas que se consideram bons pagadores de impostos". Para ele, todavia, que nada tem contra esse instrumento, falta-lhe "a certeza que resolva as questões face a regime que existe actualmente". Quanto à redução do número de votos quando se pergunta por um orgão de cúpula para o mundo empresarial, diz "perceber um bocadinho o cepticismo".

As restantes questões reflectem, a seu ver, coisas óbvias: as leis do trabalho são pouco flexíveis e as empresas de capital público necessitam de bons modelos de "governance". Faz só um alerta, a concluir: "Atenção à representatividade desta amostra: nem todos são empresários, apesar de estarem em maioria".

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