BCE conservador no controlo da inflação

04-05-2004
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BCE Conservador no Controlo da Inflação

Por CARLOS ALMEIDA ANDRADE

Segunda-feira, 01 de Março de 2004

Na próxima quinta-feira, o Banco Central Europeu deverá manter a sua taxa principal de operações de refinanciamento em dois por cento, ignorando assim os apelos recentes de dirigentes políticos europeus no sentido de uma redução adicional dos juros. A posição daqueles que defendem um relaxamento da política monetária da área do euro é, aparentemente, favorecida pelos últimos indicadores de inflação divulgados pelo Eurostat. Com os preços a caírem 0,2 por cento entre Dezembro e Janeiro, a taxa de inflação homóloga desceu de dois por cento para 1,9 por cento, situando-se, desta forma, dentro da definição de estabilidade de preços do BCE, ou seja, uma inflação "perto mas inferior a dois por cento". A nível "core", excluindo a energia e os bens alimentares não processados, a inflação manteve-se em 1,9 por cento. Para além disto, a estimativa preliminar do Eurostat para Fevereiro aponta para uma nova desaceleração dos preços, estimando-se uma inflação homóloga de 1,6 por cento. Estes argumentos não serão, no entanto, suficientes para convencer o Conselho de Governadores do BCE.

Em primeiro lugar, a descida esperada para a inflação em Fevereiro (e que se deverá prolongar em Março) é explicada, essencialmente, por efeitos estatísticos de base relacionados com o aumento dos preços dos bens energéticos no período que antecedeu a guerra no Iraque. Estes efeitos deverão dissipar-se a partir de Abril, fazendo regressar o crescimento dos preços a taxas mais próximas dos dois por cento. Neste sentido, o Banco Central Europeu manterá a atenção centrada na evolução da inflação a nível "core", a qual apresenta um comportamento mais estável, devendo manter-se entre 1,9 e dois por cento nos meses mais próximos.

Por outro lado, o Conselho de Governadores deverá reafirmar a convicção de que a actual postura da política monetária é a mais adequada no actual contexto de recuperação económica global. O presidente do BCE, Jean-Claude Trichet, declarou já, mais do que uma vez, que o efeito-preço negativo associado à apreciação do euro deverá ser compensado pelo efeito-quantidade positivo associado a uma aceleração da procura externa. Esta convicção é, de alguma forma, suportada pelos números mais recentes da balança de pagamentos da área do euro. Entre Novembro e Dezembro de 2003, o excedente da balança corrente (sazonalmente ajustado) subiu de 2,1 para 2,5 mil milhões de euros, com o contributo de uma evolução positiva nas balanças de mercadorias e de serviços. O BCE encontrará também algum conforto nos indicadores de confiança divulgados na sexta-feira passada. Embora em recuperação lenta (tal como a actividade económica), a confiança dos agentes económicos sugere que os piores dias são já parte do passado. A confiança dos consumidores subiu, em Fevereiro, de -15 para -14 pontos, o nível mais elevado em mais de um ano, e claramente superior ao mínimo de -21 pontos observado em Março de 2003. A confiança na indústria manteve-se inalterada em -6 pontos, um nível que corresponde também ao registo mais elevado do último ano. Finalmente, o índice relativo ao sector dos serviços subiu de 10 para 11 pontos.

Um último argumento que o BCE deverá apresentar para justificar a manutenção das taxas de juro prende-se com a elevada liquidez que persiste no conjunto da área do euro. A massa monetária, medida pelo agregado monetário M3, cresceu sete por cento em termos médios, entre Novembro e Janeiro, face a um valor de referência do BCE de 4,5 por cento. O Conselho de Governadores deverá repetir a ideia de que, num contexto de aceleração da actividade económica, este crescimento da liquidez poderá tornar-se uma ameaça para a estabilidade dos preços a médio prazo.

*Economista-chefe do BES

BCE Conservador no Controlo da Inflação

Por CARLOS ALMEIDA ANDRADE

Segunda-feira, 01 de Março de 2004

Na próxima quinta-feira, o Banco Central Europeu deverá manter a sua taxa principal de operações de refinanciamento em dois por cento, ignorando assim os apelos recentes de dirigentes políticos europeus no sentido de uma redução adicional dos juros. A posição daqueles que defendem um relaxamento da política monetária da área do euro é, aparentemente, favorecida pelos últimos indicadores de inflação divulgados pelo Eurostat. Com os preços a caírem 0,2 por cento entre Dezembro e Janeiro, a taxa de inflação homóloga desceu de dois por cento para 1,9 por cento, situando-se, desta forma, dentro da definição de estabilidade de preços do BCE, ou seja, uma inflação "perto mas inferior a dois por cento". A nível "core", excluindo a energia e os bens alimentares não processados, a inflação manteve-se em 1,9 por cento. Para além disto, a estimativa preliminar do Eurostat para Fevereiro aponta para uma nova desaceleração dos preços, estimando-se uma inflação homóloga de 1,6 por cento. Estes argumentos não serão, no entanto, suficientes para convencer o Conselho de Governadores do BCE.

Em primeiro lugar, a descida esperada para a inflação em Fevereiro (e que se deverá prolongar em Março) é explicada, essencialmente, por efeitos estatísticos de base relacionados com o aumento dos preços dos bens energéticos no período que antecedeu a guerra no Iraque. Estes efeitos deverão dissipar-se a partir de Abril, fazendo regressar o crescimento dos preços a taxas mais próximas dos dois por cento. Neste sentido, o Banco Central Europeu manterá a atenção centrada na evolução da inflação a nível "core", a qual apresenta um comportamento mais estável, devendo manter-se entre 1,9 e dois por cento nos meses mais próximos.

Por outro lado, o Conselho de Governadores deverá reafirmar a convicção de que a actual postura da política monetária é a mais adequada no actual contexto de recuperação económica global. O presidente do BCE, Jean-Claude Trichet, declarou já, mais do que uma vez, que o efeito-preço negativo associado à apreciação do euro deverá ser compensado pelo efeito-quantidade positivo associado a uma aceleração da procura externa. Esta convicção é, de alguma forma, suportada pelos números mais recentes da balança de pagamentos da área do euro. Entre Novembro e Dezembro de 2003, o excedente da balança corrente (sazonalmente ajustado) subiu de 2,1 para 2,5 mil milhões de euros, com o contributo de uma evolução positiva nas balanças de mercadorias e de serviços. O BCE encontrará também algum conforto nos indicadores de confiança divulgados na sexta-feira passada. Embora em recuperação lenta (tal como a actividade económica), a confiança dos agentes económicos sugere que os piores dias são já parte do passado. A confiança dos consumidores subiu, em Fevereiro, de -15 para -14 pontos, o nível mais elevado em mais de um ano, e claramente superior ao mínimo de -21 pontos observado em Março de 2003. A confiança na indústria manteve-se inalterada em -6 pontos, um nível que corresponde também ao registo mais elevado do último ano. Finalmente, o índice relativo ao sector dos serviços subiu de 10 para 11 pontos.

Um último argumento que o BCE deverá apresentar para justificar a manutenção das taxas de juro prende-se com a elevada liquidez que persiste no conjunto da área do euro. A massa monetária, medida pelo agregado monetário M3, cresceu sete por cento em termos médios, entre Novembro e Janeiro, face a um valor de referência do BCE de 4,5 por cento. O Conselho de Governadores deverá repetir a ideia de que, num contexto de aceleração da actividade económica, este crescimento da liquidez poderá tornar-se uma ameaça para a estabilidade dos preços a médio prazo.

*Economista-chefe do BES

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